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Repensando a prática do estágio: caminhos que nos formam

Repensando la práctica de la pasantía: los caminos que nos forman

Rethinking the practice of the stage: in ways that make

 

*Doutorando em Educação especial pela UFSCar. Mestre em Educação pela Universidade

Federal de São Carlos (UFSCar). Licenciado e Bacharel em Educação Física pela UFSCar

e professor efetivo de Educação Física da rede estadual de educação do Estado

de São Paulo, município de Araraquara

**Professor de Educação Básica II - rede pública de ensino do estado de São Paulo

e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial

da Universidade Federal de São Carlos - PPGEEs/UFSCar

Gustavo Martins Piccolo*

gupiccolo@yahoo.com.br

Everton Luiz de Oliveira**

evertongalera@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente texto aborda a necessidade em se discutir filosófica e antropologicamente a importância da prática do estágio como marcador identitário fundamental a consecução da boa formação profissional em Educação Física. Claro que esta situação vem se alterando drasticamente com a implantação de medidas políticas que aumentem sua importância e a carga horária destinada ao mesmo, contudo, ainda não são raros os distintos e pulverizados meios pelos quais se encabula a materialização de tal prática, fruto do pérfido jeitinho brasileiro que obnubila as próprias possibilidades de constituição de um sujeito efetivamente preocupado com a qualidade de sua prática pedagógica. Sobre esta situação nos interpomos frontalmente e solicitamos seu repensar a todo custo. É preciso ter em conta a imperiosidade em invertermos radicalmente a anátema de Maquiavel. Os fins não justificam os meios. Meios ruins levam a finalidades devastadoras, não há atalhos para a boa formação e cabular o estágio certamente se compõe como uma das mazelas mais disseminadas na cultura universitária brasileira, contra a qual, é necessário, antes de tudo, uma tomada de autoconsciência por parte dos atores universitários. Mais do que medidas legais e protecionistas é preciso ter em mente que tipo de profissional e prática vou e quero desempenhar quando formado? Com quem estou comprometido: com o ter ou o ser?

          Unitermos: Educação Física. Estágio. Formação profissional.

 

Abstract

          This paper addresses the necessity to discuss the philosophical and anthropological importance of stage practice as a marker of identity crucial to achieving good training in Physical Education. Of course, this situation is changing dramatically with the implementation of policy measures to increase their importance and destined for the same workload, however, are not rare and sprayed the different means by which to embarrass the materialization of such practice, due to the insidious knack Brazilian who obscure the very possibilities of setting up a subject actually concerned about the quality of their teaching. About interpose in this situation head on and ask her to rethink all costs. It takes into account the urgent radically reverse the curse on Machiavelli. The ends do not justify the means. Bad means lead to devastating purposes, there are no shortcuts to good training and skipping the stage certainly makes up one of the most widespread maladies in the Brazilian university culture, against which it is necessary first of all, a self-making by university actors. More than legal and protective measures are necessary to keep in mind what kind of professional practice and want to play when I graduate? Who am I committed: to have or be?
          Keywords: Physical Education. Training. Professional graduated.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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A construção humana

    Durante nove meses permanecemos protegidos de quase todas as intempéries que cerca nossa sociedade, o ventre materno é o local de acolhida por excelência, nada nos preocupa ou nos incomoda. Com o nascimento, uma verdadeira revolução se processa sobre nossa psique, agora o mundo é complexo, os perigos são vários, a comodidade transforma-se rapidamente em insegurança e desestabilidade.

    Para viver nesse ambiente complexo e estruturado devemos nos apropriar dos diversos elementos culturais que envolvem as sociedades, os quais são realizados impreterivelmente por mediações, sejam elas de ordem diretas (contatos pessoais), ou indiretas (relação objetal). Consideramos que os processos mediativos possibilitam a manutenção/reprodução/criação da cultura vigente, consequentemente, permite ao homem a construção contínua e incessante da cultura.

    Já ao nascer, além de uma localização geográfica mais ou menos favorável, o homem se defronta com uma época de contornos históricos precisos, marcado pelo peso de uma tradição mais ou menos longa, com uma língua já estruturada, costumes e crenças definidos, uma sociedade com instituições próprias, uma vida econômica peculiar e uma forma de governo ciosa de seus poderes. (Saviani, 2002, p.36).

    As mediações anteriormente citadas são constituídas por processos essencialmente educativos, pois, toda mediação traz em si a semente da educação. Ou seja, nosso viver e atuar na sociedade estão diretamente relacionados com os processos educacionais em que fomos submetidos, sejam eles formais ou informais.

    Devido a esse caráter especial, acreditamos que o homem não pode se eximir da influência que a sociedade exerce sobre ele, pois como dizia Marx (1965), o desenvolvimento humano é determinado pelas condições materiais da sociedade, entretanto, o homem continua sendo o construtor de sua própria história.

    Ou seja, nosso determinismo é sempre relativo, pois apesar de condicionados tanto pelo meio natural como pelo cultural, continuamos a reinventar a própria história e a estruturação dos diferentes saberes produzidos pela humanidade.

    Nossa “adaptação” ao mundo só pode ser alcançada através de certo grau de reprodutibilidade social, pois precisamos da apropriação da realidade para que possamos idealizar/visualizar novas possibilidades de construção social, portanto, qualquer revolução (política, econômica, filosófica, ideológica, social, cultural), independentemente do seu tipo de radicalidade1, exige uma imersão em sua manifestação prática e cotidiana.

    O voltar à prática não significa qualquer tipo de passividade, para Saviani (2002) nunca agimos passivamente, nossas ações não se dão por um simples processo de aceitar ou rejeitar determinado fenômeno, toda apropriação traz consigo um potente elemento humano que nos diferencia dos mais complexos dos animais, a citar, a reflexão.

    Encontramos em Saviani (2002) que a reflexão é um pensamento em segundo grau, capaz de perceber as principais contradições que nos cercam na busca constante do direcionamento do olhar para um novo caminho efetivamente democrático e acolhedor.

Entre o abstrato e o concreto

    Ao contrário da idéia propalada pelo senso comum, a reflexão não se caracteriza por um processo essencialmente abstrato, também o é, porém, sua efetiva realização não pode ocorrer desligada da prática, o pensar transformador necessariamente está comprometido com o entendimento de uma dada realidade, característica que propõe, inevitavelmente, uma imersão prática na manifestação de determinado fenômeno social.

    Encontramos em Kosic (1969) que o pensamento humano é constituído por uma série de processos mediativos entre o concreto e abstrato, os quais se relacionam dialeticamente na construção de um novo saber mais democrático e reflexivo.

    Entretanto, nossa sociedade ainda continua pautada em modelos hierárquicos e arcaicos, os quais inferiorizam as experiências cotidianas de seus diversos sujeitos como elementos ausentes em possibilidades de abstrações intelectuais. Portanto, ainda não compreendemos efetivamente o significado de um pensar verdadeiramente filosófico.

    Nossa história nos oferece excelentes ferramentas para a compreensão dessa situação, já que, desde a Antiguidade nota-se uma supervalorização das atividades teórica comparadas às práticas. Não bastasse isso, o trabalho intelectual era visto como uma atividade desvinculada da realidade, pois esta era tida como um elemento de degradação humana. Vale destacar que o trabalho material era destinado apenas aos escravos e destituídos de posses territoriais (GRAMSCI, 1978).

    É mais que chegada à hora da adoção de uma nova postura em relação a esse fenômeno (segmentação entre teoria e prática), fato essencial para a compreensão da sociedade em sua totalidade e, consequentemente, desencadeador de uma transformação radical em determinado meio sócio-cultural.

    A construção dessa nova postura passa necessariamente pela transformação do homem atual, de nossas diversas instituições sociais e, sobretudo, dos múltiplos processos educacionais em que estamos submetidos. Ou seja, passa também pela construção de novas escolas e universidades.

    Precisamos construir uma relação educativa na qual o homem se coloque no lugar do outro, separando seu individualismo para atuar em prol de um coletivismo racionalmente planejado. Esse fato gera a consideração das pessoas por elas próprias, independentemente de suas características fenotípicas, portanto, educar é preparar o homem para compreender sua realidade e disponibilizar ferramentas para que este visualize outras possibilidades que não as hegemônicas e, isto significa ir à prática, ou para usar um termo popular “colocar as mãos na massa”.

    Para Saviani (2002) o homem é um sujeito que sempre intervêm na realidade, porém, para isso, precisa agir sobre ela e, é assim que nos definimos como seres superiores, os quais muito mais do que reclamarem superficialmente de sua estrutura, devem tentar compreende – lá, para posteriormente buscar sua transformação.

    Nada é fixo ou imutável, a estabilidade faz parte de um processo de subjetivação alienante do modelo sócio-econômico capitalista, o qual exerce fundamental importância para a manutenção de sua ideologia e do status quo das classes dominantes. Nossa vida é um processo em constante transformação, por mais imperceptíveis que sejam as revoluções fazem parte de nosso cotidiano.

    Esse fato se estende para todas as funções sociais cotidianas, qualquer trabalho pode ser alterado em suas bases materiais e supra-estruturais se refletido adequadamente a partir de sua manifestação prática, o que não inviabiliza o campo de análises abstratas, pois consideramos que ela está intimamente presente em qualquer reflexão sobre determinado elemento social.

Educação e conhecimento

    O homem como um ser relacional, se comunica constantemente e, é nos processos comunicativos que ele se dá conta de seu papel na sociedade. É no diálogo com outros sujeitos que nos trans/formamos, elemento essencial em qualquer prática educativa, práticas essas, as quais expressam determinados pontos de vista, ou melhor, maneiras de conhecer certas realidades, portanto, a educação se constrói pelo conhecimento e, o conhecimento pela educação.

    Para pontuarmos a discussão elegeremos um dos fenômenos atuais geradores de grande polêmica em nossa sociedade, a destacar, o papel que a educação sistematizada ocupa em nossa sociedade e, para ser mais específico, retrataremos, de maneira sucinta, a maneira como as universidades de uma forma geral vêm trabalhando com a questão dos estágios curriculares.

    Para Saviani (2002), a principal função das instituições especializadas em educação é fazer com que o homem passe do senso comum à consciência filosófica. Esse processo traz em seu interior uma passagem de “concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada” (SAVIANI, 2002, p.2).

    A manutenção do sujeito no saber considerado como senso comum (relacionada aqui a uma segmentação entre teoria e prática) impede que este visualize a perplexidade da sociedade em que está envolvido, consequentemente, suas possibilidades de transformação são praticamente desprezíveis. A permanência desse saber se estabelece como uma relação hegemônica de classe, ou seja, como um mecanismo de poder.

    Para Gramsci (1978) qualquer relação de hegemonia contém necessariamente uma relação pedagógica, consequentemente, a educação nunca se manifesta neutramente perante os fenômenos que ocorrem em nossa sociedade, e, cabe a ela o papel de instrumento coletivo da consciência de classe, portanto, fundamental para a construção de uma nova ordem político-econômico, social.

    Nossa educação sempre carrega um gérmen revolucionário, porém, a partir de agora precisamos pensar em processos educativos que garantam a formação de um homem para si, fato que traz consigo a necessidade de uma imersão nos problemas enfrentados por outros homens em suas atividades diárias.

    Acreditamos na possibilidade da construção (para utilizar uma expressão gramsciana) de um intelectual orgânico, o qual seja sabedor dos múltiplos determinantes que constituem as atividades sociais, entretanto, nunca perdendo de vista suas possibilidades de alteração que estão diretamente relacionadas à construção de uma nova mentalidade humana, caracterizada por uma constante ligação entre a formação teórica e o campo de atuação prática, ou seja, que se desenvolva uma atitude práxica. A universidade é uma das únicas instituições que pode contribuir significativamente para essa mudança de mentalidade nos alunos, pois pode (deveria) possibilitar essa ligação constante entre teoria e prática.

    As diversas graduações poderiam através de suas práticas de estágio colocar diversos alunos diante da realidade como ela se constrói, agindo assim, estaria contribuindo significativamente para um repensar sobre suas principais relações em determinado campo de trabalho.

    Entretanto, para isso, necessariamente deve haver uma reestruturação nas grades curriculares dos cursos, já que estes na sua grande maioria das vezes acabam colocando as atividades de estágio apenas para os últimos semestres dos cursos, o que acarreta, logicamente, em uma supervalorização das disciplinas teóricas se comparadas às práticas.

Para um pensar filosófico

    Para Saviani (2002) o ponto de partida da filosofia é sempre um problema, que não tem uma seqüência linear, não se sabe a resposta desde o início e, também não representa qualquer forma de mistério. O problema surge no processo de existência do próprio homem, o qual a partir de necessidades cuja solução depende o prosseguir na vida material humana, ou seja, é um repensar de um novo caminho para um fenômeno que deve necessariamente ser solucionado, portanto, é uma questão que se precisa conhecer.

    A parti deste enfoque teórico destacamos que são vários os problemas que os diversos cursos de graduação necessitam conhecer para que o prosseguimento de suas atividades possa ter mais sentido e significado para seus alunos.

    Considerando a especificidade do curso de Educação Física2, área em que seus profissionais atuam em diversos setores, estando relacionada aos seguintes conteúdos: jogos, ginásticas, esportes, brincadeiras, danças, lutas, folguedos, percebemos o grande campo de trabalho que cerca esta profissão como escolas, academias, clubes, acampamentos, praças, dentre outros.

    Porém, esse imenso rol de atividades constituintes do universo da Educação Física não é em geral bem aproveitado nos cursos de graduação, justamente, pela estrutura curricular em que são oferecidos os estágios, que, como dito anteriormente permanecem nos últimos anos do curso (PIMENTA, 2001; FAZENDA,1991; KENSKI, 1991).

    Isso não quer dizer que as grades curriculares da Educação Física deveriam possibilitar a seus alunos e alunas a vivência de todos os elementos constituintes de seu universo epistemológico, entretanto, a adoção de uma nova mentalidade de estágios realizados desde o primeiro ano do curso poderia colaborar significativamente para a construção de soluções para determinados problemas que se manifestam em diversas atividades sociais.

    Análises essas que não podem se esquecer das questões de ordem política, econômica, cultural, social e ideológica do nosso país, por isso, a importância conjunta do estágio com as disciplinas teóricas, pois o desenvolvimento de uma possibilita a compreensão da outra e vive-versa.

    Os estágios podem contribuir na visualização de um determinado problema cotidiano, o qual precisa ser resolvido em busca de uma melhor valorização na área de atuação, esta aí a enunciação de um problema em termos filosóficos. Para sua resolução é necessário que se apreenda todas as contradições que manifesta o fenômeno, para, em conjunto com a teoria construir novas possibilidades educacionais, portanto, não há respostas prévias e fáceis de solução, qualquer problema social envolve, em sua resolução, uma árida reflexão teórico-prática.

Estágio: rumo a novos caminhos

    A construção de um novo ambiente social passa necessariamente pelo entendimento do mesmo, fato que só pode ser realizado com a imersão prática na atividade profissional do sujeito.

    Consideramos que a formação de qualquer profissional está relacionada a uma conjuntura de múltiplos fatores, tanto objetivos como subjetivos. Nossas influências são diversas e, é nessa miscelânea de fatores que pode se constituir um sujeito social entendedor da totalidade cotidiana, para isso, os cursos acadêmicos oferecem um apoio substancial.

    Infelizmente muitos de nossos cursos universitários perderam a noção dialética em sua estrutura curricular, característica que gera constantes segmentações no preparo das futuras gerações, uma das fragmentações mais patentes é a diferenciação entre teoria e prática.

    Essa diferenciação está presente na grande maioria das estruturas curriculares das graduações no Brasil, pois, quando são oferecidos os estágios (como dito anteriormente), em geral, estes se encontram nos últimos anos da grade, assim sendo, propicia-se uma supervalorização dos elementos teóricos em detrimento das atividades consideradas como práticas. Consequentemente, a dicotomia aristotélica entre corpo e mente ainda vive fortemente em nossa lembrança e, outrossim, na realidade.

    Devido a essas características, o ensino de graduação acaba assumindo um papel distanciado perante a realidade, no qual se acarreta um grande déficit na formação integral do aluno, pois, perde-se a relação da medida entre teoria-prática, concreto-abstrato, empírico-metafísico, ou seja, percebemos a construção de práticas estanques intrinsecamente ligadas à formação de um sujeito sectarizado e alienado.

    Para Pimenta (2001), a dissociação ocorrida nas grades curriculares entre uma base teórica inicial e, a imersão ao campo prático ao final do curso constitui-se uma patente mostra de dissolução/fragmentação entre teoria e prática.

    Essa atitude rema contra a construção do conhecimento humano, o qual permite a transformação da realidade da melhor maneira possível pelos seus profissionais, desde que estes conheçam as relações desempenhadas no cotidiano, já que, sem sua compreensão/apropriação não há transformação/objetivação.

    Sentimos novamente a necessidade de enfatizar o aspecto de que todo processo educacional (inclusive o universitário) pressupõe tanto elementos reprodutivos quanto transformadores, os quais atuarão em uma cadeia dialética de inter-relações, pois, ao não conhecer a realidade, ou, conhecendo apenas sob um ponto de vista unilateral e dogmático, perdemos a possibilidade de pensar novas ações sociais futuras, fato essencial para a construção de uma realidade efetivamente solidária, colaborativa e democrática.

    Consideramos o estágio como o espaço por excelência em que o aluno pode realizar a relação entre teoria e prática, por isso sua grande importância curricular, acadêmica e social. Vale ressaltar que os estágios não devem ser encarados como reprodutores de determinados modismos, já que em seu interior está refletida a capacidade de diferenciação humana, a qual é representada pela construção particular e única de cada sujeito humano.

    O homem é sempre criativo e inovador, apenas precisa ser colocado perante situações que o incomodam, e, a nosso ver o estágio representa esse elemento por excelência nos cursos superiores devido a sua característica comunicativa com a realidade. Cabe ressaltar que uma postura crítica frente certa situação só pode ser realizada por um entendimento dialético e relacional da realidade, ou seja, após sua imersão nesta.

    Para Gramsci (1978) é na troca de experiências que produzimos situações/soluções para nosso cotidiano, assim sendo, esse processo resulta na troca de novas construções de saberes, incrementando o conhecimento produzido pela humanidade.

    Apenas pelo desvelar das contradições presentes na realidade é que podemos realmente nos questionar sobre os principais problemas da humanidade, ou seja, a proposição de soluções passa essencialmente pelo entendimento das principais bases materiais da sociedade, que no caso da Educação Física são as academias, clubes, ginásios, escolas e, seus profissionais como professores, instrutores, técnicos, recreacionistas.

    O levantamento dessas categorias foi indicado por acreditar que elas influem substancialmente nas relações de trabalho capitalistas, por isso, a consideramos como elementos das bases materiais da sociedade, pois não devemos nos esquecer que todo tipo de processo educacional visa a formação de um determinado tipo de sujeito, que nesse caso, pode ser considerado como um sujeito capitalista.

    Portanto, não conseguiremos almejar qualquer transformação social sem uma remodelação nos processos educativos que nos circundam, os quais passam pela universidade e, necessariamente, pela prática de estágios nos mais diversos campos de atuação do profissional de determinada área.

    Muitos dos problemas enfrentados nas condições de trabalho pelos profissionais da área podem ajudar os alunos a construir novas possibilidades para suas atuações futuras. Não há como negar que a possibilidade de adentrar no cotidiano nos faz pensar sobre problemas anteriormente impensáveis, com outros olhares e interpretações, ou seja, seria uma espécie de movimento catártico.

    É cada vez mais difícil conseguirmos resolver os problemas que se mostram nas diversas práticas cotidianas, já que essa dimensão está muitas vezes ausentes nos cursos de graduação, consequentemente, muitos de nossos problemas sequer são pensados.

    Para finalizar, destacamos os estágios como elemento que nos possibilita o efetivo refletir sobre nossa futura profissão, preparando-nos para o mundo do trabalho (esperamos que seja um novo mundo), portanto, é um excelente colaborador/auxiliador na formação da consciência política, social e filosófica, no qual o abstrato e o concreto estão intimamente relacionados, já não há mais dissociação, nossos problemas podem, agora, aparecer conjuntamente com algumas soluções.

    O real papel da teoria só poderá ser sentido quando percebermos sua aplicabilidade na vida cotidiana dos mais diversos sujeitos sociais.

    Esperamos que através deste texto pudéssemos ter lançado alguns questionamentos que colaborem com a reflexão do estágio, enquanto, disciplina acadêmica fundamental na construção dos graduandos de qualquer curso universitário, especialmente, os de Educação Física.

Notas

  1.  Radicalidade não significa a adoção de uma postura rebelde contra algumas normas impostas pela sociedade, mas sim, a tomada de uma postura filosófica na pesquisa, na qual se procura realizar análises pelas raízes do fenômeno, ou seja, penetrando em sua essência mais significativa e representativa.

  2.  A Educação Física trabalha com o movimento humano, que se realiza pelo e sobre o corpo, portanto, é uma área que trabalha o homem em sua totalidade, homem que sofre influência de todas as experiências vividas, por isso, o corpo antes de qualquer atividade, já carrega determinados traços culturais que dão uma característica única a qualquer pessoa (DAOLIO, 1995).

Referências bibliográficas

  • FAZENDA, I. C. A. O papel do estágio no curso de formação de professores. In: PICONEZ, S. C. B [org]. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, 1991.

  • GRAMSCI, A. Concepção dialética de história. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

  • KENSKI, V. M. A vivência escolar dos estagiários e a prática de pesquisa em estágios supervisionados. In: PICONEZ, S. C. B [org]. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, 1991.

  • KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.

  • MARX, K. A ideologia alemã e outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.

  • PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática? 4ªed. São Paulo: Cortez, 2001.

  • SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 14ª ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

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