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Sensibilidade da antropometria para diagnóstico de fatores de risco

cardiovascular entre os participantes do NASF na cidade de Bocaiúva, MG

La sensibilidad de la antropometría para el diagnóstico de los factores de riesgo 

cardiovascular entre los participantes del NASF de la ciudad de Bocaiuva, MG

 

*Universidade Trás-Os-Montes e Alto Douro – UTAD, Vila Real, Portugal

**Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE, Montes Claros, MG

***Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES, Montes Claros, MG

****Grupo de Estudos e Pesquisas de Educação

na Diversidade e Saúde, Montes Claros, MG

*****Núcleo de Apoio á Saúde da Família, Bocaiúva, MG.

******Centro Universitário Serra dos Órgãos - Unifeso, Teresópolis, RJ

(Brasil)

Carlos Otávio de Oliveira*****

Wellington Danilo Soares* ** *** ****

Jadson Rabelo Assis**

Priscilla Kálisy Duarte Soares******

André Luiz Gomes Carneiro* *** ****

wdansoa@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O Objetivo do estudo foi avaliar a Sensibilidade da Antropometria para Diagnóstico de Fatores de Risco Cardiovascular entre os Participantes do NASF na Cidade de Bocaiúva-MG utilizando protocolos antropométricos. A amostra contou com a participação de 440 indivíduos sendo 399 mulheres e 41 homens, todos cadastrados no NASF em Bocaiúva MG com idade média de 56,8 anos (± 7,21). Os protocolos utilizados foram: Índice de Massa Corporal (IMC), Índice de Conicidade (IC), Razão da Cintura / Estatura (RC/Est), Relação Cintura Quadril (RCQ), Corte da Cintura Isolada (CC) e análise do Risco Coronário (RC). Para análise descritiva da amostra utilizou-se a média ± e desvio padrão (DP) das variáveis estudadas. Para a comparação das variáveis foi utilizada a Anova seguida de um test T e o nível de significância foi de p <0,05. Os resultados apresentados confirmam um limiar alterado em três variáveis entre homens e mulheres, enquanto que não houve alterações significativas entre as outras cinco variáveis analisadas. Sendo assim, mediante o exposto nas propostas da ATP II e Pitanga; Lessa, sugerimos que a amostra estudada apresenta FRCV “moderado”. Enfim, diante do estudo exposto, considera-se necessário um estudo de âmbito longitudinal para dirimir algumas dúvidas suscitadas durante a análise dos resultados, bem como permitir maior precisão nas conclusões.

          Unitermos: Antropometria. Doenças cardiovasculares. NASF.

 

Abstract

          The objective of the study was to evaluate the sensitivity of Anthropometry for Diagnosis of Cardiovascular Risk Factors among participants in the City of Bocaiuva NASF-MG using anthropometric protocols. The sample included the participation of 440 individuals and 399 women and 41 men, all registered with the NASF in Bocaiuva MG mean age of 56.8 years (± 7.21). The protocols used were: body mass index (BMI), conicity index (CI), ratio of waist / height (RC / Est), waist-hip ratio (WHR), Waist Isolated Court (CC) and analysis of the Coronary Risk (RC). For descriptive analysis we used the mean ± standard deviation (SD) of variables. To compare the variables we used Anova followed by a T test and significance level was p <0.05. The results confirm a threshold changes in three variables between men and women, whereas no significant changes among the other five variables. Thus, by the above proposals in the ATP II and Pitanga & Lessa, we suggest that the sample presents CRF "moderate." Finally, before the study above, it is considered necessary within a longitudinal study to resolve some questions raised during the analysis of results, as well as allow greater precision in the conclusions.

          Keywords: Anthropometry. Cardiovascular disease. NASF.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A obesidade central (OC) é um fator de risco poderoso para desenvolver comorbidades como hipertensão arterial sistêmica (HAS), resistência a insulina (RI), diabetes melitus (DM), disfunção endotelial (DE), alterações de marcadores pró-inflamatórios crônicos, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica (SM) (PAULO et al., 2006).

    Dentre os fatores de risco supracitados, tem-se dado importância especial à OC, em virtude do fato de que a distribuição visceral de gordura está relacionada com a RI, fator chave para predisposição da fisiopatologia da DM (PAULO et al., 2006). No Brasil ainda não existem estudos de base populacional sobre SM nem critérios de OC específico para nossa população. Porém, o Third Report of National Cholesterol Education Program Expert Panel on Detection, Evoluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults – Adult Treatment Panel III (ATP III) propôs uma nova definição para SM, utilizando como critério de OC valores da circunferência da cintura (CC) > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres (RAMACHANDRAN et al., 2003).

    Adicionalmente, parece não haver dúvidas quanto à relação entre OC e aumento do risco cardiovascular.

    Para mensurar a quantidade de gordura subcutânea e visceral com acuracidade, existem técnicas avançadas como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética nuclear e a absortometria de raio-X de dupla energia (DEXA) (BARBOSA, 2006). No entanto, essas técnicas são inviáveis para estudos populacionais, devido ao custo elevado. Devido a estes fatores a técnica antropométrica é utilizada para diagnóstico da gordura central, é considerada duplamente indireta, de simples aplicação, de baixo custo e tem validade em relação às técnicas consideradas “Padrão-Ouro” (PACCINI; ARSA; GLANER, 2008).

    Dentre os protocolos antropométricos para avaliação e diagnóstico da OC, tem-se destacado o índice de massa corporal (IMC), relação cintura/estatura (R/CEst), relação cintura/quadril (RCQ), circunferência da cintura isolada (CC), e mais recentemente, índice de conicidade (IC) (VALDEZ, 1991). Desta forma, a utilização de medidas antropométricas para diagnóstico de OC assume grande importância na abordagem clínica de indivíduos expostos a maior risco cardiovascular (PITANGA; LESSA, 2005a, 2006).

    Neste contexto, vários pontos de corte para rastreamento do risco cardiovascular foram estabelecidos nos últimos anos, sendo, na maioria das vezes, provenientes de populações estrangeiras, principalmente da Europa e EUA, com aplicabilidade restrita no que se refere à realidade brasileira (HERERRA et al., 2009).

    A partir de estudos realizados na população de Salvador-BA, Pitanga; Lessa propuseram pontos de corte para triagem de indivíduos com fatores de risco cardiovascular (FRCV), a partir de protocolos antropométricos de avaliação da obesidade (PITANGA; LESSA, 2005b).

    Sendo assim, o objetivo deste estudo é investigar a sensibilidade da antropometria para diagnóstico dos fatores de risco cardiovascular entre os participantes do NASF na cidade de Bocaiúva-MG, utilizando os pontos de corte da antropometria proposto pela ATP III e Pitanga; Lessa (2005b).

Métodos

Amostra

    O presente estudo de forma transversal contou com a participação de 440 indivíduos, masculino e feminino integrantes do NASF na cidade de Bocaiúva Norte de Minas Gerais no ano de 2010. A amostra foi composta por 399 mulheres e 41 homens sendo que, a idade mínima foi 20 anos, máxima 80 anos e a média de 56,8 anos (±7,21). A tabela seguinte mostra as características físicas da amostra.

Tabela 1. Características físicas da amostra

    Para caracterização da amostra e da pesquisa, todos os voluntários foram submetidos à avaliação física funcional constando de medida da massa corporal, estatura, cintura, quadril, pressão arterial e risco coronário (RC). A massa corporal foi medida através de uma balança digital (PlenaÒ) com precisão de 100 gramas. A estatura foi determinada no plano de Frankfurt com o auxílio de um estadiômetro (SannyÒ) com precisão de 1/1 centímetro. Já as circunferências da cintura e quadril foram medidas utilizando-se uma fita antropométrica (SannyÒ) com precisão de 1/1 centímetro. A CC foi mensurada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. Já a circunferência do quadril foi mensurada no ponto de maior proeminência glútea. A RCQ foi calculada através da divisão da circunferência da cintura pela circunferência do quadril, ambas em centímetros. A RC/Eest foi calculada dividindo-se a cintura pela estatura, também em centímetros. O cálculo do IC foi efetivado através da fórmula proposta por Valdez (1991) enquanto que o RC foi calculado segundo o protocolo proposto por Michigan Heart Association (2009). A tabela 2 mostra os pontos de corte de cada protocolo.

Tabela 2. Valores máximos esperados dos protocolos para homens e mulheres

NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família)

    O NASF é um projeto federal (portaria nº 154/2008) que tem como objetivos ampliar a abrangência e as ações da atenção básica da família. Em Bocaiúva MG o NASF é composto por cinco profissionais da saúde sendo: uma Fisioterapeuta, um Psicólogo, uma Assistente Social, uma Nutricionista e um Educador Físico.

    Bocaiúva fica localizado no Norte de Minas Gerais, sua população atualmente é de 46.595 (IBGE, 2011). Dentre os atendimentos clínicos e de reabilitação, são desenvolvidos programas de práticas de atividades físicas, lúdicas e recreativas diariamente visando à profilaxia, manutenção e controle das doenças crônicas degenerativas e metabólicas com supervisão do Educador Físico em várias praças públicas do município e nos quatro distritos para aproximadamente 604 participantes (1,3% da população) cadastrados de ambos os sexos. Antes de iniciar a programação esportiva os participantes são avaliados por um enfermeiro ou médico do PSF ao qual são cadastrados, após iniciar as atividades físicas, todos os participantes são submetidos a uma avaliação física realizada pelo Educador Físico do NASF.

Análise estatística

    Para análise descritiva da amostra utilizou-se média ± desvio padrão (DP) das variáveis estudadas. Para as comparações das variáveis foi utilizado o teste t de Student pareado. Para as comparações das variáveis de todos os grupos entre si foi utilizada a Anova One Way seguida de um teste post hoc de Tukey quando apropriado. O nível de significância utilizado para todos os testes foi de p < 0,05.

    Foram observados todos os critérios, exigidos pela lei 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas com seres humanos.

Resultados

    Na tabela seguinte serão apresentados os resultados gerais da amostra. Serão destacados os resultados médios antropométricos do IMC, IC, RC/Est, RCQ e CC, fisiológicos da Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Pressão Arterial Diastólica (PAD) além do Risco Coronário (RC).

Tabela 3. Resultados dos valores médios esperados e alcançados

Resultado

    Observando a tabela 3 acima, ficam evidentes as alterações significativas do IMC nas mulheres, enquanto que o IC alterou somente nos homens, já a RC/Est e a PAS alteraram nos dois gêneros. Mas, vale ressaltar que não houve diferença significativa entre o IMC nos homens, no IC das mulheres, enquanto que o RCQ, CC e a PAD também não teve diferença significativa nos dois gêneros da amostra analisada, assim como o resultado do RC predominou “risco moderado” nos homens e mulheres.

Discussão

    Como sabemos, no Brasil ainda não existem estudos de base populacional sobre SM nem critérios de classificação da OC para assegurar os FRCV específicos para nossa população, porém, iremos comparar os resultados encontrados neste estudo com os valores sugeridos pelo ATP III e as propostas recentes de Pitanga e Lessa (2005b) como pontos de cortes para triagem de indivíduos com FRCV.

    Observando a tabela 3, fica evidente nesta amostra que não existem diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres nas variáveis RCQ, CC, PAD, e o risco coronariano o qual apresentou “risco moderado”. Os valores encontrados na RCQ neste estudo não encontraram diferença significativa conforme solicitação da literatura vigente que é > 0,95 para homens e > 0,84 para mulheres. Interessante ressaltar que os valores da CC nos homens e mulheres no presente estudo, ficaram abaixo das propostas da ATP III (> 102 cm para homens vs > 88 cm para as mulheres), porém, encontram-se acima das propostas sugeridas por Pitanga; Lessa (2005b) para a população brasileira (> 88 cm para homens vs 84 cm para mulheres). A PAD também não determinou alterações significativas.

    Em estudo similar (BEI-ZAN, 2002), realizado com aproximadamente 80.000 chineses, foram identificados os melhores pontos de corte para IMC como discriminadores de FRCV. Para o IMC, identificou-se o valor de 24 kg/m² para ambos os sexos, valores esses muito próximos aos encontrados nos homens do nosso estudo. Porém, nas mulheres o resultado encontrado foi 28,6 m/kg2, ficando acima dos valores propostos.

    Os resultados o IC encontrados nesta pesquisa apresenta valores alterados nos homens enquanto que nas mulheres não foi observado alterações que comprovassem diferenças significativas, porém, a RC/Est foi determinada alterações nos dois gêneros pesquisados. Interessante comentar que a RC/Est obteve resultados acima dos esperados (0,55 vs 0,59) para homens e mulheres respectivamente.

    Pitanga & Lessa (2006a, 2006b), utilizando análise por curva ROC (Receiver Operating Characteristic), identificaram a sensibilidade e especificidade superiores para o IC (78,5% e 65,2%) em relação à RC/Est (67% e 58%), na predição de FRCV em mulheres, o que não ficou evidenciado na amostra pesquisada no sexo feminino.

    Em interessante metanálise sobre diferentes índices antropométricos (IMC, CC, RCQ e RC/Est) como discriminadores de FRCV, mais especificamente hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes tipo 2 e dislipidemia, Lee, Wildman e Woodward (2008) demonstraram que a RC/Est foi o melhor índice discriminador para os três FRCV independente do gênero, ao passo que o IMC foi o pior discriminador neste sentido. Corroborando esse achado, o Inter-Heart Study (YUSUF et al., 2004) demonstrou que o IMC apresentou modesta associação com episódios de infarto agudo do miocárdio (IAM), ao passo que a obesidade abdominal, verificada pela RCQ, apresentou-se mais importante. Tal aspecto se torna ainda mais relevante se considerarmos que a obesidade abdominal foi o FRCV que mais respondeu pelos casos de IAM nas mulheres sul-americanas (risco atribuível à população = 63%), de acordo com o próprio Inter-Heart Study (YUSUF et al., 2004).

    Nessa linha de investigação, Hsieh e cols.19 demonstraram que a RC/Est apresentou correlação mais forte com o somatório de fatores de risco coronariano em japoneses não obesos do que a CC e o IMC. Ainda de acordo com esses mesmos autores, a RC/Est foi o índice antropométrico que obteve melhor sensibilidade na detecção de mais que dois FRCV, independente do gênero, apesar das diferenças étnicas na atribuição dos pontos de corte (≥ 0,50 vs ≥ 0,53).

    Outra variável que apresentou alteração nos dois gêneros estudados nesta amostra foi a PAS, conforme a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006) os valores da medida casual referente à PAS ótima é <120mmHg e o valor normal <130mmHg. Os valores médios da PAS encontrados no presente estudo foram: 129mm/hg para os homens e 124mm/hg para as mulheres. No Brasil, a HAS é considerada a doença mais prevalente nos adultos de diversas regiões, consistindo na 1ª causa de aposentadoria por invalidez e 40% dos óbitos (LESSA, 1993).

    Acreditamos que as limitações do presente estudo foi não coletar as variáveis bioquímicas do colesterol.

Conclusão

    Diante das oito variáveis antropométricas e fisiológicas pesquisadas no presente estudo, os resultados apresentados confirmam um limiar alterado em três variáveis entre homens e mulheres, enquanto que não houve alterações significativas entre as outras cinco variáveis analisadas. Sendo assim, mediante o exposto nas propostas da ATP III e Pitanga & Lessa, sugerimos que os protocolos utilizados neste estudo determinam uma sensibilidade antropométrica confiante em afirmar que a amostra estudada apresenta FRCV “moderados” nos dois sexos pesquisados. Enfim, diante do estudo exposto, considera-se necessário um estudo de âmbito longitudinal para dirimir algumas dúvidas suscitadas durante a análise dos resultados, bem como permitir maior precisão nas conclusões.

Agradecimentos

    Os autores agradecem a todos os voluntários do NASF que contribuíram para a realização deste estudo.

Referências

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