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Os sintomas característicos da síndrome pré-menstrual e

a percepção de impacto na prática de exercícios físicos

Los síntomas característicos del síndrome premenstrual y la percepción de impacto en la práctica de los ejercicios físicos

 

Universidade Federal do Paraná

Curitiba, Paraná

(Brasil)

Elisa Sech Ribas

Maria Gisele dos Santos

Ana Maria da Silva Delai

mariagisele@yahoo.com

 

 

 

 

Resumo

          As mulheres passam por variações hormonais que podem resultar em sintomas que interferirão na vida diária. Dessa forma esta pesquisa tem como objetivo conhecer os sintomas presentes no período pré-menstrual, os quais podem vir a caracterizar a chamada síndrome pré-menstrual, e constatar se realmente estes sintomas, podem ou não, exercer um impacto na prática de exercícios físicos. O estudo foi composto por 25 participantes, entre 15 e 55 anos, que praticam exercícios físicos em uma academia específica, da cidade de Curitiba. Utilizou-se uma ficha de identificação, uma ficha sobre os sintomas presentes no período pré-menstrual e uma ficha de percepção de impacto dos sintomas pré-menstruais na prática de exercícios físicos, todas as fichas foram adaptadas de Gaion (2009). As fichas foram respondidas e recolhidas na própria academia. Para o cálculo percentual dos resultados obtidos através das fichas aplicadas, foi utilizado o Excel 2003. Os sintomas predominantes no relato das participantes foram: mastalgia (60%), irritabilidade (56%), cefaléia (52%) e cansaço (48%). Com predomínio de 32%, as mulheres sentem a prática de exercícios bastante afetada (grau de impacto = 3) pelos sintomas, 28% sentem a prática moderadamente afetada, 24% relataram ser um pouco afetada e 12% extremamente afetada. Apenas 4% das participantes (n=1) relatou que os sintomas pré-menstruais nada afetam a sua prática de exercícios físicos (grau de impacto = 0). No presente estudo pode-se constatar que, se não todas as mulheres, mas a maioria delas apresenta algum sintoma na fase pré-menstrual, podendo ser físico, psicológico ou comportamental.

          Unitermos: Ciclo menstrual. Síndrome pré-menstrual. Exercício físico.

 

Abstract

          Women go through hormonal changes that can result in symptoms that interfere in daily life. Thus this research aims to know the symptoms present in the premenstrual period, which may come to characterize the so-called pre-menstrual syndrome, and really see if these symptoms may or may not, have an impact on physical exercise. The study consisted of 25 participants between 15 and 55 years, practicing physical exercises in a gym specifically, the city of Curitiba. We used a form of identification, a fact sheet on the symptoms present in the premenstrual period and a form of perceived impact of premenstrual symptoms in physical exercise, all the chips were adapted Gaion (2009). The chips were answered and collected in the academy itself. To calculate the percentage of results obtained through the records applied, we used Excel 2003. The predominant symptoms in the reporting of the participants were: breast tenderness (60%), irritability (56%), headache (52%) and fatigue (48%). With a prevalence of 32%, women feel the exercise significantly affected (degree of impact = 3) for symptoms, 28% felt the practice moderately affected, 24% reported being somewhat affected and 12% extremely affected. Only 4% of participants (n = 1) reported that premenstrual symptoms anything affect your physical exercise (degree of impact = 0). In the present study can be seen that, if not all women, but most of them presents any symptoms in the premenstrual phase, which may be physical, psychological or behavioral.

          Keywords: Menstrual cycle. Physical exercise. Pre-menstrual syndrome.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O início do ciclo menstrual é dado pela ocorrência da menarca, que tem por significado a primeira menstruação e traduz um importante evento no amadurecimento do eixo hipotálamo-hipófise-ovários iniciando os processos cíclicos hormonais e os ciclos menstruais ovulatórios (1). A primeira menstruação ocorre pela primeira vez por volta dos doze anos de idade e pode ser retardada até os dezesseis anos, a depender em parte da pré-disposição genética de cada indivíduo (2).

    O ciclo menstrual pode ser dividido em três fases principais: fase folicular, também chamada de fase proliferativa, fase ovulatória e fase lútea ou secretora, sendo descritas a seguir:

  1. No início da fase folicular, os receptores para o Hormônio Folículo-Estimulante (FSH) e Hormônio Luteinizante (LH) são sensibilizados nas células da teca e da granulosa, presentes no ovário, e as gonadodropinas estimulam a síntese do estradiol (3). O estradiol é o principal estrogênio do ovário e é resultado da conversão da testosterona, nas células da granulosa, em 17 b - estradiol. Esse hormônio domina a fase folicular, tendo o revestimento endometrial do útero efeitos significativos devido ao aumento regular dos níveis desse hormônio. Ocorre assim, a preparação do útero para uma possível aceitação do óvulo fertilizado e também a inibição da secreção de FSH e LH pela hipófise anterior, através de feedback negativo (3). O estradiol estimula o crescimento do endométrio e glândulas e desenvolve mudanças no muco cervical, tornando-o aquoso e elástico. A secreção dos hormônios da hipófise anterior, FSH e LH, é estimulada pelas altas concentrações do hormônio hipotalâmico, GnRH, que é entregue diretamente ao lobo anterior da hipófise, que estimula uma secreção pulsátil dos hormônios hipofisários. O FSH e o LH passam a atuar nos ovários, estimulando o desenvolvimento folicular e a ovulação, e também a síntese dos hormônios esteróides (3).

  2. A fase ovulatória ocorre no décimo quinto dia de um ciclo menstrual, de 28 dias. A despeito da duração do ciclo, a ovulação ocorre 14 dias antes da menstruação. Embora estes eventos ocorram, em geral, entre o décimo terceiro e o décimo quinto dia, o estresse e diversos outros fatores podem fazer com que se retarde a ovulação e conseqüentemente a atuação de alguns hormônios (4). Essa fase ocorre depois de um grande aumento da secreção de estradiol no final da fase folicular, ocorrendo um processo de feedback positivo sobre a secreção de FSH e LH, chamado pico de FSH e LH (3). Podendo haver então, a ovulação do óvulo maduro. Tornando mais aquoso e aumentando de quantidade, o muco cervical fica mais penetrável ao espermatozóide. Os níveis de estradiol diminuem após esse acontecimento, mas irão aumentar novamente na fase lútea.

  3. A fase lútea ou secretora ocorre do décimo quinto ao vigésimo oitavo dia, terminando com início da menstruação. Nessa fase há o predomínio da ação da progesterona. Uma de suas ações é o feedback negativo sobre a hipófise, em que ocorrerá a inibição de FSH e LH novamente. Nessa fase também ocorre o desenvolvimento do corpo lúteo, sintetizando assim, estradiol e progesterona. Com o aumento da progesterona, nessa fase, há a estimulação da atividade secretora do endométrio e o aumento de sua vascularização, preparando o endométrio para receber o óvulo fertilizado. Por se tornar menos abundante e mais espesso, o muco cervical não é adequado para que o espermatozóide fertilize o óvulo. No final da fase lútea, se a fertilização não ocorreu, o corpo lúteo regride, perdendo a fonte lútea de estradiol e progesterona, e os níveis sanguíneos dos hormônios diminuem abruptamente (3).

    Com a regressão do corpo lúteo e perda de estradiol e progesterona ocorre a eliminação do endométrio e de sangue (menstruação ou sangue menstrual), havendo assim, a menstruação propriamente dita, que tem uma duração média de cinco dias, correspondendo do primeiro ao quinto dia do próximo ciclo menstrual. A duração do fluxo menstrual é de 3-5 dias, mas fluxos de 1 até 8 dias podem ocorrer em mulheres normais e pode ser influenciada por muitos fatores, inclusive a espessura do endométrio, medicamentos e doenças (5).

    A oscilação dos hormônios, característica do ciclo menstrual, faz com que várias mulheres tenham sintomas no período pré-menstrual podendo interferir na sua vida diária.

    A síndrome pré-menstrual caracteriza-se por uma combinação de sintomas físicos, psicológicos e comportamentais que interferem de forma negativa nas relações interpessoais da mulher (1), sintomas estes, que aumentam de intensidade, 4-10 dias antes da menstruação e desaparecem com o início dela (6). É uma patologia endócrino-ginecológica de causa incerta e não proveniente da imaginação da mulher (1).

    Existe uma discrepância nos dados de prevalência da síndrome na literatura por não haver um consenso para a sua definição. Em estudo realizado no Brasil, Nogueira e Silva (2000) (7) em um ambulatório ginecológico, o qual caracterizou a SPM como a presença de pelo menos um sintoma severo, encontrou uma proporção de 43,3% das pacientes mulheres com a síndrome. Em outro estudo, Silva et al (2006) (8), obteve a prevalência de 25,2% de mulheres, de uma cidade do Rio Grande do Sul, com SPM, tendo como critério a presença de pelo menos cinco sintomas. Em ambos, os critérios foram distintos, mas pode-se entender que quanto mais rigorosos são esses critérios, para caracterizar a SPM, menor é a prevalência. Assim não há um consenso na determinação de um critério para o diagnóstico da SPM, ocorrendo uma diferença na prevalência da síndrome.

    Vários são os fatores que tentam explicar os sintomas característicos da SPM, sendo algo muito subjetivo, variando de mulher para mulher. Devido essa grande variabilidade, não se pode estabelecer uma única causa para a SPM, mas Dickerson, Mazyck e Hunter (2003) (9) sugerem que a regulação alterada de neuro-hormônios e neurotransmissores, como a serotonina, está envolvida com a ocorrência dos sintomas. Para Halbe (2000) (10) a oscilação nos níveis de estrógeno e de progesterona, no ciclo menstrual, atua sobre a função serotoninérgicas e, em mulheres mais sensíveis, ocorrem as manifestações da SPM. De acordo com Freitas et al., (2001) (1) a SPM pode apresentar relação com fatores socioculturais mais do que genéticos e parece ser conseqüência de uma interação complexa e pouco compreendida entre hormônios esteróides ovarianos, neurotransmissores centrais, prostaglandinas, sistema autonômico periférico e endócrino.

    Como a SPM possui etiologias diversas, não muito conhecidas e nem comprovadas, e por não ter marcadores objetivos que possam quantificar a intensidade da sintomatologia, se torna difícil estabelecer um diagnóstico da SPM (6). Vários critérios e protocolos têm sido utilizados para diagnosticar a SPM. A melhor forma para obter-se o diagnóstico é através do registro dos sintomas, prospectivamente, por no mínimo dois ciclos, realizado sob a forma de diário (1). Existe também uma variedade de calendários e questionários para a documentação das alterações ocorridas no período pré-menstrual, mas devido a sua extensão não são muito ideais. Segundo Gaion, Vieira e Silva (2008) (11) devido a estas diferenças nos procedimentos metodológicos, sejam de forma biológica ou sob forma de registro para a realização de um diagnóstico, isso tem afetado diretamente a prevalência da SPM. Jones, Wentz e Burnett (1990) (6) afirmam que é necessária uma avaliação completa de antecedentes clínicos, familiares e sociais de cada paciente. Segundo Halbe (2000) (10) o diagnóstico será realizado pela anamnese, pelo exame físico e pelos exames complementares, o qual o mais importante é a documentação da ocorrência dos sintomas ao longo do ciclo menstrual, feita em forma de gráfico, sendo este o modo mais adequado para a realização do diagnóstico. O mesmo autor salienta que o diagnóstico da SPM somente poderá ser feito na presença de ciclos menstruais espontâneos. Assim, o uso de pílulas contraceptivas e outras drogas devem ser investigadas, pois estas podem dificultar a observação dos sintomas no desenvolver do ciclo menstrual.

    Para o tratamento da SPM é de grande importância, primeiramente, uma conscientização e orientação sobre a síndrome. Muitos dos tratamentos existentes, mais de 300 opções presentes na literatura, carece de evidências e mais estudos para a sua aprovação. A incerteza da fisiopatologia da SPM reflete-se na variabilidade do tratamento clínico (6). De acordo com Halbe (2000) (10) o tratamento divide-se em medidas gerais, discussão do significado da síndrome e administração de medicamentos. Como medidas gerais tem-se: dieta, condicionamento físico, equilíbrio entre o sono e trabalho.

    Existe uma série de terapias que comprovadamente não funcionam, entre elas, a complementação com progestágeno, com vitamina B6 e o uso de danazol (1). Entretanto o uso da fluoxetina, inibidor da recaptação de serotonina, demonstrou ser muito eficaz no tratamento da síndrome (10).

    O que se pode concluir a respeito do tratamento da SPM, baseado na literatura, é que existem algumas intervenções que podem ser efetivas, mas carecem de mais estudos, sendo elas: a individualização do tratamento, já que os sintomas variam de mulher para mulher e são indicados de acordo com o quadro de cada paciente. O tratamento deve basear-se nos tipos de sintomas e na gravidade da síndrome (1).

    Deve haver uma dieta balanceada, com baixo consumo de gorduras, evitar alimentos muitos salgados e muito doces devido à retenção hídrica, ocasionando desconfortos. Para esses casos tem-se indicado diuréticos, mas estes possuem um papel limitado no tratamento. Evitar bebidas estimulantes como chás, café e bebidas a base de cola, por aumentarem a irritabilidade, a tensão e a insônia, além de bebidas alcoólicas, que podem piorar os sintomas psicológicos (1). Segundo Halbe (2000) (10) estudos demonstraram que a ingestão de refeição rica em carboidratos e pobre em proteínas, à noite, durante a fase lútea, melhora a depressão, tensão, irritabilidade, fadiga e ansiedade, devido ao aumento da síntese da serotonina. Segundo o mesmo autor a utilização de contraceptivos orais, como pílulas, tende a apresentar escores de síndrome pré-menstrual significativamente mais baixos.

    As alterações dietéticas como essas são provavelmente inócuas, e, quando bem sucedidas, evitam um tratamento mais sério (6).

    O que também pode ser proposto para o tratamento, é o uso do óleo de prímula, suplemento nutricional, constituído por ácido gamalinoléico, que teve resultados satisfatórios na melhora de sintomas como depressão, ansiedade e mastalgias, em estudos não-controlados, mas em único estudo controlado, somente a depressão mostrou-se diminuída em comparação ao placebo (6).

    Alguns autores acreditam que a síndrome esteja relacionada ao estresse, embora essa associação seja controversa, recomendam o tratamento cognitivo, que pode ajudar a paciente a desenvolver formas apropriadas para lidar com os problemas da vida diária (10). Uma redução do estresse o quanto possível e seguir um programa de exercício físico regular são fatores fundamentais no tratamento. O exercício aeróbico pode elevar os níveis de endorfinas e com isso melhorar o humor (1).

    São muitos os sintomas da SPM além de sua variabilidade, sendo citados mais de cem sintomas físicos, psicológicos e comportamentais associados (1).

    Cheniaux Jr, Laks, Chalub (1994) (12) afirmam que no período pré-menstrual podem ocorrer alterações positivas, como aumento do interesse e do prazer sexual, explosões de energia, seios mais atraentes, maior produção de idéias criativas, melhor desempenho social e ocupacional, sensação de bem-estar, entre outras.

    Segundo Halbe (2000) (10) os sintomas somáticos mais comuns apresentados na síndrome são: dor e crescimento mamários, dor pélvica, cefaléia, aumento de peso, perturbações da pele. Já nos sintomas psicológicos, estão presentes a irritabilidade, depressão, ansiedade, incapacidade de concentração, tensão, insônia, desânimo e oscilação de humor e choro.

    Em pesquisa realizada com 112 atletas de futsal, Gaion, Vieira e Silva (2008) (11) constataram que os sintomas associados com impacto no desempenho esportivo das atletas foram a depressão, a irritabilidade, a mastalgia, a dificuldade de concentração, a dor lombar e o cansaço.

    Mendonça (1989) (13) comenta como possíveis causas de alguns sintomas físicos, como a retenção hídrica e hiperplasia mamária, alterações de prolactina, secreção de aldosterona, progesterona e estrogênio. Já para as alterações de comportamento o mesmo autor comenta a relação com os esteróides ovarianos, as endorfinas e a noroadrenalina. Lima e Camus (1996) (14) relatam que alguns desses sintomas apresentados no período pré-menstrual podem ser explicados pelas alterações no nível de estrogênio e progesterona, onde a falta de estrogênio pode associar-se ao aparecimento da depressão, diminuindo a atividade psicomotora, e quando os níveis desse hormônio encontram-se elevados podem associar-se a estados de agitação, ansiedade e irritabilidade. Para Halbe (2000) (10) atualmente, sabe-se que a progesterona é o hormônio indutor da síndrome em mulheres sensíveis.

Relação do exercício físico e os sintomas característicos da síndrome pré-menstrual

    Entende-se por exercício físico, aquela atividade física planificada, estruturada, repetitiva e dirigida com um fim, ou seja, melhorar a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física e qualidade de vida (15).

    As mulheres mostram-se cada vez mais ativas e participativas com relação à prática de exercícios físicos, mesmo com suas alterações fisiológicas decorrentes do ciclo menstrual e os sintomas que as afetam durante o período pré-menstrual, o bem–estar trazido pela prática é fundamental nas suas vidas.

    Segundo Halbe (2000) (10) há uma tendência de mulheres que praticam exercícios físicos terem menos sintomas pré-menstruais do que mulheres inativas. Segundo o mesmo autor tanto o exercício aeróbio, como o anaeróbio, podem reduzir esses sintomas. Mas o exercício aeróbio mostra nítido efeito benéfico sobre a depressão pré-menstrual.

    De acordo com Leitão et al., (2000) (16) o exercício físico realizado de maneira correta associado à ingesta alimentar adequada, não interfere na função hormonal e as diferentes fases do ciclo menstrual parecem não interferir no desempenho. Contudo, os mesmos autores afirmam que alguns trabalhos sugerem também o alívio de sintomas pré-menstruais em mulheres que se exercitam regularmente.

    Robergs e Roberts (2002) (17) relatam que as distintas fases do ciclo menstrual são importantes porque existem diferenças nas concentrações de hormônios que afetam a mobilização do substrato para o exercício.

    Para Mellion (1997) (4) a fase do ciclo menstrual pode afetar a performance feminina, pois as concentrações de estrogênios e progestinas se modificam e podem alterar a dinâmica do volume vascular, a temperatura, a ventilação e o metabolismo do substrato.

    De acordo com Stella et al. (2004) (18) o exercício físico tem demonstrado importante contribuição para melhora no perfil do estado de humor a curto e longo prazo. Algumas hipóteses psicofisiológicas, sugerem que o efeito analgésico e relaxante obtido pelo exercício físico, devido a liberação de b-endorfina e dopaina aguda ao exercício, atribuam maior estabilidade positiva no estado de humor. Assim devido a ação desses opióides (substâncias análogas aos derivados do ópio, e que exercem efeitos analgésicos), liberados para a corrente sanguínea logo após o término da sessão, a sensação de relaxamento e bem-estar são amplamente percebidas pelo cérebro, mantendo o estado de humor equilibrado por pelo menos 2 horas após a prática de exercício (19). Pode-se dizer que essa resposta do organismo ao exercício é de grande benefício para as mulheres com sintomas pré-menstruais como labilidade de humor, tensão, dores generalizadas e até mesmo cansaço.

    Para Halbe (2000) (10) além da influência neuroendócrina, clara em exercícios moderados ou intensos, também pode haver benefícios psicológicos, podendo com a prática de exercícios regulares, fornecer a essas mulheres, um alívio das responsabilidades excessivas em casa, no trabalho e na família e servir como uma forma de lidar com o estresse. Sendo este, para alguns autores já citados, um possível fator relacionado à síndrome pré-menstrual.

    Em estudo realizado por Vieira, Rocha e Porcu (2008) (20) o exercício físico realizado, baseado em hidroginástica, mostrou ser um auxiliar terapêutico importante no tratamento da depressão sobre os benefícios do estado emocional (psicológico) ou perfil do estado de humor. Devido à modificação de outros fatores de humor subjacentes aos sintomas da doença, como a redução da tensão, raiva, fadiga, confusão e aumento do vigor, atribuiu-se uma melhora nos níveis de depressão. Os autores concluíram que a prática de exercícios físicos deve ser encorajada junto aos pacientes com depressão e que eles devem ter a oportunidade de práticas de exercícios físicos supervisionados por mais tempo, para que os resultados dessa prática possam ser mais eficientes.

    Os sintomas característicos da SPM podem gerar um impacto na realização de atividades diárias de algumas mulheres, como por exemplo, na prática de exercícios físicos. Assim o presente estudo com mulheres praticantes de exercícios físicos, em uma academia específica de Curitiba, visa o conhecimento dos sintomas presentes no período pré-menstrual dessas mulheres, subjetivamente, não tendo por objetivo comprovar o diagnóstico da SPM, mas sim, relatar o quanto eles podem afetar a prática de exercícios físicos.

Metodologia

População

    A população foi composta por 25 mulheres praticantes de exercício físico de uma academia específica da cidade de Curitiba. Essas mulheres deveriam estar em período fértil (entre a menarca e a menopausa), abrangendo uma faixa etária de 15 a 55 anos.

    Os critérios de exclusão foram: mulheres grávidas, mulheres que não apresentavam um ciclo menstrual regular nos últimos 3 meses e mulheres que utilizavam pílulas anticoncepcionais hormonais.

Instrumentos e procedimentos

    Para a coleta de dados foi utilizada, primeiramente, uma ficha de identificação das mulheres praticantes de exercício físico, adaptada de Gaion (2009), que registrou a idade (anos), qual a modalidade de exercício praticada, tempo de prática (dias, meses ou anos) dessa modalidade, quantidade semanal de dias de prática e duração diária dessa prática. Na mesma ficha foi perguntado se a participante fazia uso de anticoncepcionais hormonais, sendo excluídas da pesquisa as mulheres que utilizavam.

    Juntamente à ficha de identificação foi utilizada uma ficha, adaptada da Gaion (2009) (11), que mensura os sintomas tanto fisiológicos, emocionais e comportamentais, presente nos três últimos ciclos menstruais dessas mulheres, mais especificamente no período pré-menstrual e que se fazem ausentes após a menstruação. Os sintomas relatados nesta ficha, seguindo alguns critérios, como já feito em outras pesquisas, podem vir a caracterizar a existência da chamada síndrome pré-menstrual. Entretanto o presente estudo não objetivou este fato.

    Após a ficha de mensuração dos sintomas foi aplicada uma ficha de percepção de impacto dos sintomas do período pré-menstrual, na prática de exercícios físicos, também adaptada de Gaion (2009) (11) . As praticantes de exercícios físicos, de forma subjetiva, puderam responder com que intensidade elas sentiam que os sintomas afetavam o seu desempenho na prática de exercício. Essa ficha apresentava uma escala que compreendeu valores de 0 (“não é afetado”), 1 (“pouco afetado”), 2 (“moderadamente afetado”), 3 (“bastante afetado”) e 4 (“extremamente afetado”).

    As fichas foram entregues após um consentimento verbal, aceito pelas mulheres participantes, tendo um esclarecimento dos objetivos dos mesmos, da pesquisa e a garantia da não identificação de suas respostas. Assim, todas as fichas foram respondidas na própria academia, em uma área reservada para o procedimento, tendo as participantes uma maior privacidade e atenção em relação às perguntas apresentadas.

    As fichas foram recolhidas no mesmo local, pela responsável da pesquisa, logo após a finalização das respostas.

Planejamento da pesquisa e estatística

    Esse estudo trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo que segundo Tomas e Nelson (2002) (21) e Rampazzo (2005) (22) se caracteriza pela observação, registro e análise de fatos ou fenômenos do mundo humano. Geralmente uma pesquisa de cunho descritivo é utilizada quando se tem como intuito, descobrir com precisão possível a freqüência com que um fato ocorre, sua relação e conexão com outros fatos, sua natureza e também suas características. Esse tipo de pesquisa utiliza como instrumentos observações, entrevistas, questionários, formulários, entre demais técnicas.

    Assim para o presente estudo foi utilizado o Excel 2003, para o cálculo percentual, para a descrição dos resultados obtidos através das fichas aplicadas.

Resultados

    Observou-se através da ficha de identificação aplicada às participantes (n=25), que 84% delas (n=21) praticam musculação e ginástica e 16% praticam somente natação ou hidroginástica (n=4). A maioria das mulheres, 68%, praticam exercícios físicos há um ano ou mais, sendo que 64% realizam essa prática 3 dias por semana e 72% fazem uma hora ou mais de exercício físico por dia.

    Na tabela 1 pode-se verificar o percentual dos sintomas, característicos da síndrome pré-menstrual, presentes na maior parte do tempo durante a semana que antecedeu a menstruação, começou a diminuir dentro de alguns dias após o início da menstruação e estiveram ausentes na semana após a menstruação, relatados pelas mulheres praticantes de exercícios físicos em uma academia.

Tabela 1. Sintomas relatados no período pré-menstrual

    Nota-se que os sintomas predominantes no relato das participantes foram: mastalgia (60%), irritabilidade (56%), cefaléia (52%) e cansaço (48%). Os sintomas menos relatados foram: crises de choro (8%), alterações da libido (8%), náuseas (8%) isolamento (4%), confusão (4%) e tonteiras (4%).

    A tabela 2 apresenta a percepção do impacto destes sintomas na prática de exercícios físicos das mulheres participantes da pesquisa.

Tabela 2. Percepção de impacto dos sintomas pré-menstruais na prática de exercícios físicos

Discussão

    De acordo com outros estudos apresentados Silva et al (2006) (8), por exemplo, constataram que a irritabilidade (71,4%), o desconforto abdominal (70,1%), o nervosismo (56,9%), a cefaléia (56,9%), o cansaço (52,4%) e a mastalgia (51,7%) foram os sintomas mais relatados no período pré-menstrual. Semelhante a Nogueira e Silva (2000) (7) que relataram a irritabilidade (86,4%), cansaço (70,9%), depressão (61,8%), mastalgia (59,1%) e dor abdominal (54,5%) sendo os sintomas mais percebidos nesse período. Maramatsu et al (2001) (23) também apresentaram em seu trabalho os sintomas mais presentes no período menstrual, os quais foram: mamas inchadas e doloridas (83,72%), cólicas (69,77%), impaciência (79,07%), irritabilidade (74,42%) e vontade de chorar (67,44%). Em Rodrigues e Oliveira (2006) (24) a Irritabilidade (86,4%), cansaço (70,9%), depressão (61,8%), mastalgia (59,1%) e dor abdominal (54,5%) foram os sintomas mais relatados.

    Pode-se observar através dos estudos realizados uma grande semelhança nos resultados dos sintomas físicos que afetam as mulheres no período pré-menstrual, e que nesses estudos, 99% das mulheres sentem algum tipo de sintoma tanto físico, psicológico ou comportamental que interferem às suas atividades diárias, como por exemplo, no presente estudo, a prática de exercícios físicos.

    De forma subjetiva, a maioria das mulheres praticantes de alguma modalidade de exercício físico, seja musculação, ginástica ou natação e hidroginásticas, relataram que os sintomas presentes durante o período que antecede a menstruação e são ausentes após a menstruação, afetam essa prática.

    Com predomínio de 32%, as mulheres sentem a prática de exercícios bastante afetada (grau de impacto = 3) pelos sintomas, 28% sentem a prática moderadamente afetada, 24% relataram ser um pouco afetada e 12% extremamente afetada. Apenas uma participante relatou que os sintomas pré-menstruais nada afetam a sua prática de exercícios físicos (grau de impacto = 0).

    Pode-se perceber que não é nada insignificante, para essas mulheres, a presença dos sintomas do período pré-menstrual e a relação deles com a prática de exercícios físicos. Com exceção de uma participante, todas as outras sentem pelo menos um pouco a influência dos sintomas na realização de exercícios físicos.

    Em um estudo realizado por Gaion, Vieira e Silva (2009) (11) a intensidade com que as atletas de futsal, com síndrome pré-menstrual, relataram sentir o seu desempenho afetado, na fase pré-menstrual, foi significativa nas categorias um “pouco afetado” e “extremamente afetado”. No mesmo estudo foi constatada a presença da síndrome pré-menstrual em atletas que apresentassem pelo menos um sintoma emocional e um físico. Nogueira e Silva (2000) (7) utilizaram como critério, para a caracterização da SPM, pelo menos um sintoma severo. No presente estudo, através das fichas aplicadas, pode-se perceber que as mulheres apresentam no mínimo dois sintomas que afetam suas atividades diárias, sendo assim, poderia ser constatado à presença da SPM, entretanto não objetiva-se nesta pesquisa esta conclusão, devido a fatores já explicados na literatura do trabalho.

Conclusão

    No presente estudo pode-se constatar que, se não todas as mulheres, mas a maioria delas apresenta algum sintoma na fase pré-menstrual, podendo ser físico, psicológico ou comportamental. A mastalgia (60%), a irritabilidade (56%), a cefaléia (52%) e o cansaço (48%), foram os sintomas com maior percentual de relatos.

    Constatou-se também que realmente estes sintomas, de forma subjetiva, afetam bastante a prática de exercícios físicos para a maioria das mulheres (32%) participantes da pesquisa. O restante relatou que sentem moderadamente ou um pouco afetada a prática e apenas uma participante sente-se nada afetada. É importante salientar que 12% sentem-se extremamente afetada.

    Assim nota-se que o desencadeamento dos sintomas, durante o período pré-menstrual, seja por mudanças hormonais ou por qualquer outro fator, deve ser observado e percebido por essas e outras tantas mulheres, para um melhor conhecimento de seu organismo e quem sabe mudanças de hábitos para uma melhor qualidade de vida. Para as mulheres que se sentem extremamente afetadas, não somente na prática de exercícios físicos, mas provavelmente em outras tarefas do cotidiano, a busca por tratamentos é fundamental, fazendo com que a fase pré-menstrual não seja um fator de sofrimento, mas algo natural e tranqüilo.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires, Noviembre de 2011
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