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A abordagem da capoeira como conteúdo 

pedagógico das aulas de Educação Física escolar

El abordaje de la capoeira como contenido pedagógico de las clases de Educación Física escolar

 

*Professor da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, APAE, Divinésia, MG

Licenciado em Educação Física – Universidade Presidente Antonio Carlos – UNIPAC

Especialista em Metodologia Cientifica – Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

**Professora da Universidade Presidente Antonio Carlos, UNIPAC, Ubá, MG

Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos- Universidade Federal de Viçosa-MG

Mestre em Ciência da Nutrição- Universidade Federal de Viçosa

***Professora da Universidade Presidente Antonio Carlos, UNIPAC, Ubá, MG

Mestre em Ciências Humanas- Universidade Federal de Juiz de Fora

****Professor Coordenador do curso de licenciatura em educação física

do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, campus Barbacena

Mestre em Educação Física-Universidade Federal de Viçosa-MG

Diego José Monteiro*

Ana Paula Muniz Guttierres**

Luciana Ferreira da Silva***

Silvio Anderson Toledo Fernandes****

diegojmxefi@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Percebe-se que os conteúdos da cultura corporal ficam a quem dos interesses de alguns professores de Educação Física, principalmente ao se falar da capoeira. Sendo assim, este artigo teve como objetivo verificar a presença da abordagem da capoeira enquanto conteúdo pedagógico na Educação Física escolar. Participaram do estudo 10 professores de escolas públicas. Cada professor respondeu a uma pergunta sobre a abordagem da capoeira no contexto escolar. As entrevistas foram analisadas de acordo com a metodologia proposta por Gilberto Velho (1989), a qual trata da questão da ideologia inerente aos discursos. Nenhum dos professores entrevistados ministra o conteúdo capoeira em suas aulas. Portanto a capoeira mostrou-se um conteúdo inexistente no contexto escolar.

          Unitermos: Educação Física escolar. Capoeira. Formação docente.

 

Resumen

          Se advierte que los contenidos de la cultura física son aquellos vinculados a los intereses de algunos profesores de Educación Física, especialmente cuando se habla de la capoeira. Por lo tanto, este artículo tiene como objetivo verificar la presencia del abordaje de la capoeira, en tanto contenido de la enseñanza en Educación Física escolar. En el estudio participaron 10 profesores de escuelas públicas. Cada profesor respondió a una pregunta sobre el abordaje de la capoeira en el contexto escolar. Las entrevistas fueron analizadas de acuerdo a la metodología propuesta por Gilberto Velho (1989), que aborda la cuestión de la ideología inherente en los discursos. Ninguno de los profesores entrevistados enseña el contenido de la capoeira en sus clases. Así que la capoeira se comprobó como contenido ausente en la escuela.

          Palabras clave: Educación Física escolar. Capoeira. Formación docente.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo Soares (1992) a educação física tem como objetivo de estudo a cultura corporal que é composta pelos seguintes conteúdos: Jogos, Esportes, Dança, Lutas, Capoeira e Ginástica. Desta forma a Educação Física Escolar enquanto prática pedagógica possui o papel de estimular o desenvolvimento das potencialidades físicas, motoras, cognitivas, afetivas, comunicacionais e psíquicas dos educandos, não valorizando simplesmente a ação mecânica de gestos sem relação com o cotidiano e com as aspirações dos alunos (SANTIN, 2002). Assim, o professor tem papel fundamental na escola e na formação de seus alunos, motivando-os a praticar diferentes atividades físicas, como a capoeira (MONTEIRO et al., 2009).

    A Educação Física de acordo com Betti (1991) permite que se vivenciem diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais e que enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida cotidiana. Sendo assim, trabalhar a capoeira contextualizando-a nas aulas de educação física se faz importante, pois é um conteúdo criado e desenvolvido dentro da cultura brasileira.

    Primeiramente, é de fundamental importância conceituar a capoeira, o que é uma tarefa complexa, devido a seus a seus múltiplos significados. Podemos citar o conceito de Falcão (apud KUNZ, 2006), que diz que: “A capoeira é uma manifestação da cultura afro-brasileira que pode ser vista como um misto de jogo, arte, luta, dança e folclore”.

    A prática da capoeira na escola possibilita o desenvolvimento de conteúdos conceituais e procedimentais, como autonomia, cooperação e participação social, postura não preconceituosa, entendimento do cotidiano pelo exercício da cidadania e historicidade. No aspecto motor, especificamente, é uma alternativa rica para o desenvolvimento das estruturas motoras como esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, orientação espaço-temporal, coordenação motora, entre outros aspectos (Souza; Oliveira, 2001).

    A capoeira surge como um importante instrumento para o professor de educação física, já que possui fácil relação com a cultura brasileira. Ainda percebe-se que é uma atividade pouco desenvolvida na escola, principalmente pelo fato dos educadores, muitas vezes, não terem contato com a modalidade durante sua formação acadêmica (Paim, 2004).

    Para tanto, é necessário que os profissionais assumam a responsabilidade da necessidade constante de atualização que qualquer profissão exige e, mais especificamente, uma profissão como a do magistério que trata de preparar jovens para enfrentarem as necessidades sociais atuais, autônomos para a preparação de ações futuras (Oliveira, 2000).

    Na literatura poucos estudos como o de (SOUZA; OLIVEIRA, 2001) e (COSTA; NASCIMENTO, 2006) discutem a respeito da capoeira como conteúdo pedagógico da educação física escolar abrindo-se lacunas a serem investigadas. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é analisar a abordagem da capoeira como conteúdo pedagógico na educação física escolar, discutindo as possíveis implicações do tratamento pedagógico de tal conteúdo para a formação dos alunos.

Materiais e métodos

    Foi adotada como metodologia a pesquisa-ação, por articular o objetivo prático, que visa buscar um diagnóstico da realidade investigada, na tentativa de encontrar soluções alcançáveis para as situações consideradas problemas, a fim de transformá-las. O objetivo da pesquisa ação é: “obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos, aumentarem nosso conhecimento de determinadas situações reivindicações, representações, capacidades de ação ou de mobilização, etc.” (THIOLLENT, 1988, p. 18).

    Como instrumento de pesquisa foi utilizado uma entrevista estruturada realizando uma pergunta para professores de Educação Física da rede estadual do município de Ubá - MG: Você trabalha o conteúdo capoeira nas aulas de educação física? Por que sim ou por que não? Caso o professor viesse a responder “sim” esse tinha que expor a abordagem utilizada nas aulas e como é a dinâmica da aula. Já o professor que respondesse “não”, este teve que citar os motivos que o leva a não abordar o conteúdo em suas aulas.

    As entrevistas com os participantes foram realizadas nas próprias escolas e nas casas dos professores em horários escolhidos por eles. Após a transcrição dos relatos, fez-se uma leitura ampla do material obtido, o qual foi analisado através das categorias citadas mais frequentemente pelos entrevistados, as quais são denominadas “unidades mínimas ideológicas” (VELHO, 1989). A cada unidade, corresponde uma frase típica, que exemplifica as expressões mais citadas. O procedimento levou em conta as seguintes etapas:

  1. Identificação dos temas – transcrição dos principais temas relatados pelos entrevistados;

  2. Agrupamento das unidades mínimas de respostas – a expressão que mais aparecia nos relatos no momento da entrevista;

  3. Recorte dos textos de acordo com o tema e com unidade mínima de respostas.

    Com a devida permissão dos voluntários, as entrevistas foram gravadas através de um aparelho eletro-eletrônico (MP4). Os dados foram analisados de acordo com a metodologia proposta por Gilberto Velho (1989), a qual trata da questão da ideologia inerente aos discursos.

    Participaram do estudo 10 professores regentes representando 100 % da amostra total do corpo docente da rede de ensino estadual do município de Ubá – MG com idades entre 26 e 32 anos. Havia em algumas escolas, estagiários que utilizavam como meio de autorização para lecionar o “CAT”.

    Os professores escolhidos para a realização do estudo, apresentaram, no mínimo, dois anos de formação, e todos eles formaram-se entre o ano de 2000 e 2008, para assim podermos ter uma padronização de vivências, conhecimento da área da educação física escolar e seus respectivos conteúdos. A escolha pela rede de ensino estadual se dá pelo motivo de não existir professores graduados nas escolas de rede de ensino municipal, somente graduandos estagiários. O estudo não foi realizado em instituições privadas pelo fato das mesmas não aceitarem a participar de pesquisas voltadas para área acadêmica.

    Foi critério de exclusão: Estagiários que lecionavam utilizando uma licença oferecida pela Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais o “CAT”.

    Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que resguarda sua individualidade bem como explicita os benefícios e objetivos do estudo. O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Presidente Antônio Carlos – MG, o mesmo respeitou a todos os procedimentos bioéticos propostos pela resolução do governo brasileiro supervisionado pelo Conselho Nacional de Saúde (no 196/96).

Desenvolvimento

    A ludicidade é a ponte facilitadora da aprendizagem. Ampliar as possibilidades lúdicas como meio eficiente e apropriado para o desenvolvimento dos alunos perpassa pela palavra chave do aprendizado, a motivação (RUFFONI; MOTTA, 2004). Para tanto, é necessário que os profissionais assumam a responsabilidade da necessidade constante de atualização que qualquer profissão exige e, mais especificamente, uma profissão como a do magistério que trata de preparar jovens para enfrentarem as necessidades sociais atuais, autônomos para a preparação de ações futuras (OLIVEIRA, 2000).

    “A atuação na escola precisa melhorar, a atuação no mercado livre necessita de novas alternativas e aprofundamentos técnicos, assim como as universidades deverão dar conta de formar um profissional melhor preparado”. (OLIVEIRA, 2000)

    Ainda, Monteiro et al. (2009) em seu estudo diz que a formação profissional de qualidade torna-se fundamental para quebra da ideologia do senso comum, dos preconceitos e tabus impostos pela sociedade e possibilita o resgate da historicidade e a riqueza cultural da capoeira.

    Concordando com SILVA (2008) “Foi em Gilberto Velho, com A utopia urbana (1989) que encontrei meios para tratar as similaridades encontradas nos discursos. Será através das unidades mínimas ideológicas que analisarei as categorias similares que surgiram nas falas”.

    Após ter transcrito os relatos, escolhi 5 temas que julguei mais especificamente pertinentes ao meu tema que foram: domínio, formação, dança, esporte e preconceito. Apesar da limitação do meu estudo já citada em minha metodologia, não foi complexa a análise dos dados coletados uma vez que os relatos seguiram a mesma linha de resposta.

    Para ser mais objetivo em meu estudo, optei por uma entrevista específica contendo apenas uma pergunta: você trabalha o conteúdo capoeira na suas aulas de educação física? Dos 10 professores entrevistados, todos responderam que não trabalham com a capoeira como conteúdo pedagógico em suas aulas de educação física. Para preservar o anonimato enumerei os professores por ordem das entrevistas, sendo que, não citarei todos pelo motivo de igualação em seus discursos. Analisarei os temas mais citados durante a entrevista.

Tabela 1. Concepções dos professores quanto ao conteúdo capoeira nas aulas de Educação Física na escola

Tema

Unidade mínima ideológica

Frase típica

“Formação”

 

 

 

 

“não tenho conhecimento”

 

 

 

 

 

“na Faculdade”

 

 

 

 

“experiência“

 

 

“... não trabalho a capoeira porque não tenho o conhecimento da capoeira para passar pros meus alunos” (professora nº2).

 

 

“... porque não tive uma formação adequada no período de faculdade, agente não teve o conteúdo capoeira” (professora nº. 3).

 

 

“... acho que pra ensinar temos que ter experiência com a capoeira fora da escola” (professora nº. 1).

“Esporte”

“Com bola”

 

 “... é muito difícil na prática trabalhar outras realidades que não sejam o esporte com bola” (professor nº. 6).

 

“Dança”

 “resistência”

“... os alunos têm muita resistência com a atividade capoeira principalmente que mexe com ginga dança” (professora nº4)

“Domínio”

 

“conteúdo capoeira”

 

 

“... você tem que ensinar aquilo que você domina, e eu não domino o conteúdo capoeira” (professora nº. 1)

“Preconceito”

“coisa de preto”

 “... os pais mostram preconceito proibindo o filho de participar porque é coisa de preto”.

(professora, nº. 10)

    A capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola pelos seus múltiplos enfoques, que possibilitam a luta, a dança e a arte, o folclore, o esporte, a educação, o lazer e o jogo (Souza; Oliveira, 2001). Com isso, a capoeira torna-se de fácil aplicação como conteúdo no âmbito escolar devido à grande pluralidade cultural que nos trás.

    Pode-se observar que todos os professores entrevistados responderam que não trabalham a capoeira em suas aulas de educação física por algum motivo que aqui iremos chamar de tema. Através desses temas podemos identificar as unidades mínimas ideológicas que são expressões e/ou palavras que sintetizam a ideologia que cada professor relatou. Para ilustrar e exemplificar há recortes aqui chamado de “frase típica” que representam todos os discursos sintetizados numa só expressão como apresentados na Tabela 1.

    O Tema “formação” foi a expressão citada com mais freqüência nas entrevistas. Todos os professores a citaram pelo menos uma vez durante a entrevista. Dentro desse tema tivemos três unidades mínimas ideológicas diferentes que foram: “não tenho conhecimento”; “na faculdade” e “experiência”. A seguir estão apresentados alguns relatos referentes a essa discussão:

    De acordo com o relato “não tenho conhecimento”: Professora nº.2 “... não trabalho a capoeira porque não tenho o conhecimento da capoeira para passar pros meus alunos”. A falta de conhecimento está diretamente relacionada à formação acadêmica do professor, como também à falta de buscas sobre o conteúdo. Professora nº. 3 “... porque não tive uma formação adequada no período de faculdade, a gente “não teve” o conteúdo capoeira”.

    Vários estudos como o de (DARIDO, 1995), (BETTI, 1999) mostraram que a formação do profissional de Educação Física se dá de maneira acrítica, que existe uma ênfase na formação esportivista ligada ao rendimento máximo, seleção dos mais habilidosos, e que os profissionais são formados na perspectiva do saber fazer para ensinar. Tendo em vista que os currículos que formam os professores incluem disciplinas como dança capoeira, judô, atividades expressivas, ginástica, folclore e outras.

    De acordo com o relato “na faculdade”, observou-se que devido a uma organização curricular falha dos cursos de graduação em Educação Física das universidades que dão ênfase ao conteúdo esporte excluindo outros conteúdos da cultura corporal. Assim, Secco; Paixão (2006) apontam para a lacuna existente na formação do professor de Educação Física, criada pela má estruturação dos cursos, que não o prepara adequadamente para trabalhar com todos os conteúdos da Educação Física Escolar.

    Já, de acordo com a expressão “experiência”, a Professora nº.1 relata “... acho que pra ensinar temos que ter experiência com a capoeira fora da escola”. Nesse caso vemos o ato de ensinar relacionado à experiência. Assim, pode-se analisar que a preocupação do professor é saber fazer o conteúdo e movimento corporal para ensinar seus alunos. Souza e Oliveira (2001) nos mostra que a aprendizagem não deve se limitar a técnicas e sim a todos os elementos que envolvem sua cultura, história, origem e evolução, ao mesmo tempo que deverá ser estimulada a integração com outras disciplinas do contexto escolar, a fim de que o educando tenha uma participação efetiva no contexto da capoeira como um todo.

    Quando a professora relata “fora da escola” dá a entender que a falta de formação faz com que o professor tenha que buscar outros meios de abstrair alguns fundamentos em “grupos de capoeira”, esquecendo que para passar para os alunos, este não tem que saber os movimentos apurados da capoeira, podendo ensinar técnicas mais rudimentares sem refinamento técnico, como também o contexto em que a capoeira encontra-se inserida.

    De acordo com Souza; Oliveira (2001), quanto à qualificação profissional, destaca-se que o professor não precisa ser um mestre de capoeira, mas um observador que compreenda e consiga, de forma tecnicamente correta, as possibilidades de movimento da capoeira e, com isso, explorar toda sua riqueza motora. Importante salientar que o ensinamento das técnicas corretas dentro das possibilidades físicas, cognitivas e sociais de cada indivíduo onde cada um possa dar o sentido e significado à suas práticas corporais onde a técnica é reinventada de acordo com seus próprios interesses.

    Além dessas unidades mínimas ideológicas apresentadas acima, tivemos também outras que surgiram com menos freqüência: “com bola”; “resistência” e “conteúdo capoeira”.

    Professor nº. 6 relata “... é muito difícil na prática trabalhar outras realidades que não sejam o esporte com bola”.

    Barroso; Darido, (2006) acreditam que o esporte deva estar presente na Educação Física escolar, pois este fenômeno está culturalmente enraizado em nossa sociedade. É de extrema importância que seja feito um planejamento onde o “esporte com bola” não seja o protagonista durante toda a formação escolar do aluno.

    Já Noronha; Nunes (2004) diz que, a capoeira como uma manifestação cultural brasileira com raízes na cultura africana precisa ser contemplada nas aulas de Educação Física na escola como um conteúdo que contribua para a formação das crianças. Desta forma, é imprescindível que seus aspectos teórico-práticos sejam considerados de forma integrada e em co-dependência em relação aos aspectos subjetivos.

    No aspecto motor, especificamente, é uma alternativa rica para o desenvolvimento das estruturas motoras como esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, orientação espaço-temporal coordenação motora, etc. (Paim; Pereira, 2004). Com isso, a ausência do conteúdo capoeira nas aulas de educação física, impossibilita os alunos adquirirem todos esses conhecimentos e também todo repertório motor na especificidade dos movimentos que a capoeira apresenta.

    No tema “Dança”, o professor deixa claro, a resistência imposta pelos alunos ao ato de gingar. Professor nº 4 “... os alunos têm muita resistência com a atividade capoeira principalmente que mexe com ginga dança”. Talvez isso se explique através da perspectiva de gênero, na qual os alunos vêem a dança como ato predominante feminino. Jannuzzi (2007) relata que a cultura brasileira possui uma imensa gama de manifestações culturais adquiridas através dos tempos. De acordo com movimentos, expressão e sons promovidos por nosso corpo, ou seja, a necessidade humana de sentimentos e perpetuar costumes. Assim faziam os escravos, utilizando seus próprios corpos para manifestar seus desejos através da dança.

    Ainda obteve-se um relato que trás a unidade mínima ideológica “resistência” com outro significado: Professor nº.7 “... a direção mostra resistência quando apresentamos um planejamento sem esportes de rendimento”. Segundo Vago (1996), o esporte incorpora os valores estimulados por esse modelo: a competição, a classificação, a seleção, a comparação, a performance, a vitória. Faz-se necessário um planejamento pedagógico sistematizado utilizando do diálogo entre diretores, professores e pedagogos para a elaboração dos conteúdos a serem abordados nas aulas de educação física desvinculando o esporte de alto rendimento.

    Quanto ao tema “Domínio” aqui apresentado com o significado de domínio do conteúdo capoeira, os professores apresentam uma deficiência grande em sua prática pedagógica quando o tema é capoeira, deixando assim de lado o conteúdo, preferindo trabalhar com outras modalidades.

    Em relação a discriminação e ao preconceito, o sambista e o capoeirista sempre foram sujeitos sociais discriminados e marginalizados, refletindo o histórico preconceito pela sociedade em relação a essas manifestações (ABIB, 2001). Uns dos relatos que mostra que ainda existe este tipo de pensamento está na fala do Professor nº.10 “... os pais mostram preconceito proibindo o filho de participar porque é coisa de preto” Por tanto pensarmos na capoeira como uma arte, ampliamos seus horizontes e perpetuamos sua cultura, rompendo preconceitos e aumentando suas possibilidades enquanto instrumento de promover educação, rompendo barreiras e ultrapassando limites ditados pela sociedade, ou seja, a padronização, imposições, regramento e enquadramento (JANUZZI, 2007).

    Júnior e Gauthier (2003) utilizando de uma metodologia “sociopoética” consegue construir durante sua pesquisa através dos discursos de vários professores, que a capoeira deve valorizar as raízes culturais e favorecer o resgate da cultura dos povos excluídos. Ela é imprescindível neste processo da valorização cultural. Então, ela favorece um recontar da história “oficial” do povo brasileiro e busca outras identidades, a partir da miscigenação social dos povos;

Conclusão

    Após a análise dos dados relatados pelos professores da rede de ensino estadual município de Ubá – MG pode-se concluir que, dentre os professores entrevistados, nenhum trabalha com o conteúdo capoeira em suas aulas de educação física, impossibilitando os alunos o conhecimento múltiplo que o conteúdo tem a oferecer no âmbito escolar durante a formação dos mesmos.

    Através da análise de dados apresentados nos discursos dos professores, verificamos que é necessário oferecer a partir de órgãos públicos e/ou privados, cursos de capacitação de formação continuada, para que haja qualidade no ensino tendo o professor subsídios que atendam os alunos utilizando de todos os conteúdos da “cultura corporal” como: lutas (capoeira), jogos, dança, esporte e ginástica assim oportunizando os alunos a vivenciarem o maximo de práticas corporais.

    Ainda podemos concluir que o tema que mais apareceu nas entrevistas foi a “Formação” como aspecto preocupante nas unidades mínimas ideológicas tanto na falta de conhecimento do professor como também na faculdade, mostrando que existe grande falta de organização na grade curricular dos cursos de Educação Física, abrindo lacunas a serem investigadas nos cursos de graduação das universidades da região.

    A capoeira é patrimônio brasileiro, que deve ser divulgado em todos os aspectos sejam eles culturais ou sociais, para que assim possamos desconstruir pré-conceitos muitas vezes impostos pela sociedade.

Referências

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  • VELHO, G. A utopia urbana: um estudo de antropologia social. Jorge Zahar Editor, 5ª ed., Rio de Janeiro, 1989.

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