Ciclo alongamento-encurtamento. Uma revisão El ciclo estiramiento-acortamiento. Una revisión |
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*Possui graduação em Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal da Bahia - UFBA (2007), especialização em Fisiologia e Metabolismo pela Universidade de São Paulo - USP (2009) Realiza pesquisa no Laboratório de Biomecânica (BIOMEC) da UFSC **Possui graduação em Educação Física pela UFSM Especialista em atividade física, desempenho motor e saúde pela UFSM Realiza pesquisa no Laboratório de Biomecânica (BIOMEC) da UFSC |
Bruno Monteiro de Moura* Lauriano Cecchin Warth** (Brasil) |
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Resumo A corrida, uma das atividades mais antigas e mais praticadas pela sociedade, tem diversos benefícios, tanto para a saúde como para a estética. Sabe-se que no alto rendimento o atleta necessita de todas as informações possíveis para se tornar o melhor e mais rápido, economizando-se ao máximo, e uma das funções musculares mais importantes para tanto é o conhecimento teórico do Ciclo Alongamento-Encurtamento e suas aplicações práticas. Unitermos: Corrida. Ciclo alongamiento-encurtamento.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Naturalmente a função muscular é representada por um modelo de ciclo alongamento-encurtamento. A mensuração da real função muscular de modo isolado é difícil de ser estipulada, como a das ações excêntricas, concêntricas ou isométricas.Tendo em vista que o exercício não envolve uma forma pura desses tipos de ações musculares isoladas (KOMI, 2006).
O Ciclo alongamento-encurtamento (CAE) da função muscular origina-se da observação de que os segmentos corporais são sucessivamente submetidos a esforços de impacto ou estiramento (KOMI, 2006).
Durante a corrida, marcha ou salto, que são típicos exemplos da locomoção humana, está inserido as forças externas que acarretam o alongamento muscular. Numa combinação de ações excêntricas (alongamento) e concêntricas (encurtamento) - forma-se a função de ciclo alongamento-encurtamento (CAE) (NORMAN E KOMI, 1979).
Segundo (SAUNDERS 2004) a corrida envolve a conversão da força muscular para as articulações do corpo humano, gerando movimento no corpo. A seqüência, alongamento-encurtamento, gera a força, a parte concêntrica ou de encurtamento, é a fase em que o corpo ganha propulsão. A função muscular do CAE possui um propósito bem definido: melhorar a fase concêntrica do movimento humano.
Deste modo o objetivo do presente artigo visa apresentar uma revisão sobre o ciclo de alongamento-encurtamento.
Conceito do Modelo de Hill
O modelo que originou a teoria do ciclo alongamento-encurtamento é adivinda do modelo de Hill (1938) em que observou que o músculo esquelético pode ser observado como um sistema de dois componentes, consistindo de um elemento firme puramente elástico em série com um elemento contrátil. Uma modificação subseqüente dessa idéia é a introdução de um elemento elástico extra em paralelo com combinação de dois elementos de Hill.
Na elaboração do seu conceito Hill (1950) estabeleceu 2 componentes básicos, sendo eles: componentes elásticos em série e elásticos em paralelo (Figura 1).
Figura 1. Componentes da estrutura muscular Hill (Adaptado de UGRINOWITSCH, 1998)
O composto contrátil é formado pelo complexo de actina-miosina (FOX, BOWERS & FOSS 1993), sendo fonte de força ativa. Os elementos elásticos em serie estão localizados nas cabeças de miosina e nos tendões (ETTEMA & HUIJING 1989, 1994; FARO, 1995), sendo que estas são responsáveis por acumular e liberar energia potencial elástica, atuando como uma fonte de produção de força passiva. E os elementos elásticos em paralelo são formados por tecidos conectivos que fazem a manutenção da estrutura muscular (HUIJING, 1992), opondo resistência ao movimento quando ocorre alongamento muscular.
Apesar de bem aceitado na área da biomecânica por conta da sua simplicidade matemática e com as predições qualitativamente aceitáveis de força, alguns pesquisadores a consideram um tanto quanto fenomenológicas. Pois não são extraordinariamente úteis em produzir questões relacionadas a respeito do desempenho esportivo e esclarecer algumas dúvidas com relação aos mecanismos da contração muscular (HERZOG 1998).
Ciclo Alongamento-Encurtamento
O ciclo alongamento-encurtamento é a união da função muscular em conjunto da absorção do impacto e a liberação de parte da energia oriunda desse impacto. Segundo Farley (1997), durante a parte de estiramento (fase excêntrica), há uma produção de trabalho negativo, no qual tem parte da sua energia mecânica absorvida e armazenada sob forma de energia potencial elástica nos elementos elásticos em serie. No momento em que ocorre a passagem da fase de estiramento para a fase de encurtamento (excêntrica para concêntrica), os músculos podem utilizar parte dessa energia rapidamente e com isso aumentando sua produção de força subseqüente, com menor gasto metabólico e maior eficiência muscular (KUBO, 1999).
No entanto se a passagem de uma fase para outra for feita de forma mais lenta, a energia potencial elástica, será dissipada e assim perdida em forma de calor e assim não seria convertida em forma de energia cinética (GOUBEL, 1997). Como experimentando por Bosco 1980, o squat jump (SJ) em que o sujeito começa de uma situação de meio-agachamento para um salto vertical e o counter-movement jump (CMJ) no qual o sujeito parte da posição de pé, agacha-se rapidamente (parte excêntrica) até conseguir total explosão na extensão dos joelhos (fase concêntrica). No experimento há um período grande de latência do início do movimento até a conclusão do SJ e isso não acontece no movimento rápido do CMJ, o qual concede ao sujeito um maior alcance vertical. Uma vez que nem toda energia acumulada pode ser utilizada, pois sempre parte dela é perdida, devido a tendência da desordem (entropia) Van Ingen Schenau, Bobbert & Haan (1997). Pois segundo Cavagna (1977) o potencial muscular elástico pode chegar até 50%, visto que a utilização da energia potencial elástica não pode ser máxima.
Em estudos prévios foi reportado que o treinamento pliométrico, a qual é um exercício CAE, melhora a economia de corrida (Morgan et al. 1989; Paavoleinen et al., 1999). O estudo examinou se as mudanças na performance da corrida foram resultado de um treinamento pliométrico para alterar o stiffness do tendão muscular da perna. Num estudo (SPURRS, 2003) testaram um protocolo de treinamento do uso da técnica do ciclo alongamento-encurtamento por intermédio do treinamento pliométrico. Na pesquisa 17 homens tiveram seu stiffness músculo-tendíneo testado pré e pós o treinamento, força isométrica máxima, taxa de desenvolvimento de força, 5 saltos máximos horizontais, altura do salto contra-movimento, VO2 máximo, economia de corrida, limiar de lactato e o tempo na corrida de 3km. Os sujeitos foram separados randomicamente em grupo experimental, o qual completou 6 semanas de treinamento pliométrico em conjunto com seus treinamentos de corrida normais e o grupo controle o qual treinou normalmente.
Contudo, seguindo o período de treinamento, o grupo experimental melhorou o seu desempenho na distância de 3km (2,7%) e economia de corrida na velocidade previamente testada, enquanto que o VO2 máximo ou limiar de lactato não sofreram alterações. O salto contra-movimento, os 5 saltos máximos horizontais e o teste de stiffness músculo-tendíneo também aumentaram significativamente. Nenhuma mudança significante foi em alguma medida do grupo controle. Os resultados demonstraram que um programa de 6 semanas de treinamento pliométrico levou a melhoras no desempenho na corrida da distância dos 3km (SPURRS 2003). Com isso, é postulado que o aumento no stiffness músculo-tendíneo melhora a economia de corrida, apesar do nível de treinamento dos sujeitos serem de um bom nível, o tipo de treino aeróbio não foi controlado, o que pode ser uma limitação devido ao fato de não sabermos o status do treino de cada sujeito.
Em outro estudo (PAAVOLEINEN et al., 1999), examinou os efeitos de um treinamento explosivo (pliométrico) no tempo de 5km de corrida, economia de corrida e potência muscular. Os autores concluíram que a junção de treinamento força-explosão e treinamento de resistência produziram uma significante melhora no tempo de 5km percorrido em atletas de resistência bem treinados. Os autores sugeriram que as melhoras aconteceram devido a melhora das características neuromusculares a qual foram transferidas em ganho de potência muscular e economia de corrida. Para Noakes (1991) corredores com pouca economia de corrida podem ter músculos que são menos capazes de produzir energia a partir do impacto ao entrar em contato com solo. Tem-se sugerido que um relativo stiffness do sistema músculo-tendíneo pode determinar a habilidade do corpo em estocar e utilizar a energia armazenada (WILSON 1991; JARED 2010), que gera um melhor CAE dos músculos envolvidos na corrida e isso facilita o desempenho dos atletas de ponta ou supostamente o controle motor de indivíduos não-atletas e idosos.
Conclusão
O entendimento do conceito de Ciclo Alongamento-Encurtamento e sua aplicabilidade é de grande importância para modalidades que envolvam caminhada, marcha e salto. Alguns estudos abordam a sua eficiência e o melhor aproveitamento dos movimentos supra-citados, porém estudos mais profundos acerca da área são necessários para um melhor entendimento real do porque e como aplicar os fundamentos das técnicas do ciclo alongamento-encurtamento, pois se forem bem entendidos podem gerar benefícios aos atletas.
Referências
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Bosco, C. Strength assessment with the Bosco’s test. 1980
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Komi, P. V. 2006 ______ Hill, A.V. The series elastic components of muscle. Proceedings of the Royal Society Biology, v.137, p.273, 1950.
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