efdeportes.com

Analise da freqüência cardíaca e do discurso dos visitantes 

da trilha interpretativa da RPPN Ecoparque de Una 

no trecho de passarelas suspensas no dossel

Analysis of heart frequency and speech of visitors of the suspense bridges in the tree tops of the Una Ecoparque interpretative trail

Análisis de la frecuencia cardíaca y del discurso de los visitantes del sendero interpretativo de la Reserva Particular 

del Patrimonio Natural Ecoparque de Una en el tramo de las pasarelas suspendidas en las copas de los árboles

 

*Prof. Assistente do Departamento de Ciências da Saúde

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC – BA / Brasil)

Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

Especialista em Biologia de Floresta Tropicais e Mestre em Meio Ambiente pela

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

**Prof.ª Assistente do Departamento de Ciências Saúde

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

Ms. Marcial Cotes*

cotesmarcial@yahoo.com.br

Ms. Marcia Morel**

morelmarcia@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O artigo analisa dados dos visitantes da trilha interpretativa do Ecoparque de Una, referentes à verbalização de vertigem de altura diante do trecho de aproximadamente 97 m de comprimento, de passarelas suspensas no dossel, comparando com as variações de freqüência cardíaca. Verificou-se que 15 visitantes verbalizaram ter sentido vertigem/emoção, sendo 13 do sexo feminino e dois do masculino. Entretanto, quando analisadas as variações de freqüência cardíaca durante o trecho, verificou-se que 48 visitantes tiveram variações acima ou igual a 20 bpm por minuto. E, deste total, 25 eram do sexo masculino.

          Unitermos: Ecoturismo. Esportes de aventura. Trilha interpretative. Vertigem.

 

Resumen

          El artículo analiza datos de los visitantes del sendero interpretativo de la Reserva Particular del Patrimonio Natural Ecoparque de Una, referente a los comentarios sobre el vértigo de altura delante del trecho de aproximadamente 97 metros de largo, de las pasarelas colgadas en la copa de los árboles, comparando con las variaciones frecuencia cardíaca. Se verificó que 15 visitantes declararon haber sentido vértigo/emoción, siendo de 13 del sexo femenino y dos del masculino. Si en embargo, cuando fueron analizadas las variaciones de frecuencia cardíaca durante el trecho, se verificó que 48 visitantes tuvieron variaciones superiores o iguales a 20 pulsaciones por minuto. Y de este total, 25 eran del sexo masculino.

          Palabras clave: Ecoturismo. Deportes de aventura. Sendero interpretativo. Vértigo.

 

Abstract

          This article analyses data from visitors of the interpretative trail of the Una Ecoparque, with respect to the visitor speech about dizziness caused by height of the passage about 97 m long of suspense bridges in the tree tops and comparing it with variation in their heart frequency. Fifteen visitors said that they had felt dizziness/emotion, among them 13 women and two men. However, when analysed the heart frequency along the passage, 48 visitors showed variation on it above or equal to 20 bpm, among them 25 men.

          Keywords: Ecotourism. Adventure sports. Interpretive trail. Dizziness.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Impulso do ser humano

    A busca por seu espírito de aventura e a necessidade de desbravar, conhecer e apossar-se de novas terras, com fins econômicos e de exploração impulsionou o ser humano para as grandes conquistas, presente na história da humanidade, desde antes da era Cristã, que atualmente, vem tomando novos contornos (IGNARRA, 2003).

    O ser humano do início do século XXI demanda atividades em ambientes naturais com distintas denominações: atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), atividades ecoturísticas, esportes de aventura, turismo de aventura, práticas corporais de aventura na natureza, novos esportes, esportes radicais, esportes tecnoecológicos, esportes em liberdade, esportes selvagens e esportes californianos (BETRÁN, 1995; COSTA, 2002; 2000; 1999; POCIELLO, 1987; VILLAVERDE, 2003).

    Esta busca da sociedade contemporânea está envolta de signos e significados. Entretanto, essas atividades de aventura têm uma dicotomia em relação aos primeiros aventureiros da história da humanidade. Hoje o risco é calculado, porque é possível elaborar um planejamento prévio das diversidades que poderão enfrentar durante as atividades (COSTA, 1999).

    Segundo Bruhns (2000), existe uma distinção entre risco real e imaginário ressaltando que

    Um amplo leque de valores simbólicos associados a práticas muito diversas, porém unidas por este imaginário fortemente condicionado pela explosão das emoções e do risco. Emoções fictícias, de certa forma, e riscos provocados, artificiais, de certa forma, imaginários (p. 30).

    A natureza com suas adversidades – vento, chuva, temperatura e relevo – é considerada adversária, e as relações do esporte institucionalizado são alteradas. Nas AFAN o ser humano trava um prélio contra seus próprios limites, e, em muitas situações, a necessidade de relações de amizade e companheirismo é considerada de extremo valor ou um trunfo para desejada superação como descreve Villaverde (2003).

    Para Barros (2000), o sentimento de risco nestas atividades possui duas vertentes, de um lado o risco real, na outra extremidade o risco aparente. A autora entende como risco real a exposição do aventureiro a reais possibilidades de lesão, enquanto que, no risco aparente, a fantasia do perigo e suas consequências estão presentes com um alto grau de sensação de perigo, mas um baixo grau de risco real ou exposição, denominado por Costa (1999) de risco calculado.

    Este cenário aponta um dualismo do ser humano na sociedade urbana contemporânea regida por equilíbrio e segurança, mas este mesmo ser humano em seus momentos de ócio ativo vai atrás de medo e emoções fortes, o que é um paradoxo.

    Em suas reflexões, Caillois (1980) aponta quatro sensações: a aventura, a competição, a fantasia e a vertigem. A aventura pode estar presente em uma simples viagem em busca de novidades. Os jogos institucionalizados são bons exemplos de competição, todavia uma das características marcantes das atividades que buscam o meio ambiente natural como cenário para suas práticas é a disputa com seus próprios limites.

    Neste caso específico da disputa contra seus próprios limites, podemos identificar a fantasia de ser diferente, chegar aonde ninguém chegou e descobrir novas culturas, ver e ouvir sons únicos somente encontrados em ambientes naturais, deparar com animais selvagens ou simplesmente observar pássaros em contato mais íntimo com o mundo natural. Todavia, estão na vertigem e no consumo as molas propulsoras do sucesso das atividades esportivas que englobam uma diversidade de práticas na atualidade.

    Segundo Feixa (1995, p. 40), “Vivimos en una cultura que ha restringido las manifestaciones públicas de emoción fuerte”. Outro aspecto a ser considerado por nós são as questões culturais e de gênero. De acordo com Bruhns (2003)

    Elementos como sensibilidade, estética, entrega, medo ou fragilidade não constituem o repertório dos valores masculinos como suposto ‘sexo forte’, os quais podem ser identificados como dominação, potência, frieza, racionalidade e outros (p. 48).

    A autora aponta uma realidade que se encontra em mudança. Tradicionalmente os homens mais adeptos destas atividades podem estar perdendo espaço para o sexo feminino? Bruhns (2003), em pesquisa realizada sobre as opções pelos esportes na natureza, identificou a presença significativa de 60% de mulheres praticando rafting entre o público consumidor das agências de turismo na cidade de Brotas. Ela aponta como exemplo o futebol, esporte “considerado para homem”, a despeito do grande número de mulheres praticando e o nível das competições internacionais.

    As atividades esportivas que utilizam a natureza como cenário, exprimem vários apelos com o atual nível de degradação do planeta. Todavia, em um aspecto poderíamos aproximar essas atividades do sexo feminino, elas apresentam valores femininos em detrimento dos masculinos. A natureza é considerada do gênero feminino, chamada de mãe natureza, trazendo sentimentos de abrigo, provimento, sensibilidade, acolhimento e fragilidade (BRUHNS, 2003).

    Este trabalho não pretende discutir as contestações sociais femininas ou questões de sexismo nas atividades que utilizam o ambiente natural para suas práticas. O intuito desta investigação foi procurar subsídios e ferramentas que venham contribuir para novas pesquisas dentro da temática das AFAN.

    O que pretendemos apresentar são aportes para alguns questionamentos surgidos durante os pré-testes no trabalho de campo, para elaborar a metodologia de graduação do nível de dificuldade da trilha interpretativa da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Ecoparque de Una, situado na região denominada Costa do Cacau, no sul da Bahia (COTES et al., 2007).

    Ao considerar Orlandi (2007), no que concerne à responsabilidade do pesquisador quanto à construção de seu dispositivo analítico, o objeto desta pesquisa foi analisar e comparar o discurso/verbalização dos visitantes no que diz respeito à vertigem de altura diante das passarelas suspensas no dossel1 florestal com as variações da freqüência cardíaca (FC); para contribuir com uma ferramenta que possa mensurar a vertigem dos sujeitos praticantes de AFAN.

Dosséis florestais e o imaginário do risco da altura

    O dossel florestal é a porção receptora da maior parte da energia que sustenta esses ecossistemas. Considerado por Wilson (1992) como as últimas fronteiras da exploração do mundo natural, os dosséis florestais encontram-se dentro dos projetos da convenção de diversidade biológica da Conferência Mundial das Nações para o Desenvolvimento e Meio Ambiente (Rio-92). O programa 3, meta 3, objetivo 1, atividade b, visa desenvolver suporte, tecnologia e pesquisa nesta área, promovendo conhecimento científico para o entendimento dos processos biológicos e sua importância macro na relação dos dosséis e a saúde de grandes áreas florestais (MITCHELL; SECOY; JACKSON, 2001).

    No topo das árvores, encontra-se uma biodiversidade surpreendente, cuja grande parcela ainda é desconhecida (LEWINSOHN; PRADO, 2002). Por exemplo, Erwin (1997) levanta a hipótese que 15 milhões de espécies de insetos residem no topo das árvores das florestas tropicais do mundo.

    Para o visitante de uma Unidade de Conservação, ter a perspectiva de observar uma floresta do topo das árvores suscita uma atmosfera envolta de imaginações em um sentido construído2 da sociedade cultural (MOREL; COTES, 2003).

    As grandes árvores e o transitar no dossel, entre copas, traduzem um sentimento de sobrevida que perpassa pela utopia da vida eterna. Ao encontrar-se no alto de uma copa de árvore centenária, o ser humano se vê diante de um dos seres vivos com maior longevidade do planeta. Além disso, os dosséis florestais foram os habitats a partir dos quais nossos ancestrais, os símios, em um processo de evolução, desceram para as atuais savanas africanas, assumindo a posição bípede (LEWIN, 1999).

    A comparação feita por Costa (2000), Chevalier e Gheerbrant (1995) acerca do simbolismo da ascensão em rocha revela um duplo movimento de ascensão e descenso, produzindo a interface entre a rocha e a alma do ser humano. Do mesmo modo que o vazio da rocha produz esta interface, podemos dizer que o vazio das passarelas suspensas e plataformas sinalizam para as fronteiras do imaginário?

    O simbolismo dado à montanha/rocha ao imaginário da altura pode ser comparado com a mesma sensação de alcançar a copa de uma árvore emergente3 com infinito tapete de dossel verde a seus pés. O verde é a cor mediadora, limite entre o alto e o baixo, que se reverte de um valor mítico, onde esconde segredos e simboliza o conhecimento do destino (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1994).

    O contraste entre o alto/baixo, verde (dossel)/azul (céu) se traduz no imaginário do eterno que representa um ato ancestral do ser humano na sacralização da natureza como santuário, envolta de mistérios, submetida ao domínio deste mesmo ser humano.

    Para Costa (2000, p. 144), o ser humano possui um sentimento dicotômico onde

    Ele trilha por um caminho que visa mudar a si mesmo, vencer todas as adversidades, os perigos e medos. As descidas às profundezas das cavernas, as descidas sob a água de cachoeiras, ou num rio revolto, ou num vertiginoso deslize pelas encostas das montanhas em gelo são um dos motivos de mudança e de se tornar herói. Exaltando também o sentido do tempo que se esvai que não pára, mas que não se esgota, renovando-se ciclicamente, dia após dia, alternando dias e noites, estações do ano, luminosidade, escuridão. A meta do homem nessas imagens parece ser lutar, enfrentar seus medos, reencontrar-se no drama da temporalidade.

    Este ser humano se transforma na figura do herói épico, que se apropria das armas ofertadas por este herói, o saber, ousar, querer e calar (MÜLLER, 1997). No entanto, a vertigem da altura surge em relatos de escaladores, como alpinistas de alta montanha, pesquisadores de dossel e espeleólogos, como sendo o limite entre estar vivo ou não, linha tênue do desconhecido. Sem o combustível do medo não existem limites, não há ponderação, há um sopro imaginário para o deslize no vazio, queda abaixo.

    A ousadia e o imprevisto são dotados de dimensões para ultrapassar o inusitado, o risco, a aventura. Ao assumir a vertigem, o ser humano abre mão da existência desses momentos excepcionais, portanto, demonstra fraqueza, reconhece seus limites. O que corrobora Bruhns (2003), pois fraqueza não constitui uma característica do “sexo forte”(p. 48). O limite não é externo ou imposto, aprender arriscar dentro de um vislumbre de futuro mostra a liberdade que o ser humano pode lhe proporcionar em sua vida.

    A representação do imaginário da vertigem de altura é mais um elemento das práticas sociais e sua identidade. Estas ações são normatizadas pelo comportamento, suas identidades nos papéis sociais, que passam a ser o perfil de uma determinada tribo e suas perspectivas de consumo dentro da sociedade contemporânea (FERREIRA; COSTA, 2003; COSTA 1999 apud FERREIRA; EIZIRICH, 1994).

    Observam-se, nesta relação do ser humano e natureza, duas vertentes dentro da tribo dos ecoturistas, a primeira que traz enraizada a necessidade de dominação da natureza e seus recursos, de forma irracional, o consumo de marcas, de roupas e equipamentos que transformam seus usuários em componentes desse universo que a mídia impõe. Do outro lado, a tribo que procura um contato ético, uma vivência saudável e hedonista nos momentos do ócio ativo desfrutado na relação com o mundo natural, em que o ser humano identifica-se como parte integrante da natureza, e que dela é dependente para sobrevivência e continuidade como espécie.

RPPN Ecoparque de Una

    Localizada no sul da Bahia, dentro de um dos 25 hotspots 4 existentes no planeta, a RPPN Ecoparque de Una tem como objetivo desenvolver o ecoturismo na Costa do Cacau (COTES; MOREL, 2003). O principal atrativo da trilha interpretativa da RPPN, além de sua natureza bem conservada, é a aventura de caminhar em passarelas suspensas no dossel.

RPPN Ecoparque de Uma. Passarelas suspensas no dossel. Foto: visiteabahia.com.br

    Na análise da distância percorrida na trilha interpretativa, obtiveram-se, aproximadamente, 2.105 m em sua extensão total5. A aproximadamente 937 m do início da trilha, chega-se a um quiosque construído na encosta do terreno de onde sai a primeira passarela no dossel, com aproximadamente 12 m de extensão em seu primeiro vão, até chegar a primeira plataforma fixada em um angelim pedra (Andira nitida) com uma altura6 de 8,6 m, aproximadamente.

    Da primeira plataforma a segunda, o vão da passarela é de 32 m de extensão, estando esta passarela a 12,8 m de altura, aproximadamente. A segunda plataforma está fixada a aproximadamente 16 m de altura, em um angelim coco (Andira stipulacea). A distância, aproximadamente, da segunda plataforma a terceira é de 36 m com 12,5 m de altura. A terceira plataforma foi fixada em um jatobá (Hymenaea oblongifolia), a uma altura aproximada de 9,50 m, e desta sai o último lance de passarela7, com uma extensão de 17 m aproximadamente, até um quiosque na encosta do terreno. Perfazendo uma distância total no trecho de passarelas suspensas de aproximadamente 97 m de trecho plano.

Aspectos metodológicos dos dados referentes aos visitantes

    Os dados foram coletados de agosto de 2003 a abril de 2004, iniciando com abordagem aos visitantes que chegavam para percorrer a trilha interpretativa da RPPN Ecoparque de Una e esclarecimentos a respeito de sua participação voluntária. Um termo de compromisso era fornecido para os visitantes, de acordo com as diretrizes éticas internacionais para pesquisas biomédicas envolvendo seres humanos, segundo o Conselho Nacional de Estudo e Pesquisa e do Sistema Nacional de Saúde.

    Em seguida, colocava-se, no tórax dos voluntários, monitores de FC Polar S710, os quais eram identificados pelas cores verde, azul e preta. A amostra continha um total de 72 visitantes voluntários divididos em gênero, nível de treinamento (NTR) e faixa etária (FE) (Tabela 1).

Tabela 1. Faixas etárias e níveis de treinamento estipulados para amostragem

    No início da trilhas, o aparelho Polar S710 era disparado em sincronia com o cronômetro do pesquisador. Esta manobra tinha como objetivo anotar, nas planilhas dos sujeitos voluntários, o exato momento de início da passagem no trecho das passarelas suspensas no dossel, para posterior identificação na planilha do programa Polar das variações na freqüência cardíaca de acordo com a metodologia proposta (COTES et al., 2007). Para não incomodar e nem haver interferência na coleta de dados, foram fixadas etiquetas cobrindo o visor dos monitores utilizados pelos sujeitos voluntários. Imediatamente após o término do percurso, eram travados os cronômetros.

    Do início da trilha em diante, a única abordagem aos voluntários, feita pelo pesquisador, era no momento em que os mesmos chegavam ao início das passarelas suspensas no dossel. Abordagem esta para indagar se eles apresentavam a sensação de vertigem/medo ou não diante das passarelas.

    É importante ressaltar que o trecho anterior ao quiosque é de descida, e, antes de os visitantes passarem pelas passarelas suspensas, os guias explicam como elas foram construídas, as normas de segurança para atravessar o que demorava em média de cinco a dez minutos, antes de iniciar este trecho. O que permite o retorno da freqüência cardíaca aos valores de aquecimento (FOX; MATHEUS, 1986).

    Na tabela dois, temos o perfil dos 72 visitantes amostrados, indicando a FE, o NTR, o sexo e o número de indivíduos que relataram vertigem diante das passarelas suspensas sobre o dossel.

    Na análise estatística, foi adotado o delineamento experimental totalmente causalizado, num arranjo fatorial 3 x 3 x 2 (3 faixas etárias, 3 níveis de treinamento e 2 sexos), com quatro repetições, sendo cada sujeito considerado como uma unidade experimental (COTES et al., 2007).

    Fox e Matheus (1986) colocam que o aumento da FC é devido, em algumas situações, a um menor ritmo de estímulo nos nervos vagos, ou de maior estímulo nos nervos cardioaceleradores simpáticos, ou ainda de ambos. Quando um indivíduo está exercitando-se, este processo é simultâneo. Outro mecanismo que eleva a FC, de suma importância, é orquestrado pelas células glandulares, onde, em situações de alarme, medo, ou antes e durante os exercícios, liberam, além da noradrenalina a adrenalina, produzindo o aumento da FC. Åstrand e Rodahl (1980) sugerem que fatores emocionais do tipo nervosismo e apreensão podem determinar o aumento da FC para trabalhos de intensidade leve ou moderada.

Tabela 2. Perfil de 72 visitantes, indicando a faixa etária (FE), o nível de treinamento (NTR), o sexo

 e o número de indivíduos que relataram vertigem diante das passarelas suspensas sobre o dossel

O imaginário da vertigem/emoção dos visitantes da RPPN Ecoparque de Una nas passarelas suspensas no dossel

    Antes do início do trecho das passarelas, foram feitas abordagens nos voluntários, indagando se sentiam vertigem/emoção diante das mesmas. Posteriormente a informação era anotada na ficha correspondente à cor do monitor dos 72 visitantes amostrados.

    Nesse contexto, alguns voluntários poderiam mascarar a vertigem, comportamento que preferem não admitir, por isso considerou-se que o tipo de abordagem utilizada na pesquisa para detectar a vertigem de altura poderia apresentar algumas informações distorcidas.

    Decidiu-se, então, recorrer às planilhas de FC do programa Polar S-series Precision Toolkit para averiguar se as oscilações da FC tiveram valores expressivos, durante a trilha, no trecho plano de 97 m de extensão, correspondente à passagem nas passarelas suspensas intercaladas por plataformas em meio ao dossel.

    Para tanto, utilizaram-se as planilhas do monitor Polar 710, recorrendo-se ao maior valor de FC no período de um minuto antes de o voluntário entrar no trecho das passarelas suspensas no dossel, para comparar com o maior valor da FC no trecho de passarelas suspensas.

    Foram estipuladas que as variações iguais ou superiores a 20 batimentos por minuto (bpm) como expressivas, quando comparadas com o maior valor de FC no trecho anterior ao momento da entrada nas passarelas suspensas, e, dentro deste universo, mensuradas as variações iguais ou superiores a 30 bpm (Tabela 3).

Tabela 3. Perfil de 48 visitantes, indicando a faixa etária (FE), o nível de treinamento (NTR), o sexo 

e o número de visitantes com variações na FC igual ou maior que 20 bpm e igual ou maior que 30 bpm

Resultado da análise da vertigem/emoção dos visitantes no trecho das passarelas suspensas no dossel

    Com relação ao discurso dos visitantes referente à vertigem/emoção nas passarelas suspensas no dossel, dos resultados obtidos entre os 72 visitantes, apenas 15 voluntários, ou seja, 2 do sexo masculino e 13 do feminino admitiram ter sentido vertigem no trecho referente às passarelas.

    Por outro lado, as análises da FC dos indivíduos durante o trecho das passarelas suspensas no dossel, dentro da variação proposta de ≤ 20 bpm, sugere que pode ter havido uma alteração da FC em função da vertigem/emoção de altura. Observou-se, nos gráficos do programa Polar S710, que 26 visitantes apresentaram variações ≤ 20 bpm e 22 visitantes apresentaram variações ≤ 30 bpm, durante o trecho de passarelas. Com 25 visitantes do sexo masculino e 23 do feminino, com um total de 48 sujeitos com variações de FC, dentro da metodologia proposta (Tabela 3).

    A comparação das alterações na FC, dentro da metodologia para FE, indica semelhança na quantidade de sujeitos com variações ≤ 20 bpm. Ou seja, 17 visitantes para FE de 15 a 30 anos; 16 na de 31 a 45 anos e 15 visitantes para FE de 46 a 60 anos, com discreta diminuição do número de visitantes que apresentaram variações na FC, à medida que a FE aumenta. Ao constatar a diminuição do número de visitantes com alteração na FC, à medida que diminui a faixa etária, pode-se sugerir que as alterações tiveram um motivo, pois os mais velhos teoricamente deveriam ter a FC mais elevada.

    As alterações da FC apontam outro dado relevante, dos 48 visitantes que apresentaram variações na FC, 25 são do sexo masculino e 23 do feminino; evidenciando uma maior quantidade de homens com alterações na FC.

    A análise da variação da FC relacionada ao NTR indica variações para 13 visitantes no NTR sedentário, 19 visitantes não treinados e 16 treinados (Tabela 4). Neste caso, a literatura aponta que as maiores FC deveriam ser para os sedentários, o contrário dos dados coletados.

Tabela 4. Número de visitantes que tiveram variações na FC dentro da faixa etária e nível de treinamento

Á guisa de conclusão

    Para Orlandi (2007), a verbalização dos sujeitos está diretamente relacionada com sua vivência enquanto sujeito pertencente a uma sociedade; sociedade esta diretamente relacionada a suas ideologias (ORLANDI, 2007). O que a autora chama de relação entre sentido e formulação.

    Segundo Orlandi (2007), o discurso tem alicerces sustentados nos resultados de suas relações sociais; todavia, o que sente o sujeito é proporcionado por questões ideológicas e sociais.

    A par destas informações, sugere-se que, apesar de o discurso dos visitantes apontar não ser considerada uma atividade radical (POCIELLO, 1987), o imaginário da vertigem de altura no trecho correspondente às passarelas suspensas no dossel poderia estar presente em 48 visitantes da amostra; visto que Goleman (1995) sinaliza problemas para identificar emoções peculiares devido à dificuldade de encontrar verbalização para descrever sensações no repertório do nosso vocabulário. O autor sugere uma lista complexa de emoções dentro do vocabulário do ser humano: a ira, a tristeza, a vergonha, a surpresa, o amor, o medo, o nojo e o prazer.

    Identificamos, a partir dos comentários dos visitantes voluntários, que a trilha não apresenta fortes emoções para ser classificada dentro do conceito de esportes radicais (COTES et al.,2007). Entretanto, quando analisado os dados do freqüencímetro Polar S710, podemos sugerir que houve, sim, emoção durante o trecho de passarelas suspensas no dossel de 97 m plano. O sujeito tenta camuflar ou omitir em sua verbalização o que fisiologicamente não pode ocultar as variações da FC.

    Ao contrapor a FC com a análise de discurso as palavras podem estar deixando de fazer sentido. No caso específico, o discurso dos sujeitos, comparado com as variações da FC, pode estar relacionado com o que afirma Bruhns (2003), pois medo não é um sentimento do repertório do sexo masculino dentro da sociedade construída com alicerce machista.

    Neste sentido, Orlandi (2007) sinaliza

    Resta acrescentar que todos esses mecanismos de funcionamento do discurso repousam no que chamamos formações imaginárias. Assim não são os sujeitos físicos nem os seus lugares empíricos como tal, isto é, como estão inscritos na sociedade, e que poderiam ser sociologicamente descritos, que funcionam no discurso, mas suas imagens que resultam de projeções (p.40).

    Ainda segundo Orlandi (2007), o imaginário está diretamente relacionado com as questões sociais, delineadas pela história, orquestrada em uma sociedade mediada por relações de poder. O sexo masculino na sociedade é tido como o “sexo forte”. E força e poder do homem másculo não se identificam com medo e fragilidade.

    Apesar de 48 visitantes, da amostra, terem apresentado alteração na FC no trecho das passarelas suspensas no dossel, essa variação poderia sugerir uma indicação de emoção (a surpresa, o amor e ou o prazer) e não vertigem (GOLEMAN, 1995). Pelo simples fato de poder estar tendo a oportunidade de ver a floresta em outra perspectiva, do topo das árvores.

    Ao levar em consideração que as AFAN produzem em seus praticantes sentimentos de aventura, incertezas e situações árduas, aproximando-se da formação discursiva do imaginário machista, para o sexo masculino sentir medo é algo inadmissível na sua verbalização; mas podendo sugerir vertigem/medo e fragilidade quando analisada as alterações da FC.

    A análise dos dados pode estabelecer outro critério para mensurar o imaginário da vertigem/medo de altura utilizando variações de FC, além de indicar que o sexo masculino pode ter mascarado, por uma questão cultural de gênero, a vertigem de altura. Sugere-se a utilização da metodologia empregada na análise de discurso referente as AFAN, além de uma pesquisa mais ampla e com público que tenha opção por outros esportes de aventura ou radical.

Notas

  1. Termo utilizado para designar o conjunto de copas de árvores, abrangendo grande diversidade de interações bioquímicas, físicas e químicas, sendo a porção receptora da maior parte da energia que sustenta esses ecossistemas.

  2. Representações de aventura, paixões, emoções, desejos, riscos, afetos, adrenalina e desafios (Morel; Cotes, 2003).

  3. Copa de grandes árvores que sobressai da cobertura contínua do dossel, ficando mais alta que esta cobertura.

  4. Regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta (MYERS et al., 2000; BRIGHT; MATTOON, 2001).

  5. Todas as medidas de comprimento da trilha e alturas das passarelas e plataformas foram aferidas com uma trena de 50 metros.

  6. Todas as alturas de plataformas e passarelas (altura aferida do seu meio) foram medidas do seu piso ao solo.

  7. Não foi medida a distância da primeira e última passarela ao chão, por ser inexpressiva a altura.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires, Noviembre de 2011
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