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Análises estatísticas e relacionais no futebol

Análisis estadísticos y relacionales en el fútbol

 

*Esp. Gestão Esportiva

Bacharel em Educação Física, PUCRS

Especialista em Administração e Marketing Esportivo, UGF

**Bacharel em Educação Física, PUCRS

Especialista em Ciências da Saúde e do Esporte, PUCRS

***Licenciado em Educação Física

Mestre em Ciências do Movimento Humano, ESEF/UFRGS

Bruno de Castro Xavier*
Rodrigo Cadaval Casali**

Christiano Guedes***

brunoxaxavier@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O aumento da competitividade no futebol durante os últimos anos tem sido evidente. Atualmente os campeonatos e partidas vêm sendo decididos em detalhes. Este estudo tem como objetivos identificar valores médios de aproveitamento sobre sete variáveis futebolísticas (número de gols por partida, finalizações, cartões vermelhos, cartões amarelos, faltas cometidas, impedimentos e passes errados) verificar diferenças estatisticamente significativas, trazer seus principais fatores de ocorrência e comparar seus valores entre diferentes competições. A amostra foi composta por 346 jogos de duas competições distintas, consideradas de alto nível técnico, sendo uma delas européia e a outra brasileira. Este estudo terá caráter quantitativo e exploratório-descritivo, por se tratar de um estudo com coleta retrospectiva de dados ainda não analisados em meio acadêmico, buscando assim entender seu estágio atual. Foram aplicados os testes de estatística descritiva e ANOVA nas amostras. Como resultados, nos valores médios, podem-se verificar, diferenças significativas na quantidade de cartões amarelos recebidos pelos clubes visitantes nas duas competições estudadas e médias maiores de finalizações e gols a favor das equipes mandantes, também em ambas as competições. Não foram encontradas diferenças significativas, nos valores referentes a passes errados, faltas cometidas e impedimentos em nenhum dos dois torneios. Quanto aos valores relacionais, foram obtidos os valores de: 85% das partidas foram vencidas pela equipe que havia finalizado mais, em apenas 20% das partidas analisadas, o vencedor era a equipe que havia recebido mais cartões amarelos, em 6% dos casos analisados, as equipes com inferioridade numérica venceram a partida e em 64% dos jogos analisados, que obtiveram um vencedor, este foi o mandante.

          Unitermos: Futebol. Estatística.

 

Abstract

          An increased at the competitiveness in football in recent years has been evident. Currently the league matches have been determined in details. This study aims to identify average results of seven variables of football (number of goals per game, shoots on goal, red cards, yellow cards, fouls, incomplete pass or off sides) to verify statistically significant differences, bringing its main factors of occurrence and to compare its values between different competitions. The sample consisted of 346 games in two different competitions, which are considered of high technical level, one happens in Europe and the other is Brazilian. This study will take a quantitative and exploratory description, because it is a study with retrospective data collection - wich has not yet analyzed in literature - trying to understand their current stage. Tests were applied for descriptive statistics and ANOVA in the samples. The average results can be verified: significant differences in the amount of yellow cards received by the away clubs in competitions studied, visitors and averages over endings and goals for the home team, also in both competitions. There were no significant differences in the figures for incomplete pass, off sides, and number of committed fouls in both tournaments. As for the relational values, values were obtained: 85% of matches were won by the team that had finished more, in only 20% of the games analyzed, the winner was the team that had received more yellow cards, in 6% of cases examined teams with outnumbered won the match, in 64% of the games examined, which had a winner, this was the home team.

          Keywords: Soccer. Statistics.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol profissional teve seu inicio em 1885 na Inglaterra (VIEIRA E FREITAS 2006) com a criação das primeiras ligas oficiais. Desde então ocorreram muitas mudanças e evoluções, nos aspectos físicos, táticos e técnicos. Com tantas e significativas mudanças, o futebol deixou de ser uma pratica empírica, realizada apenas recreacionalmente pela elite inglesa e adquiriu as grandes proporções sociais que hoje detém. Apenas para que se possa ilustrar o quanto a indústria do futebol vem gerando de movimento financeiro, nos últimos cinco anos, os valores movimentados pelos 10 maiores clubes de futebol, foram na ordem de 4 bilhões e 659 milhões de euros (GONÇALVES, 2010). O futebol, como uma prática de ação desportiva é composto por um coletivo, seres esses que interagem, em situações de oposição ou cooperação, com relações coerentes e conseqüentes, dispondo de metas e funções definidas. Para CASTELO (1994) as realidades do futebol de hoje exigem mais do que foi tradicionalmente pensado pelos especialistas de papel e lápis, os quais não dispunham de muito embasamento teórico, ou seja, simplicidade e improviso, requer aprofundamento técnico - pratico e maior especificidade nas ações para gerar um processo de maior eficácia. Pelos motivos acima citados a partida de futebol passa a ser entendida de maneira processual, de onde existe um problema fundamental compreendido da seguinte forma (GRÉHAIGNE & GUILLON, 1992): numa situação de enfrentamento, os atletas devem coordenar as ações com a finalidade de recuperar, conservar e fazer com que o objeto do jogo (a bola) tenha progressão, buscando finalizá-lo em direção ao gol. Por tratar-se de um conjunto de ações, existe a necessidade da fragmentação das análises, visando melhoria na compreensão, identificação de erros e aumento de performance. Assim existe a necessidade do suporte cientifico para tal acompanhamento. Deve-se lembrar apenas que de acordo com GARGANTA (2001) o futebol, é um grupo de situações de mudanças com finais sempre em aberto, portanto, não é uma ciência exata. Além disso, é praticado por seres humanos e depende de fatores não controláveis, tais como intempéries naturais, gramados que nem sempre possuem as mesmas características, qualidade técnica (mesmo tratando-se de um esporte de alto rendimento existem diferenças técnicas entre os praticantes) ou condições psicológicas dos atletas, mas com certeza a ciência pode agregar conhecimento à prática e melhorar o rendimento no futebol. O presente estudo visa estabelecer valores médios de tal item e analisá-lo, buscando, se possível e pertinente, valores relacionais com as outras variáveis futebolísticas em estudo (gols, finalizações, números de cartões amarelos e vermelhos, faltas cometidas, impedimentos e passes errados) tornando assim inteligíveis, algumas relações de causa e conseqüência no esporte. Em alguns casos o time vencedor de uma partida, ou até mesmo de uma competição, não é aquele que obtém maiores chances, mas que apresenta menor taxa de erros e maior aproveitamento diante das oportunidades criadas. Objetivamos identificar nas duas competições, Campeonato Brasileiro (CB) temporada 2009 e Uefa Champions League (UCL) temporadas 2008/2009 e 2009/2010, quando isso ocorre e com que freqüência, verificando assim a existência de diferenças significativas. Consideramos que a relevância do presente estudo deve-se ao fato de que ao estabelecer uma relação de eficiência média, pode-se saber qual a necessidade de aproveitamento para se obter êxito sobre tais variáveis, assim quantificando um rendimento ideal a ser atingido por uma equipe de futebol. Por fim, estabeleceu-se este tema por acreditar que possam existir padrões de rendimento para o esporte. A procura das razões que levam uma equipe a ser mais eficaz que outra, quando se pensa no resultado final de uma partida de futebol, é um dos objetivos dos técnicos treinadores e estudiosos do assunto, tais como VENDITE (2001).

Revisão de literatura

    Durante o século XIX de acordo com MARTIN (2001) viu-se florescer numerosas pesquisas estatísticas cobrindo domínios tão variados quanto a prostituição, as condições de vida dos operários, os traços antropométricos de criminosos, os sistemas industrial e agrícola. Tais registros tinham a finalidade de melhor delimitar o fenômeno em voga, para melhor controlá-lo ou nele intervir; porém progressivamente, estas finalidades “sociais e política” se desdobraram em uma finalidade científica para melhorar o conhecimento de fenômenos sociais ou humanos. A crença na idéia de que um conhecimento quantificado dos fatos permite melhor conhecê-los e eventualmente modificá-los era muito promissora, tanto para os administradores quanto para cientistas. Nos esportes a necessidade de registros e das análises das ações individuais técnico-táticas foi apresentada pela primeira vez, segundo GOKIK (1996) em 1936, onde foi proposto que em cada partida é necessário fixar a quantidade de passes e outras técnicas do jogo, bem como a efetividade dessas na evolução das ações de ataque e defesa. Em 1936, para a maioria dos clubes de futebol no Brasil, o número de competições disputadas não era maior do que duas por ano, sendo o campeonato citadino ou regional uma delas e em algumas exceções, campeonatos inter estaduais. Os clubes europeus, nesta época disputavam a liga nacional e aqueles melhores classificados participavam das copas nacionais. Atualmente, de acordo com a Confederação Brasileira de Futebol, o calendário profissional no Brasil é divido em alguns campeonatos. Têm-se os nacionais: Campeonato Brasileiro das Séries A a D e a Copa do Brasil. Somando-se a estes, existem os campeonatos estaduais, referentes às disputas dos clubes dentro dos seus respectivos estados da federação. Os clubes com melhores colocações nos campeonatos nacionais têm direito de disputar uma das copas sul americanas organizadas pela Confederação Sul Americana (CONMEBOL). No mesmo período, os times de maior porte da Europa disputam a Liga e a Copa de seus paises, e aqueles de melhores campanhas adquirem o direito de participação em um dos torneios internacionais organizados pela União das Federações Européias de Futebol (UEFA). Portanto o futebol é um esporte com um alto número de datas previstas para eventos oficiais. Normalmente durante uma temporada anual, certas equipes chegam a realizar perto de 80 partidas. Considerando-se que os clubes dispõem de um mês de férias (previsto em acordo com o sindicato dos atletas) e aproximadamente um mês de fase preparatória (pré-temporada) sobram, aproximadamente, trezentos dias para a realização de oitenta jogos. Gerando uma média de quase dois jogos por semana, durante três semanas por mês. Todos estes jogos são vendidos, transmitidos por rádio, mídia impressa, internet e também televisionados. Quando televisionados, constituem-se num dos principais eventos midiaticos, atraindo investimentos para os clubes que buscam patrocinadores para seus uniformes e estádios. De acordo com VENDITE (2005) em muitas vezes o dinheiro pago pela televisão para os clubes brasileiros, pelo direito à transmissão dos jogos, é a sua maior fonte de renda fixa. Por se tratar de um investimento milionário, por parte da empresa de televisão, podemos observar uma série de atrativos durante as transmissões (câmeras que nos dão a impressão de estarmos dentro do gramado, microfones em todo o perímetro do campo, captando o som ambiente e os cânticos da torcida, até dados sobre a performance da equipe ou do jogador, abordando o desempenho no desenvolvimento dos fundamentos do jogo de futebol). Ainda de acordo com o autor tais dados permitem que o telespectador possa verificar o comportamento das equipes durante o evento. As estatísticas dos jogos de futebol, tem recebido o nome de Scout. Com o Scout da partida, mesmo o telespectador que não acompanha diariamente o futebol, tem condições de perceber o que está acontecendo no jogo. Essa ferramenta tem como utilidade servir os profissionais que atuam diretamente no futebol (técnicos e preparadores) na construção global da equipe. Alguns estudos com Scouts já foram feitos correlacionando alguma variável com o resultado da partida. LAMAS e BORGES (2005) verificaram a correlação linear entre o número de faltas e o número de vitórias, encontrando a correlação r = - 0,14, o que indica correlação negativa de fraca a moderada. Logo, o teste demonstrou que o número de faltas não apresenta relação direta com o número de vitórias, as equipes podem vencer ou perder independentemente do número de faltas que cometam. Mesmo não apresentando relação direta com as vitórias, os autores observam que o número de faltas vem sendo utilizado por jogadores e treinadores como recurso tático e estratégico da equipe, logo, pode-se concluir que a maioria das faltas segue esse princípio, de paralisar o jogo, mas não necessariamente é cometida com violência. Não havendo uso de violência direta, os atletas não recebem maiores punições, não recebendo tais punições, os mesmos não são expulsos e sua equipe permanece com onze jogadores em campo, não havendo disparidade numérica. Outro estudo que relaciona uma variável do futebol ao desempenho dos times foi feito por CLARKE e NORMAN (1995) quando analisaram as partidas do Campeonato Inglês de futebol, temporada 86/87 e mostraram haver uma diferença de aproveitamento de 92% nos pontos disputados com e sem mando de campo. Nesta temporada o Manchester United ganhou treze partidas em seus domínios e apenas um jogando como visitante. Nesta mesma temporada o seu rival citadino o Manchester City, que fora rebaixado, venceu oito partidas em casa; porém não venceu nenhum jogo quando jogado fora de Manchester. Essa diferença foi determinante para as colocações das equipes, pois mesmo que tivessem um desempenho interessante jogando como mandantes, não obtinham êxito jogando como visitante, assim obtiveram colocações muito aquém do seu desempenho apresentado quando jogavam em seus campos.

Metodologia

    Este estudo terá caráter quantitativo e exploratório-descritivo, por se tratar de um estudo com coleta retrospectiva de dados ainda não analisados no meio acadêmico, pois como define AZEVEDO (1998) este tipo de pesquisa permite mostrar o atual estágio de um determinado fenômeno, a partir de dados de conhecimento público. O presente estudo terá como universo, para fins comparativos de valores obtidos, somente as partidas de futebol profissionais da fase final da Liga dos Campeões da Europa (UCL) temporadas 2008/2009 e 2009/2010 e do Campeonato Brasileiro da Série A temporada 2009 (CB). Totalizando assim 346 partidas, sendo 100 da competição européia e 246 da competição brasileira. Escolheram-se tais competições pelos seus elevados níveis técnicos e alta competitividade (em ambas nas ultimas dez edições, houve sete diferentes campeões). As variáveis comparadas foram: cartões amarelos e vermelhos (recebidos pela equipe durante o tempo corrente de jogo e registrados em súmula), número de faltas cometidas pela equipe, finalizações totais (as que ultrapassaram a linha de meta, sendo pela linha de gol ou não, as finalizações, que atingiram as traves ou travessão, ou ainda as defendidas pelo goleiro) quantidade de gols feitos por partida (placar), impedimentos ativos e marcados pela arbitragem e número de passes errados efetuados pela equipe (arremessos laterais, tiros de meta, cobrança de faltas, sem arremate direto a gol, bolas divididas e passes em andamentos interceptados pelo adversário ou não, porem que não tenham chegado a um companheiro de equipe). Para coletar os dados utilizou-se da observação natural das partidas, e fez se a conferência dos dados obtidos com as entidades responsáveis pelos eventos, através dos sites das mesmas (exemplo de documento de análise em anexo). Para a análise dos dados os programas utilizados foram Microsoft Excel 2007 e o programa de suporte BioEstat 5.0 usando-se as opções ANOVA e de estatística descritiva. O nível de significância utilizados nos testes foi de p > 0,05.

Tabela de acompanhamentos das partidas

Análise dos dados

    Foram obtidos os seguintes valores para as médias de gols por partida no Campeonato Brasileiro: time da casa (MC) 1,71 (DV = ±1,24) contra 1,16 (DV = ±1,08) do time visitante (MV). Já no certame europeu a média de gols por partida do time da casa foi de 1,58 (DV ± 1,46 p <0,01, porém p <0,05) enquanto os times visitantes tiveram média de 1,07 (DV ± 1,00) gols por partida.

    Na avaliação média das finalizações por partida, de acordo com os gráficos abaixo, os valores encontrados foram os seguintes: na competição européia os times mandantes finalizam em média 14,33(DV ±5,32) enquanto os times visitantes têm em 12,13 (DV ±4,67) a sua média de finalizações. Quando se analisa a competição brasileira os valores obtidos para os times da casa e visitantes são respectivamente de 10,68(DV ±3,80) e 8,30(DV ±3,37).

    Na avaliação média do número de cartões amarelos recebidos pelas equipes nas competições européias encontram-se 1,77(DV ±1,27) cartões amarelos por jogo para o time mandante e 2,22(DV ±1,31) para os times visitantes (p >0,05) e na analise da mesma variável nos jogos feitos no Brasil apreciam-se os valores de 2,81(DV ±1,39) cartões amarelos de média para os mandantes e de 3,25(DV ±1,45 p <0,01, porém p <0,05) cartões por partida para os times que os visitam.

    Quando avaliado o número médio de cartões vermelhos recebidos pelas equipes européias os valores obtidos pelos mandantes e visitantes foram encontrados respectivamente os seguintes valores; 0,06(DV ±0,23) e 0,11(DV ± 0,34 p <0,01, porém p <0,05) cartão por jogo. No mesmo item porem nos jogos do campeonato nacional foram verificados os seguintes resultados. Para os times mandantes 0,19 (DV ±0,45 p <0,01, porém p <0,05) e 0,31 (DV ±0,53) para os times visitantes.

    Na avaliação do número de faltas cometidas por jogo no torneio europeu obteve-se como média os valores de 15,29(DV ±4,41) para as equipes mandantes dos jogos e de 15,96(DV ±5,45) para as equipes visitantes, já na analise das partidas do campeonato brasileiro os valores encontrados foram de 19,21(DV ±4,89) para os mandantes e de 18,47(DV ±4,60) para as equipes adversárias.

    Foram obtidos os seguintes valores para as médias de impedimentos por partida na competição européia. 2,97(DV ±2,44) para os times da casa e 2,53(DV ±1,98) para o time visitante. Na competição brasileira as equipe da casa ficam, de acordo, com as médias obtidas, impedidas em média 2,44(DV ±1,84) vezes por jogo, enquanto os visitantes encontravam-se em situação de fora de jogo 2,44(DV ±1,91) vezes por partida.

    A última variável a ser analisada foi a de passes errados por partida, em média, pelas equipes européias quando jogam em casa e fora. Nesta situação os erros médios foram de 33,73(DV ±10,3 p <0,01, porém p <0,05) e 32,17(DV ±10,3) nestas condições. Quando se fez a analise da mesma variável no campeonato brasileiro o valor obtido para as equipes mandantes foi de 32,11 (DV ±10,0 p <0,01, porém p <0,05), enquanto os visitantes erraram 31,38(DV ±10,5) passes por jogo.

Considerações finais

    Após a observação dos valores obtidos pelo estudo é possível notar, que os times mandantes marcam mais gols em média, por partida, que os times visitantes, tanto no campeonato brasileiro quanto no torneio europeu. Percebe-se também que na média os times da casa finalizam mais vezes a gol, por partida, do que aqueles que os visitam, ou seja, entendemos que as equipes que fazem maior número de gols por partida, o fazem por terem maiores oportunidades. Tais oportunidades podem ser atribuídas, a alguns fatores, provavelmente, não técnicos, entre eles podemos citar o apoio dos torcedores, o fato de que a equipe local já está acostumada ao gramado suas dimensões, o tipo e a altura da grama, a não necessidade de viagem da equipe mandante e também a algumas atitudes dos times visitantes, que podem influenciar a motivação do time da casa. Na maioria das oportunidades, os visitantes adotam táticas defensivas, o que pode vir a beneficiar psicologicamente – alterações positivas na percepção de controle e autoconfiança – as equipes que jogam em casa, segundo MONDO e DIAS (2009). Embora as diferenças médias não sejam estatisticamente significativas (p >0,05), cabe ressaltar que no caso do esporte de alto rendimento, uma diferença, por menor que aparente ser, pode significar o êxito ou a derrota. Ao coletar os dados para este trabalho, observou-se algumas equipes que venceram o jogo finalizando menos que o adversário (15% dos casos) e nesses casos, em duas partidas específicas, foi constatado que o time vencedor, finalizou quatro vezes menos que o adversário mas mesmo assim, ganhou a partida por diferença mínima de um gol. Ao observar tais percentuais podemos afirmar que a premissa de que o time que tenha maior quantidade de finalizações normalmente vence o jogo é verdadeira, pois em 85% dos casos ela ocorreu. Quando analisamos a ocorrência de gol por finalização, constatamos que o aproveitamento médio das equipes mandantes varia entre seis e nove finalizações para cada gol marcado. Ao analisar as finalizações do time visitante percebemos que em média o gol ocorre entre sete e onze finalizações. Esta diferença pode estar no fato de que mesmo com médias de passes errados próximas, às equipes da casa tem em média dez por cento a mais de posse de bola. Aliado a isso de acordo com CUNHA (2003) o vencedor do jogo em 54% dos casos é aquele que erra menor número de passes. Portanto quando a equipe joga em seus domínios, consegue ter maior posse de bola, pelo fato de o adversário tentar se defender primeiramente MONDO e DIAS (2009). Por ter maior posse de bola, ela passa mais tempo com o objeto do jogo, podendo assim finalizar mais vezes, logo tal equipe passa a ter maiores chances de vencer a partida. Com tal formulação, é possível dizer que em condições numéricas equivalentes a equipe mandante, quando erra menos passes e finaliza mais vezes tem maiores chances de vencer a partida. Para que a equipe visitante possa impedir tal fato, ela deve primeiramente evitar errar passes e buscar ser mais eficiente nas finalizações, não necessitando de um maior número de ataques para efetuar um tento. Por fim, das partidas analisadas que tiveram vencedor, os mandantes venceram em 64% dos casos contra 36% dos visitantes. Quando passamos a analise do número de cartões amarelos recebidos pelas equipes, encontramos diferenças estatisticamente significativas nos valores. Os times mandantes receberam em média, menor quantidade de cartões por partida, tanto no torneio europeu quanto no campeonato brasileiro. Na competição européia a diferença foi estatisticamente significativa (p >0,05). Em alguns casos as equipes visitantes chegavam a receber três vezes mais cartões do que os mandantes. Esta diferença em prol do mandante, nesta variável, também é relatada por NEVIL, BALMER, WILLIANS (2002). Esta variável quando aliada à análise do resultado da partida, permite estabelecer que em apenas 20% dos casos, as equipes que recebiam maior número de cartões amarelos venciam a partida. Entende-se que o cartão amarelo no futebol exerce um papel disciplinador, pois o árbitro ao aplicá-lo, simboliza ao atleta que o recebeu que na próxima violação de regra de mesma ou maior intensidade o mesmo estará excluído do jogo e sua equipe será punida. O fato de as equipes visitantes receberem um maior número de sanções, pode ser associado à pressão do estádio sobre o árbitro, segundo MONDO e DIAS (2009), pois a pressão de torcedores e jogadores pode levar os árbitros a beneficiar o time da casa, mesmo que involuntariamente. Os mesmos para que não percam o controle da partida, por exacerbada pressão, aplicam a punição ao atleta, este, por sua vez, para não ser excluído do jogo acaba não cometendo mais infrações. Quando feita à análise dos cartões vermelhos por partida, o fator local é predominante, pois a média de expulsões é maior dos times visitantes. Entende-se que nesse caso a pressão local, ou seja, quando o estádio inteiro clama pelo cartão, o árbitro acaba cedendo e, sem entrar em méritos de merecimentos, exclui o jogador da partida, MONDO e DIAS (2009). Ao analisar quantas vezes o vencedor eram as equipes que terminaram o jogo com menos atletas em campo, verificamos, que isso ocorreu em apenas 6% dos casos e em somente 7,8% das partidas analisadas, as equipes que tinham menor número de atletas em campo ao término da partida, conseguiram empatá-la. Na análise da quantidade de faltas cometidas por partida, não foram encontradas diferenças significativas. Buscou-se relacionar o número de faltas às vitórias e verificou-se que as equipes podem vencer o jogo, praticando uma quantidade, seja ela maior, igual ou menor, de faltas do que o adversário. Tal variável não implica diretamente no resultado. No entanto, esta se relaciona ao resultado final do evento, quando analisada concomitantemente a quantidade de cartões, tanto amarelos quanto vermelhos e por seguinte, esta passa estar relacionada à superioridade numérica, acima citada. A quantidade de faltas cometidas, pelas duas equipes, por ser muito próxima, não gera, num contexto global diferenças evidentes. Pode-se apenas ressalvar que, se da infração, derivar o tento, esta passa a ter relação com o resultado, mas como um ato isolado, não podendo ser considerado para fins gerais. A análise da quantidade de impedimentos por jogo chega a uma conclusão, semelhante a do item supracitado. Não havendo disparidade estatisticamente significativa entre o número de impedimentos entre as equipes mandantes e visitantes, em nenhuma das competições, e não tendo essa variável relação direta com a quantidade de gols marcados, pois foram encontrados casos em que as equipes vencedoras tinham maiores, iguais e menores quantidades de infrações de fora de jogo assinaladas, entendemos que a mesma não é de suma importância para a placar final da partida. No item passes errados, foram encontrados valores de grande variância, de sete a setenta e dois passes errados por jogo, o que gerou p <0,01, porém p <0,05. Quando inseridos nos valores médios, estas variâncias foram menores, não apresentando para o estudo diferenças significativas acima dos valores de referencia adotado (p > 0,05). Atribuímos tamanha variância na quantidade de passes errados, a pressão local, pois na maioria dos casos analisados as maiores quantidades de passes errados eram de times mandantes. Entretanto como já elucidado, podem e existem casos em que as equipes erram números de passes próximos, porem uma equipe erra vinte passes em duzentos efetuados, enquanto a sua adversária erra a mesma quantidade ao tentar executar sessenta passes, logo o número de passes errados analisado de maneira isolada, não é de cunho relevante para o estudo, ou entendimento de um fenômeno, pois também existem casos de equipes ganhando, empatando e perdendo com maior valor numérico de passes errados. Assim sendo, o que se deve analisar é sim, a posse de bola e da eficiência da equipe com a mesma. Como já explanado acima, esta reflete diretamente no resultado final da partida. Por fim, após analisar todos os dados entendemos que ambas competições, ao serem comparadas tem valores semelhantes em quase todas as variáveis e refletem assim a realidade do futebol moderno; muito equilíbrio e poucas diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis analisadas.

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