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Aplicação de um programa de controlo emocional em jovens nadadores

Aplicación de un programa de control emocional en nadadores juveniles

Implementing a program of emotional control in young swimmers

 

Doutorando

Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro

(Portugal)

Sebastião Santos

sebassantos@sapo.pt

 

 

 

 

Resumo

          O objectivo deste estudo foi verificar a influência de um Programa de Controlo Emocional quando aplicado a cinco jovens nadadores num determinado contexto desportivo. Os resultados apresentaram evoluções positivas dos parâmetros avaliados no segundo momento de avaliação (pós-teste). E uma correlação da ansiedade com as variáveis cognitivas.

          Unitermos: Programa de controlo emocional. Emoções. Desempenho. Biofeedback.

 

Abstract

          The aim of this study was to investigate the influence of a Program of Emotional Control to five young swimmers in a particular context of sport.

The results showed positive developments of the parameters evaluated at the second stage of evaluation (Post- test). And a Correlation of anxiety with cognitive variables.

          Keywords: Emotional control programme. Emotions. Performance. Biofeedback.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A prática de qualquer desporto é algo de complexo, e na sua vertente competitiva mais difícil se torna a continuação da participação do sujeito, dadas as grandes exigências físicas, psicológicas e sociais solicitadas. No que toca aos jovens, compreendemos que as solicitações diárias dos seus pares e de outras actividades torne a competição por vezes menos atractiva.

    No entanto, continuamos a verificar que muitos seguem essa vertente, assim, optámos por facultar um instrumento de trabalho que potenciasse e minimizasse os acontecimentos do seu dia-a-dia. Ao confiarmos e potenciarmos as nossas capacidades podemos obter sucesso no que fazemos.

    A aplicação de estratégias psicológicas permite uma adaptação óptima às exigências da modalidade e da competição, desenvolvendo e optimizando a utilização das capacidades psicológicas individuais (Alves, 2004) e colectivas. Os atletas devem desenvolver estratégias cognitivas e comportamentais que desenvolvam as suas habilidades desportivas e que os ajudem a enfrentar as emoções da competição e do dia-a-dia.

    O conceito de emoção nem sempre tem um consenso definido, a linguagem de emoção é muitas vezes ambígua, muitas vezes confundida com outros fenómenos afectivos (Vallerand & Blanchard, 2000). Lazarus (1999) define a emoção como uma complexidade de distúrbios que incluem três domínios, afectos subjectivos, comportamentos fisiológicos de formas específicas mobilizados para determinadas acções e acções impulsivas com uma determinada qualidade instrumental. A emoção ultrapassa a racionalidade dos nossos actos.

Propósito do estudo

    O objectivo do estudo é investigar o efeito de um programa de controlo emocional (PCE) em jovens nadadores que participam em provas de Águas Abertas (As Águas Abertas é uma natação de águas livres, de longa distância que se realiza nos lagos, nos rios e no mar).

    A implementação de programas de treino mental e de treino emocional têm vindo a ganhar importância, pois sabemos que um auto-controlo ajuda a antecipar as dificuldades e aumenta o desempenho desportivo (Araújo e Gomes, 2005)

    As técnicas utilizadas no PCE são o Tai Chi (TC), a Visualização Mental (VM) e o biofeedback.

    O Tai Chi (TC) está voltado para uma maior consciencialização corporal. A prática de TC na população idosa como em outras populações apresenta efeitos favoráveis no efeito fisiológico (Zhang et al, 2005) no controlo do equilíbrio, na flexibilidade, no sistema cardio-respiratório, no controlo mental e no aspecto psicossocial, melhorando a propriocepção do sistema corporal (Tsang et al, 2004; Tsang et al, 2004b; Wang et al, 2004).

    A Visualização Mental (VM) é a criação ou re-criação de qualquer experiência na nossa mente, é um processo cognitivo. É um recurso controlado, familiarizado e científico que cada indivíduo possui (Alves, 2004). A VM tem um maior efeito quando utilizada com um determinado propósito, como tem uma forte relação com o desempenho, além de aumentar os níveis de autoconfiança (Omar-fauzee et al, 2009). A Vm foi considerada relevante nas psicopatologias, dada a sua relação especial com as emoções e a influência directa que tem no sistema emocional (Holmes & Mathews, 2010) tal como determinadas instruções na VM têm um forte efeito nas emoções como a ansiedade (Holmes & Mathews, 2005). Callow e Hardy (2001) referem que a VM facilitaria a motivação, o que levaria o atleta a utilizar várias dimensões e funções da VM para potenciar o seu desempenho desportivo. A investigação demonstra que a VM serve as funções da motivação e da cognição. A função da cognição na VM envolve a especificidade das habilidades desportivas, a definição de estratégias, de planos e de rotinas, quanto à motivação específica na VM refere a consecução de objectivos, quanto a motivação geral (activação e mestria) na VM aponta para a activação e o efeito psicológico (Gregg et al. 2007). Santos (2005) realizou um estudo em que a amostra era constituída por jovens nadadores e verificou que ao aplicar um programa de treino mental tendo por base a visualização mental existiu uma evolução positiva dos valores mas não estatisticamente significativa nas dimensões da Visualização Mental (visão, audição, cinestésica, emocional, verificando-se uma evolução bastante positiva no controlo de imagem). No caso das funções da Visualização Mental (Motivação Específica, Motivação Geral de Mestria, Motivação Geral de Activação, Cognição Específica e Cognição Geral) os nadadores evoluíram positivamente na cognição específica e na cognição geral. Gregg et al (2007) num estudo verificaram que os atletas utilizavam mais a motivação geral de activação na VM do que as outras variáveis. Os atletas verificaram também que com o tempo a qualidade da imagem na VM era melhor e mais eficiente. Ao longo do tempo as suas habilidades psicológicas iam-se desenvolvendo tais como as habilidades físicas e técnicas. Noutro estudo realizado com atletas da Ásia, de várias modalidades verificou-se que tanto as funções da motivação como da cognição da VM afectavam o desempenho, mas que o valor apresentado pelos atletas não tinha diferenças estatisticamente significativas (Omar-fauzee et al, 2009).

    O biofeedback é um processo que monitoriza e fornece informação sobre as diferentes funções controladas pelo sistema nervoso autónomo, as informações obtidas referem-se à pressão arterial, aos batimentos cardíacos, à respiração. O biofeedback descreve as relações entre o desempenho físico do corpo humano em conjunção com o processo emocional do sujeito. Qualquer mudança no funcionamento mental e emocional, consciente ou inconsciente, resultará numa mudança correspondente no funcionamento fisiológico, qualquer mudança no funcionamento fisiológico terá alguma repercussão na vida emocional e mental do indivíduo (Golden & Consorte, 1982; Davies & Sime, 2005).

    A emoção avaliada no estudo é a “ansiedade desportiva”, vários são os autores que contestam esta terminologia no desporto (Vasconcelos-Raposo, 1993; Coelho et al, 2006), no entanto, a sua conceptualização como emoção tem variado ao longo do tempo, como constructo multidimensional em vez de unidimensional (Coelho et al, 2006). Ao longo das décadas foram realizados vários estudos sobre a ansiedade (Vasconcelos-Raposo, 1993; Woodman& Hardy, 2003; Dias, 2005; Coelho et al, 2006) e todos encontraram diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, e na importância das provas a realizar pelos indivíduos. Contudo, vários são os autores (Munroe et al 2001) que afirmam que ao existirem pressupostos teóricos e aplicando as técnicas adequadas ao contexto, surgiriam mudanças positivas ao nível das cognições e dos desempenho desportivo.

Metodologia

Participantes

    Para a realização do estudo participaram cinco jovens nadadores num contexto de Águas Abertas, com idades de 13, 14, 15, 16 e 19 anos, dois indivíduos do sexo feminino e três do sexo masculino. Todos os atletas à excepção do mais velho têm pouca ou nenhuma experiência de Águas Abertas.

Instrumentos

    Para avaliar as diferentes funções da Visualização Mental (cognitiva e motivacional) foi utilizado o Questionário da Visualização Mental Desportiva (QDVM) de Hall, Paivio e Hausenblas (1998) adaptado por Alves, Silva, Carvalho e Almeida, com trinta perguntas respondidas numa escala de Lickert de 7 pontos que vão de 1 (nada) ao 7 (sempre). As funções da VM são a motivação específica (ME – o atleta imagina-se altamente motivado), motivação geral de mestria (MGM – o atleta imagina-se a controlar o seu desempenho/atenção, a autoconfiança), motivação geral de activação (MGA – o atleta imagina-se a controlar as emoções indesejáveis), cognição específica (CE – o atleta imagina-se a executar correctamente a habilidade) e cognição geral (CG – o atleta imagina a rotina, a estratégia da prova/ da equipa).

    Para avaliar as dimensões da VM foi utilizado o questionário da Avaliação da Capacidade da Visualização Mental (ACVM) de Bump (1989) adaptado de Alves (1994), com quatro situações específicas da modalidade, cada situação tem cinco itens que avaliam as dimensões da Visualização Mental: visual, auditiva, cinestésica, emocional e controlo de imagem. Para cada categoria a resposta é dada numa escala de Likert de cinco pontos (muito pobre – 1 a muito bem – 5), os valores mais altos correspondem a melhores capacidades de visualização mental.

    Para avaliar a ansiedade desportiva e autoconfiança foi utilizado CSAI-2 versão portuguesa. O CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2), proposto por Martens, Vealey e Burton (1990) na versão adaptada por Cruz et al. (2006) resultou num modelo com 22 itens (ansiedade cognitiva – 7 itens, ansiedade somática – 8 itens e autoconfiança – 7 itens).

    Para o biofeedback foi utilizado o emWave Desktop for PC. O instrumento tem quatro níveis de coerência emocional (1-baixo; 2-médio; 3-alto e 4-elevado).

Procedimentos

    O programa de controlo emocional (PCE) foi aplicado num período de onze dias de um estágio de Águas Abertas (AA). O estágio consistiu na realização de provas de AA e de treinos entre as provas. No segundo dia e no fim do estágio, paralelamente e entre as provas foi aplicado o Programa de Controlo Emocional (PCE) em conjunto com os treinos de água (um treino de manhã na piscina e outro treino à tarde no mar). No primeiro dia, foram aplicados os questionários de ACVM e QDVM de forma individualizada e antes do primeiro treino. No segundo dia, uma hora antes da prova, foi entregue o questionário CSAI-2. Nos dias seguintes, antes e depois dos treinos era aplicado o PCE, num total de 22 sessões de PCE. No último dia de treino foram aplicados novamente os questionários de ACVM e QDVM, e na última prova a realizar pelos nadadores no final do estágio (uma hora antes) foi novamente aplicado o CSAI-2. Todos os dias eram debatidos os pensamentos e emoções associados ao contexto dos sujeitos, foram esclarecidas dúvidas, tais como possíveis problemas que surgissem e assim estabelecer rotinas diárias que potenciassem o seu desempenho desportivo.

    Todos os sujeitos iniciaram o PCE no nível 1 (baixo) e ao longo do estágio foram progredindo para os níveis seguintes de forma individual e orientada.

    Os dados foram analisados com o SPSS 16.0 (Satistical Package of Social Science – versão 16.0). Para a avaliação das variáveis dos instrumentos aplicados recorreu-se a técnica descritiva através do cálculo dos valores médios e desvio padrão. Para a comparação entre os dois momentos de avaliação recorremos ao teste de “Wilcoxon” (estatística não Paramétrica). Para verificar a influência do PCE (níveis de evolução no programa) nas variáveis em estudo recorremos a correlação parcial, utilizando o grau de significância de 0,05.

Resultados e discussão

    A tabela 1 permite observar as dimensões e as funções da VM, não encontramos diferenças significativas nas diferentes variáveis no pré-teste e no pós-teste, em análise, após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE), à excepção da dimensão cinestésica (0,042) da Visualização Mental que obteve valores estatisticamente significativos. Vários são os estudos (Santos, 2005; Gregg et al, 2007; Omar-fauzee et al, 2009) que observaram diferenças e incrementos significativos nos valores observados nas diferentes variáveis da Visualização Mental. Hardy (1991) refere que a dimensão cinestésica teria um valor acrescido no desempenho desportivo em indivíduos com mais experiência, não sendo o caso desta amostra de jovens atletas, contudo, nesta dimensão os indivíduos associam as sensações físicas, as emoções à imagem mental, indo de encontro às valências do programa aplicado (PCE) e assim confirmando o aumento significativo dos valores da dimensão cinestésica da VM.

    Todos os valores referentes às dimensões da VM tiveram um incremento positivo nos valores do segundo momento (pós-teste), tal como no estudo de Santos (2005) que obteve resultados muito similares. A forma como recebemos, somos sensíveis e privilegiamos a informação em determinados canais de comunicação (Santos, 2009) poderá influenciar as dimensões utilizadas na Visualização Mental e confirmar os valores obtidos. No entanto, os resultados demonstram que a prática revela um incremento em todos os valores das dimensões da VM e que a utilização continuada e sistematizada aperfeiçoa e melhora as habilidades da VM.

Tabela 1. Teste Willcoxon – Dimensões e Funções da VM – Pré-teste e Pós-teste

    Quanto às funções da VM observamos que os valores da cognição específica (CE) mantiveram-se do pré-teste para o pós-teste, refere-se que é uma função que está mais orientada para a especificidade de determinadas habilidades, que não foram objecto de intervenção. Ao contrário de todos os outros valores das funções (CG, ME, MGA e MGM) tiveram um aumento positivo nos valores do pós-teste. Estas funções envolvem os objectivos (ME), as estratégias de prova e de rotina (CG), as dificuldades que podem surgir e têm de ser ultrapassadas (MGM) e o controlo de emoções (MGA). Apesar da modalidade da natação ser uma modalidade de tarefa contínua e aparentemente ser difícil a utilização da VM em prova, é possível, neste caso das águas abertas, dado as grandes distâncias que se nadam, utilizar a VM e as suas funções de acordo com a necessidade do indivíduo, por isso se verifica o acréscimo e o uso das funções da VM tais como a táctica da prova (CG) que pode ser mudada a qualquer momento, regular os seus níveis de autoconfiança (MGM) para desferir um determinado ataque durante a prova, ou reorganizar possíveis objectivos (ME), todo o desenrolar e desfecho da prova tem de ter o controlo de certas emoções (MGA). Omar-fauzee et al (2009) referem que quando os indivíduos controlam as situações de prova que vão surgindo com estas habilidades podem potenciar o seu desempenho desportivo, apesar de existir excitação, ansiedade e a experiência do momento, estes factores serão um reforço para a melhoria desportiva.

    Resumindo, a presente investigação demonstrou que os atletas da amostra utilizam as funções da VM com objectivos cognitivos e motivacionais e que as dimensões da VM são diversificadas, mas aparentemente com uma boa qualidade da imagem mental. A diversidade de utilização das funções da VM poderá ter em conta que os sujeitos privilegiam determinados canais de comunicação (Santos, 2009) e assim condicionar a sua utilização nas imagens mentais. Callow e Hardy (2001) referem que a VM facilitaria a motivação, o que levaria o atleta a utilizar várias dimensões e funções da VM para potenciar o seu desempenho desportivo.

    A tabela 2 refere os valores da Ansiedade cognitiva, Ansiedade somática e autoconfiança. Observamos que não existem diferenças significativas após a aplicação do PCE. Verificamos que os valores da ansiedade cognitiva e somática mantêm os valores e há uma evolução positiva no segundo momento dos valores da autoconfiança. A utilização de técnicas psicológicas como a VM ou técnicas de controlo de emocional minimizam e alteram respostas de ansiedade em determinados contexto (Holmes & Mathews, 2005). As interrelações da ansiedade com outras emoções no comportamento e rendimento em contexto desportivo não obtiveram uma resposta esclarecedora e estatisticamente significativa nesta amostra (apesar do pouco de tempo de aplicação do programa - PCE), indo de encontro à concepção e utilização deste instrumento por alguns autores (Cruz et al, 2006; Coelho et al, 2007).

Tabela 2. Teste Willcoxon – Análise da Ansiedade Cognitiva, Ansiedade Somática e Auto-confiança – Pré-teste e Pós-teste

    No entanto, apesar de não existirem alterações na ansiedade cognitiva e somática, reflexo de um possível controlo por parte dos indivíduos devido à aplicação do programa, constata-se que a auto-confiança evolui, e tal como referem Woodman e Hardy (2003) a auto-confiança tem uma relação positiva com o desempenho desportivo, e é um factor mais consistente no desempenho do que a ansiedade. Assim, ao observarmos a tabela 2, os indivíduos com uma auto-confiança com altos valores, uma ansiedade somática com baixo valores e uma ansiedade cognitiva com valores acima da média teriam uma maior predisposição para um melhor desempenho desportivo, dado que a ansiedade teria menos impacto que a auto-confiança no desempenho dos indivíduos.

    No estudo, também foi aplicada uma correlação parcial, de forma a verificar se o nível de evolução ao longo do PCE influencia as diferentes variáveis. Os indivíduos no final do programa atingiram os níveis 2 (médio) e 3 (alto). Observamos que existe uma correlação estatisticamente significativa (p‹0,05) do nível de evolução do sujeito ao longo da aplicação do programa de controlo emocional (PCE) das seguintes variáveis (tabela 3):

    Ansiedade Cognitiva/Cognição Específica (0,040), Ansiedade Cognitiva/Motivação Geral de Mestria (0,010), Ansiedade Cognitiva/Emocional (0,011). Existe uma elevada associação linear negativa entre a Ansiedade Cognitiva com a Cognição Específica, a Motivação Geral de Mestria e a dimensão Emocional da VM.

Tabela 3. Correlação positiva e negativa das variáveis em estudo (p‹0,05)

    A Cognição Específica/Motivação Geral de Mestria (0,027) e Cognição Específica/Controlo de Imagem (0,045), existe uma elevada associação linear positiva entre a Cognição Específica e a Motivação Geral de Mestria, tal com o Controlo de Imagem da dimensão de VM.

    A Cognição Geral/Emocional (0,021) existe uma elevada associação linear positiva entre ambas as variáveis.

    A Motivação Geral de Mestria/Emocional (0,043) existe uma elevada associação linear positiva entre ambas as variáveis.

    As funções Cinestésica/Controlo de Imagem (0,033) existe uma elevada associação linear positiva entre ambas as variáveis.

    A ansiedade não pode ser vista por si só, mas sim num contexto integrador porque sabemos que em situações competitivas os atletas experienciam emoções face ao que advém. Os processos de avaliação cognitiva são importantes na produção de emoções (ansiedade), essa emoção é vivenciada em resposta ao acontecimento (Dias, 2005). O indivíduo tendo um controlo de emoções, poderá apresentar uma correlação negativa da ansiedade com a cognição específica (o atleta vê-se a realizar a habilidade correctamente), com a Motivação Geral de Mestria (o atleta domina o seu desempenho) e a dimensão Emocional da Visualização Mental (o indivíduo vê-se a controlar as suas emoções). A relação entre a cognição e a emoção tem de ser vista de forma mais operativa, o pensamento tendo origem ontogenético e filogenético diferente da emoção pode provocar uma desregulação emocional, associando-se a estados debilitantes, em que o indivíduo tenta com mecanismos suprir as emoções que advém (luzes, 2004). Memorizando as características dos acontecimentos, o indivíduo preparará as suas ferramentas de antecipação e resposta, quando acontecem esses acontecimentos associados a emoções negativas ou menos adequadas ao momento, a activação da memória é imediata e assim o indivíduo está pronto a reagir adequadamente ao momento (Rimé, 2004).

Considerações finais

    Os atletas apresentaram dados bastante consistentes na nitidez e na forma das imagens mentais tal como nas funções motivacionais e na autoconfiança. Vem de encontro a Alves (2004) que reforça que são recursos controlados e científicos que cada indivíduo possui e que podem potenciar o rendimento quando utilizados convenientemente.

    Os resultados demonstram que o programa (PCE) tem influência no incremento dos valores do pós-teste nas variáveis em estudo, no entanto, não são estatisticamente significativas, contudo existe uma relação positiva nos valores das variáveis em estudo do segundo momento após a aplicação do PCE. Os dados reforçam que os atletas e treinadores deverão ter em conta e praticar o controlo emocional para potenciar os seus desempenhos. Os estudos revelam que atletas de topo utilizam mais as suas habilidades psicológicas, reforçando as suas competências (Omar-fauzee et al, 2009), tal como estes atletas demonstraram excelentes resultados na prova do final de estágio. E que a aprendizagem de competências importantes faz a diferença na adaptação a novos contextos desportivos cada vez mais exigentes como em outros domínios da vida (Araújo e Gomes, 2005).

    Em conclusão, apesar do pouco tempo de aplicação de PCE, existem alguns aspectos que devem ser tidos em conta, tais como o treino das competências mentais e emocionais, que produz efeitos positivos nas capacidades dos sujeitos, conseguindo preparar-se adequadamente para os seus desempenhos, aumentando os seus níveis de confiança e de motivação, como melhorando e progredido na modalidade que escolheram.

    A multidisciplinaridade do desporto eleva e reforça o papel do homem no contexto sócio cultural. A importância de cada factor não pode ser entendido como um factor, mas tem de ser visto como uma integração global e integradora (Santos, 2005). A aprendizagem de novas habilidades é um processo constante de avanços e retrocessos, que necessita e não relega para outros planos a motivação. A percepção de auto-controlo por parte do sujeito pode ter um papel primordial na produção de reacções emocionais e assim potenciar o seu desempenho no seu dia-a-dia.

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