As atividades rítmicas e expressivas no desenvolvimento da noção de corpo de alunos e alunas das séries iniciais do ensino fundamental Las actividades rítmicas y expresivas en el desarrollo de la noción de cuerpo de los alumnos y las alumnas de los niveles iniciales de la educación básica |
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*Licenciada na Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS **Professora Doutora do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM, RS (Brasil) |
Laís Cavalheiro* Mara Rubia Antunes** |
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Resumo A Imagem do corpo é o conceito e a vivência que se constrói sobre o esquema corporal, sendo este considerado como um dado biológico, estabelecido anatômica e fisiologicamente, com a ressalva de que o homem não é exclusivamente biológico, mas o fruto das interações entre o biológico e o cultural (FREITAS, 1999). Entendemos as Atividades Rítmicas e Expressivas como um bloco de conteúdos da Dança, onde valorizamos o movimento para além da técnica, usufruindo-o de forma consciente. O estudo teve como objetivo identificar as contribuições das Atividades Rítmicas e Expressivas na percepção da imagem corporal em crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental. Adotamos como objeto concreto de observação, o “Desenho do Corpo”, instrumento encontrado na Bateria Psicomotora de Fonseca (1995). A pesquisa foi realizada em uma Escola Municipal do Município de Santa Maria/RS. Em um primeiro contato com a turma realizamos o D1 (desenho 1), após a intervenção realizamos o D2 e ao concluir elaboramos uma análise descritiva e comparativa de D1 e D2 dentro de uma abordagem fenomenológica, apontando traços da Percepção de Imagem Corporal (através da figura) de cada uma das crianças. Obtivemos desenhos sem diferenças entre D1 e D2, como também observamos grandes evoluções, na representação de pequenos detalhes, em outras comparações. Unitermos: Atividades rítmicas. Noção de corpo. Imagem corporal.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
A proposta deste estudo surge por acreditamos que temos muito para contribuir para a formação e desenvolvimento inicial do ser humano, sua corporeidade e logicamente a sua percepção e noção sobre seu próprio corpo, por entendermos que o professor pode trabalhar não só a encenação do movimentar-se, mas também trabalhar o aluno como sujeito do contexto histórico no qual está inserido, sendo capaz de pensar e agir.
Ao pensarmos o movimento de forma completa e com possibilidade de intervenção na percepção da Imagem corporal em crianças, visualizamos as Atividades Rítmicas como a grande referência de atividade, pois Schilder (1999) afirma que o movimento e a Dança permitem ao indivíduo a possibilidade de exterminar, diminuir ou alterar a forma rígida do modelo postural do corpo, alterando o fenômeno da imagem corporal, concretizando-se como um método capaz de transformar a imagem corporal. Entendemos as Atividades Rítmicas como um bloco de conteúdos da Dança, onde valorizamos o movimento para além da técnica, usufruindo-o de forma consciente para qualificar as habilidades motoras, educar para a livre expressão corporal e contribuir para a consciência corporal.
Assim consideramos relevante estudar, saber e analisar quais as contribuições das Atividades Rítmicas e Expressivas na percepção da imagem corporal em crianças na fase inicial do ensino escolar. Objetivamos verificar e identificar qual a representação mental desenvolvida, na criança, sobre o corpo como figura; determinar possibilidades de ensino a partir das Atividades Rítmicas e expressivas, como conteúdo, nas séries iniciais do Ensino Fundamental; constatar a importância das Atividades Rítmicas e expressivas como conteúdo do componente curricular Educação Física.
Para alcançarmos nossos objetivos adotamos como objeto concreto de observação, para a percepção da Imagem Corporal em crianças, o instrumento do “Desenho do corpo”, este objeto foi encontrado na Bateria Psicomotora de Fonseca (1995). Salientamos que o mesmo foi adaptado, não foi realizado na perspectiva de teste, onde originalmente avalia os alunos e sua percepção de noção de corpo através de uma cotação de 04 (quatro) a 01 (um), e sim como um objeto concreto para facilitar a observação sobre a percepção da Imagem Corporal dos alunos avaliados. Visto que Thomas, Nelson e Silverman (2007), colocam que a coleta de dados dentro da pesquisa qualitativa pode ser através de observações, entrevistas e/ou instrumentos projetados ou adaptados pelos próprios pesquisadores.
Foram realizados dois desenhos. O primeiro antes da intervenção frente aos alunos e o segundo após as oito intervenções com ênfase nas Atividades rítmicas e expressivas. Os desenhos foram descritos e comparados, apontando os traços existentes ou não na percepção da Imagem Corporal. Procurando situar uma objetivação da representação do corpo, tanto no aspecto gnósico como simbólico e gráfico. Utilizamos, igualmente, a observação indireta com auxilio da técnica de Diário de Campo, onde registramos os fatos importantes acontecidos durante as aulas, tais como a participação dos alunos, o comprometimento e a compreensão dos objetivos e os pontos positivos e os negativos das aulas, que foram descritos nas análises dos dados.
O estudo realizou-se em uma Escola Municipal do município de Santa Maria/RS. O grupo de participantes era composto por 19 (dezenove) alunos, sendo 09 meninos e 10 meninas, na faixa etária de 06 (seis) e 08 (oito) anos. Foram realizados 10 (dez) encontros com a turma de avaliados, sendo o primeiro encontro destinado para o Primeiro Desenho do corpo (D1), 08 (oito) encontros destinados para a intervenção e vivência prática do conteúdo proposto e o último encontro para o Segundo Desenho do corpo (D2).
Os dados foram analisados em dois momentos, primeiramente foram elaborados os pareceres descritivos individuais, a partir das observações que constavam no Diário de Campo. Após a análise dos Desenhos do corpo, dentro de uma abordagem fenomenológica, apontando traços da Percepção de Imagem Corporal (através da figura) de cada uma das crianças.
2. O desenvolvimento da noção de corpo
O desenvolvimento Psicomotor, nas palavras de Velasco (1996), obedece à estruturação de três condutas: As Condutas motoras compreendem o equilíbrio, a coordenação dinâmica geral, a respiração consciente e a coordenação motora fina; as Condutas neuro-motoras compreendem o esquema corporal, o controle psicomotor e a lateralidade; e por fim as Condutas perceptivo-motoras que compreendem a orientação corporal, a orientação espacial e a orientação temporal. A aprendizagem e o desenvolvimento, deste conjunto de Condutas, são importantes e relevantes para o incremento da percepção e constituição de noção de corpo.
Diretamente relacionada à constituição da imagem e esquema corporal estão as condutas neuro-motoras, para a criança, a interação informal, as relações com o meio, com os objetos e as pessoas, pois a partir de então ela reconhece as partes do seu corpo (VELASCO, 1996). Esta necessidade de interações é indispensável, pois o corpo para aprender, criar significados, desdobrar-se no espaço e no tempo, não pode estar ligado somente aos movimentos necessários à sobrevivência do organismo. Este corpo está situado em um ambiente cultural recheado de acontecimentos, por isso deve estar aberto às possíveis experiências, mantendo a sua disposição um amplo leque de possibilidades motoras (FREITAS, 1999).
Ainda sobre as Condutas, especificadas por Velasco (1996), temos a Orientação corporal, designada como uma conduta perceptivo-motora, onde por volta dos 05 (cinco) anos a criança inicia a sua maturação orgânica e neurológica. Neste processo, primeiramente, ela sente o seu corpo, sendo o mundo exterior a porta de entrada para a identificação e interpretação das impressões sensoriais, depois passa a usá-lo e posteriormente controla seu corpo, estando envolvidos nesta aprendizagem de domínio corporal a memória, a concentração, o tônus muscular e a dissociação de movimentos.
2.1. Compreendendo a Imagem Corporal
A Imagem corporal para Schilder (1999) é uma representação mental que temos de nosso corpo. Freitas (1999) a apresenta como um conceito de vivência que se constrói sobre o esquema corporal, considerando nesta constituição de imagem os afetos, os valores, a história pessoal, representada através de gestos, olhares, no corpo que se movimenta e repousa. Para Rodrigues (1987) o esquema corporal é uma estrutura neuro-motora, que possibilita ao indivíduo perceber e ter consciência do seu corpo anatômico, estando a Imagem corporal intimamente relacionada com a consciência que este indivíduo tem do seu corpo em termos de julgamentos de valores ao nível afetivo.
Podemos dizer, então, que o esquema corporal é o corpo concreto e orgânico, a anatomia humana com as diferentes partes que a integram, um conjunto biológico e fisiológico que se desenvolve e cria vida quando é preenchido de representações. A Imagem corporal se estrutura a partir da construção deste esquema, constituindo o ser sujeito. Pois o corpo humano não é somente a razão, ele tem sentidos, vivências afetivas positivas e negativas, passa por diversas experiências de movimentos que, no esquema corporal, o indivíduo vai dando importância para as representações de cada parte do corpo, enriquecendo a formação de juízos de valores, contribuindo para a percepção e (re)constituição da Imagem corporal (FREITAS, 1999).
Em Schilder (1999) a Imagem Corporal é citada claramente como a representação mental que temos do nosso corpo. E, na tentativa de facilitar a compreensão de sua proposta sobre Imagem corporal, o autor apresenta uma lista com 10 proposições a respeito do assunto, seguem algumas delas:
“(...) 2 – A relação com as imagens corporais alheias é determinada pelo fator de proximidade ou afastamento espacial e pelo fator de proximidade ou afastamento emocional.
(...) 6 – As imagens corporais são, a princípio, sociais. Nossa própria imagem corporal nunca está isolada. Pelo contrário, está sempre acompanhada pelas imagens corporais dos outros.
7 – Nossa imagem corporal e a imagem corporal dos outros não dependem primariamente uma da outra. Têm a mesma importância e uma não pode ser explicada pela outra.
(...) 10 – Estamos sempre enfatizando que o modelo postural do corpo não é estático e está sempre se modificando segundo as circunstâncias da vida. Encaramo-lo como uma construção criativa. É construído, desmanchado e reconstruído.” (Schilder, 1999, p. 266-7).
O autor traz elementos interessantes, um que nossa Imagem Corporal está relacionada com a imagem daqueles que estão a nossa a volta, sofrendo interferências, bem como dos acontecimentos passados e presentes. Fica claro que a percepção sobre os corpos é múltipla e Tavares (2007), complementa que a imagem corporal é dinâmica, passível de intervenções e mudanças durante toda a vida, pois é construída em um determinado corpo e este se modifica a cada instante por estar em constante processo de formação.
2.2.1 A Contínua construção da Imagem Corporal
Para Nanni (2003) o conhecimento e a percepção do corpo é um processo ativo e dinâmico. Nossa imagem muda continuamente sofre deformações, ora é gigante, ora é pequena, cada interferência leva a uma nova percepção do corpo. Dentre os fatores importantes, neste processo de percepção, estão os órgãos dos sentidos que contribuem de forma anatômica e fisiológica para a percepção da imagem corporal, que ora é determinado pela figura visual, ora pela sensação tátil relacionada à função da pele. Conforme Feldenkrais (1977) há quatro dimensões envolvidas na ação de constituição da imagem corporal: o movimento, a sensação, o sentimento e o pensamento, sendo que cada um contribui de forma diferente, governam nossos atos.
Há um processo contínuo de destruição e reconstrução da imagem do corpo, fraturamos nossa imagem, ao mesmo tempo em que, acabamos de criá-la. Vários elementos influenciam nesta constituição como os estados emocionais, os conflitos psíquicos, as relações sociais entre personalidades e corpos que se diferem, se fundem e se completam (SHILDER, 1994). Pois para Fisher (1970) apud Freitas (1999) as pessoas se diferem em nível de consciência corporal, essas diferenças fazem-se positivas para as trocas de experiências e vivências sobre o corpo, vindo a contribuir para a construção do esquema corporal e avanços na percepção e constituição da Imagem corporal.
As relações com outros corpos também contribuem para este processo de constituição da imagem corporal, principalmente a criança, que se utiliza das partes de outros corpos, adotando as atitudes destes corpos para completar a sua imagem de corpo. Porém este processo contínuo de constituição não deve ser encarado como um processo de fora para dentro e nem de dentro para fora, mas sim que existe uma relação entre o que está dentro e o que está fora, entre o “nós” e o “outro”. Há uma relação de troca, a imagem corporal doa parte de si para o mundo externo ao mesmo tempo que toma dele para si (SHILDER, 1999).
3. A Educação Física escolar e o conhecimento do corpo
A Educação Física passou a ser considerada como atividade, que através de técnicas, desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando, a partir do Decreto nº 69.450, de 1971. O decreto deu ênfase à aptidão física, tanto na organização das atividades como no seu controle e avaliação, e a iniciação esportiva, a partir da quinta série. Já na LDB 4248/1996 a Educação Física passou a ser reconhecida no artigo 26º (vigésimo sexto), referente aos currículos do ensino fundamental e médio, sendo descrito no § 3º. (inciso terceiro) que a Educação Física, será componente curricular da Educação Básica, estando integrada à proposta pedagógica da escola, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar (BRASIL, 1996).
Outro documento que valoriza a referida área são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), onde um dos volumes (volume sete) é específico sobre os objetivos e conteúdos da Educação Física escolar no Ensino Fundamental, dividido e esclarecido por três ciclos. Os PCNs da Educação Física coloca que um dos objetivos desta disciplina, para o Primeiro Ciclo do Ensino fundamental, permeia-se no âmbito, de que o aluno seja capaz de conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis, este objetivo é contemplado no bloco de conteúdos sobre os conhecimentos do corpo (BRASIL, 1997).
Ainda nos PCNs, dentro do bloco de conteúdos sobre o Conhecimento do corpo, este “... é compreendido como um organismo integrado e não como um amontoado de “partes” e “aparelhos”, como um corpo vivo, que interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer, alegria, medo, etc.” (BRASIL, 1997, p. 36). Como vimos anteriormente, dentro de suas divisões, as Atividades Rítmicas e Expressivas, também são valorizadas como um bloco de conteúdos, e são colocadas como manifestações da cultura corporal e conteúdos da Educação Física Escolar, com grande valor educativo e essenciais para o desenvolvimento motor, cognitivo, sócio-afetivo e de comunicação (BRASIL, 1997).
Para Venturini et al., (2009) nas séries iniciais do ensino fundamental o aluno precisa compreender e trabalhar seu corpo, a Educação Física pode possibilitar aos alunos a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais diversas. Sendo que, as aulas devem estar voltadas para os aspectos corporais do movimento e as atividades vinculadas a experiências práticas.
Freitas (1999) escreve sobre a importância do corpo, ela pontua que o cérebro não é a excelência da inteligência, pois o corpo todo é inteligente, que o coração não é o único órgão dos sentimentos, porque o corpo todo é sensível. O homem deixa de ter um corpo para ser corpo, a partir do momento que ele compreende que é através deste corpo que ele transforma seu mundo. Assim, a autora justifica a importância do trabalho sobre o corpo nas aulas de Educação Física, não precisamos voltar ao ideal higienista, de corpos fortes e saudáveis, nem aos ideais de corpos fortes e disciplinados, mas observar a lógica de que o sujeito é um corpo no mundo, movido por muitas intenções e repleto de manifestações e significados.
3.1 As Atividades Rítmicas e o conhecimento do corpo
O ritmo está presente desde a respiração até a execução de movimentos. O bloco de conteúdos, do PCNs, Atividades rítmicas e expressivas inclui as manifestações da cultura corporal, cuja característica comum é o intuito de explorar a expressão e comunicação por meio dos gestos na presença de ritmos, sons e da música na construção da expressão corporal. Logo estamos falando das danças, mímicas e brincadeiras cantadas (BRASIL, 1997).
Para Fornel et al., (2006) o ensino e valorização das atividades rítmicas na escola é fonte de conhecimento e acréscimo da comunicação e apreensão do mundo por parte do aluno, auxiliando a desenvolver a percepção espaço-temporal e paralelamente, a imagem corporal do aluno. Bem como Pallarés (1981), afirma que a base para a complementação, de formação do aluno na escola, está diretamente ligada às contribuições da Educação Física, das atividades rítmicas ao lado de outras atividades educativas. Nesse sentido podemos afirmar a importância do ensino da Dança, iniciando na mais tenra idade, para que possibilite desencadear melhor o processo proprioceptivo (NANNI, 2003).
Os ritmos motores do ser humano se revelam, espontaneamente desde a mais tenra idade, através das ações de andar, jogar ou correr. É importante, então, que o trabalho rítmico expressivo seja enfatizado desde a primeira infância, por ser esta a época mais favorável ao desenvolvimento da sensibilidade, coordenação e associação de gestos e movimentos (VARGAS, 2007).
Para Nanni (2003) o ser humano move-se, sente, age e reage de modo diferente, seus interesses se renovam a cada instante, as mudanças são dinâmicas, as reações decorrentes destas mudanças e a mobilização de todas as partes do corpo estão relacionadas à imagem corporal. A Auto-imagem não é um estado ideal e não é estática, pois está submetida a mudanças rítmicas. Para a autora o trabalho com rítmo e Dança-educação é “um trabalho de interações, interrelações, relações do corpo, que se harmoniza com outros no espaço” (NANNI, 2003. p. 139).
4. Resultados e discussão
Para analisar os resultados utilizamos, além da comparação entre D1 e D2, todas as observações e anotações que constavam no Diário de Campo.
A turma correspondeu aos objetivos propostos. Observamos ao decorrer dos encontros que a maioria passou a identificar as partes que compõem seu corpo, elementos como o ombro, o cotovelo, o joelho, o pescoço, que nesta fase não são reconhecidos, passaram a ter significado para os alunos, o que podemos comprovar ao identificar a representação destas partes do corpo em alguns desenhos. As relações afetivas foram fortalecidas, tínhamos alunos tímidos, outros distraídos, impulsivos que não tinham um bom relacionamento com a turma em geral, que ao longo dos encontros passaram a se aproximar dos demais colegas através das atividades em grupo.
Os objetivos das aulas eram reforçados a cada encontro, o que facilitou muito para que os alunos relacionassem as atividades propostas ao o que estas deveriam proporcioná-los em termos de conhecimentos. Construímos o Boneco Miguel, onde ao final de cada encontro, identificávamos as partes do corpo que foram trabalhadas. Facilitando o processo de construção do Esquema corporal, contribuindo para a constituição da Imagem corporal.
Obtivemos desenhos sem diferenças de detalhes entre D1 e D2, como também observamos grandes evoluções, na representação de pequenos detalhes, em outras comparações. A organização e representação geral de alguns desenhos merecem destaque, bem como aqueles onde as comparações entre D1 e D2 apontaram certo declínio, (desconstituição) na representação de imagem do corpo.
Ao compararmos D1 e D2 dos alunos diagnosticamos 4 grupos com características distintas. O Primeiro grupo, onde, constatamos um declínio de pormenores anatômicos faciais e/ou de extremidades, uma desorganização espacial, distorções de formas e proporções anatômicas. Acreditamos que podemos ter explicação nas palavras de Schilder (1994) quando escreve sobre o processo contínuo de destruição e reconstrução da imagem do corpo, nestes casos podemos dizer que a contribuição foi efetiva para fraturar/desconstituir a imagem inicial que estes alunos tinham de seus corpos, e que o processo ainda não se findou, pois ao mesmo tempo em que fraturamos nossa imagem acabamos de criá-la, por isso o processo de percepção do corpo é classificado como contínuo, o que Nanni (2003) descreve como um processo ativo e dinâmico, pois nossa imagem muda continuamente, sofre deformações, ora é gigante, ora é pequena, cada interferência leva a uma nova percepção do corpo.
Observamos em um segundo grupo mudanças positivas, o processo de destruição e construção fechou um ciclo, pois o D2 destes alunos passou a apresentar ricos detalhes de pormenores faciais e de extremidades, também houve alterações na forma de representação da figura no espaço, suas formas e proporções foram melhoradas, chegando mais perto do que considera-se uma imagem de corpo com desenho completo. Podemos citar novamente Fornel et al., (2006) quando escreve sobre a valorização das atividades rítmicas na escola, colocando esta como fonte de conhecimento e acréscimo da comunicação e apreensão do mundo por parte do aluno, auxiliando a desenvolver a percepção espaço-temporal e paralelamente sua imagem corporal.
Destaque para os desenhos, que compõem um terceiro grupo, onde notamos, além da representação do corpo, o acréscimo de elementos como outras pessoas, objetos em suas “mãos”, elementos da natureza e espaço, que podem ser importantes no processo de constituição da Imagem do corpo. Reforçando o que Schilder (1999) escreve sobre as relações que se estabelecem com outros corpos, que de certa forma também contribuem para este processo de constituição da imagem corporal, principalmente a criança, que se utiliza das partes de outros corpos, adotando as atitudes destes corpos para completar a sua imagem de corpo, nossa imagem está relacionada com a imagem daqueles que estão a nossa volta, estando sempre acompanhada pelas imagens corporais dos outros, sofrendo interferências, bem como dos acontecimentos passados e presentes. Há uma relação de troca, a imagem corporal doa parte de si para o mundo externo ao mesmo tempo que toma dele para si.
Fechando com um quarto grupo, que aparentemente, não apresentaram grandes diferenças nas representações de detalhes anatômicos, podemos ficar satisfeitos com o fato de ter oportunizado o aprendizado e a vivência com as Atividades Rítmicas, pois para Vargas (2007) estas vivências atendem as necessidades biológicas, psicológicas e sócio-motoras da criança. A maioria dos meninos e meninas, em fase inicial do ensino escolar, não desfrutam de uma vivência corporal rica por meio de uma ação pedagógica que proporcione seu desenvolvimento (NEGRINE e GAUER, 1990).
Para os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (1997), a Educação Física nos anos iniciais do ensino fundamental na escola deve contemplar a maior vivência de movimentos possíveis, pois é nesta fase que encontramos a Educação Física com o objetivo de possibilitar o prazer funcional, com base fundamental no movimento.
5. Considerações finais
Frente às comparações, podemos afirmar que a participação efetiva do professor licenciado em Educação Física na organização nos diferentes níveis de planejamento é fundamental, pois a condução das aulas nos primeiros anos do ensino fundamental, também pode ser uma de suas atribuições na escola. O importante é que esta participação não seja vista como uma atividade meramente recreativa ou como "hora-do-descanso" do/a professor/a uni docente, e sim como uma forma de fazer acontecer o plano político-pedagógico elaborado pelos diferentes setores da escola, dando sentido à educação pelo movimento (FRAGA, 2005).
A simples experiência prática, frente aos alunos, traz muitos subsídios para afirmar que é importante e fundamental a Educação Física, inserida e regulamentada, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Silva e Krug (2008) colocam que a Educação Física escolar, como disciplina pedagógica, é parte do currículo escolar, por isso tem um compromisso com a educação e formação total do aluno. Sendo um dos grandes objetivos ajudar na experimentação da cultura do movimento humano e suas variáveis do movimento, de acordo com seus interesses, suas possibilidades e necessidades, pois a escola determinará os objetivos a serem conquistados.
Apontamos como aspecto positivo deste estudo a conclusão de que podemos, através das Atividades Rítmicas, educar para além do movimento, contribuir para o desenvolvimento da percepção de corpo, tendo como base os desenhos que apresentaram evoluções, tanto na representação de pormenores anatômicos, quanto na percepção do seu corpo no espaço, afirmando o que Rodrigues (2003) escreve sobre os processos da dança que, para o autor enfatizam o reconhecimento das sensações e dos movimentos “naturais” de uma pessoa, que busca na complexidade e na profundidade destes processos a originalidade no interior do próprio corpo, e podem ser facilitadores do desenvolvimento da percepção da imagem corporal.
Os objetivos foram alcançados tanto como pesquisadoras, quanto educadoras, quanto indivíduos. Tivemos a certeza de que existem contribuições das Atividades Rítmicas, para o desenvolvimento da percepção de noção de corpo, ao analisar os demais desenhos e ver quão formosa, rica e fundamental é a prática da Educação Física, quando esta for planejada e recheada de objetivos e metas. Como escreve Fraga (2005) que a participação não seja vista como uma atividade meramente recreativa ou como "hora-do-descanso" do/a professor/a uni docente, e sim como uma forma de fazer acontecer o plano político-pedagógico elaborado pelos diferentes setores da escola, dando sentido à educação pelo movimento.
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