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Ética no futebol: será possível?

Ética en el fútbol: será posible?

Ethics in soccer: it will be possible?

 

Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa

(Brasil)

Alberto Inácio da Silva

albertoinacio@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo de cunho bibliográfico objetiva realizar uma breve análise sobre a ética no futebol. Como referencial teórico utilizou-se de livros de história do futebol, livros de regras, jornais, revistas científicas e trabalhos disponíveis na Internet. A análise dos textos permitiu concluir que a discussão sobre a ética no meio futebolístico se tornou uma coisa complexa tendo em vistas as atitudes de seus comandantes, os seja, dos dirigentes, que vão contra todos os padrões éticos estabelecidos pela sociedade contemporânea. Temas como: corrupção, suborno, desvio de recursos etc., envolvem constantemente os dirigentes do futebol, sendo que a punição destes quase sempre não ocorre, pois os quais deveria julgá-los fazem parte da mesma estrutura e a estes estão subordinados.

          Unitermos: Esporte. Corrupção. Punição.

 

Abstract

          This study aims at realize a brief bibliographic review of ethics in football. As a theoretical framework used is the football history books, rule books, newspapers, journals and papers available on the Internet. The analysis of the texts led to the conclusion that the discussion about ethics in the soccer world has become a complex thing in view of the attitudes of their masters, that is, the leaders, which goes against all ethical standards set forth by contemporary society. Issues such as corruption, bribery, embezzlement, etc., involving the leaders of football constantly, and the punishment of them often does not occur, because who would judge them part of the same structure and they are subordinate.

          Keywords:: Sport. Corruption. Punishment.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A grande maioria das discussões a respeito da ética no futebol encontra-se restrito ao comportamento das torcidas e do uso de drogas por atletas. Os debates sobre estes temas além dos bancos universitários podem ser acompanhados quase que diariamente nos comentários pelas ruas, pelos jornais, escritos, falados e televisionados, que muitas vezes vinculam estes assuntos a atitudes relacionadas à moral e à ética nos esportes (WINTERSTEIN, 2004). Poderiam ser arrolados centenas de fatos que suscitariam polêmicas discussões a respeito da ética no futebol, mas que são poucos explorados no meio cientifico, como o resultado da Comissão Parlamentar de Inquérito do Futebol, tanto da câmara quanto do senado federal, as supostas falcatruas da Confederação Brasileira de Futebol, que são constantemente denunciadas pela mídia, os chamados "gatos" do esporte, que são atletas que falsificam carteiras de identidade para tirar proveito de uma idade menor, uso de substâncias entorpecentes, pedofilismo nas escolinhas de futebol, suborno a Comissões de arbitragem ou a árbitros. A ausência ou o número limitado de estudos nestes temas dificultam a discussão sobre a ética no futebol, pois estes delitos são realizados ou acobertados pelos dirigentes que estão diretamente ligados a este esporte.

    Antes de se discutir a ética no futebol propriamente dita se buscará conceitualizar alguns termos chaves desta pesquisa. O primeiro deste seria a ética. Esta palavra deriva do termo ethos – ética, de origem grego, relativo à morada humana. Sabe-se que esta morada não é algo pronto, mas que deve ser construída, e esta construção visa tornar esta moradia um ambiente agradável, saudável e mais seguro (VARGAS, 2007).

    Entretanto, quando se começa a discursar sobre a ética parecem substabelecer os conceitos morais. O termo moral deriva do latim mos, mores, que designa os costumes e as tradições, incorporadas pela sociedade de forma voluntária. Assim, poder-se-ia dizer que a moral refere-se ao comportamento humano cujas regras foram definidas pela sociedade onde este está inserido, ao passo que a ética diria respeito ao comportamento autônomo do indivíduo capaz de instituir de forma racional os princípios que deve respeitar em sua conduta (CHAUÍ, 1994). Já Ribeiro (2002) enfatiza que quando se fala de ética ou moral, consideram-se as ações humanas do ponto de vista de aprová-las ou censurá-las, sendo que, a ética examina a ação e não o conhecimento do indivíduo sobre determinado tema. Os atos podem ser morais ou imorais, mas o mesmo não se pode dizer do que se conhece.

    Já neste ponto poder-se-ia de imediato partir-se para as primeiras indagações. Qual seria a ética estabelecida pela morada do futebol mundial, ou seja, pela Fédération Internationale de Football Association (FIFA), ou mais próximo de nos, pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF)? Quais os costumes e tradições que forjam e forjaram a moral desta sociedade de futebolistas?

Origem do futebol

    Ante de se tentar responder estas perguntas, será necessário definir quando ocorreu o surgimento do futebol e estas respectivas instituições que controlam este desporto. A partir do século XIX com a criação das regras do futebol, separando ou distinguindo-o do Rugby, este passou a ter as características que permanecem até hoje, isto ocorreu em 23 de outubro de 1863 na taberna de Freemason, Great Queen Street, em Londres, onde estavam presentes representantes de 11 clubes e escolas (UNZELTE, 2009). As regras, que segundo a Confederação Brasileira de Desportos – CBD (1978) eram em número de nove, foram elaboradas pela Universidade de Cambridge, e estabeleciam como este esporte deveria ser jogado. Enfim, a criação do futebol moderno data de 1863, quando também foi fundada na Inglaterra a Football Association.

    Proni (2007) destaca que o futebol nos textos clássicos, é inúmeras vezes mencionado como tendo sua origem ligada ao espaço educacional. Este esporte teria sido criado pela elite da burguesia inglesa, como prática que auxiliasse na formação dos jovens dentro de um pensamento “democrático“ (embora elitista), com comportamento civilizado, preparando-os para competirem entre si dentro de uma ordem instituída. Com a revolução industrial a entre tantas coisas exportadas para o resto do mundo a Inglaterra expandiu também o futebol.

Estrutura organizacional do futebol

    O órgão responsável pela elaboração e reformulação das regras do futebol é a International Football Association Board (IFAB). Esta entidade foi fundada em 2 de junho de 1886. Apesar de encontramos em alguns textos o ano de 1882 como sendo de fundação da IFAB, esta data não é reconhecida pela própria IFAB ou FIFA, já que no site oficial da FIFA encontramos o ano de 1886 como sendo o ano de fundação da IFAB (FIFA 2011). A FIFA surgiu em 1904, sendo que desde o inicio esta entidade adotou as regras estabelecidas pela IFAB. Posteriormente com o crescimento do futebol pelo mundo, especialmente na Europa, a FIFA foi admitida pela International Board em 1913. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi fundada dia 24 de setembro de 1979, desvinculando o futebol da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), entidade criada em 18 de junho de 1916 (SARMENTO, 2006). A separação aconteceu por conta de uma diretriz da FIFA, a qual exigia que as entidades nacionais de seus países filiados deveriam cuidar apenas do futebol, o que não era o caso da CBD, que correspondia ao Comitê Olímpico Nacional da época e geria varias modalidades desportivas.

    Mais por que será que surgiram tantas entidades esportivas? Isto ocorreu porque o desporto constitui-se num dos fenômenos de maior estridência social nos tempos modernos, mobilizando milhares de pessoas direta e indiretamente, tornando-se um dos mais rentáveis segmentos em termos de marketing, propaganda e comercialização. Os números do futebol podem confirmar isto, é o esporte mais praticado no mundo com aproximadamente 200.000 profissionais e 240 milhões de praticantes ocasionais (DVORAK e JUNGE, 2000).

    O Brasil, reconhecido globalmente como o “país de futebol”, naturalmente encontra nessa modalidade os investimentos de cifras mais elevadas, chegando a ultrapassar outros setores da economia formal, e, envolvendo no seu desenvolvimento milhares de pessoas direta e indiretamente (Da SILVA, 2008).

    O futebol, quando praticado profissionalmente, segue regras próprias, pré-estabelecidas, com o objetivo de padronizar ações permissivas e restritivas, de maneira a obter um caráter universal. Com o objetivo de unificar a legislação desportiva e garantir a transparência no desporto competitivo surgiu no Brasil alguns ordenamentos jurídicos como: Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD); Estatuto de Defesa do Torcedor (EDT) e Lei nº. 9.615, batizada como Lei Pelé.

    Apesar destes ordenamentos jurídicos, não é raro ouvirmos ou lemos na imprensa as mazelas dos dirigentes esportivos principalmente do futebol, o esporte mais difundido e apreciado pelo povo brasileiro. São tantas as denúncias e tão poucas punições, que levam a população acreditar que tudo é possível no futebol, estando este a berlinda das atitudes morais ou éticas. A violência nos estádios só foi combatida pela FIFA quando se tornou um problema para a comercialização do espetáculo no final da década de 1980 (PRONI, 2007). Agora a corrupção no futebol será combatida por quem? Há alguma pessoa prejudicada com estas denúncias?

Quem são os dirigentes do futebol?

    Mas quando será que a FIFA passou a se destacar no cenário internacional? Segundo os repórteres investigativos Vyv Simson e Andrew Jennings, isso ocorreu a partir de 1974 com a eleição de João Havelange a presidência da FIFA. Havelange foi o sétimo presidente da FIFA, ficando no cargo por mais de 20 anos. Ele se elegeu derrotando o inglês sir Stan­ley Rous, que era presidente da FIFA desde 1961. A sede da FIFA era uma casa antiga, a Villa Derwald, em Zurique com 3 funcionários. Rous era apaixonado pelo futebol, abandonou a profissão de professor, para se tornar árbitro de futebol. Em 1933, Rous já podia ser encontrado apitando jogos internacionais. Grandalhão, dava grande importância ao conceito de jogo limpo. Rous possuía um conhecimento enciclopédico das regras do futebol. Foi sagrado cavaleiro pelo rei George VI, por seu trabalho durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 1948 (SIMSON e JENNINGS, 1992).

    Havelange possuía um estilo completamente diferente. Estava ligado ao pólo aquático. Nos anos 1930 nadava representando o Brasil, nas Olimpíadas de Hitler, em Berlim. Fez parte do time de pólo aquático brasi­leiro, nas Olimpíadas de Helsinque. Coman­dou a delegação brasileira nas Olimpíadas de 1956 em Melbourne. Seu cargo mais importante foi à presidência da abrangente Con­federação Brasileira de Desportes. Certo dia Havelange declarou: "Sou um homem de negócios, tenho muito dinheiro e não preciso ganhar mais com o futebol" (SIMSON e JENNINGS, 1992).

    Graças a seu passado no pólo aquático, ele se tornou presiden­te da federação de natação de São Paulo, e em 1955 conseguiu entrar para o Comitê Olímpico brasileiro. Em 1963 passou a par­ticipar do grupo de elite do Comitê Olímpico Internacional. Havelange lançou sua campanha para a presidência da FIFA em 1970. Escorado nas três vitórias brasileiras na Copa do Mundo viajou para vários continentes. A Ásia e a África ficavam de fora do campeonato mais importante. Em troca de seus votos, Havelange prometeu aumentar o número de times na Copa do Mundo, de 16 para 24. Prometeu criar um Campeonato Mundial de Juniores. Prome­teu dinheiro para os países construírem estádios, promoverem cur­sos para árbitros, médicos e técnicos, além de mais campeonatos interclubes no Terceiro Mundo (SIMSON E JENNINGS, 1992).

    Quando Stan­ley Rous era presidente da FIFA os fundos para a administração do futebol mundial provinham exclusiva­mente da Copa do Mundo. Com a era Havelange isso mudou, com o patrocínio multimilionário que este conseguiu com a Coca Cola, os cofres da FIFA ficaram cheios. Em 1979, as despesas de Havelange chegavam a 100 mil libras anuais. Em 1986, o custo de manutenção de seu escritório parti­cular no Rio de Janeiro atingiu a soma de 250 mil libras. Quando os diri­gentes da FIFA voaram para a Copa do Mundo da Espanha, em 1982, suas despesas se aproximavam dos 2 milhões de libras — quase o valor gasto para transportar e hospedar os vinte e quatro times participantes. Nos dois anos seguintes a FIFA consumiu 650 mil libras em pre­sentes e viagens internacionais (SIMSON E JENNINGS, 1992). Em 1998 Havelange deixou a presidência da FIFA, em seu lugar assumiu o suíço Joseph Blatter.

    A entidade maior do futebol, a FIFA, durante a copa da Coréia Japão, foi abalada com uma avalanche de denúncias de corrupção, envolvendo seu presidente Joseph Blatter. Michel Zen-Ruffinen, ex-braço direito do presidente, durante uma reunião do Comitê executivo da FIFA, entregou um dossiê fundamentando suas denúncias contra o presidente da entidade. Apesar de ser entregue com a exigência de sigilo, o dossiê foi exibido ao público pela versão on-line do jornal SonntagsZeltung, de Zurique. Entre as varias denúncias, Zen-Ruffinen relatou que Blatter havia pagado 25 mil para o árbitro Lucien Bouchardeau acusar Farah Addo, delegado da Somália, que havia acusado Blatter de tê-lo tentado subornar nas eleições de 1998. Mesmo Blatter tendo confirmado algumas das denúncias, foi eleito presidente da entidade maior do futebol, com 70% dos votos (Da SILVA, 2008).

    Recentemente o jornal inglês "The Telegraph" publicou em seu site, detalhes do dossiê que deu origem à investigação do Comitê de Ética da FIFA envolvendo Mohamed Bin Hammam e Jack Warner, membros do Comitê Executivo da entidade, que compunham uma chapa para a próxima eleição na FIFA (2011), que iria competir com a chapa do atual presidente Joseph Blatter. Segundo o periódico inglês, Jack Warner agendou uma reunião com a União de Futebol do Caribe (CFU) em Trinidad e Tobago. Após a reunião, Bin Hammam teria se encontrado com os oficiais em particular e entregado a cada um deles envelopes com 40 mil dólares (cerca de R$ 64 mil) para que votassem nele nas eleições. Alguns dos envolvidos já teriam confirmado o recebimento do dinheiro, mas afirmaram ser apenas um presente (GLOBO, 2011). Segunda o jornalista, o dossiê informa ainda que Blatter sabia do encontro e dos pagamentos feitos aos membros da CFU e que não teria feito objeções. Frente a esta denúncia, a FIFA anunciou a abertura de um procedimento, por parte de seu Comitê de Ética, para investigar o presidente da entidade e candidato a mais uma reeleição, o suíço Joseph Blatter. Apesar de mais esta denúncia Blatter foi reeleito em 1 de junho, sem problemas para o seu quarto mandato a frente da entidade, com 90% dos votos. O brasileiro João Havelange, alheio a todas essas posições, culpou a inveja de adversários de Blatter pela crise. E Blatter, em novo discurso fantasioso, lamentou não viver no mundo de "fair play, respeito e disciplina" que acreditava cercar o futebol (FUTEBOL MT, 2011).

    De acordo com a serie de reportagem exibidas pela TV Record intitulada “Cartolas: Jogo Sujo”, hoje a FIFA possui 208 países membros, ou seja, não é o Estado, a nação que é filiada a FIFA, mas sim uma Confederação ou Federação de futebol, a entidade que organiza o futebol no seu país. Portanto, a comparação de que a FIFA teria mais países filiados do que a ONU é uma falácia. Em adição, Proni (2007) faz a seguinte indagação: como explicar o significado de Nação quando a seleção nacional é administrada de forma privada por um grupo que não representa os interesses da coletividade formada pelos torcedores deste país? De acordo com a reportagem exibida pela TV Record no dia 17/06/2011, para se manter no posto mais auto do futebol mundial, Blatter distribuiu mais de 1,2 bilhões de reais as Federações de futebol (ditos países) filiadas a FIFA, recordemos que são os presidentes destas organizações que votam na eleição para o presidente da FIFA e aprovam suas contas, e Blatter falaria a língua de todos eles, ou seja, a do dinheiro. Uma das promessas de Blatter seria que, neste mandato, ele ira distribuir mais de 1 bilhão de dólares as federações filiadas, ou seja, mais de 1.590 milhões de reais.

    Já a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), há muitos anos, vem sendo usada pelos dirigentes do futebol. De acordo com Oltramari (2001), o presidente da CBF utiliza seu cargo para lavagem de dinheiro ilícito, obtenção de privilégios e contenção de despesas pessoais. Quando da realização da última eleição na CBF, segundo uma pesquisa divulgada pelo Instituto de pesquisa DataFolha, 57% dos entrevistados achavam que o presidente da CBF estava envolvido em corrupção; e 61% era favorável ao afastamento do dirigente máximo do futebol brasileiro. No senado, por 12 votos a zero, isto é, por unanimidade, foi aprovado o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do futebol, que pediu o indiciamento de 17 indivíduos, entre eles, presidentes de clubes, presidentes de federações e, é claro, o presidente da entidade maior do futebol brasileiro, CBF. Mesmo com tantas denúncias dos mais variados tipos, o presidente da CBF foi reeleito na última eleição (Da SILVA, 2008).

    Neste ponto se encontra uma semelhança muito grande entre os presidentes da FIFA, da CBF e de algumas federações brasileiras, não no referente às acusações de suborno, corrupção, desvio e lavagem de dinheiro, mas a outra questão. Esses presidentes se mantêm nas entidades graças ao voto unitário. Presidentes de federações se perpetuam, porque possuem o apoio (voto) de times pequenos de terceira ou quarta divisão, comprados por doações de camisas e bolas, pois seus votos valem tanto quanto dos times grandes do futebol brasileiro. O presidente da CBF cobre de agrados dirigentes de federações estaduais, proporcionando-lhes boa vida e levando a seleção principal para jogar em seus redutos. Assim garante a sua perpetuidade à frente da CBF. Por sua vez, Blatter usa o mesmo artifício na FIFA. O apoio de Federações (países) sem tradição no futebol é precioso para mantê-lo no poder. Daí o aumento progressivo do número de participantes na Copa (BENJAMIN, 2002).

    Mas as denúncias de corrupção envolvendo integrantes da FIFA não ficam limitadas apenas a atos praticados dentro desta entidade. David Triesman, ex-presidente do comitê de candidatura da Inglaterra para a Copa-2018, é responsável pela acusação de corrupção de quatro membros do comitê executivo da FIFA. Ele denunciou o presidente da Conmebol, Nicolás Leoz, dizendo que este queria trocar o apoio à candidatura inglesa por seu nome na Copa da Inglaterra. Triesman ainda acusou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o presidente da Concacaf, Jack Warner, e o presidente da federação tailandesa, Worawi Makudi, de corrupção, comportamento que classificou como "impróprio e antiético" (FOLHA, 2011).

    Mas quem seria o Sr. Nicolás Leoz? Segundo uma investigação a respeito da falência de sua ex-parceira de marketing, a ISL, em 2008, a FIFA reconheceu que havia evidências que comprovariam o envolvimento do presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Nicolás Leoz, em um esquema de corrupção. Mandante da entidade máxima do futebol sul-americano desde 1986, o nome de Leoz figura na longa lista de beneficiados por pagamentos de propina efetuados por uma empresa fantasma ligada ao grupo ISMM via uma conta bancária de Liechtenstein.

    Recordemos que a ISL faliu em maio de 2001 com débitos estimados em torno de US$ 300 milhões (aproximadamente R$ 506 milhões). Seis ex-executivos da ISL e da ISMM encaram acusações que vão desde desvio de dinheiro até falsificação de documentos, o que pode render até quatro anos e meio de prisão. Todos os acusados, no entanto, como de praxe alegam inocência (TERRA, 2008).

    Recentemente um programa da rede britânica BBC, denunciou que Ricardo Teixeira e o sogro, João Havelange, ex-presidente da FIFA teriam recebido propina no valor de R$ 15,1 milhões (US$ 9,5 milhões). O dinheiro teria sido pago à Sanud, empresa baseada no principado de Liechtenstein, um paraíso fiscal usado para sonegar impostos ou esconder dinheiro sujo. Quem pagou a propina foi a ISL, empresa de marketing, em troca de vantagens em contratos com a FIFA (JOSÉ, 2011). Os dois teriam assumido o envolvimento com o escândalo de propinas da empresa de marketing ISL, que teria distribuído cerca de R$ 260 milhões a dirigentes (NTB, 2011). De acordo com a reportagem exibida pela TV Record no dia 17/06/2011, a FIFA, pagou o equivalente a 10 milhões de reais em um acordo feito na justiça da Suíça para encerrar as investigações e manter o processo em sigilo.

    Segundo o jornalista e advogado Jean François Tanda, especialista neste tipo de acordo, estes só são feitos quando o réu é confesso e existem provas para um inquérito criminal. Tendo em vista o interesse de grande parte da imprensa internacional pelo caso, acredita-se que até o final de 2012 a justiça da Suíça quebre o sigilo deste processo, e ai se terá provas de onde vinha o dinheiro do enriquecimento ilícito apontado pela CPI do senado brasileiro, contra dirigentes brasileiros que na época não se teve como provar.

    Mais uma vez se está cogitando no Brasil a criação de uma nova CPI parlamentar de inquérito para se investigar o cartola mais poderoso do futebol brasileiro. A última CPI apesar de ter levando inúmeras irregularidades no futebol brasileiro, acabou com nenhum dirigente punido, ou seja, se já não bastasse ver o dinheiro do futebol indo para o bolso dos cartolas, vimos também o dinheiro dos contribuintes indo para o ralo, já que todo o dinheiro gastos pelas duas Comissões parlamentares de inquérito para nada serviu, ou apenas serviu para reforçar o descrédito da população no poder judiciário brasileiro e aumentar o sentimento de impunidade.

    De acordo com a reportagem exibida na TV Record no dia 30/06/2011, o Ministério Publico de Brasília está pedindo a devolução aos cofres públicos do Distrito Federal a importância de 9 milhões de reais, gastos para promover um jogo amistoso da seleção brasileira no estádio do Gama, no ano de 2008, pagos pelo então governador José Arruda, que posteriormente seria cassado por corrupção. José Roberto Arruda tem no seu currículo um perfil ideal para fazer negócios com a CBF. Renunciou ao mandato de senador em 2001, para não perder os direitos políticos por ter violado o painel eletrônico do senado federal, após ter confessado o delito. Entretanto, antes de confessar, havia subido na tribuna do senado e dito com ares de imperador, dedo em riste dando lições de moral e entre tantas mentiras que falou, declarou: “Eu Não Fiz! Eu Não Vi! Desafio alguém a provar que sou culpado! Não renunciarei!”. Voltou a política, foi eleito governador do Distrito Federal e teve o mandato de governado do Distrito Federal cassado em 2010, por aceitar propina, um vídeo mostrou o então governador recebendo dinheiro de propina e escondendo-o dentro da meia.

    A relação de José Arruda com Ricardo Teixeira começou meio tumultuada e de forma interessante. Arruda era líder do governo e ajudou a criar as duas CPIs que investigaram os cartolas do futebol brasileiro entre 2000 e 2001. Ou seja, viu que Ricardo Teixeira possuía o perfil ideal para fazer negócios com ele. Em 2008 Jose Arruda era governador do Distrito Federal e pagou 9 milhões de reais a uma empresa para promover o espetáculo, a Aielanto Marketing, o interessante foi que o contrato foi fechado uma semana antes do jogo. O Ministério Público do Distrito Federal apurou que a empresa não gastou um real para promover o jogo, já que todas as despesas foram pagas pela Federação Brasiliense de Futebol. Além destas coincidências, o Ministério Público descobriu que Vanessa Almeida Precht, que seria um pessoa ligada ao mundo da moda, se tornou sócia minoritária da Aielanto Marketing, com apenas 1 real, no dia 25 de agosto de 2011, ou seja, uma semana antes do jogo entre Brasil e Portugal. No dia 11 de novembro do mesmo ano, esta senhora criou a empresa VSV Agropecuária, que no ano seguinte surpreendentemente arrendou terras do Ricardo Teixeira por 60 pagamentos de 10 mil reais (total de 600 mil reais), valor bem acima do mercado para arrendamento de terras naquela região. Outro ponto a destacar é que o endereço da sede da fazenda arrendada, não é nas terras arrendadas, mas sim, em uma fazenda ao lado, onde encontra-se um casarão de Ricardo Teixeira (conteúdo da reportagem da TV Record no dia 30/06/2011).

    Mas um contrato como este, onde o sócio minoritário sai com muito dinheiro foi apresentado recentemente por Ricardo Teixeira. Uma sociedade, dois sócios e a possibilidade de muitos lucros. Esta é a composição do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014. De acordo com o jornal o LANCENET, que teve acesso ao contrato social da entidade que tem por responsáveis, Ricardo Teixeira em sua pessoa física, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O documento traz um detalhe capaz de escandalizar os brasileiros: os lucros obtidos pelo comitê serão distribuídos de acordo com a conveniência de seus sócios, sem respeitar a proporção de participação que cabe a cada um no capital societário. Teixeira pode mandar e desmandar em todos os assuntos do comitê. Porque, além de ser sócio, o dirigente é o responsável por representar a CBF, por ocupar o posto de presidente da entidade. E apesar de a divisão das cotas estabelecer 99,99% da participação societária para a CBF e 0,01% para Teixeira, a manobra estatutária que deu ao dirigente o poder de endereçar lucros para onde desejar foi registrada no parágrafo 1º, do Capítulo V do contrato social. Com este artifício, Teixeira pode até destinar 100% dos lucros para si ou investir em projetos sociais ou de interesse da CBF (CASTELLAR, 2010a).

    Os indícios de irregularidades no contrato social do comitê foram descritos no parecer do procurador regional da Junta Comercial do Rio de Janeiro, Gustavo Borba. Uma das principais dúvidas é, que destino terá os lucros obtidos com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil? A Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, rendeu ao Comitê Organizador Local um lucro de 111 milhões de euros (R$ 263,6 milhões) (CASTELLAR, 2010b).

    Nos cofres do Comitê Organizador Local já há uma previsão de entrada de R$ 1,38 bilhão referentes às despesas da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Muitos recursos serão movimentados, com participação ativa da empresa formada por Teixeira e a CBF mediante a venda de patrocínios. Para 2014, a FIFA espera chegar à cifra total de US$ 1,6 bilhão (R$ 2,72 bilhões), valor 30% superior ao obtido na Copa da África do Sul, em 2010. O lucro da FIFA não depende da receita de bilheteria dos jogos. Mas ele vem, basicamente, da comercialização dos direitos de TV no mundo inteiro e da venda de patrocínios, independentemente do lugar onde ocorrerá a Copa (CASTELLAR, 2010c).

    As competições esportivas têm sido marcadas por uma influência cada vez maior de interesses políticos e econômicos, assim como pela crescente ênfase no individualismo e no imediatismo que acompanham a instalação de uma sociedade de massa. E isso tem causado contradições no ensino da ética esportiva e um aumento na transgressão das normas (PRONI, 2007). Segundo Mo Sung (2006) as atitudes individualistas são típicas do mundo capitalista, sendo aceito por alguns o refrão “o que importa é o meu interesse e o meu proveito e que se danem outros”. Frases famosas, como a do ex-presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, conhecido como Caixa D’Água “Não estou nem um pouco preocupado com o torcedor” demonstra o respeito que os cartolas possuem pelos torcedores.

    Como mencionado anteriormente, a FIFA só começou a encabeçar uma campanha internacional em defesa do fair play a partir das pressões da mídia e dos patrocinadores, já que isto poderia afetar os seus lucros. Desta forma pode-se constatar, sem maior esforço, que o futebol-empresa reintroduziu o fair play como um elemento constitutivo do futebol, mas não como uma qualidade inerente à educação cavalheiresca e ao comportamento civilizado, e sim como uma forma de melhorar a qualidade do espetáculo, preservando os melhores jogadores, e de aumentar o faturamento, recuperando ou estimulando o interesse do público (PRONI, 2007).“Trata-se, por assim dizer, de uma reinvenção do fair play” (PRONI, 2000).

    Em adição o educador Mauro Betti afirma que a adesão à economia de mercado e a ênfase no papel do esporte como veículo de patriotismo e de mobilização nacional instauraram uma contradição entre o fair play – segundo o qual competir de forma honesta e leal é o fundamento de uma atitude “esportiva” – e a participação em torneios entre times profissionais ou mesmo entre seleções. Podemos inferir que os valores mais nobres do esporte moderno ficam obscurecidos quando a competição se transforma numa busca de vitória a qualquer preço. Pois a vitória conduz ao estrelato, nada mais nada menos que o dirigente. E que a violência, corrupção, os mais variados tipos fraudes e o doping não são elementos isolados ou ocasionais, mas sim uma decorrência da lógica que reproduz o sistema. Ouçamos as palavras de Betti (1997: 13) a esse respeito:

    A vitória é supervalorizada, e o atleta submete-se a uma crescente pressão por força de interesses financeiros e políticos. Em conseqüência das recompensas materiais, da quantidade de esforços despendidos nos treinamentos cada vez mais sofisticados e do gosto pela vitória, os fins tornam-se mais importantes que os meios, e as regras que regem a disputa esportiva tendem a ser violadas.

    O ex-presidente, grande benemérito do Paysandu, revelou um esquema de suborno envolvendo a arbitragem do futebol, que levou sua equipe a conquistar campeonatos regional e nacional. Ex-presidente acrescentou ainda ao Colunista Carlos Ferreira, de “O Liberal”, que participou da entrevista concedida pelo cartola na Mais TV, que ninguém é “santo no futebol” e desconhece um clube que nunca se tenha beneficiado de esquema da cartolagem, suborno a árbitros, a jogadores e treinadores da equipe adversária. Ele afirmou que não bastava formar um time competitivo, para ser campeão teria que se fazer esquema. O cartola conclui dizendo que o torcedor quer festejar o título, não interessa os meios (GUSMARINHO, 2004).

    De acordo com Netto (19--), os cartolas, como são conhecidos os dirigentes de futebol, no início eram filhos de papais ricos, muitos dos quais eram vadios e inúteis para tudo, utilizavam o futebol como um refúgio e com perspectiva de sucesso. O que não conseguiriam, normalmente pelo trabalho duro e difícil, o futebol não lhes negaria. Ainda segundo Netto (19--), o cartola mais honesto e de intenções mais puras, hoje, no mínimo dedica-se ao tráfego de influências. Usa o clube, o jogador, a torcida sem parcimônias. À custa de todos, ganha evidência, elege-se, faz-se notável.

A FIFA e o marketing

    Explicar como entidades tão corruptas conseguem tanto status e dinheiro a nível mundial, não é muito difícil. Mas vejamos. Antes de Havelange assumir a FIFA, esta praticamente nem sabia o que era patrocínio, marketing ou propaganda. Para tratar deste tema foi contratada a International Sports, Culture and Leisure Marketing (ISL) que ficou com a exclusividade mundial na venda dos direitos da Copa do Mundo de futebol (SIMSON e JENNINGS, 1992).

    Sem dúvida nenhuma foi a propaganda que tornou o futebol o que ele é hoje. Se voltarmos na história verificaremos que vários dos dirigentes que hoje ainda atuam no futebol, são descendentes de regimes ditatoriais que na sua grande maioria eram corruptos. Como mencionado anteriormente, a FIFA ou pseudoescritores destacam esta como tendo mais de 208 países membros. Mas será que isso é verdade? São os países que são membros da FIFA? Vamos lembrar o que ocorreu com a CPIs do futebol no Brasil em 2000 e 2001. Quando estas foram instaladas, uma das questões levantadas era que a CBF não era uma entidade estatal, portanto não poderia ser investigada pelo governo. Ora se não é uma entidade ligada ao governo, como pode esta se apresentar como representante do Brasil em algum lugar? Portanto, grande parte dos representantes de Federações e Confederações que dizem representar seu país, ali são verdadeiros bandidos com uma ficha corrida de acusações de fazer inveja a muitos detentos do sistema carcerário mundial. Quem em sã consciência iria, por exemplo, escolher Ricardo Teixeira para representar o país (Brasil) se a FIFA fosse uma entidade séria?

    O método de popularização do futebol, utilizando propaganda, filmes etc., foi o mesmo utilizado por Hitler e Mussolini. A propaganda política nazista foi um dos fenômenos marcantes do século XX. Uma das primeiras atitudes de Hitler quando acendeu ao poder, foi criar o Ministério da Propaganda e contratar um especialista para conduzi-lo, Joseph Paul Goebbels. Era uma propaganda dirigida, às massas, ao povo. Esta também deveria ser adequada a estes interlocutores menos favorecidos intelectualmente. Explorando os sentimentos, o coração da massa, permeada de uma dose de psicologia. Pois o povo deixa-se guiar mais pelo sentir do que pelo pensar. Outro ponto salientado por Hitler é o de que na propaganda tudo é permitido, mentir, caluniar... Claro que para as conquistas que a FIFA obteve nestes anos uma das grandes aliadas desta foram as redes de televisão.

    Segundo Mack (1980), a televisão para dar importância ao futebol, quando da sua transmissão criou verdadeiras engenhocas que combinavam inúmeros efeitos para dar um ar de grandeza as transmissões dos jogos de futebol. Não é raro ver estádios praticamente vazios, mas pela manipulação de áudio e vídeo das redes de televisão, fica a impressão ao telespectador que há muitas pessoas prestigiando a partida. Portanto, vemos uma manipulação das imagens feita pelas redes de televisão e uma manipulação das redes de televisão feitas pelos dirigentes do futebol para a concessão de contatos de direitos de transmissão. Assim sendo, percebe-se a importância da propaganda de espetáculos para a manutenção do sistema de corrupção, da ordem e do apoio popular a FIFA. Portanto, a mídia prega a todo instante chavões morais e de fair play, quando ela mesma, na prática profissional de seus agentes, usa de meios inescrupulosos para manter seus níveis de audiência. O canibalismo da disputa pelos direitos de transmissão do futebol, por exemplo, não condiz com os princípios do fair play. Sobre este tema, Bento citado por Winterstein (2004) chama a atenção quando diz que as emissoras de televisão zurzem o desporto pelo atropelo de princípios éticos enquanto que na disputa pelas quotas de vendas e audiências fogem do plano do fair play como o diabo foge da cruz e não parecem nada incomodadas com isso.

Considerações finais

    Acreditamos ser necessário um amplo movimento, principalmente daqueles segmentos interessados no desenvolvimento de princípios éticos e morais no meio futebolístico, e aqui destaco o importante papel da sociedade científica, no sentido de que se desenvolvam trabalhos investigativos tendo como tema central a conduta dos dirigentes do futebol, pois são estas pessoas que realmente podem interferir na condução desta modalidade esportiva. Pois se ficarmos aguardando que eles tomem a iniciativa de discutir os princípios éticos e morais que devem nortear as suas atitudes, estas jamais se modificaram. Como exemplo tomaremos as palavras de Eurico Miranda, dirigente do Vasco da Gama e ex-deputado federal, que certa vez afirmou que não via motivo para discutir a ética no futebol (desqualificava, assim, os interlocutores que pregavam uma moralização no futebol brasileiro) (PRONI, 2007). Sendo que muitos torcedores, jornalistas e comentarias esportivos têm mostrado simpatia por dirigentes que colocam os interesses do clube acima de qualquer dever moral.

    A produção de conhecimento nesta área ajudará a sociedade a ter consciência do que ocorre no meio futebolístico. Pois, as constantes denúncias de corrupção e pouca exploração das conseqüências e punição desta, parecem causar cada vez menos espanto e indignação às pessoas, inclusive a ponto de os responsáveis, ao serem julgados, quer pela opinião pública, quer pela justiça esportiva ou comum, serem declarados inocentes. Os atos cometidos passam, então, a ser considerados normais e incorporados aos usos e costumes vigentes e, por analogia, passam a ser éticos no meio futebolístico. Para finalizar destaca-se a proposta de Proni (2007, p. 27)

    “Improvável que nos próximos anos o futebol profissional passe a ser organizado e veiculado dentro dos princípios éticos compatíveis com o desenvolvimento de uma cultura futebolística centrada numa formação humanística. Certamente, essa é uma proposição que não encontra eco entre aqueles que detêm o comando do futebol brasileiro ou do futebol mundial. Enquanto isso, nós educadores temos o dever de mostrar para a nossa juventude que há valores não mercantis, não negociáveis, no planeta bola”.

Referencial bibliográfico

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires, Noviembre de 2011
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