A sexualidade na pós-menopausa e a atividade física como um fator benéfico La sexualidad en la postmenopausia y el beneficio la actividad física |
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Estudantes de graduação em Educação Física Universidade Federal de Viçosa, MG (Brasil) |
Victor Neiva Lavorato Lucas Rios Drummond Brayan Danner de Oliveira Mota |
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Resumo A qualidade de vida na terceira idade vem crescendo constantemente e vários fatores que podem contribuir para isso vêm sendo estudados, porém o tema sexualidade tem sido negligenciado. Diante disso, o objetivo do estudo foi mapear os artigos que abordam o tema sexualidade na pós-menopausa, além de buscar diferentes formas de tratamento para melhora do desempenho da vida sexual nessa fase da vida, em especial a atividade física. Unitermos: Sexualidade. Pós-menopausa. Atividade física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente observa-se um envelhecimento progressivo e contínuo da população, esse fenômeno está diretamente ligado à melhor qualidade de vida, melhores condições higiênicas, controle das enfermidades e doenças infecto-contagiosas, melhores condições de moradia e alimentação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada ano a população brasileira envelhece.
Os profissionais da área de saúde têm a oportunidade de instruir a população para que ela tenha uma melhor qualidade de vida na senilidade, modificando seus hábitos de vida nocivos a saúde, se alimentado melhor, praticando atividade física freqüentemente e procurando manter suas funções cognitivas.
A qualidade de vida no envelhecimento tem sido tema de diversos estudos, porém a sexualidade nessa fase da vida, e principalmente na pós menopausa de mulheres tem sido negligenciada por médicos e outros profissionais da área de saúde, dificultando o acesso às informações sobre o tema para a população, profissionais da área de saúde e para os próprios idosos.
Por isso o presente estudo teve como objetivo mapear os artigos originais com o tema envelhecimento na pós menopausa, além de buscar diferentes formas de tratamento para melhora do desempenho da vida sexual nessa fase da vida, em especial a atividade física. Utilizou-se as bases de dados Scielo e PubMed, no período de 1990 a 2010.
Desenvolvimento
Mudanças sexuais que ocorrem com a idade
O envelhecimento pode afetar as quatro fases da resposta sexual, a excitação, platô, orgasmo e relaxamento (Kaiser, 1998). A excitação combina estímulos olfativos, visuais, de memória e diferentes estímulos físicos. A fase de platô é caracterizada pela manutenção e intensificação da excitação. A fase do orgasmo envolve contrações rítmicas musculares, seguida da fase de relaxamento (Gisberg, 2006).
As alterações fisiológicas que afetam a função sexual feminina estão resumidas na figura 1.
Figura 1. Quadro com as mudanças fisiológicas na função sexual decorrentes do avanço da idade.
Com o envelhecimento feminino há uma associação de elongação das fases de excitação e platô. Esta alteração está associada com maior tempo para atingir a lubrificação vaginal suficiente para o coito.
Contrações do orgasmo podem diminuir em número e em intensidade e há uma diminuição no comprimento da fase de relaxamento. Mulheres na pós-menopausa têm benefícios fisiológicos quando têm relações sexuais regulares, uso da água lubrificantes solúveis, cremes tópicos, e participam de exercícios de Kegel (exercícios para músculos pélvicos). Naturalmente, o estado de saúde é um fator que pertencem à resposta sexual e prazer (Sherman, 2005).
Além disso, alguns fatores estressores podem afetar a sexualidade dentre eles a carreira profissional, finanças, cansaço físico ou mental, excesso de alimentos e álcool, falta de um parceiro, e problemas de desempenho sexual (Lenahan, 2004).
Além das mudanças físicas naturais, homens e mulheres, no processo de envelhecimento, estão mais susceptíveis a problemas de saúde como diabetes e hipertensão, que podem reduzir ou impedir o interesse pelas práticas sexuais, visto que a má circulação provocada por essas patologias influencia na libido sexual. Entretanto, se os idosos gozarem de boa saúde, não haverá impedimento para que o indivíduo mantenha atividade sexual, pois a função sexual existe até a morte e somente será diferente em cada época da vida (Almeida, 1993)
Mudanças sexuais na pós menopausa
As mudanças dinâmicas na fisiologia sexual feminina ocorrem no momento da
menopausa. Menopausa significa o fim da menstruação, e os
final do potencial reprodutivo. Perda de estrogênio na época da
menopausa é um fator dominante, e pode afetar a função sexual. A
depleção de estrogênio pode levar às ondas de calor, perda de sono,
irritabilidade, oscilações de humor, diminuição da secreção ácida na
vagina, e predisposição para infecções vaginais (Sherman, 2005).
A menopausa pode ser considerada o fim do processo reprodutivo, em uma mulher com cerca de cinqüenta anos de idade, que se desdobra de forma continua desde o nascimento, passando pela senescência ovariana, até a transição da menopausa e pós-menopausa (Lenahan, 2004). Esse processo fisiológico ocorre nas mulheres entre 40 e 55 anos de idade, com idade média para a ocorrência de 51,3 anos. Quando a menopausa ocorre antes dos 40 anos é considerada patológica e é caracterizada como falência ovariana prematura. A causa mais comum é a ooforite auto-imune (Wilson, 2003).
A fisiopatologia da menopausa não foi claramente explicada ainda. No entanto, é universalmente aceito que a deficiência de estrogênio é considerado o primeiro critério para o diagnóstico. As mudanças provocadas pela menopausa são adversas, e em sua maior parte podem aumentar o risco para doença cardiovascular, musculoesquelética, seqüelas psicogênica. Os sintomas comuns incluem flashes de calor, sintomas urogenitais, disfunção sexual, cognição prejudicada, e transtornos do sono e do humor (Wilson, 2003).
A disfunção sexual no período pós-menopausa é comum em mulheres de diversos países, vários estudos demonstraram que mulheres no período do climatério apresentam desejo sexual hipoativo, dispaurenia (dor durante a relação sexual e anorgasmia (inibição recorrente ou persistente do orgasmo feminino) (Takamatsu, 2001, Pedro, 2003, Hisasue, 2005, Cumming, 2007).
Um resumo sobre a prevalência de disfunções sexuais em mulheres em diferentes estudos está exposto na tabela 1.
Tabela 1. Prevalência de disfunções sexuais baseadas em diferentes estudos
Autores |
Modelo de Estudo |
País |
Tamanho da amostra |
Disfunção sexual |
West et al. |
30-70 anos de idade, estudo transversal |
USA |
2207 |
52% |
Levine et al. |
40-65 anos de idade, estudo transversal |
USA |
2480 |
55% |
Yanez et al. |
40-60 anos de idade, estudo de coorte |
Equador |
345 |
78,4% |
Parish, Luo et al. |
20-64 anos de idade, estudo transversal |
China |
1127 |
72% |
Hisasue, Kumamoto et al. |
30 e 60 anos de idade, estudo de coorte |
Japão |
8956 |
27.7 e 57.9% |
Pedro, Pinto-Neto et al. |
45-60 anos de idade, estudo transversal |
Brasil |
456 |
Desempenho sexual hipoativo |
Barlow, Samsioe et al. |
55-75 anos de idade, estudo transversal |
Pan-Europeu |
3000 |
30% |
Cumming, Herald et al. |
Questionário Online |
USA |
1072 |
51% |
Takamatsu, Ohta et al. |
46-60 anos de idade, estudo transversal |
Japão |
613 |
56.4% |
Gracia, Freeman et al. |
35-47 anos de idade, estudo de coorte |
USA |
391 |
2,3 vezes menos hipoativo |
Adaptado de Lara, 2009
Aspectos psicológicos na menopausa
Paralelo ao processo de alterações biológicas, as pessoas estão sofrendo um choque (ou impacto) psicológico advindo do processo de envelhecimento. Quanto aos aspectos psicológicos, Fleury (2004) cita como intimidade psicológica uma condição de conexão emocional e a manutenção da motivação sexual.
Fleury (2004) expõe estudos que demonstram que a maioria das mulheres se referem ao desejo sexual como a vontade de estar emocionalmente mais ligadas ou próximas dos parceiros, valorizando o estimulo sexual e o contexto sexual. Sendo que a disfunção sexual feminina está ligada à falta de desejo e excitação sexual, o que é mencionado no estudo como a causa para uma dificuldade de focar no momento, na própria estimulação e emoções de estar próxima à outra pessoa. Há um desejo da mulher pela intimidade sobrepondo ao impulso biológico. Isso faz com que experiência na relação de cada casal, o grau de satisfação emocional e física da vida sexual anterior são fatores importantes para as mulheres no decorrer do processo da menopausa e envelhecimento.
A menopausa causa várias mudanças na mulher, desde fisiológicas às psicológicas: alterações urogenitais, sintomas vasomotores, alterações na função sexual, variações de humor, depressão e ansiedade, etc. A diminuição do hormônio estrogênio pode afetar a função sexual, a capacidade de lubrificação diminui com a estimulação sexual, o que pode ser a causa da dispareunia (dor na relação sexual), afetando assim as capacidades psicológicas da mulher e o funcionamento sexual (Berman apud Fleury). A mulher mantém a capacidade de ter orgasmos pós-menopausa, mas para isso é necessário a comunicação entre os parceiros para que consigam realizar as adaptações necessárias. A vivência pessoal da mulher nessa fase da vida se torna mais importante para a sexualidade do que as mudanças físicas que acontecem. Para Negreiros (2004), na sociedade em que se cultiva o jovem e o belo, o corpo envelhecido principalmente o feminino, deixa de ser atrativo, de chamar a atenção, e isso causa constrangimento na mulher idosa para não tomar adjetivos do tipo “velha assanhada” se torna cautelosa, discreta, vindo a se dedicar somente às tarefas do lar, atividades religiosas, amizades mais reservadas. Para Gradim (2007), a perda de fertilidade/procriação não deve ser confundida com a perda da sexualidade e de suas manifestações. Nessa fase, as mudanças acontecem com relação aos órgãos de reprodução, e a sexualidade e o desejo sexual são propriedades que duram a vida toda.
Além de problemas psicológicos, a perda do desejo das mulheres após o fim do período de ovulação pode estar associado a crenças religiosas e culturais, ou seja, o coito é aceitável apenas para a procriação. Outras questões psicológicas que podem afetar a sexualidade no paciente idoso incluem a experiência sexual ao longo da vida, o nível de satisfação relacionado com a vida íntima, auto-imagem corporal e atitudes para o sexo. As questões de saúde e condições de vida podem afetar as questões psicológicas. Historicamente, a perda de um cônjuge pode gerar problemas psicológicos no cônjuge sobrevivente, que interferem em suas futuras relações sexuais (Masters, 1981, apud. Geisberg, 2006).
Tratamento
Apesar do alto índice de queixas sexuais, as mulheres que procuram tratamento são de ocorrência rara. As estratégias de tratamento envolvem a reposição hormonal de estrogênio, psicoterapias e terapias sexuais, e prática de exercícios físicos (Gonzales, 2006), ou ainda, prescrição de géis, substituição dos medicamentos que interferem na resposta sexual, mudanças no estilo de vida, e o tratamento de distúrbios do assoalho pélvico (Goldstein, 2007).
O uso de estrogênio tópico é benéfico em casos de atrofia da parede vaginal, em uma dose mais baixa do que a dose sistêmica. A melhoria na citologia vaginal ocorre com tratamento diário, além do re-estabelecimento da flora vaginal, é capaz de melhorar a secura vaginal, bem como a melhorar sintomas urinários (Barentsen, 1997).
A prática de atividades físicas é capaz de proporcionar melhoras físicas, essas implicarão num melhor bem-estar pessoal fazendo com que o idoso não se sinta frustrado por sua situação física, ocasionando uma vida sexual mais ativa (Butler e Lewis, 1985). Idosos que deixam de praticar exercícios físicos ou deixam de estar proporcionando uma melhor qualidade de vida para si mesmos, acabam ficando estagnados, quando poderiam estar praticando exercícios e conseqüentemente sendo sexualmente mais ativos (Caetano, 2008).
Somado aos problemas psicológicos com que o idoso convive quanto a sua sexualidade, as debilidades físicas próprias da faixa etária também contribuem para uma piora da atividade sexual. Viana e Madruga (2008) concluíram que a atividade física influencia a saúde sexual, principalmente de pessoas mais idosas. Outros estudos mostram que a qualidade da vida sexual de idosos que realizam atividade física tem sido superior quando comparados aos idosos que não realizam atividade física. Vaz e Nodin (2005) em um estudo observacional-descritivo de comparação entre grupos, em que a variável independente é a prática de exercício físico e a dependente a vivência da sexualidade, utilizaram-se de um questionário onde os grupos de idosos que praticavam atividade física e os idosos que não praticavam, deveriam responder as perguntas de acordo com as suas relações sexuais. Foi observado então que o grupo que se exercitava obteve melhoras significativas nos seguintes parâmetros: iniciativa para ter relações sexuais, freqüência em média de relações sexuais, sensação obtida através das relações sexuais, além de sentirem menor fadiga. Clements (1996) também observou que os idosos que se mantêm sexualmente ativos são fisicamente superiores.
Dessa forma, nota-se que a atividade física no envelhecimento trás melhoras tanto físicas quanto psicológicas, que juntas fazem com que o idoso possa ter uma vida sexualmente ativa.
Conclusão
A sexualidade do idoso é um tema ainda pouco tratado pela literatura científica, talvez por questões culturais e religiosas. Poucos autores abordam esse tema no Brasil. Em estudos internacionais, o tema sexualidade do idoso, ainda se restringe a poucos autores, que abordam mais a questão das disfunções sexuais e a diminuição das atividades sexuais, sem se preocupar com os diferentes tratamentos para essas disfunções.
Diante do presente estudo, conclui-se que a redução da sexualidade no idoso é um fenômeno comum que pode ter caráter físico e/ou psicológico. Porém a atividade física pode ser eficiente na redução das perdas sexuais após a menopausa em mulheres, além de outros tratamentos como reposição hormonal e terapias sexuais.
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