Desempenho físico e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes da zona urbana de Bagé, RS Rendimiento y aptitud física relacionada con la salud en adolescentes de la zona urbana de Bagé, RS Physical performance and physical fitness health-related in teens of the urban zone in Bagé, RS |
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*Mestre em Educação Física (Atividade Física e Saúde) pela Universidade Federal de Pelotas Professor da Rede Municipal de Ensino de Bagé, RS, Brasil **Doutor em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Professor da Universidade Federal de Pelotas |
Marcio Neres dos Santos* Alexandre Carriconde Marques** (Brasil) |
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Resumo Esta bem estabelecida a importância da saúde na qualidade de vida das pessoas em todas as idades e a saúde é fortemente influenciada pela aptidão física do indivíduo. Em níveis ideais, os componentes da aptidão física relacionada à saúde reduzem substancialmente o risco das principais doenças crônicas da atualidade. O objetivo desse estudo foi avaliar o nível e a correlação de componentes da aptidão física relacionada à saúde de escolares do ensino fundamental de Bagé, RS, Brasil. Os testes físicos avaliaram a força, a flexibilidade, a resistência cardiorrespiratória e a composição corporal. A amostra constituiu-se de 52 indivíduos (59,6% meninas) com idades entre 10 e 12 anos (Média=11,44±0,7 anos). No geral, foi observado um desempenho negativo nos componentes força muscular e resistência cardiorrespiratória, e positivo nos componentes flexibilidade e composição corporal. Apenas a força muscular apresentou relação com o índice de massa corporal. Unitermos: Desempenho físico. Aptidão física. Saúde. Adolescentes. Escolares.
Abstract This established the important of health in the quality of life for people in any ages as with as the strong relationship between physical fitness and health. In ideals levels the components of physical fitness health-related decrease risk of main chronic diseases of currently. The objective this study was assesses physical performance and relationship of the components of physical fitness health-related in childrens of base-school in Bagé, RS. The physical tests assess strength, flexibility, endurance cardio respiratory and body composition. Sample includes 52 subjects (59,6% female) with 10 - 12 years-old (Mean). In overall, they're showed negative performance in strength components and cardio respiratory, and positive performance in flexibility components and body composition. Just muscular strength showed relation with body mass index. Keywords: Physical performance. Physical fitness. Health. Teens. School children’s.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As mudanças no estilo de vida decorrentes da ampliação das facilidades da vida moderna aliadas ao sedentarismo e aos hábitos alimentares inadequados tornaram-se causas para o desenvolvimento de doenças ou riscos à saúde humana (DAMASO; GERRA, 2006). Por outro lado, claras evidências apontam que a saúde é determinada, em boa parte, pelos hábitos de estilo de vida, entre eles, pela atividade física habitual e pela aptidão física. Esses dois aspectos também se associam fortemente ao bem-estar e a melhor qualidade de vida de pessoas em todas as idades. Entretanto, a aptidão física não é determinada apenas pelos níveis habituais de atividade física, estando condicionada a outros fatores como as características pessoais, genéticas e aspectos sócio-culturais (NAHAS, 2006).
A aptidão física de crianças e adolescentes da atualidade tem gerado preocupação aos pesquisadores da área devido aos baixos níveis observados ao longo dos últimos anos. Atualmente, apenas 40% das crianças em idade escolar participam efetivamente de atividades de educação física por dia (FOSS, KETEYIAN, 2000). Estima-se que os meninos são mais ativos fisicamente do que as meninas, e diferenças nos níveis de atividade física também podem ser identificadas de acordo com a idade dos jovens (GUEDES et al., 2001). À medida que a idade avança, parece existir uma tendência de declínio dos níveis de atividade física entre os jovens, especialmente entre as meninas, ocorrendo o pico dessa queda por volta dos quinze anos de idade. Além disso, os meninos tendem a participar em maior quantidade de atividades físicas moderadas e vigorosas em comparação às meninas, entretanto, mesmo entre eles há uma diminuição da atividade física com o passar da idade (LEAL, KLUG, 2007).
Crianças e adolescentes necessitam de atividade física diariamente para se manterem treinados e saudáveis. Tais atividades deveriam ser variadas (p. e., jogos, esportes, brincadeiras, etc.), salientando o prazer e a satisfação na prática como uma das principais motivações para a participação dos jovens (NIEMAN, 1999). Outro ponto importante é o exemplo passado aos jovens. A convivência com um modelo de estilo de vida saudável e ativo pode fomentar o interesse de crianças e adolescentes por esses comportamentos durante toda a vida (FOSS; KETEYIAN, 2000). Muitas das principais doenças da atualidade estão relacionadas com os hábitos de estilo de vida das pessoas e que esses comportamentos são, geralmente, aprendidos na infância e adolescência (NIEMAN, 1999).
São vários os benefícios da atividade física para os jovens. A realização de exercícios vigorosos em fazes precoces da vida pode garantir um pico mais elevado de densidade mineral óssea na idade adulta, prevenindo os efeitos deletérios da osteoporose (NIEMAN, 1999). A participação regular em atividades físicas aeróbicas promove o aprimoramento da capacidade cardiorrespiratória de crianças e adolescentes de maneira fisiologicamente semelhante a dos adultos e, conseqüentemente, pode proporcionar os mesmos benefícios observados entre indivíduos adultos, como baixos níveis de glicose sanguínea e de pressão arterial (FOSS; KETEYIAN, 2000). O peso corporal também é um importante indicador de saúde em crianças e adolescentes, e mantém uma estreita relação com os níveis de atividade física e aptidão cardiorrespiratória. Evidências indicam que um aumento excessivo de peso costuma manter paralelismo maior com uma reduzida atividade física do que com uma alta ingestão calórica (McARDLE et al., 1998). Estudos mostram que, comparativamente, crianças e adolescentes com peso corporal normal e com excesso de peso apresentam aportes energéticos semelhantes, porém níveis de atividades físicas significativamente diferentes, sendo os jovens com excesso de peso menos ativos fisicamente (POLLOCK; WILMORE, 1993).
Para muitas crianças e adolescentes a escola é o principal espaço de relacionamento e movimento, devendo, então, auxiliar o jovem no seu processo de desenvolvimento, não apenas intelectual e psicossocial, mas também físico-biológico e de promoção de saúde. Nesse contexto, avaliar as condições de saúde e aptidão dos jovens é tarefa relevante para a contribuição da qualidade de vida desses indivíduos. Desse modo, o objetivo desse estudo foi avaliar o nível e a correlação de componentes de aptidão física relacionada à saúde de escolares do ensino fundamental do município de Bagé, RS, Brasil.
Metodologia
A amostra constituiu-se de alunos de uma escola municipal de ensino fundamental localizada na zona urbana de Bagé, RS, Brasil. Foram avaliados os componentes da aptidão física relacionada à saúde, incluindo a força, resistência aeróbica, flexibilidade e composição corporal. Os critérios de inclusão no estudo foram (1) estar presente em aula no dia de aplicação dos testes e (2) a aceitação voluntária em participar das avaliações.
Os procedimentos de tomada das medidas seguiram as orientações do manual de aplicação de medidas e testes, normas e critérios do Projeto Esporte Brasil (GAYA, 2007). Foram coletadas as variáveis peso (kg) e estatura (cm) para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) em kg/m2, sendo essa a medida de composição corporal. A força muscular foi mensurada pelo teste de abdominais em 1 minuto; a flexibilidade foi medida pelo teste de sentar-e-alcançar adaptado (sem o banco de Wells); e a resistência aeróbica foi mensurada através do teste de corrida/caminhada de 9 minutos. As medidas de peso e estatura corporal foram tomadas no mesmo dia de avaliação, enquanto os demais testes físicos foram aplicados em dias distintos.
O peso corporal foi medido utilizando-se uma balança digital com precisão de 0,1 kg e com o indivíduo vestindo o mínimo de roupa possível e descalço. A estatura foi mensurada utilizando uma fita métrica com precisão de 1 mm fixada em uma parede e com um esquadro. Para a aplicação do teste abdominal utilizou-se um colchonete de ginástica e um cronômetro digital. O aluno deitava-se no colchonete tomando uma posição adequada enquanto tinha seus pés presos ao solo. Ao sinal, ele realizava o maior número de repetições possíveis do movimento dentro do tempo de 1 minuto, sendo contabilizadas apenas as repetições completas. Para o teste de flexibilidade foi fixada no solo uma fita métrica com precisão de 1mm. O avaliado sentava descalço no chão sobre a fita com as pernas estendidas e separadas com os calcanhares próximos a marca de 38 cm e afastados entre si cerca de 30 cm de distância. Ao sinal, com as mãos sobrepostas e dedos alinhados o aluno flexionava o tronco a frente de modo a alcançar a maior distância possível sobre a trena, sendo registrada a melhor marca entre duas tentativas. O teste de resistência aeróbica foi aplicado em uma pista de grama de 100 m2 marcada com cones distantes 5 metros entre si. Os alunos foram divididos em grupos de cinco ou seis indivíduos, estes posicionavam no ponto zero da pista e ao sinal percorriam a maior distância possível correndo ou caminhando dentro do tempo de 9 minutos, obtendo o escore final multiplicando-se o número de voltas percorridas pela extensão da pista, mais os metros finais quando necessário.
Os critérios de análise e classificação dos resultados seguiram o manual de aplicação de medidas e testes, normas e critérios do Projeto Esporte Brasil (GAYA, 2007). A análise dos dados envolveu procedimentos de estatística descritiva para os resultados da amostra em geral e estratificado por sexo, e análise de correlação de Pearson (r) entre a composição corporal os demais componentes de aptidão física.
Resultados e discussão
A amostra constituiu-se de 52 indivíduos, 21 (40,4%) meninos e 31 (59,6%) meninas, com idades entre 10 e 12 anos (Média=11,44±0,7 anos) que freqüentavam regularmente as aulas de educação física na escola. O desempenho médio do grupo de adolescentes no teste abdominal foi de 22,8±9,3 repetições, no teste de corrida de 1242,8±220,6 metros, no teste de flexibilidade de 39,0±9,5 centímetros e no IMC de 19,4±3,5 kg/m2. A Tabela 1 apresenta o desempenho dos escolares avaliado para a amostra geral e por sexo, conforme as categorias de aptidão física. O maior número de perdas de dados foi de 17,3% (n=9) ocorridas no teste de flexibilidade.
Tabela 1. Escores obtidos nos testes classificados de acordo com o sexo e nível de aptidão
O grupo alcançou resultados satisfatórios no teste de flexibilidade, onde 18,6% dos indivíduos classificaram-se como Muito Fraco/Fraco e mais da metade (53,5%) com resultado Muito Bom/Excelente. Na comparação por sexo, as meninas obtiveram rendimento superior ao dos meninos, tendo apenas 8% delas com níveis de flexibilidade abaixo do ideal enquanto que 33,3% dos meninos apresentaram esse nível.
Foi identificado um déficit considerável em relação ao desempenho de força entre os avaliados. Mais da metade do grupo (52,0%) foi classificado nas categorias Muito Fraco ou Fraco, apenas 6,8% na categoria Muito Bom. Entre meninos, 40,0% dos avaliados foram Muito Fraco ou Fraco e 6,8% classificaram-se como Muito Bom. Para as meninas os resultados foram ainda piores, 43,3% delas apresentaram rendimento Muito Fraco ou Fraco, e os melhores resultados alcançaram apenas a categoria Bom, com 10,0% das avaliadas. Nenhum dos indivíduos avaliados no teste de força obteve resultado classificado como Excelente.
Na avaliação da aptidão cardiorrespiratória, os resultados apresentados foram insuficientes para a amostra como um todo. Entre os sexos, os resultados foram razoáveis para os indivíduos do sexo masculino e insuficientes para os do sexo feminino. No total, quase um terço (32,6%) apresentaram resultado considerado Muito Fraco e apenas 4,4% um resultado Muito Bom. Na análise por sexo 44,5% dos meninos e 53,5% das meninas estão classificados abaixo do ideal (Muito Fraco e Fraco). Um desempenho considerado Muito Bom foi obtido por apenas 3,6% das meninas e 5,5% dos meninos avaliados, entretanto, quase um terço (27,8%) dos meninos apresentaram um nível de aptidão cardiorrespiratória considerado Bom.
A avaliação da composição corporal, por meio do IMC, mostra que 62,2% dos escolares apresentaram níveis normais, 33,3% sobrepeso e 4,5% obesidade. Separadamente, meninos e meninas apresentaram valores semelhantes de IMC dentro da normalidade, sendo, respectivamente, de 60,0% e 64,0%. Os meninos apresentaram uma freqüência de 40,0% dos indivíduos com sobrepeso, sendo consideravelmente superior àquela observada entre as meninas (28,0%). No entanto, nenhum dos meninos apresentou obesidade enquanto 8,0% das meninas estiveram assim classificadas.
Tabela 2. Classificação da amostra quanto ao índice de massa corporal
A análise entre nível de IMC e o desempenho nos testes de aptidão física é descrita na Tabela 3. Quase metade dos escolares (43,6%) com IMC normal obtiveram resultado positivo no teste de força. Aqueles indivíduos com IMC elevado (28,2%) apresentaram um desempenho considerado fraco no teste de força. Além do mais, os dados mostram uma relação inversa e significativa (r= -0,432; p=0,006) entre o nível de composição corporal e a força entre os escolares.
O IMC também manteve relação inversa (r= -0,185; p=0,247) com a aptidão cardiorrespiratória dos escolares, no entanto, tal relacionamento não foi determinante no desempenho dos avaliados. Dos indivíduos com desempenho positivo no teste cardiorrespiratório, 34,1% apresentaram IMC normal e 19,5% IMC elevado, sendo uma diferença de 14,6%. Por outro lado, entre os indivíduos com desempenho cardiorrespiratório negativo, 29,3% tinham nível de IMC normal e 17,1% um nível de IMC elevado, estabelecendo uma diferença de 12,2%. A observação dessas pequenas diferenças não mostra de maneira clara uma relação entre o nível de IMC e o desempenho no teste cardiorrespiratório.
Quanto à flexibilidade, 44,8% dos indivíduos com IMC normal e 34,2% daqueles com IMC elevado apresentaram resultado positivo para a flexibilidade, o que determina uma diferença de 10,6%. Entretanto, dos indivíduos com desempenho negativo no teste de flexibilidade, 18,4% tinham IMC normal e apenas 2,6% tinham IMC elevado, sendo uma diferença de 15,8%. Os dados da analise de correlação mostram que o nível de IMC não influencia significativamente (r= 0,103; p=0,537) no desempenho no teste de flexibilidade.
Tabela 3. Desempenho nos testes de aptidão física de acordo com o índice de massa corporal.
Conclusão
Conclui-se que o desempenho geral do grupo nos testes de aptidão física foi positivo nos componentes flexibilidade e composição corporal, e insuficiente nos componentes força e aptidão cardiorrespiratória. Comparativamente, as meninas apresentaram melhor desempenho nos componentes flexibilidade e índice de massa corporal, e os meninos foram superiores nos componentes força e resistência cardiorrespiratória. Apenas a força muscular apresentou relação com os níveis de índice de massa corporal, sendo que melhores resultados de força foram obtidos por indivíduos com menores índices de massa corporal.
Referências
DAMASO, A. R. & GUERRA, R. L. F. A atividade física espontânea no tratamento da obesidade. Revista Abeso, n. 7, 2006.
FOSS, M. L. & KETEYIAN, S. J. Fox bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
GAYA, A.; SILVA, G. Manual de aplicação de medidas e testes, normas e critérios de avaliação – PROESP-BR. Porto Alegre: ESEF/UFRGS, 2007.
GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. P.; BARBOSA, D. S.; OLIVEIRA, J. A. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes. Rev Bras Med Esporte. v. 7 n. 6, nov./dez. 2001.
LEAL, D. B. & KLUG, D. P. Atividade física e crianças. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, ano 11, n. 105, fev. 2007. http://www.efdeportes.com/efd105/atividade-fisica-e-criancas.htm
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4. ed. rev. atual. Londrina: Midiograf, 2006.
NIEMAN, D. C. Exercício e saúde. São Paulo: Manole, 1999.
POLLOCK, M. L. & WILMORE, J. H. Exercício na saúde e na doença. 2. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993.
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