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Coordenação motora: a interferência do genótipo 

e do fenótipo em irmãos gêmeos. Um estudo de caso

La coordinación motora: la interferencia del genotipo y del fenotipo en hermanos gemelos. Un estudio de caso

 

* Docentes do Curso de Educação Física

da Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Renata Macario Vieira do Amaral

Ms. José Renato Campanelli*

Ms. Denise Elena Grillo*

Ms. Janísio Xavier de Souza*

denisegrillo@mackenzie.com.br

 

 

 

 

Resumo

          No mundo em que vivemos hoje onde existe muita violência, não vemos mais as crianças brincando na rua, se divertindo, correndo, pulando. Os pais colocam as crianças em muitas atividades, como por exemplo: curso de línguas, aulas de música e teatro o que acaba fazendo com que o tempo que elas tinham disponível para as brincadeiras fique tomado por todas essas atividades e responsabilidades e mais uma vez as brincadeiras são deixadas de lado devido à falta de tempo e muitas vezes de um local apropriado para realizar as brincadeiras. Com o avanço tecnológico, as crianças acabam querendo ficar em casa para usar o computador, o vídeo game, assistir filmes e conseqüentemente ficam cada vez mais sedentárias, com mais facilidade e propensão para se adquirir obesidade. Mais do que nunca as aulas de educação física, assim como todas as outras atividades que estimulem as crianças a se movimentar e explorar os ambientes e materiais tornam-se cada vez mais necessárias. O atraso no desenvolvimento da coordenação motora pode afetar toda a vida da criança e causar conseqüências irreversíveis na adolescência e na vida adulta. Com isso, o presente estudo, teve como objetivo avaliar a coordenação motora de dois indivíduos irmãos gêmeos com a finalidade de identificar, se existem diferenças entre os resultados e assim discutir se a responsabilidade é do genótipo ou do fenótipo. Após a realização desse estudo, concluímos que as diferenças existentes com relação à coordenação motora apresentam forte tendência de ser conseqüência das variações do meio externo, o fenótipo.

          Unitermos: Coordenação motora. Irmãos gêmeos. Genótipo. Fenótipo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    É comum vermos na educação física escolar, muitos professores simplesmente darem uma bola para os seus alunos e os deixarem jogar durante todo o momento da aula. Infelizmente a educação física, não é algo que todos gostam, conseqüentemente existem crianças que não se interessam pelas aulas e não as querem fazer; preferindo ficarem sentadas. Com essa atitude do profissional de educação física, as crianças que não gostam de atividade física, acabam realmente ficando sentadas durante toda a aula, não tendo nenhum momento de produtividade.

    No mundo em que vivemos existe muita violência, não vemos mais crianças brincando na rua, se divertindo, correndo, pulando, pois os pais acabam deixando-as em casa para que não corram nenhum risco. Sendo assim, as crianças cada vez mais estão fazendo inúmeras atividades, como por exemplo: curso de línguas, aulas de música, teatro o que acaba fazendo com que o tempo que elas tinham disponível para as brincadeiras fique tomado por todas essas atividades e responsabilidades e mais uma vez as brincadeiras são deixadas de lado devido à falta de tempo e muitas vezes de um local para realizar as brincadeiras saudáveis, como pular, correr, saltar, rolar, girar, chutar, agarrar, entre muitas outras. Com o avanço tecnológico, as crianças acabam querendo ficar em casa para usar o computador, o vídeo game, assistir filmes e conseqüentemente ficam cada vez mais sedentárias e com mais facilidade e propensão a adquirir obesidade (CAMPANELLI e SOUZA, 1996).

    Bessa e Pereira (2002), afirmam que a infância é a etapa mais importante a caminho da maturidade para a vida adulta, por isso há necessidade de garantir que esse período traga condições propícias e pertinentes a sua evolução e desenvolvimento motor. O atraso no desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora pode afetar toda a vida da criança e causar conseqüências irreversíveis na vida adulta; entre elas estão a lentidão na execução dos movimentos e a relação estabelecida do próprio corpo com o meio, aumentando as dificuldades motoras.

    Para muitas crianças a aula de educação física, é o único momento que ela tem para praticar uma atividade física e esse momento deve ser aproveitado ao máximo. Por isso, é de extrema importância o professor planejar as aulas, dar atividades diferentes, que deixem as crianças interagirem umas com as outras, brincarem bastante, correr, pular, saltar, rolar; principalmente na fase da faixa etária dos 7 aos 10 anos, pois é nesse momento que as crianças estão desenvolvendo a coordenação motora e outras capacidades. Pellegrini et al (2003), afirmam que se no período da infância a criança não tiver oportunidade de prática, instrução e encorajamento, ela não vai adquirir os mecanismos básicos para a execução de tarefas como, por exemplo: identificar os estímulos relevantes para uma ação eficiente, identificar a estrutura temporal da tarefa e organizar o padrão motor adequado para execução da tarefa com êxito. O objetivo do presente estudo foi avaliar a coordenação motora de dois indivíduos, irmãos gêmeos, com a finalidade de identificar se existem diferenças entre os resultados e assim discutir se a responsabilidade é do genótipo ou do fenótipo.

História da Educação Física Escolar

    Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a educação física no século passado esteve diretamente ligada às instituições militares e à classe média. Essa ligação foi determinante com relação à concepção da disciplina, suas finalidades, campo de atuação e forma a ser ensinada.

    Ainda segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), muitos médicos que tinham o objetivo de melhorar a condição de vida, assumiram um papel higienista e buscaram modificar os hábitos da população de saúde e higiene através da educação física; favorecendo a educação do corpo, tendo como objetivo um físico saudável.

    De acordo com a mesma fonte acima, a elite imperial mesmo estando de acordo com as propostas higiênicas, a eugenia e o físico, havia naquela época uma grande resistência à prática de atividades físicas devido à associação entre o trabalho físico e o trabalho escravo.

    Ainda de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), em 1851 aconteceu a Reforma Couto Ferraz, que tornou a educação física obrigatória nas escolas municipais da Corte. Essa obrigatoriedade não foi muito bem vista pelos pais, principalmente pelos pais das meninas; onde houve casos que os pais proibiram a participação das suas filhas. Em 1882, Rui Barbosa, defendeu a inclusão da ginástica nas escolas e equiparou os professores dessas disciplinas com os professores das outras disciplinas e, além disso, explicou a importância de ter um corpo saudável. Em 1937, na elaboração da Constituição foi feita uma referencia à educação física, incluindo-a no currículo como prática educativa obrigatória, em paralelo com o ensino cívico e os trabalhos manuais; em todas as escolas brasileiras. Com a realização da lei de diretrizes e bases da educação em 1961, ficou determinada a obrigatoriedade da educação física para o ensino primário e médio. Com isso a atividade física passou a estar presente nas aulas de educação física. Mesmo com o reconhecimento da educação física como disciplina, ela ainda é vista e tratada como algo “marginal”, onde existe certa rincha entre a educação física e as outras disciplinas, já que a educação física é vista como algo sem importância, que não merece reconhecimento. Em 1996, a lei de diretrizes e bases afirma que a educação física deve ser integrada à proposta pedagógica da escola, deve ser um componente curricular da educação básica, ajustando-se as faixas etárias e às condições da população escolar. Com isso, a educação física passa a ser incluída em toda a escolaridade.

Características e necessidades da faixa etária de 7 a 10 anos

    Gallahue e Ozmum (2001) definem essa faixa etária como sendo o período posterior da infância e afirmam que a coordenação motora e o controle motor, melhoram durante a infância com o passar dos anos.

    Os mesmos autores citados acima, ainda afirmam que na infância, as habilidades perceptivas tornam-se crescentemente refinadas e que o aparato sensório motor se desenvolve em constante harmonia, fazendo com que seja possível à criança desempenhar diversas habilidades sofisticadas. No inicio desse período, as crianças possuem um tempo de reação lento, o que causa dificuldade na coordenação visual manual e na coordenação olhos pés (PELLEGRINI et al, 2003). Porém no final desse período, essas coordenações estarão bem definidas.

    De acordo com Meinel e Schanabel (1984) apud Oliveira (2002), nessa faixa etária existe deficiência no desenvolvimento espacial, temporal, dinâmico e no rendimento dos movimentos.

Coordenação motora

    Pellegrini et al (2003), definem a coordenação motora como a ativação de várias partes do corpo para a produção de movimentos que apresentam relação entre si, executados numa determinada ordem, amplitude e velocidade.

    Turvey (1990) apud Magill (2000) define a coordenação motora como sendo a padronização dos movimentos do corpo e dos membros relativamente à padronização dos eventos e objetos do ambiente.

    Mascaretti (1999) apud Bessa e Pereira (2002), afirma que é fundamental a avaliação da coordenação motora e equilíbrio na idade pré-escolar da criança, pois a alteração de tais habilidades pode interferir na aprendizagem escolar e na conduta geral e diária da criança.

    Para Bessa e Pereira (2002), o atraso no desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora pode afetar toda a vida da criança e causar conseqüências irreversíveis na vida adulta. Entre elas estão à lentidão na execução dos movimentos e a relação estabelecida do próprio corpo com o meio, aumentando as dificuldades motoras.

    Esse atraso da coordenação pode e deve ser corrigida por medidas adequadas no contexto da Educação Física escolar.

    Segundo Moreira (2000) apud Bessa e Pereira (2002), além da necessidade de movimentação que a criança apresenta, vale a pena ressaltar que, na maioria das vezes, a motricidade da criança é pouco explorada durante a infância, gerando alterações em seu desenvolvimento psicomotor que vão refletir na idade adulta.

Educação Física Escolar voltada para crianças de 7 a 10 anos

    Gallahue e Ozmuz (2001), afirmam que crianças nessa faixa etária precisam de oportunidades que estimulem a movimentação e a instrução, estando presentes em uma grande variedade de atividades motoras, podendo estas ser sugeridas pelo professor ou estar presentes no cotidiano, tendo o objetivo de desenvolver as suas capacidades em diversos níveis de intensidade.

    De acordo com Meinel e Schanabel (1984) apud Oliveira (2002), nessa faixa etária, o desenvolvimento deve ocorrer através de diferentes formas de movimentos esportivos, como por exemplo: combinar o saltar e o correr, o lançar e o pegar, entre outros.

    Ainda os mesmos autores citados acima, afirmam que quando houver a aquisição dos padrões motores fundamentais, é necessário que haja uma ênfase nos movimentos, para que posteriormente possa se fazer combinações entre esses padrões motores já desenvolvidos com outros, como por exemplo: equilíbrio sobre o pé, movimentos em torno do eixo, sustentação invertida e etc...

    Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), para essa faixa etária deve-se trabalhar com jogos e brincadeiras, onde as regras sejam simples. As atividades lúdicas e competitivas devem ser mescladas com as atividades lúdicas e expressivas, para que assim exista um equilíbrio entre a melhor desenvoltura dos meninos e das meninas. É necessário que se trabalhe com uma grande diversidade de movimentos e possibilidades, incluindo o correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar, rolar, arrastar, escalar, quicar, bater, entre outras utilizando diferentes partes do corpo e diferentes formas para realizar a situação. Os alunos devem ter acesso aos mais variados materiais, como por exemplo: corda, bola, colchão, bastão, elástico, alvos, situações não-competitivas e ao trabalho individual.

    Segundo Mcclenaghan e Gallahue (1985) e Flinchum (1981) apud Oliveira (2002), ao considerar os métodos a serem utilizados na educação física escolar, todos entendem que, tanto o método direto, como o método indireto, desenvolvem as habilidades motoras das crianças; porém enfatizam a resolução dos problemas como sendo a melhor maneira de explorar a motricidade da criança.

    Ainda segundo os mesmos autores, eles afirmam que ambientes como playgrounds, aparelhos de ginástica artística, pista de atletismo, área livre, entre outras; auxiliam no desenvolvimento das habilidades locomotoras e manipulativas e outras habilidades.

    De acordo com Tani et al (1988) apud Oliveira (2002), afirmam que a combinação dos movimentos básicos de formas variadas e as combinações seqüenciais cada vez mais complexas são de extrema importância para auxiliar no desenvolvimento das crianças.

    De acordo com Flinchum (1981) apud Oliveira (2002), no nível escolar, a educação física deve oferecer oportunidades para as crianças se movimentarem durante as aulas, devendo ser ministradas preferencialmente por profissionais especialistas em percepção e movimento humano, pois esses poderão oferecer as crianças, um maior desenvolvimento do que outros profissionais.

    Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), cabe a escola trabalhar com o repertório da cultura local e garantir o acesso a experiências que as crianças não terão fora da escola. O professor deve fazer conduzir o processo de ensino e aprendizagem de forma que os alunos tenham escolhas a fazer, decisões a tomar e problemas a resolver, fazendo com que os alunos tornem-se cada vez mais responsáveis e mais independentes. É fundamental que o professor fique atento a possíveis discriminações e estigmatizações que possam ocorrer durante as aulas de educação física entre os alunos; principalmente nos esportes coletivos. Com isso, é importante que o professor realize atividades em que diferentes competências sejam valorizadas e que as diferenças individuais sejam valorizadas e respeitadas.

    Oliveira (2002), afirma que o professor de educação física possui uma função importante no âmbito escolar e com isso ele pode estruturar um ambiente adequado para as crianças, para que elas possam adquirir o máximo de experiências motoras, fazendo com que a educação física, seja auxiliadora e promotora do desenvolvimento integral da criança.

    Ainda o mesmo autor citado acima, afirma que o professor de educação física deve entender muito bem o que é a criança, como ela se move, como aprende e como manifesta suas emoções e os seus sentimentos; para que em função dessas características, o professor consiga estabelecer os objetivos do conteúdo e o método de ensino a ser utilizado com as crianças. É importantíssimo que o professor trabalhe de acordo com o estágio de desenvolvimento motor de cada faixa etária, procurando assim, oferecer a melhor qualidade de controle de movimento para a criança.

    Como Metodologia optou-se por um estudo de caso de caráter transversal descritivo que é caracterizado por fornecer o máximo de informações possíveis, de forma detalhada e única de um determinado indivíduo ou grupo, no entanto esta foi desenvolvida de maneira transversal, pois foi realizada apenas uma coleta, onde não existiu interferência e nem acompanhamento dos indivíduos estudados. (THOMAS & NELSON, 2002)

    Complementando a estratégia supra-citada o método utilizado foi o descritivo, onde tem como objetivo “observar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a freqüência em que o fenômeno e sua relação com outros fatos” (MATTOS et al, 2004).

    Para a realização deste estudo, participaram dois indivíduos de oito anos de idade, do sexo feminino, gêmeos bivitelíneos, que freqüentam um colégio particular de nível socioeconômico médio na cidade de São Paulo. Neste colégio, participam das aulas de Educação Física com uma freqüência de duas vezes por semana e complementando esta atividade, ainda freqüentam aulas de ginástica artística, também, com freqüência de duas vezes por semana.

    A avaliação da coordenação motora foi realizada, utilizado um dos testes pertencente à escala de desenvolvimento motor (EDM). Esta escala utilizada por Rosa Neto, 1996, quando aplicada na íntegra avalia motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e a lateralidade.

    Para o nosso estudo foi aplicado somente o teste de coordenação motora, identificado na escala de desenvolvimento motor como motricidade global, que por sua vez é composto por 10 provas sendo elas com nível de dificuldade progressiva. As provas são: subir em um banco, saltar sobre uma corda, saltar sobre o mesmo lugar, saltar sobre uma altura de 20 cm, caminhar em linha reta, pé manco, saltar uma altura de 40 cm, saltar sobre o ar, pé manco com uma caixa de fósforos e saltar sobre uma cadeira.

    Em cada prova realizada com sucesso, o resultado positivo era registrado com a marca 1. Para cada prova realizada com um resultado negativo, foi registrado a marca 0. Para cada prova que apresentar um resultado positivo para um membro e um negativo para outro membro será registrado a marca ½.

    Após a realização das 10 provas pertencentes ao teste, descobrimos a idade motora da criança em anos e meses ou apenas em meses.

    Temos esse resultado, de acordo com os marcadores acima. São 10 provas, sendo cada uma delas representada por uma idade, iniciando aos 2 anos e finalizando aos 11 anos. A idade motora foi determinada até a criança obter acertos com a marca um ou ½. Por exemplo: se para o teste da motricidade global, a criança obteve uma marca de:

Teste/Anos

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Motricidade Global

1

1

1

1

1

½

0

0

0

0

    Portanto, ela terá uma idade motora de 6 anos e 6 meses ou 78 meses.

    Com o resultado da idade motora determinado, podemos determinar o quociente motor com uma equação, onde a idade motora (em meses) / idade cronológica (em meses) x 100 = quociente motor. Por exemplo: para uma criança de 6 anos ou 72 meses (idade cronológica), com uma idade motora de 6 anos e 6 meses ou 78 meses, temos: 78 meses/ 72 meses x 100 = 108. Com um quociente motor de 108, a criança foi classificada em um nível normal médio.

    Essa classificação é representada por uma tabela, onde temos:

130 ou mais

Muito superior

120 a 129

Superior

110 a 119

Normal alto

90 a 109

Normal médio

80 a 89

Normal baixo

70 a 79

Inferior

69 ou menos

Muito inferior

    Para determinarmos se existe idade positiva ou negativa, devemos realizar uma equação, onde termos: a idade motora menos a idade cronológica (im – ic = idade). Se o resultado for positivo à criança tem uma idade positiva e se o resultado for negativo, a criança tem uma idade negativa, ambos representados em meses. Por exemplo: utilizando o exemplo acima, para uma criança com uma idade motora de 78 meses e uma idade cronológica de 72 meses; temos: 78 - 72 = 6 meses. A criança possui uma idade positiva de 6 meses.

    O teste ocorreu no período da manhã, em uma sala arejada, grande, onde só estavam presentes à examinadora e a criança. No caso desse estudo, como se trata de gêmeas, cada criança foi avaliada individualmente, sem a presença da irmã ou de alguma outra pessoa; a fim de evitar quaisquer tipos de influências externas.

    As crianças estavam vestindo roupas leves e estavam descalças, para evitar que escorregassem e para não prejudicar a observação das provas do teste de coordenação, assim como recomenda o protocolo do teste EDM (ROSA NETO, 2002).

    Ainda seguindo o protocolo do teste EDM, é de extrema importância que o teste ocorra sem a presença da mãe ou de algum parente próximo.

    As provas estavam previamente montadas cada uma em um local determinado, fazendo com que a criança saísse de uma prova e fosse para outra, sem que houvesse a perda de tempo para a montagem e a desmontagem de cada uma das provas; assim como recomenda o protocolo do teste EDM.

    Os resultados da nossa coleta serão apresentados em forma de gráfico onde serão feitas relações entre os resultados obtidos comparando as irmãs e posteriormente entre os resultados obtidos com pesquisas semelhantes realizadas com indivíduos da mesma faixa etária. O principal fator limitante deste método foi à subjetividade de avaliação dos testes, que dependem única e exclusivamente da observação e sensibilidade do avaliador.

Resultados

    De acordo com a proposta deste estudo foram aplicados testes com o objetivo de avaliar a motricidade global, desta maneira os resultados obtidos foram os que seguem abaixo:

    A tabela I, representada abaixo nos mostra valores obtidos de maneira individual para cada uma das provas pertencentes ao teste de motricidade global.

Teste/Anos*

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Motricidade Global*

1

1

1

1

1

1

1

0

0

0

Teste/Anos**

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Motricidade Global**

1

1

1

1

1

1

1

1

1

0

* criança 1 ** criança 2

    O que podemos observar nesta tabela são os valores que compuseram o resultado em anos de cada criança avaliada no estudo, sendo que esse resultado se dá de acordo com o desempenho motor delas durante cada uma das provas realizadas. Vale lembrar que para resultado positivo foi atribuído o valor 1 e o valor 0 refere-se ao resultado negativo. Desta maneira ao somarmos os resultados chegamos à idade motora de 8 anos ou 96 meses para a criança 1; enquanto que para a criança 2 obtivemos o referente à idade motora de 10 anos ou 120 meses, importante reforçar que a idade cronológica das crianças participantes deste estudo é de 8 anos e 2 meses ou 98 meses.

    Para que fossem obtidos os valores referentes ao quociente motor, utilizamos a seguinte fórmula (idade motora (em meses) / idade cronológica (em meses) x 100 = quociente motor).

    Após os cálculos chegamos aos seguintes valores de quociente motor: 97,95 para a criança 1 sendo este resultado classificado como normal médio e 122,44 para a criança 2 sendo classificado em superior de acordo com a tabela de classificação, o que é representado abaixo pelo gráfico 1.

Gráfico I. Valores de quociente motor para as crianças 1 e 2, obtidos por meio dos testes de motricidade global

    Complementando nossa observação acerca do quociente motor, podemos observar a idade motora e para esta foram obtidos índices negativos de 2 meses e positivo de 22 meses; para as crianças 1 e 2 respectivamente com relação à idade cronológica.

    Em relação aos resultados apresentados pelas crianças, nota-se uma grande diferença no aspecto motor entre ambas, porém é de se considerar que as duas são gêmeas, criadas ao mesmo tempo, da mesma forma, no mesmo período, além disso, conforme informação da mãe ambas fizeram e fazem as mesmas atividades, tanto escolares, como extracurriculares e sempre juntas.

    O gráfico II abaixo trata de comparar os resultados de quociente motor obtido para cada criança com valores de quociente motor de um grupo de crianças do sexo feminino com faixa etária entre 3 e 10, resultados estes apresentados em estudo de Rosa Neto em 2002.

Gráfico II. Valores de quociente motor para as crianças 1, 2 e um grupo de crianças com faixa etária entre 3 e 10 anos, obtidos por meio dos testes de motricidade global

    Nesse gráfico, a criança 3 representa o valor referente ao grupo de 68 crianças de 3 a 10 anos do sexo feminino. Nota-se que a criança 1 tem um resultado abaixo da média das outras crianças, já a criança 2 tem um resultado superior à média das outras crianças. A média do quociente motor dessas 68 crianças, é de 108,71, obtendo uma classificação de normal médio, a mesma classificação da criança 1; que abrange de 90 a 109. Nesse caso, a criança 1 obteve um quociente motor de 97,95, com uma classificação de normal médio e a criança 2 obteve um quociente motor de 122,44 com uma classificação de superior.

    Observando os resultados desta maneira, percebemos que a criança 1 se mantém na mesma classificação com relação ao quociente motor da média das crianças de 3 a 10 anos do sexo feminino enquanto que a criança 2 está em uma classificação superior, estando bem acima da irmã e das demais crianças.

Gráfico III. Valores de quociente motor para as crianças 1, 2 e um grupo de crianças com faixa etária entre 6 e 10 anos, obtidos por meio dos testes de motricidade global

    Nesse gráfico representado acima, a criança 3 representa a média do resultado através dos mesmos testes para um grupo de 75 crianças do sexo feminino com faixa etária de 6 a 10 anos, estes resultados foram obtidos através de estudo realizado por Rosa Neto em 2002. Nota-se que a criança 1 apresenta resultado um pouco abaixo da média das outras crianças, no entanto a criança 2 ainda apresenta resultado superior à média das outras crianças. A média do quociente motor dessas 75 crianças, é de 100, obtendo desta uma classificação um índice de normal médio, a mesma classificação da criança 1 que abrange de 90 a 109 para o quociente motor.

    Para complementar nossas observações, representamos no gráfico IV abaixo os resultados das duas crianças comparadas com valores obtidos através do mesmo teste de motricidade global de um grupo de 13 crianças da 3ª série do ensino fundamental com faixa etária que varia de 8 a 9 anos, de um estudo de Rosa Neto em 2002 onde, os resultados estão baseados no quociente motor.

Gráfico IV. Valores de quociente motor para as crianças 1, 2 e um grupo de crianças com faixa etária entre 8 e 9 anos, obtidos por meio dos testes de motricidade global

    Nota-se que a criança 1 tem um resultado um pouco acima da média das outras crianças, já a criança 2 tem um resultado muito mais acima da média das outras crianças. A média do quociente motor das 13 crianças, é de 88,31, obtendo uma classificação de normal baixo, a criança 1 obteve um quociente motor de 97,95, obtendo uma classificação de normal médio e a criança 2 obteve um quociente motor de 122,44 com uma classificação de superior.

    Observando os 4 gráficos acima, observamos que a criança 1 tem um nível de coordenação motora normal médio de acordo com a literatura, estando a sua irmã, a criança 2, muito acima da média obtendo assim classificação para coordenação motora superior, porém um fato interessante observado é que enquanto os grupos utilizados para as comparações tinham sua faixa etária aumentada, os valores do quociente motor se apresentavam menores. Com isso podemos atribuir as médias iniciais dos gráficos 2 e 3 às crianças menores, uma vez que nestes grupos citados faziam parte crianças com idades de 3 a 10 anos e de 6 a 10 respectivamente, por outro lado quando foi utilizado o grupo mais próximo da faixa etária das crianças foco do estudo 8 e 9 anos, o valor obtido para o quociente motor foi menor.

    Acreditamos que esta tendência possa ser atribuída a fatores relacionados ao avanço tecnológico citado por Campanelli e Souza, 1996 em um estudo de tendência secular quando afirmam que com a passar dos anos existe uma propensão maior de que estas crianças fiquem mais tempo em frente à televisão, computador e etc..., fato este que de alguma maneira pode estar sendo minimizado no grupo de crianças menores, por estas terem por parte dos pais um controle maior de suas atividades.

    Godinho et al (2002), afirmam que os seres humanos estão em constante transformação e sofrem o tempo todo, influências dos fatores internos (genótipos) e externos (fenótipos), sendo assim acreditamos que estas diferenças existentes entre as idades motoras e cronológicas apresentadas pelas garotas sejam de responsabilidade maior da influência dos fatores externos (fenótipos), uma vez que se tratam de gêmeos e sendo assim as diferenças genéticas tendem a ser minimizadas.

    Reforçando a afirmação supracitada Plomin & Daniels (1987) apud Knijnik (1998), afirmam que apesar de irmãos gêmeos crescerem na mesma família, em um mesmo período ainda assim são diferentes entre si, desta maneira afirmam que o ambiente familiar dificilmente é igual para os irmãos, o interior de uma família comporta ambientes diferentes para cada criança.

    Além disso, é importante considerar que por mais parecidos que sejam os tratamentos, o ambiente e as informações passadas para as crianças, pelos pais, parentes e pessoas de convívio, mesmo assim a maneira com que recebem todas estas informações e as interpretam tendem a ser diferentes.

Considerações finais

    Considerando o fenótipo como principal responsável por essa diferença entre as irmãs, podemos considerar o meio externo, ou seja, ambiente, estímulo, objetivo específico e interesse de cada criança com relação à atividade física, relacionamento de cada uma delas com o professor e/ou com as pessoas que fornecem feedback e este podendo exercer influência positiva ou negativa, uma vez que ao estudarmos irmãs gêmeas tínhamos a intenção de minimizar a interferência do genótipo, mesmo assim se considerarmos que as crianças foco do estudo tinham “tudo” para apresentarem resultados iguais, pois, são geneticamente muito parecidas e segundo relato da mãe; “as irmãs ficam o tempo todo juntas, praticam atividades físicas juntas, foram criadas pelas mesmas pessoas”.

    Após a realização deste estudo e observando todas as diferenças apresentadas entres as crianças e os grupos utilizados para as comparações, concluímos que as diferenças existentes apresentam forte tendência de ser conseqüência das variações do meio externo; o fenótipo.

Referências

  • BESSA, M. F. de S.; PEREIRA, J. S.. Equilíbrio e coordenação motora em pré-escolares: um estudo comparativo. Revista Brasileira de Ciências e Movimento. v.10, n.4, p.57-62, 2002. Brasília.

  • CAMPANELLI, J. R.; SOUZA, M. T. de. Tendência Secular de Variáveis Antropométricas e Neuromotoras em escolares entre 11 e 15 anos. XX Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 1996. São Paulo – São Caetano do Sul. Celafiscs, 1996. v. 1, p. 111/112.

  • GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor, bebês, crianças, adolescentes e adultos. 1. ed. São Paulo: Phorte e Editora, 2001.

  • GODINHO, M.. Controlo Motor e Aprendizagem, fundamentos e aplicações. 2. ed. Cruz Quebrada – Portugal: FMH Edições, 2002.

  • GORLA, J. I.; ARAUJO, P.F. de; RODRIGUES, J.L.; PEREIRA, V. R.. O Teste KTK em Estudos da Coordenação Motora. Revista Conexões, Unicamp - Campinas SP, v. 1, n. 1, 2003.

  • KNIJNIK, J. D. “Gêmeas ‘Idênticas’, Identidades Diferentes – um estudo preliminar e um relato de experiência”. Universidade de São Paulo – Instituto de Psicologia. 1998. São Paulo.

  • MAGILL, R. Aprendizagem motora conceitos e aplicações. Tradução 5 ed. Americana. São Paulo: Edgar Blucher Ltda, 2000. 5-17/ 37-56p.

  • MATTOS, M. G. de; JÚNIOR, A. J. R.; BLECHER, S. Teoria e Prática da Metodologia da Pesquisa em Educação Física: Construindo seu Trabalho Acadêmico: Monografia, Artigo Científico e Projeto de Ação. São Paulo, Editora Phorte, 2004.

  • OLIVEIRA, J. A. de. Padrões Motores Fundamentais: Implicações e Aplicações na Educação Física Infantil. Centro Universitário do Sul de Minas– UNIS-MG. Ano II, v.6, n.6, 2002.

  • Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília, 1997.

  • PELLEGRINI, A. M.; NETO, S. de S.; BUENO, F. C. R.; ALLEONI, B. N.; MOTTA, A. I. Desenvolvendo a coordenação motora no ensino fundamental. Rio Claro, SP, 2003. Disponível em: http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2003/Desenvolvendo%20a%20coordenacao%20motora.pdf. Acesso em: 23 abr. 2007

  • ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora.1. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

  • THOMAS, J.; NELSON, J. Métodos de pesquisa em atividade física. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 21-38/ 279-301p.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires, Noviembre de 2011
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