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A mídia e o ídolo Ronaldo: um estudo comparado na Folha de São Paulo

Los medios de comunicación y el ídolo Ronaldo: un estudio comparado en la Folha de Sao Paulo

 

*Autores
**Orientador

Universidade Federal do Paraná, UFPR, Paraná

(Brasil)

Luís Henrique Amadori*

Bruna Herrans*

Alessandro Lima*

Rony Rodrigo de Carvalho*

Rodrigo Chacon*

Jonas Henrique Camargo*

Msdo. Everton de Albuquerque Cavalcanti**

profevertoncavalcanti@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo pretende apresentar um breve relato da biografia do brasileiro Ronaldo Luiz Nazário de Lima, bem como de sua trajetória de sucesso. Para tanto, será utilizada a Teoria da História Comparada para mostrar as visões e opiniões, principalmente negativas, que a imprensa brasileira divulgava sobre o referido jogador, uma semana antes e uma semana após a Copa do Mundo de 1998, realizada na França. As informações aqui apresentadas baseiam-se em reportagens publicadas pelo jornal Folha de São Paulo.

          Unitermos: Ronaldo. História. Mídia. Folha de São Paulo.

 

Abstract

          This article intends to present a short biography of the Brazilian player Ronaldo Luiz Nazário de Lima, as well his successful trajectory. To do so, it will use the Comparative History Theory to show the views and opinions, most of them negatives, the Brazilian press divulged about the player a week before and a week after the 1998 FIFA World Cup, held in France. The information is based on reports published on Folha de Sao Paulo.

          Keywords: Ronaldo. History. Media. Folha de Sao Paulo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol enquanto componente da cultura nacional (HELAL, 2001) sofreu inúmeras transformações históricas que culminaram no período atual, denominado futebol espetáculo (PRONI, 2000). Propiciando novas relações entre os agentes do campo esportivo e recebendo maior cobertura por parte dos meios de comunicação, se consolidando como produto da indústria cultural (DAMO, 2008).

    Dentre os agentes do espetáculo esportivo, o ídolo é aquele que se destaca em relação aos demais, por seu desempenho, conquistas e identificação com a torcida (GIGLIO, 2007). Características pertencentes a Ronaldo Nazário de Lima, atacante titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998, 2002 e 2006.

    Os estudos acerca do futebol se caracterizam como fenômenos culturais importantes a serem estudados (RÚBIO, 2002), ajudando a entender as relações que se estabelecem na sociedade esportiva brasileira. O objetivo da referente pesquisa é analisar a construção/desconstrução da imagem de Ronaldo antes e após a Copa do Mundo de 1998.

    O estudo partiu dos pressupostos teóricos da história comparada que a partir dos estudos elaborados por Bloch (1928, p. 15-50) se tornou um importante campo intradisciplinar, contribuindo de forma teórica e prática para os estudos históricos. O modelo historiográfico visa comparar fenômenos próximos (MELO, 2007), neste trabalho em questão, as notícias acerca do desempenho do jogador Ronaldo na Copa da França, via Folha de São Paulo (NASCIMENTO, 2003). O período de análise das fontes históricas foi de uma semana antes e uma após a Copa do Mundo de 1998.

Pré-Copa do Mundo: Ronaldo na Folha de São Paulo

    A Seleção Brasileira de Futebol realizou dois amistosos, como forma de preparação para o início da Copa do Mundo de 1998, entre eles, contra: Athletic de Bilbao e a seleção de Andorra, conhecida no cenário mundial, por nunca ter vencido um jogo oficial até 2004. Empatando o primeiro jogo por 1x1 e vencendo o segundo por 3x0. Nos dois jogos, Ronaldo não marcou gol.

    A imprensa começou a criticar o jogador pela falta de gols mesmo antes do início da competição, haja visto a expectativa que estava sendo depositada em seu futebol (HELAL, 2001). Tal identificação da torcida partia do desempenho demonstrado na Copa América de 1997 e de suas atuações pela Internazionale de Milão.

    Após os amistosos, o jornal Folha de S. Paulo destacou em seu caderno de esportes: “Uma bola na trave... quatro defendidas pelo goleiro [...] um chute para fora [...] e Ronaldinho não consegue marcar contra a Andorra” (Folha de S. Paulo, 4 de junho de 1998, 4º caderno, página 1). “Jejum de gols” (Folha de S. Paulo, 4 de junho de 1998, 4º caderno, página 1). “25% dos paulistanos apontam Ronaldinho o pior da seleção” (Folha de S. Paulo, 04 de junho de 1998, 4º caderno, página 1). Demonstram a insatisfação da imprensa e da torcida com o desempenho do atleta (GIGLIO, 2007) nos amistosos.

    Se a imprensa e a torcida criticavam Ronaldo pela ausência de gols, em contrapartida, a seleção da Escócia, primeiro adversário do Brasil na Copa de 98, ainda temia o jogador, devido o status de ídolo (HELAL, 2003) adquirido ao longo de sua trajetória (ainda curta) na seleção. Exemplo disto foram as declarações do técnico da seleção escocesa, Craig Brown: “Ele tem tudo para ser o destaque na França.” (Folha de S. Paulo, 04 de junho de 1998, 4º caderno, página 2). “Não podemos pensar em marcação individual, primeiro porque quando o Ronaldinho fica diante de um zagueiro ou do goleiro, o gol é quase certo.” (Folha de S. Paulo, 04 de junho de 1998, 4º caderno, página 2). “Vamos continuar jogando com três zagueiros. O que faço é insistir com eles para que redobrem a atenção no Ronaldinho.” (Folha de S. Paulo, 04 de junho de 1998, 4º caderno, página 2).

    Brown cita ainda, que quem mais elogiou Ronaldo foi o técnico Bobby Robson, que havia trabalhado com o jogador no Barcelona. “Ele me disse que foi o melhor jogador com quem já trabalhou. Na ocasião, o atacante não tinha nem 20 anos.” (Folha de S. Paulo, 04 de junho de 1998, 4º caderno, página 2). As declarações do treinador provocaram a seguinte manchete na Folha de São Paulo: “Ronaldo, aterroriza a Escócia” (Folha de S. Paulo, 04 de junho de 1998, 4º caderno, página 02). Elaborando a idéia de que Ronaldo ainda era respeitado por seus adversários.

    O desempenho de Ronaldo (MARQUES, 2005) na competição foi de 7 jogos e 4 gols, dos quais, foi decisivo nas partidas contra o Chile e a Holanda, sendo eleito o melhor jogador do torneio, nível de atuação que poderia ser considerado satisfatório não fosse o ocorrido na final. Sobre o noticiário pós-Copa, A Folha de São Paulo elaborou alguns documentos tentando explicar o ocorrido com Ronaldo no jogo contra a França.

    Determinada manchete afirmava: “Para time, Ronaldinho amarelou” (Folha de S. Paulo, 13 de julho de 1998, 4º caderno, página 6). O lateral esquerdo da seleção, Roberto Carlos, declarou que Ronaldo possivelmente passou mal devido a tensão causada por uma final de Copa do Mundo. Depois que o atleta passou por uma avaliação médica com o doutor Lídio Toledo, foi constatado que o jogador teve uma hipostenia, caracterizada pela diminuição de forças e enfraquecimento.

    Um boletim da Federation Internationale de Football Association (FIFA), afirma que Ronaldo foi encaminhado a um hospital para a realização de exames antes do jogo. O atleta chegou ao Stade de France com o médico Joaquim da Mata, as 20h10 (horário da França), 50 minutos antes do jogo. Há controvérsias sobre suas condições clínicas para a participação na final, o que gerou a polêmica antes e após o ocorrrido.

    Em manchete publicada no caderno esportivo da Folha de São Paulo, a polêmica retratava o momento da seleção. O jornal afirma: “Caso Ronaldinho racha seleção” (Folha de S. Paulo, 4º caderno, página 4), discussão causada pela divergência de opiniões no elenco de jogadores do Brasil, um grupo liderado por Dunga acreditava que Ronaldo não deveria iniciar a partida, outro, comandado por Leonardo defendia que o jogador inicia-se o jogo como titular, situação que tumultuou o ambiente antes da final. Há quem acredite que o problema tenha afetado o desempenho de toda a equipe, haja visto tal questão ter sido abordada em momento decisivo, possivelmente prejudicando a concentração dos atletas antes do jogo.

    A convulsão de Ronaldo no dia do jogo, suas condições clínicas e a escalação (ou não) do jogador na partida contra a França foram discutidas por dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) juntamente com a comissão técnica e médica. Isto na visão do jornal Folha de S. Paulo, que afirmou: “Presidente da CBF discute escalação de jogador” (Folha de S. Paulo, 14 de julho de 1998, 4º caderno, página 4). Após a reunião, Zagallo solicitou que Américo Faria divulgasse uma nova escalação com Ronaldo entre os titulares (GASTALDO, 2000). A indícios de que a FIFA tenha solicitado junto a CBF uma carta atestando as condições de Ronaldo para o jogo, documento que não foi exposto publicamente. Entretanto, após a partida em entrevista coletiva, o técnico Zagallo expôs para a imprensa que o problema era realmente a convulsão.

    Outra polêmica envolvendo o problema de Ronaldo (HELAL, 2001) antes da final da Copa do Mundo de 1998 foi relatado pela Folha de São Paulo, na seguinte manchete: “Pai afirma que Zagallo forçou atacante a jogar” (Folha de S. Paulo, 14 de julho de 1998, 4º caderno, página 4). Nélio Nazário de Lima, pai do jogador, afirmou que seu filho foi forçado a jogar a final, mesmo depois da convulsão que teve no dia do jogo. Ele afirma que após Ronaldo ter chegado ao estádio, Zagallo teria insistido para que o mesmo disputasse a partida. Segundo o jornal, Zagallo argumentou a Ronaldo, estar com medo de escalar Edmundo pelo fraco desempenho até então apresentado pelo jogador e por sua conduta indisciplinar.

    Quatro dias após a final da Copa, uma manchete da Folha de S. Paulo intitulada: “Ronaldinho não sofreu uma convulsão” (Folha de S. Paulo, 16 de julho de 1998, 4º caderno, página 3) provoca ainda mais polêmica, já que seu desempenho na final foi vinculado à convulsão. Foi diagnosticado que o atleta teve uma crise nervosa e não um distúrbio neurológico, o que gerou novas discussões sobre o problema, que possivelmente prejudicou a atuação de Ronaldo (MARQUES, 2005) e tumultuou o ambiente brasileiro antes da final da Copa do Mundo de 1998 diante da França.

Conclusão

    Levantou-se que no período pré-Copa a cobrança acerca do desempenho de Ronaldo era visível. A postura da mídia neste sentido se caracteriza pela expectativa gerada em relação ao atacante, considerado na temporada anterior o melhor jogador do mundo em eleição feita pela FIFA. As críticas dos meios de comunicação não diminuíram o respeito por parte dos adversários, no entanto a exigência por parte dos torcedores e da imprensa geravam pressão em Ronaldo, atribuindo a ele a responsabilidade de conduzir o Brasil ao título mundial.

    Após a Copa do Mundo, a imprensa buscou justificativas para o desempenho brasileiro na partida final diante da França. A convulsão (ou crise nervosa) enfrentada por Ronaldo foi discutida amplamente e se não foi utilizada como principal causa, foi posta como um dos possíveis motivos causadores da derrota na partida decisiva. Neste caso a Folha de São Paulo, enquanto veículo de comunicação analisado, não elaborou discussões aprofundadas sobre a questão da saúde do jogador, nem as causas do acontecimento, tão pouco refletiu sobre a relação da psicologia do esporte com o momento decisivo, além de não ter elaborado outras vertentes de justificativas para a derrota na final da Copa do Mundo de 1998.

Referências bibliográficas

Fontes

  • Folha de S. Paulo, 4 de Junho de 1998, Ano 78, n° 25.264, 4° caderno, página 1.

  • Folha de S. Paulo, 8 de Junho de 1998, Ano 78, n° 25.268, 4° caderno, página 5.

  • Folha de S. Paulo, 13 de Julho de 1998, Ano 78, n° 25.303, 4° caderno, página 6.

  • Folha de S. Paulo, 14 de Julho de 1998, Ano 78, n° 25.304, 4° caderno, página 4.

  • Folha de S. Paulo,16 de julho de 1998, Ano 78, n° 25.306, 4° caderno, página 3.

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