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Herpes gladiatorum

El herpes gladiatorum

 

*Mestrado em Ciências da Saúde, professor assistente

do Centro de Pesquisa em Doenças Infecciosas

Hospital Universitário Clemente Faria, Montes Claros

**Professora assistente. Campus Darcy Ribeiro

Universidade Estadual de Montes Claros – Montes Claros

Linton Wallis Figueiredo Souza*

Simone Vilas Trancoso Souza**

wallis@uai.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

           O herpes gladiatorum, causada pelo vírus do herpes simples (HSV-1), é uma doença endêmica entre os lutadores de ensino médio e faculdade. Esta infecção pode representar um verdadeiro problema de saúde pública. É relatado um caso atípico da doença em lutador de mixed martial arts (MMA). Na América do Sul, mais efetivamente no Brasil, não se observam campanhas educativas sobre este tipo de infecção. Evitar que doentes ativos participem de competições em esportes de contato intenso, higiene das mãos e do tatame, testes sorológicos em equipes desportivas, profilaxia em portadores do vírus e tratamento rápido com antivirais podem reduzir em até 90% a incidência de surtos.

           Unitermos: Herpes gladiatorum. Mixed martial arts. Esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A prevalência de infecções de pele causadas pelo HSV-1 em lutadores de mixed martial arts tem aumentado substancialmente nos últimos, principalmente pela maior divulgação midiática deste tipo de atividade esportiva com um crescente número de praticantes1. A infecção foi inicialmente identificada em jogadores de rugbi na década de 60 do século XX, sendo denominado como herpes gladiatorum. Estudos tem demonstrado que a infecção é transmitida pelo contato direto em esportes de contato intenso de pele a pele, como na luta greco-romana, MMA, rugbi e judô1. Estudos epidemiológicos não encontraram evidência da transmissão através de fômites, mas não existem estudos adequados sobre a importância do contato com o carpete dos locais de treinamento ou competição. As lesões aparecem de 7 a 14 dias após a exposição. Pode ser confundido com herpes zoster pelo fato de freqüentemente afetar o gânglio trigeminal. Em imunocomprometidos pode manifestar-se como uma infecção severa causando pnemonite, encefalite e hepatite2. As lesões podem ocorrer na cabeça, face, pescoço, ombros e membros. Embora muitos lutadores tenham lesões vesiculares típicas da pele, pode haver uma grande variabilidade no aparecimento das erupções cutâneas. As lesões cutâneas típicas manifestam-se como exantemas, vesículas, bolhas, pápulas eritematosas (figura 1) e menos freqüentemente é observado como placa edematosa3.

Figura 1. Lesão típica com pápulas eritematosas e vesículas no herpes gladiatorum.

Relato de caso

    Paciente com 22 anos de idade, atleta de MMA, imunocompetente, nega história anterior de infecção por herpes simples ou história de lesão vesicular labial, nega uso de medicamentos anabolizantes, imunodepressores ou cortisona. Relata que após 9 dias da sua participação em uma competição regional, iniciou com pápula que após 3 dias se tornou uma placa atípica com crostas e poucas vesículas em perna direita (figura 2). Tinha como diagnóstico diferencial o impetigo, tinha glabra, dermatite numular infectada e leishmaniose cutânea. O diagnóstico é basicamente clínico, mas neste caso, devido à atipicidade, foi auxiliado pelo Teste de Tzank que identifica células gigantes multinucleadas em secreções e é realizado com microscopia ótica comum (poderia também ter sido feito o exame de PCR para HSV3). Foi instituído tratamento com penciclovir, via oral, 250mg por dia por 14 dias e afastamento temporário de competições por 9 dias.

Figura 2. Lesão atípica com característica de placa edematosa de herpes gladiatorum.

Discussão

    Nos casos típicos de herpes gladiatorum com lesões hemifaciais vesiculares e dolorosas os diagnósticos geralmente são clínicos e os tratamentos iniciados o mais rapidamente possível, pois a complicação mais freqüente é a ceratite pode levar a redução da acuidade visual, chegando até a cegueira se não tratada prontamente3.4. A dificuldade em adequadamente controlar os surtos herpéticos recorrentes em grupos de lutadores faz com que estejam em risco potencialmente contínuo para a disseminação do vírus1. Surtos periódicos vem sendo descritos há mais de 20 anos. Nos Estados Unidos da América, depois do surto que ocorreu em um grupo de atletas de luta greco-romana de uma escola secundária no ano 2007, foi iniciada uma estratégia para a prevenção e profilaxia que tem sido feita todos os anos4. Na América do Sul, mais efetivamente no Brasil, não se observam campanhas educativas sobre este tipo de infecção. Esta ação educativa deveria ser intensa e freqüente, principalmente porque estudos apontam que o herpes gladiatorum é endêmico em lutadores amadores do ensino médio e faculdade1. A resposta rápida a um surto reduz drasticamente o risco de uma epidemia que pode dificultar a realização de competições tanto em atletas de alto rendimento quanto em amadores. O tratamento rápido do foco primário com isolamento de 9 dias evitando contato direto intenso em competições e treinamentos pode reduzir o risco de epidemia em até 90% dos casos5. Em equipes ou grupos de academia devem ser feitos testes anuais para detectar indivíduos soropositivos para HSV-1 (IgG positivo), podendo ser feito um tratamento profilático com uso de antivirais (aciclovir, valaciclovir ou penciclovir) nestes indivíduos6. A profilaxia pode ser feita com o uso contínuo de aciclovir 400mg por dia durante toda a temporada de competição do atleta ou por pulso de penciclovir na dose de 500mg de 12/12h durante 7 dias no mês. Também é recomendável o uso de álcool 70o para a limpeza dos tatames e lavar as mãos freqüentemente durante as atividades esportivas de contato intenso. Além de evitar a transmissão entre os atletas durante as competições e treinamentos, permite reduzir as infecções recorrente por HSV-1 em indivíduos susceptíveis5,6. Um abordagem através de uma campanha educativa entre os atletas, técnicos e profissionais que trabalham em saúde desportiva, que os faço reconhecer e tratar adequadamente de portadores soropositvos de HSV-1 podem minimizar o impacto no desempenho dos atletas, principalmente naqueles de alto rendimento1.

Conclusão

    O herpes gladiatorum é uma infecção que pode representar um verdadeiro problema de saúde pública7. Portanto, é extremamente necessário a divulgação e educação dos profissionais e atletas de esporte de contato intenso, pois a profilaxia com antivirais após a realização teste anuais que identifiquem soropositivos para HSV podem reduzir os surtos epidêmicos em aproximadamente 87% dos casos minimizando o risco de transmitir a doença para outros lutadores5.

Referências bibliográficas

  1. Meulener M, Smith BL. Herpes gladiatorum with ocular involvement in a mixed martial arts fighter. Cutis. 2011; 87(3):146-7.

  2. Watanabe D, Kuhara T, Ishida N, Takeo T, Tamada Y, Matsumoto Y. Disseminates mucocutaneous herpes simplex virus infection in na immunocompetent woman. Int J STD AIDS. 2010; 21(3):213-4.

  3. Usatine RP, Tinitigan R. Nongenital herpes simplex virus. Am Fam Physician. 2010; 82(9):1075-82.

  4. Anderson BJ. Managing herpes gladiatorum outbreaks in competitive wrestling: the 2007 Minnesota experience. Curr Sports Med Rep. 2008; 7(6):323-7.

  5. Anderson BJ. Prophylatic valacyclovir to prevent outbreaks of primary herpes gladiatorum at a 28-day wrestling camp. Jpn J Infect Dis. 2006; 59(1):6-9.

  6. Anderson BJ. Valacyclovir to expedite the clearance of recurrent herpes gladiatorum. Clin J Sport Med. 2005; 15(5):364-6.

  7. Ban F, Asano S, Ozawa S, Eda H, Norman J, Stroop WG, Yanagi K. Analysis of herpes simplex virus type 1 restriction fragment lenght polymorphism variants associated with herpes gladiatorum and Kaposi’s varicelliform eruption in sumo wrestlers. J Gen Virol. 2008; 89(Pt 10):2410-5.

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