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Estrutura e campos de pesquisa nos trabalhos de conclusão de curso

Estructura y campos de investigación en los trabajos de conclusión de curso

Structure and research in the work of completion

 

*Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal

de Santa Catarina. Mestrado em Educação Física pela UFSC

Professor assistente III da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

**Acadêmica/o do 8° semestre do curso de Educação Física

da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

(Brasil)

Marcelo Victor da Rosa*

marcelovictor26@hotmail.com

Romulo Daniel Monteiro Heradão**

romulodaniel02@hotmail.com

Helena Mendes Barbosa**

leninhabm@yahoo.com.br

Wagner Costa de Lima**

wagnerdcl_06@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Refletir o fazer científico é um dos pontos principais para que a ciência encontre nortes que possam contribuir para a formação de profissionais de Educação Física qualificados. Esta pesquisa de caráter documental, teve por objetivo caracterizar os resumos dos trabalhos de conclusão do curso de Educação Física, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em relação a estrutura organizacional, campos de pesquisa e atuação profissional. Constatou-se irregularidades em relação às normas estruturais dos resumos e em relação aos campos de pesquisa e atuação profissional, observou-se um maior interesse dos graduandos em pesquisar assuntos relacionados a área não escolar, com um viés mais biológico.

          Unitermos: Produção científica. Campos de pesquisa. Educação Física.

 

Abstract
          Reflecting the scientific work is one of the main points for science to find guidance which could contribute to the training of qualified physical education professionals. This research, with documental character aimed at characterizing the abstracts of researches of completion of the course of Physical Education, at Federal University of Mato Grosso do Sul, in relation to the organizational structure, fields of research and professional activities. Irregularities were found in relation to the structural standards of the abstracts and, related to the basic research and professional practice, there was a higher of interest of the students in researching issues related to the fields not associated with schools, with a more biological bias.

          Keywords: Scientific production. Fields of research. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Primeiros passos

    A pesquisa se configura como elemento fundamental para a produção de conhecimento frente às diversas áreas de estudo. É um instrumento utilizado pelo homem para adquirir conhecimento de cunho científico, sendo assim, um processo complexo sistematizado que o diferencia do empírico. Conforme Cervo & Bervian (1996, p.01):

    [...] normas consagradas pelo uso, entre cientistas, referentes à estrutura e à apresentação do trabalho científico, além das técnicas e métodos relativos à pesquisa e à elaboração da mesma. São igualmente pressupostos do trabalho científico aqueles mecanismos mentais que se desencadeiam através do processo reflexivo

    Desde o surgimento do curso de Educação Física segundo (DEF, 2009), em 27 de fevereiro de 1971, na antiga Universidade Estadual de Mato Grosso, época esta em que o Estado ainda não tinha sido dividido e atualmente conhecida como UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), não foi encontrada nenhuma pesquisa que investigasse a produção científica do curso ao longo desses 39 anos. Diante disso surgiu a necessidade de verificar os resumos dos TCC’s desse Departamento.

    Nesse sentido, essa pesquisa teve por finalidade caracterizar a produção científica dos acadêmicos de Educação Física da UFMS, considerando os aspectos estruturais, tendo como parâmetro a norma da ABNT NBR6028 de 2003, bem como analisar os campos de pesquisa e de atuação dos profissionais descritos nos respectivos resumos.

2.     Procedimentos metodológicos

    Essa pesquisa é de caráter documental1, pois “[...] vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa” (GIL, 2007, p. 51). Os documentos utilizados para sua realização foram os resumos dos Trabalhos de Conclusão de Curso dos graduandos, entre os anos de 2000 e 2008 do curso de Educação Física dessa instituição.

    Os resumos dos 351 TCC’s foram caracterizados e classificados pelos autores em: área não definida, área escolar e não escolar conforme o foco apontado. Estudos realizados na escola foram classificados como escolar, já os realizados em clubes, academias, escolinhas de treinamento foram classificados como não escolar.

    A área não definida se refere às pesquisas não enquadradas na área de atuação escolar e não escolar, a título de exemplo, podemos citar trabalhos que investigaram a aptidão física dos acadêmicos de Educação Física na própria UFMS. Nesse exemplo, a aptidão não era de alunos de escolas nem de clubes e academias, não podendo dessa forma ser classificado como escolar e não escolar.

    Não é necessário que o acadêmico realize seu TCC em uma área de atuação específica, entretanto a título de classificação para o contexto dessa pesquisa, essa divisão se fez necessária, mesmo sabendo que essas áreas de atuação interagem e se mesclam.

    Um equívoco que poderia ocorrer, seria identificar o exemplo acima como sendo da área não escolar, simplesmente por ter um enfoque biológico do fenômeno estudado, contudo como apresentado adiante, existem TCC’s com enfoque biológico tanto na área escolar quanto na área não escolar.

    De acordo com Kunz (2003), a diferenciação entre as formações da área não escolar e escolar foram instituídas visando o melhor atendimento ao público nas duas áreas de atuação, porém nota-se que esta diferenciação não foi e ainda não é bem sucedida quanto aos conteúdos específicos para cada formação, principalmente ao que se diz respeito à formação do licenciado. Esses aspectos geram grande confronto para os acadêmicos, pois em sua maioria não se atentam para esse tipo de restrição antes de optar, ou até mesmo são levados a cursar alguma dessas áreas específicas (licenciatura e bacharelado) devido a falta de disponibilidade de tais cursos nas universidades mais próximas.

    Os resumos foram separados por ano e caracterizados tendo como referência a norma da ABNT/NBR-6028/NOV-2003 a fim de constatar se estavam de acordo com a mesma. Após a classificação, estabeleceu-se os itens constituintes dos resumos como sendo “conforme a norma e fora da norma”, para tal utilizamos uma análise quantitativa representada em percentual para evidenciar a classificação.

3.     Resultados

3.1.     análise estrutural dos resumos

    Na categoria que trata das “Referências” do documento, local que consta as informações a respeito do trabalho, o título, ano, autor, a instituição, deve-se estar em conformidade com a norma da ABNT NBR/6028 2003, especificamente no item 3.2 orienta que: o resumo deve ser precedido da referência do documento, com exceção do resumo inserido no próprio documento. Assim 50,42% dos trabalhos estavam sem referência ficando desta forma fora da norma, 38, 47% após a palavra resumo também ficando fora da norma e apenas 11,11% conforme a norma.

    Em relação ao uso dos “Parágrafos”, o item 3.3 da norma, recomenda o uso de parágrafo único. Em nosso critério de análise foi considerado como parágrafo os resumos que apresentavam recuo de margem, segundo Figueiredo (1995) o parágrafo é caracterizado com o afastamento da margem esquerda da folha. Os resumos apresentaram um percentual de 44,2% sem parágrafo, ou seja, sem recuo de margem, 40,4% contendo parágrafo único, portanto de acordo com a norma e 15,4% com dois ou mais parágrafos.

    O item 3.3.1, informa que a primeira frase deve ser significativa, conforme Domingos (1999) se classifica como “Frase de contextualização”. Essa primeira frase explica e situa o leitor a respeito do tema principal do documento. De todos os trabalhos investigados 53,85% ficaram fora da norma, não contendo a frase de contextualização e 46,15% estão conforme a norma, contendo a frase de contextualização.

    Os “Objetivos” devem ser apresentados nos resumos de forma nítida e identificável no texto, como explica o item 3.1. Resultando uma maioria de 88.31% de acordo com a norma, pois os deixavam concisos e 11,69% fora da norma, não evidenciando-os. Nos resumos utilizados para essa pesquisa, os objetivos eram apresentados também com uso de palavras sinônimas ou não continham uma palavra que apontava exatamente os objetivos.

    Conforme o item 3.1, os “Resultados/Conclusões” assim como a categoria anterior, devem estar explícitos no resumo. Constatou-se que a maioria estava na norma, configurando 85,48% e 14,52% fora da norma. Se a pesquisa possuir caráter bibliográfico o autor deve apontar em seu resumo os principais assuntos discutidos em seu trabalho e isso não foi descrito pela maioria dos autores.

    Em relação aos tipos de pesquisa foi elaborado um quadro classificatório (ver abaixo):

Quadro 1. Tipos de pesquisa dos TCC’s de 2000/2008 do DEF/UFMS

    No quadro acima observou-se que os tipos mais utilizados, respectivamente, foram: Estudo de Caso, Descritiva, Bibliográfica e Campo. Entretanto 10,54% não definiram o tipo de pesquisa de seu TCC, sendo considerado um número relevante, pois conforme o item 3.1, o tipo da pesquisa precisa ser especificado no resumo. Para classificar essas pesquisas utilizamos como referência alguns conceitos apresentados por Gil (2007), que conforme o autor as pesquisas podem ser classificadas com base em seus objetivos: Exploratória, que visa uma maior aproximação com o problema, com a finalidade de aprimorar idéias; Descritiva, tendo por objetivo descrever aspectos particulares de uma população, ou fenômeno; Explicativa, apresenta como preocupação principal identificar as razões que favorecem para a ocorrência dos fenômenos (GIL 2007). E também de acordo com os procedimentos técnicos utilizados: estudo de caso é caracterizado pelo estudo de um único objeto ou grupo.

    De acordo com o item 3.3.3 as “Palavras-chave” devem figurar logo abaixo do resumo, antecedidas pela expressão Palavras-chave, separada entre si por ponto e também finalizadas por ponto. Os resultados apresentados foram: 73% continham as palavras-chave, porém fora da norma, os resumos com palavras-chave fora da norma continham em sua maioria vírgulas, barras, hífens e grandes espaços, 25,6% sem palavras-chave e apenas 1,4% dos trabalhos estavam na norma.

    Quanto ao item 3.3 o resumo não deve ser composto de enumeração de tópicos. A pesquisa apresentou 97,15% conforme a norma e 2,85% fora da norma. Este foi o item com maior índice de acertos pelos acadêmicos.

    Com relação ao emprego dos verbos o item 3.3.2 recomenda: deve-se usar o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular. Os resultados obtidos foram 57,55% fora da norma e 42,45% de acordo com a norma.

    Encontra-se indicado no item 3.3.5.a que os resumos de trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e outros) e relatórios técnico-científicos devem compor de 150 a 500 palavras. As análises apontaram os seguintes resultados: 79,20% dos resumos estavam em conformidade com a norma, 19,66% com menos de 150 palavras e apenas 1,14% com mais de 500 palavras.

    As recomendações da ABNT 6028 de 2003 para elaboração de resumos são relevantes, na medida em que considera os elementos essenciais para sua construção, nesse sentido “[...] é importante que o resumo contemple de forma sucinta cada um dos passos do processo científico para facilitar seu uso por pesquisadores das mais diversas áreas” (ORIÁ, et.al. 2007, p. 187). Outros estudos como os de Lazzarotti & Souza (1999) e Silva (1998), também apresentam resultados semelhantes aos apontados neste texto, como a falta de estrutura na escrita dos trabalhos acadêmicos, no primeiro autor, este resultado foi obtido após análise em TCC’s, já a segunda autora, encontrou essa desorganização nas dissertações e teses de Educação Física, Silva (1998) ainda aponta que em um mesmo programa de pós-graduação, existem trabalhos sem ao menos o nome do orientador, evidenciando a ausência de um modelo padrão para todos os estudos realizados.

    Contudo, a produção da pesquisa monográfica não pode ser resumida no mero exercício formal para obtenção do almejado diploma, essa etapa configura-se como processo necessário para a formação profissional.

3.2.     Caracterização dos campos de pesquisa e atuação profissional

    A maior parte dos TCC’s foi produzida na área não escolar, com um percentual de 67,8 %, enquanto a área escolar obteve o percentual de 29,64% e 2,56% não definiram sua área de pesquisa. Ainda que o curso fosse de licenciatura plena, ou seja, a formação acadêmica proposta era generalista, abrangendo a área escolar e não escolar, ocorreu uma desvalorização enquanto campo de pesquisa da área escolar, como enfatiza Libâneo (2004, p.74):

    [...] a profissão de professor vem sendo muito desvalorizada tanto social quanto economicamente, interferindo na imagem da profissão. Em boa parte isso se deve às condições precárias de profissionalização, salários, recursos materiais e didáticos, formação profissional, carreira, cujo provimento é, em boa parte, responsabilidade dos governos.

    A profissão de professor tem um papel fundamental na sociedade, contribuindo para a formação dos cidadãos. Dessa forma a pesquisa no âmbito escolar é importante para que o acadêmico tenha uma visão crítica da escola, a fim de que elabore estratégias de intervenção que favoreça a educação do aluno de forma integral.

    Evidentemente para o profissional que trabalha na área não escolar é essencial ter domínio dos elementos fisiológicos e biológicos, no entanto essa prática não deve estar desvinculada da questão humana. Embora o indivíduo que busca a academia possa ter objetivos relacionados ao rendimento, profiláticos, entre outros, o profissional não deve desconsiderar o sujeito integralmente. É nesse sentido que a investigação na área escolar poderá colaborar para torná-lo um profissional mais apto a intervenções tanto pedagógicas quanto psicossociais. No entanto cabe a universidade conscientizar o acadêmico quanto o seu papel de educador, instigando-o durante sua formação a realizar pesquisas para que possa entender o homem não somente pelo viés biológico, mas também como um ser na sua totalidade, a universidade dispõe de ferramentas que podem desenvolver essas questões, por meio do seu direcionamento curricular.

    Os 104 resumos relacionados à área escolar foram classificados em nove campos, dispostas no quadro 2, as quais foram categorizadas conforme os dados encontrados nessa pesquisa.

Quadro 2. Campos de pesquisa da Área Escolar

Campos

Percentual

Educação/Pedagógico

51,72 %

Saúde

18,1 %

Aprendizagem/Desenv. Motor

10,34 %

Psicologia

10,34 %

Educação Especial

4,32 %

Antropometria

1,72 %

Biomecânica/Cinesiologia

1,72 %

Fisiológico/Biológico

0,87 %

Lazer

0,87 %

    A área pesquisada de maior destaque está relacionada aos aspectos pedagógicos, seguida pela saúde e aprendizagem/desenvolvimento motor.

    A grande importância de se pesquisar a área escolar está na formação do professor como intelectual, Giroux (1997), crítico e reflexivo Freire (1979 e 1983), para que em suas aulas consiga inventar novas soluções e modifique a rotina, fazendo com que seus alunos também se tornem cidadãos conscientes de seu papel na sociedade. Essa realidade só será alcançada a partir do momento em que o professor passe a realizar estudos em relação a atuação profissional e a investigar a escola enquanto campo de pesquisa, de acordo com Libâneo (2004).

    Um indicativo presente nessa pesquisa foi uma preocupação em estudar os aspectos pedagógicos, reforçando deste modo as idéias expressas por Libâneo. Para classificar os TCC’s na área escolar foram considerados os temas abordados nos resumos, tais como: investigação da prática pedagógica, das estratégias metodológicas do professor, dos conteúdos da Educação Física, a atuação do professor, a escola como espaço sociocultural, as questões psicossociais presentes na escola, o processo de ensino-aprendizagem, entre outros. Ao pesquisar esses elementos o acadêmico passa a conhecer e entender a escola dentro de um contexto, pois esse ambiente é o reflexo da realidade social na qual está inserida. Passa também a compreender o papel da escola, de transformação dos sujeitos por meio do conhecimento, conscientização e autonomia. É o estudo que proporciona ao formando a visão diferente do senso comum, é o seu referencial teórico que o fundamenta na atuação e intervenção na prática pedagógica para formação humana.

    Em relação à área não escolar, os dados foram diferenciados da escolar, conforme apontados no quadro abaixo, os 238 resumos foram divididos em doze campos de pesquisa, obtendo-se os respectivos percentuais classificados como segue:

Quadro 3. Campos de pesquisa da área Não Escolar

Campos

Percentual

Saúde

46,92 %

Psicologia

11,4 %

Fisiológico/Biológico

10,1 %

Educação/Pedagógico

8,78 %

Treinamento Desportivo

5,26 %

Lazer

4,39 %

Aprendizagem/Desenv. Motor

3,07 %

Educação Especial

2,63 %

Históricos/Filosóficos

2,2 %

Administração

1,75 %

Antropometria

1,75 %

Biomecânica/Cinesiologia

1,75 %

    Nesta área de pesquisa, a saúde obteve maior destaque, seguida de psicologia e fisiologia, o que demonstra um maior interesse dos graduandos pela área de atuação do bacharelado. Silva (2005) também observou que a produção dos trabalhos acadêmicos na área de Educação Física na pós-graduação, tem como foco estudos voltados principalmente para a saúde.

    Há muitas visões de predomínio nesta área não escolar, mas aquela que mais se destaca é a visão biológica de homem, enfatizando o aspecto corporal, esse aspecto pode ser entendido pela forma como a estrutura curricular dos cursos de Educação Física são organizados, enfatizando as ciências naturais em detrimento das ciências humanas, conforme Daólio (2009).

    Essa concepção biológica acerca do aspecto corporal nessa área de formação é enfatizada como instrumento de trabalho, conforme Fernandes (2005, p. 2):

    Este enfoque confere aos estudantes uma visão de um corpo instrumento da Educação. Definem o corpo como ‘uma pedra a ser lapidada pela Educação Física’ ou como sendo ‘o objeto que temos para trabalhar’ ou ainda ‘uma máquina perfeita’.

    No entanto, acadêmicos da área escolar apresentam outra perspectiva em relação ao corpo e ao papel da Educação Física na sociedade, pois segundo Fernandes, (2005, p.1):

    As vivências no âmbito da Licenciatura aproximaram o estudante da área de Ciências Humanas, traçando elementos distintos para a formulação de seus discursos sobre o corpo. O corpo para o Licenciado é, de maneira geral, um corpo no mundo, que traduz a complexidade dos seres humanos, ‘a palavra corpo lembra as pessoas ao redor, as pessoas em todos os seus aspectos...’ e suas relações espaciais ‘o corpo é o meio pelo qual o ser humano se expressa no mundo’

    Outros dois campos de pesquisa utilizados pelos acadêmicos que apresentaram percentuais significativos foram: a terceira idade com 14,7% e o Projeto Córrego Bandeira com 5,5%.

    Segundo o Instituto Ayrton Senna3, este visa à educação pelo esporte e mantém uma parceria com a UFMS, oportunizando as crianças oriundas de comunidades de baixa renda a uma educação mais completa, por meio do Projeto Córrego Bandeira. O Projeto é destinado a crianças de cinco a catorze anos e oferece alimentação, transporte, aulas de informática, de línguas estrangeiras, artes e atividades corporais diversificadas. Sua infra-estrutura é adequada, pois conta com um prédio com as salas de aula (informática e línguas), sala de dança, refeitório, quadra poliesportiva coberta e um ginásio de ginástica.

    Muitos acadêmicos do curso de Educação Física atuam como monitores desse Projeto e desenvolvem seus TCC’s tendo como tema o próprio Projeto, tratando-o como objeto de estudo e não como um local de estudo, ou seja, ao invés de utilizar o espaço do Projeto Córrego Bandeira para investigarem assuntos como, por exemplo, o estado nutricional de crianças, o foco passou a ser em linhas gerais, a relevância social, político-pedagógicos do projeto em si.

    Em relação à terceira idade, esta também deixou de ser um grupo de sujeitos e passou a ser o objeto da pesquisa, isto ocorreu com 14,7% dos TCC’s. Um exemplo seria, as diferenças entre homens e mulheres em relação à capacidade física flexibilidade, usando para isso um grupo de idosos, que nesse caso seria a amostra. Neste exemplo a terceira idade passa a ser vista e entendida apenas por um viés biológico, não aprofundando o conceito amplo de terceira idade.

    Segundo Debert (1997 p.39) a terceira idade, seria:

    A invenção da terceira idade é compreendida como fruto do processo crescente de socialização da gestão da velhice: durante muito tempo considerada como própria esfera privada e familiar, uma questão de previdência individual ou de associações filantrópicas, ela se transformou em uma questão pública.

    Complementando essa ideia Acosta e Marzari (2007 p.124) afirmam:

    É interessante notar que o processo de envelhecimento engloba a velhice que, distintamente, é definida em termos mais amplos, é a última fase do ciclo vital e é delimitada por eventos de natureza múltipla, incluindo, por exemplo, perdas psicomotoras, afastamento social, restrição em papéis sociais e especialização cognitiva.

    Constatou-se um crescimento na produção de monografias voltadas a estudarem as peculiaridades da terceira idade pelos acadêmicos do Curso. Esse crescimento no DEF/UFMS acompanhou uma tendência nacional de um considerável aumento nas produções científicas em relação a essa temática, devido ao vasto campo de estudo, como retrata Acosta e Marzari (2007 p. 135),

    Ultimamente produz-se sobre: o lazer para o idoso, festas para a terceira idade, o idoso e os meios de comunicação, enfim, existe mais de uma opção, ou seja, mais de um viés a ser observado e não apenas uma única maneira de compreender e divulgar os aspectos comuns à velhice.

    Após apresentados os dados em relação à área escolar e não escolar, existiram como já mencionado, investigações não classificadas nestas duas áreas, aqui identificados como “área não definida”, esta categorização foi necessária, pois alguns acadêmicos não apresentavam em seus trabalhos a área de atuação, ou seja, eles abordavam um determinado assunto em seu trabalho, porém não indicavam em qual área de fato se encontravam. Mesmo sem focalizar em qual área de atuação (não escolar ou escolar), o acadêmico dava informações o suficiente em seu resumo para classificarmos em que campo de pesquisa pertencia, vale ressaltar que a palavra “área” refere-se a escolar e não escolar e “campo” a campos de atuação, sendo eles Educação/Pedagógicos, Saúde, etc.

    No quadro abaixo, os trabalhos foram classificados de acordo com os campos de pesquisa:

Quadro 4. Estudos da área não definida

Campos

Percentual

Educação/Pedagógico

40%

Saúde

33,33%

Antropometria

6,67%

Histórico/Filosófico

6,67%

Lazer

6,67%

Psicológico

6,67%

    Os campos de pesquisa, educação e saúde receberam maior destaque também nesta categoria, acompanhando dessa forma os resultados das áreas escolar e não escolar.

Considerações finais

    Ao longo desse estudo foram identificadas as áreas abordadas na pesquisa dos TCC’s da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, divididas em área escolar, não escolar e área não definida. Observou-se uma maior incidência de interesse na área não escolar, tendo como maior foco os temas relacionados à saúde e a terceira idade. Constatou-se uma desvalorização da escola enquanto área de pesquisa.

    Na área escolar os temas que tiveram maior incidência foram os aspectos pedagógicos, valorizando assim a formação do professor.

    Também foi analisada a parte estrutural dos resumos, que apresentaram um grande índice de itens fora da norma da ABNT, na qual se baseou esse estudo, mostrando a falta de conhecimento e/ou de atenção de acadêmicos e também dos orientadores quanto às normas estruturais de trabalhos científicos. Nesse sentido, recomenda-se a criação de um modelo para a elaboração do TCC, que norteie a construção dos mesmos, com base nas normas da ABNT e necessidades do próprio Departamento.

    Como em toda produção científica, limites e contratempos são inevitáveis, como a inexistência de um acervo “on-line” de todos os TCC’s produzidos pelos acadêmicos no DEF/UFMS. Por fim, sugere-se a possibilidade de continuação dessa pesquisa, ampliando a análise dos TCC’s para outras Universidades de Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul.

Notas

  1. Parecer n° 1395, do Comitê de Ética em Pesquisa/CEP/UFMS de 2009.

  2. Esses tipos de pesquisa não foram explicados por Gil (2007), contudo, foi observada a classificação que os próprios autores dos TCC’s apontaram em seus estudos.

  3. Conforme informações obtidas no site oficial, Instituto Ayrton Senna. Disponível em: (http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/programas_interna.asp?cod_programa=11&ms=5). Acesso em: 11 de nov. 2009

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