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Comparação dos níveis de flexibilidade e índice de massa 

corporal de escolares residentes na zona urbana e na zona 

rural de um pequeno município brasileiro

Comparación de los niveles de flexibilidad e índice de masa corporal de escolares 

que viven en la zona urbana y en la zona rural de un pequeño municipio brasileño

 

*Profissional de Educação Física

**Docente do Instituto de Ensino Superior da Funlec, IESF

Escola de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul, ESP/SES/MS

(Brasil)

Kamilla Aparecida Batistelli*

Sebastião de Souza Nantes*

Joel Saraiva Ferreira**

falecomjoel@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desta pesquisa foi comparar a flexibilidade e o índice de massa corporal de escolares residentes na zona urbana e na zona rural de uma escola pública localizada no município de Sidrolândia-MS, Brasil. A amostra foi composta por 125 alunos, sendo 76 residentes na zona urbana e 49 da zona rural, 64 meninos e 61 meninas com idade de 6 a 12 anos. Em todos os casos, os protocolos seguiram a sugestão obtida no Manual do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR, 2009), tendo em vista sua especificidade para a faixa etária do presente estudo. A mensuração do peso corporal foi realizada com o uso de uma balança digital com o resultado em kg, para a mensuração da estatura utilizou-se de uma fita métrica fixada na parede e a flexibilidade por meio do teste de sentar e alcançar sem o uso do banco de Wells, com resultado em cm. Os resultados mostraram diferenças entre os resultados dos escolares residentes nas áreas investigadas, com predomínio de bons resultados na flexibilidade e normalidade no IMC entre os residentes da zona rural, quando comparados aos da zona urbana. Com isso, concluiu-se que a rotina diária daquelas crianças residentes na zona rural, é capaz de influenciar os níveis de flexibilidade e IMC, já que o grupo estudado tem acesso às mesmas rotinas no ambiente escolar.

          Unitermos: Avaliação física. Índice de massa corporal. Flexibilidade. Escolares.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para Guedes e Guedes (1997), dentro da atual concepção de saúde é evidente que não basta apenas não estar doente, é preciso apresentar evidências ou atitudes que afastem ao máximo os fatores de risco que possam provocar as doenças. Ao se admitir que sintomas de algumas doenças são conseqüências de estágios mais avançados de maus hábitos de saúde, não se pode considerar, por exemplo, que crianças e adolescentes, ao apresentarem índices de crescimento aquém do esperado, ou quantidades de gordura não compatíveis com os limites admissíveis, ou, ainda, alguma deficiência em relação ao desempenho motor, possam demonstrar um nível de saúde satisfatório apenas porque, no momento, não estariam apresentando nenhum sintoma de qualquer tipo de doença.

    Com isso em mente, tudo indica que informações relacionadas com variáveis que procuram evidenciar características de crescimento, composição corporal, desempenho motor e suas interações podem se constituir, reconhecidamente, em importantes indicadores dos níveis de saúde de uma população jovem. Logo, dentre as muitas razões que estimulam pesquisadores de todo mundo a desenvolverem estudos nessa área, inequivocadamente estão aquelas vinculadas a preocupação de prevenção primária e promoção da saúde das crianças e dos adolescentes (GUEDES e GUEDES, 1997).

    Por essa razão, tem surgido considerável interesse em todo o mundo quanto ao desenvolvimento de estudos que visem obter informações com relação aos índices de desempenho motor entre os integrantes da população jovem.

    O desempenho motor está relacionado ao processo de desenvolvimento motor, uma vez que todos os seres humanos ‑ bebês, crianças, adolescentes e adultos - estão envolvidos no processo permanente de aprender a mover‑se com controle e competência, em reação aos desafios que são enfrentados diariamente em um mundo em constante mutação. É possível observar diferenças no comportamento motor, provocadas por fatores próprios do indivíduo (biologia), do ambiente (experiência) e da tarefa em si (físicos/mecânicos). Isso pode ser observado pelas alterações no processo (forma) e no produto (desempenho) (GALLAHUE e OSMUN, 2003).

    Assim, um meio primário pelo qual o processo de desenvolvimento motor pode ser observado é o estudo das alterações no comportamento motor no decorrer do ciclo da vida. Em outras palavras, o comportamento motor observável real de um indivíduo fornece uma informação para o processo de desenvolvimento motor, assim como indicações para os processos motores subjacentes (GALLAHUE e OSMUN, 2003).

    Guedes e Guedes (1997) afirmam que um programa regular de avaliação das variáveis que procuram se relacionar com o crescimento, a composição corporal e o desempenho motor, comparando seus resultados com indicadores referenciais, poderá auxiliar na detecção de eventuais problemas relacionados com a saúde da criança e do adolescente.

    Para Gallahue (2003), o aparecimento e a extensão do desenvolvimento de habilidades na fase de movimentos especializados depende de muitos fatores da tarefa, individuais e ambientais. O tempo de reação e a velocidade do movimento, a coordenação, o tipo de corpo, a altura e o peso, os hábitos, a pressão do grupo social a que se pertence e a estrutura emocional são apenas alguns desses fatores .

    Complementando a ideia do parágrafo anterior, Fonseca (1988) descreve que em cada idade o movimento toma características significativas e a aquisição ou aparição de determinados comportamentos motores tem repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Cada aquisição influencia na anterior tanto no domínio mental como no motor, por meio da experiência.

    A exploração de habilidades motoras tem como objetivo ampliar as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. Desenvolvendo também o movimento humano, pois ele é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço, constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem em seu meio social mobilizando as pessoas por intermédio de seu teor expressivo, assim como levar as crianças a expressarem sentimentos, emoções e pensamentos (FONSCECA, 1988).

    O ser humano não é um ser biologicamente estático, na medida em que desde o momento da concepção até a morte ocorre uma série de transformações quantitativas e qualitativas, quer no sentido evolutivo, quer involutivo. É sabido também que essas transformações se verificam em ritmos e intensidades diferenciados, conforme a etapa da vida em que o ser humano se encontra (GUEDES e GUEDES, 1997).

    Ainda para Guedes e Guedes (1997) o crescimento refere-se essencialmente às transformações quantitativas, enquanto o desenvolvimento pode englobar simultaneamente tanto transformações qualitativas como quantitativas.

    Em razão de vários tecidos, órgãos e sistemas do organismo humano, após o nascimento, crescerem e se desenvolverem de forma acentuadamente diferenciada, uma abordagem procurando detalhar o processo de crescimento e desenvolvimento destes tecidos e sistemas, que apresentam uma relação direta com o crescimento, a composição corporal e desempenho motor das crianças e dos adolescentes, passa a ter grande importância na compreensão da influência do meio ambiente nas alterações dos padrões esperados (GUEDES e GUEDES,1997).

    Apesar de o fenômeno crescimento ser uma característica de qualquer tecido, órgão ou sistema do organismo humano, na prática considera-se como crescimento somático o aumento do tamanho e da massa de todo o corpo. Contudo a utilização das medidas de massa corporal isoladamente, muitas vezes, pode deixar de ser um procedimento satisfatório como indicador do crescimento somático, na medida em que seus valores são resultantes de um grande número de componentes, que podem contribuir diferentemente no estabelecimento de seus padrões (WALTRICK e DUARTE, 2000).

    Os recursos utilizados no estudo do crescimento somático são bastante variados e vão desde a antropometria tradicional até as sofisticadas medidas laboratoriais. A antropometria, técnica sistematizada utilizada para medir as dimensões corporais do homem, é uma metodologia originalmente desenvolvida por antropologistas físicos. No entanto, hoje vem sendo utilizada e aprimorada por profissionais ligados a várias outras áreas. Tecnicamente, as medidas antropométricas devem ser realizadas com instrumentos específicos e procedimentos rigorosamente padronizados (GUEDES e GUEDES, 1997).

    Na concepção de Guedes e Guedes (1997) algumas medidas antropométricas podem se relacionar umas com as outras, mediante a determinação de índices corporais, fornecendo informações adicionais de considerável importância quanto ao crescimento somático. Neste particular, talvez os índices corporais mais comumente envolvidos no estudo do crescimento somático são os que procuram relacionar o peso corporal com a estatura.

    Contudo, pode-se dizer que o desenvolvimento motor está relacionado também com outras variáveis, como a flexibilidade, já que os estímulos externos que o indivíduo recebe podem contribuir para o aperfeiçoamento ou não de ambas as condições.

    A flexibilidade é caracterizada como a amplitude máxima passiva fisiológica de um dado movimento articular (ARAÚJO, 1999) e há relato de que músculos não alongados e com pequena capacidade de alongamento têm uma menor força (WEINECK, 1999).

    Quanto aos recursos disponíveis para obter informações sobre a capacidade motora flexibilidade, verifica-se algumas dificuldades no que se refere a opção por um dos vários procedimentos existentes. Esta situação ocorre em razão de a flexibilidade não se configurar como uma característica geral a todo o corpo, mas a uma articulação em particular e, assim mesmo, para um determinado movimento (SHARKEY, 1990).

    Algumas tentativas têm sido realizadas com a intenção de diferenciar a flexibilidade quanto às ações estática e dinâmica. Todavia, uma rigorosa definição quanto à flexibilidade dinâmica não tem sido universalmente aceita, fazendo com que na maioria das vezes, em termos de avaliação do desempenho motor, os especialistas refiram-se à flexibilidade como uma medida estática (DANTAS, 2005).

    Na literatura há a proposta de divisão dos testes de flexibilidade em função das unidades de medidas. Assim, é possível diferenciar os testes angulares, cuja escala é dada em graus tendo o centro da articulação como eixo e os dois segmentos ósseos envolvidos como hastes; e os testes lineares, que se caracterizam por expressar resultados numa escala de distância (ARAUJO 1999).

    A técnica mais freqüentemente descrita em publicações científicas é a flexão do tronco à frente, na posição sentada, procurando alcançar com as mãos a maior distância possível em relação à posição inicial, também denominada de sit-and-reach ou “sentar-e-alcançar” (PITANGA, 2005).

    Segundo Guedes e Guedes (1997) por esse motivo, o teste “sentar-e-alcançar” pode não apresentar informações adequadas para propósitos médicos e fisioterápicos que exigem uma medida de flexibilidade bastante sensível e independente de qualquer outro fator. Porém, acredita-se que esse teste motor possa ser bastante útil quando de comparações intra e intersujeitos que apresentam aproximadamente as mesmas dimensões corporais. Além do que, se for levado em conta que a única metodologia que pode traduzir índices de flexibilidade mais fiel envolve os procedimentos de radiografias, mesmo assim somente para alguns movimentos, o que minimiza os problemas de medida, no entanto provoca outros tipos de problemas associados a exposição radiativa e de acessibilidade de equipamentos, tudo indica que o teste de “sentar-e-alcançar” possa se apresentar como uma alternativa de grande viabilidade quando da obtenção de informações relacionadas á flexibilidade de crianças e adolescentes.

    Na perspectiva de avaliação do desempenho motor, Guedes e Guedes (1997) relatam que é bem provável que o teste de “sentar-e-alcançar” venha sendo o de maior aceitação na obtenção de informações com relação a capacidade de flexibilidade. Isso se deve ao fato desse teste motor solicitar em sua execução a participação dos mais importantes grupos musculares e articulações do corpo humano.

    Considerando as informações expostas anteriormente, desenvolveu-se este estudo, cujo objetivo foi comparar níveis de flexibilidade e de índice de massa corporal de alunos do 3º ao 5º ano do ensino fundamental, residentes na zona urbana e na zona rural, devidamente matriculados em uma escola púbica do município de Sidrolândia-MS, Brasil.

    A pesquisa justifica-se pela relevância do fato de comparar a flexibilidade e o índice de massa corporal entre os escolares, já que as condições de vida nas áreas urbana e rural são distintas e, supostamente, há fatores que podem desencadear diferenças entre os sujeitos do estudo, no que se refere as variáveis estudadas. Além disso, o número de alunos que residem na zona rural no município de Sidrolândia-MS, é elevado, o que gerou interesse nessa investigação.

Materiais e métodos

    O presente estudo foi realizado com estudantes da Escola Municipal Olinda Brito de Souza, localizada em Sidrolândia-MS, Brasil. Trata-se de uma escola de ensino fundamental (1º ao 9º ano), situada no centro da cidade e freqüentada por alunos residentes na área urbana e na área rural do município.

    Participaram deste estudo 125 crianças regularmente matriculadas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com idade variando de 6 a 11 anos, sendo 49 residentes da zona rural e 76 residentes da zona urbana, distribuídos em 64 meninos e 61 meninas.

    Para a coleta de dados utilizou-se um questionário elaborado especificamente para este estudo, além da mensuração de peso, estatura e aplicação do teste de flexibilidade “sentar-e-alcançar”.

    Em todos os casos, os protocolos seguiram a descrição contida no Manual do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR, 2009), tendo em vista sua especificidade para a faixa etária do presente estudo.

    A pesquisa foi realizada no tempo total de três semanas, aplicando primeiramente um questionário individual e junto foi entregue o termo de consentimento livre e esclarecido aos pais. As avaliações foram realizadas nas salas de aula da referida escola, durante as aulas de educação física.

    A medida do peso corporal foi obtida por meio de uma balança digital, com escala de 100 gramas, com os avaliados descalços e utilizando apenas calção/bermuda e camiseta.

    A estatura foi avaliada com uma fita métrica fixada numa parede sem desnível ou rodapé, utilizando um esquadro sobre o vértex do avaliado. O resultado foi anotado em centímetros.

    A medida do Índice de Massa Corporal foi determinada com o uso do cálculo da razão entre a medida da massa corporal total, em quilogramas, pela estatura em metros, elevada ao quadrado.

    Para o teste de flexibilidade utilizou-se uma fita métrica e fita adesiva, estendendo a fita métrica no solo. Na marca de 38,1 cm desta fita colocou-se uma fita adesiva para fixar a fita métrica ao solo. Os avaliados descalços, sentados na extremidade zero da fita métrica entre as pernas, os calcanhares devem quase tocar a fita adesiva na marca de 38,1 cm e estarem separados cerca de 30 cm, com os joelhos estendidos e as mãos sobrepostas, o avaliado deve se manter nesta posição o tempo suficiente para obter a distância. A partir da posição mais longínqua que o aluno pode alcançar na escala com a ponta dos dedos, registrou-se o melhor resultado entre duas execuções.

    Após a coleta dos dados, as informações foram armazenadas em uma planilha do programa Excel for Windows 7. As análises realizadas incluíram o cálculo da média e do desvio padrão para as variáveis referentes às características dos sujeitos do estudo. O outro tipo de cálculo realizado foi a determinação do percentual que cada item representava para as variáveis estudadas.

    Somente foram incluídos no estudo os alunos que trouxeram o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelo respectivo responsável e que estivessem devidamente matriculados, com ano escolar e idades equivalentes ou com no máximo um ano de repetência e que não fossem portadores de necessidades especiais ou indígenas.

Resultados e discussão

    Os sujeitos deste estudo tinham média de idade de 8,3 ± 1,6 anos, variando de 6 a 11 anos.

    Em relação ao estilo de vida adotado pelos escolares, os resultados indicaram um valor médio de 1,3 ± 0,9 horas diárias de atividades consideradas sedentárias, tais como uso do computador, vídeo game ou assistindo televisão, nos dias se segunda a sexta-feira. Esse valor alterou-se para 1,7 ± 1,8 horas diárias nos dias de final de semana.

    Ainda em relação ao estilo de vida, 92,8% dos estudantes relataram não praticar nenhuma outra atividade física de forma sistematizada, além das aulas de educação física na escola.

    Segundo Matsudo e Matsudo (1998) um dos principais fatores envolvidos na diminuição dos níveis de atividade física, contribuindo para a instalação do sedentarismo no cotidiano de crianças e adolescentes, é o tempo diário gasto assistindo televisão. Os alunos que residem na zona urbana têm diferentes opções de atividades físicas sistematizadas, tanto públicas como privadas, que eles podem desenvolver fora do horário escolar, assim como horários flexíveis, pois moram próximos à escola, mas a maioria, como relata o presente estudo, dedica o tempo a atividades sedentárias, assistindo televisão, jogando vídeo game e usando computador.

    Já entre os 7,2% que relataram fazer alguma atividade física sistematizada, destacaram-se a modalidade de futebol, o karatê e atividades realizadas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), mantido pela prefeitura municipal, o qual oferece atividades diversificadas para os participantes. Notou-se no decorrer do estudo, durante as aulas de educação física, que estes mesmos indivíduos apresentaram mais disposição para realizar as atividades propostas pela professora e com melhor desempenho motor e da flexibilidade. Haywood (2004) relata que é provável que pessoas que nunca se exercitam percam flexibilidade porque as atividades de vida diária raramente requerem que elas se movam com toda a amplitude de movimento. Portanto, em qualquer idade a flexibilidade reflete a amplitude anormal do movimento ao qual um indivíduo submete articulações especificas, seja em atividades do cotidiano ou na prática de exercícios físicos.

    A seguir, são apresentados os demais dados deste estudo, os quais foram organizados em tabelas e figuras para facilitar a análise das informações.

    Na tabela 1 são apresentados os dados demográficos do grupo.

Tabela 1. Medidas demográficas de alunos de uma escola pública do município de Sidrolândia-MS, Brasil (n = 125)

    Para a realização da pesquisa levou-se em consideração a faixa etária em que se espera que os indivíduos desenvolvam, com maior intensidade, as habilidades básicas necessárias e começam a aprimorar a flexibilidade e a coordenação motora para eventuais atividades diárias e específicas, como o esporte, a dança, entre outros.

    No grupo estudado há uma predominância de meninos e alunos residentes na zona urbana do município. Essas informações refletem a realidade com a qual a escola precisa lidar no dia-a-dia, principalmente em relação as diferenças culturais de crianças residentes na zona urbana e na zona rural, mas que freqüentem um mesmo ambiente de ensino formal.

    A média do peso corporal foi de 30,6 ± 8,1 kg e a média da estatura foi de 1,30 ± 0,10 m. Essas duas variáveis foram utilizadas para o cálculo do IMC, o qual é analisado de forma detalhada na tabela 2.

Tabela 2. Avaliação do índice de massa corporal de alunos de uma escola pública do município de Sidrolândia-MS, Brasil (n = 125)

    A opção pela avaliação do índice de massa corporal foi considerada, tendo em vista suas vantagens, principalmente o baixo custo econômico para sua realização, conforme já relatado na literatura (FARIAS e SALVADOR, 2005). No grupo estudado o excesso de peso, agrupando sobrepeso e obesidade, chega a 15% e esse número é preocupante do ponto de vista da saúde, já que a maior parte dos alunos dedica grande parte de suas horas livres para atividades de baixo gasto calórico. Com isso, esse número só tende a crescer.

    De uma forma geral, observou-se nos dias de pesquisa que a alimentação dos alunos não tem um cuidado especial, assim como a preocupação com atividades físicas sistematizadas, acarretando uma série de conseqüências, inclusive na alteração na composição corporal desses escolares.

    Quanto a variável flexibilidade, o valor médio obtido pelo grupo foi de 44,4 ± 7,2 cm e esses valores são analisados de forma detalhada na tabela 3.

Tabela 3. Medidas de flexibilidade de alunos de uma escola pública do município de Sidrolândia-MS, Brasil (n = 125)

    Sabe-se que a amplitude de movimentos possíveis em qualquer articulação depende da estrutura óssea daquela articulação e da resistência ao movimento dos tecidos moles. Além disso, o uso habitual e o exercício preservam a natureza elástica dos tecidos moles, enquanto o desuso é associado á perda de elasticidade (HAYWOOD, 2004). Contudo, os resultados encontrados no presente estudo contradizem tais relatos obtidos na literatura, pois mesmo com a maioria dos indivíduos não sendo praticantes de atividade física regular, de um modo geral, apresentou excelência na flexibilidade.

Tabela 4. Medidas de flexibilidade e do índice de massa corporal de alunos de uma escola pública do município de Sidrolândia-MS, Brasil, distribuídos conforme área de residência (n = 125)

    De acordo com valores encontrados no presente estudo, a flexibilidade de alunos residentes da zona rural apresentou 81,6% de excelência e uma normalidade no índice de massa corporal de 85,7%, comparados com 75,0% de excelência da flexibilidade e 80,2% de normalidade de IMC de seus colegas residentes na zona urbana.

    Esses dados demonstram que, apesar de uma menor disponibilidade de locais projetados e tempo para realizar atividade física sistematizada, os alunos residentes na zona rural do município provavelmente gastam menos tempo destinado ao sedentarismo, pois as variáveis estudadas dependem de alguns fatores, dentre os quais a realização de ações motoras.

    Mesmo não sendo objeto deste estudo, ressalta-se aqui que durante a entrevista muitos avaliados relatavam seu cotidiano e aqueles residentes na zona rural verbalizaram que não conseguem realizar atividades diversificadas rotineiramente, mesmo possuindo mais tempo livre. Já seus pares residentes na zona urbana, informaram que o acesso a computador e outras atividades, acrescidas de má alimentação, são frequentes. Nesse sentido, na literatura se obtém informação que uma característica primária da maioria dos indivíduos com excesso de gordura corporal é o excessivo de tempo semanal destinado às atividades sedentárias ou baixo gasto calórico (PIOVESAN et al., 2002).

    Diante desses fatos, autores como Salvador e Farias (2005) ressaltam a importância de se monitorar os níveis de atividade física em crianças e adolescentes. Essa preocupação deve-se ao fato de que a prática de atividade física regular contribui de forma positiva na prevenção e controle da obesidade e das doenças crônico-degenerativas associadas à mesma.

Considerações finais

    Apesar das melhores condições estruturais para a prática de exercícios físicos sistematizados existentes na zona urbana, esta condição não foi suficiente para que os alunos residentes naquela região apresentassem melhores índices de flexibilidade e IMC.

    Acredita-se que a rotina dos alunos residentes na zona rural tenha influenciado os resultados desta pesquisa. Esta rotina refere-se a horários bem estabelecidos, como horários das refeições, período escolar, período de repouso e as atividades diárias desenvolvidas pelos mesmos.

    Outro fator que merece ser destacado é a diferença de disponibilidade de atividades de baixo gasto calórico, quando compara-se crianças da zona urbana com a zona rural, tais como acesso a computador e internet, vídeo game e tempo destinado a assistir TV.

    Sabe-se que a alimentação, estilo de vida e o tempo disponível, são fatores que interferem diretamente na aptidão física de uma pessoa. Contudo, estas variáveis não foram investigadas no presente estudo e tornam-se assim, possíveis objetos de futuros estudos que envolvam uma temática semelhante.

    Nesse sentido a literatura reforça a importância da atividade física de forma sistematizada para a melhora da flexibilidade e as prevenções do sedentarismo precoce, bem como suas conseqüências.

Referências

  • ARAÚJO, C. G. S. Avaliação e Treinamento da Flexibilidade. In: BARROS, T. e GHORYEB, N. O exercício. São Paulo: Atheneu, 1999.

  • DANTAS, E. H. M. Alongamento e flexionamento. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

  • FARIAS, E. S.; SALVADOR, M. R. D. Antropometria, composição corporal e atividade física de escolares. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Volume 7, número 1, p.21-29, 2005.

  • FARIAS E. DOS S.; PETROSKI, E. L. Estado nutricional e atividade física de escolares da cidade de Porto Velho, RO. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Volume 5, Número 1, p. 27-38, 2003.

  • FONSECA, V. Da filogênese á ontogênese da motricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

  • GALLAHUE, D. L.; OSMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

  • GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes. São Paulo: CLR Balieiro, 1997.

  • HAYWOOD, K. M. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3 ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004.

  • MALINA, R. M. Atividade física do atleta jovem: do crescimento a maturação. São Paulo: Roca, 2002.

  • MATSUDO SMM, Araujo TL, MATSUDO,VKR. Nível de Atividade física em criança e adolescentes de Diferentes regiões de desenvolvimento. Rev Bras Ativ Fís Saúde, 1998; 4: 14-26.

  • PIOVESAN, A. J. ; YONAMINE ,R. S.; LOPES, A. DA S.; FILHO, R. C. Adiposidade corpórea e tempo de assistência à TV em escolares de 11 a 14 anos de duas regiões geográficas do município de Campo Grande – MS. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Volume 4, Número 1, p. 17-24, 2002

  • PITANGA, F. J. G. Testes, medidas e avaliação em educação física e esportes. São Paulo: Phorte editora, 2005.

  • WALTRICK, A. C. de A.; DUARTE, M. de F. da S. Estudo das características antropométricas de escolares de 7 a 17 anos – uma abordagem longitudinal mista e transversal. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Volume 2, Número 1, p. 17-30, 2000.

  • WEINECK, J. Treinamento Ideal. 9 ed. São Paulo: Manole, 1999.

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