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Aspectos da Educação Infantil no novo curso de 

Licenciatura em Educação Física da UFSC: um estudo de caso

Aspectos de la Educación Inicial en el nuevo curso de Licenciatura en Educación Física de la UFSC: un estudio de caso

 

*Licenciada em Educação Física/UFSC

**Licenciado e Mestre em Educação Física/UFSC

Professor DEF/CCBS/UFS

(Brasil)

Giane Gotardo*

giane_gotardo@hotmail.com

Cristiano Mezzaroba**

cristiano_mezzaroba@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho busca contemplar as dúvidas referentes à formação acadêmica dos alunos do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina. Objetivou-se a partir de experiências de estágios na educação infantil e às dificuldades inerentes deste processo. De abordagem qualitativa e caracterizada como uma pesquisa descritivo-exploratória, este estudo de caso desenvolveu-se a partir de uma análise documental do Projeto de Reformulação do Curso de Licenciatura em Educação Física e de entrevista semi-estruturada, feita com quatro professores que atuam ou atuaram em disciplinas que tem relação direta ou indireta com os temas da infância/Educação Infantil. Também foram analisadas as ementas e os planos de ensino propostos por cada disciplina, buscando respostas sobre as questões da Educação Infantil e da Educação Física. Dialogando com a literatura sobre os temas e com os dados oriundos das entrevistas realizadas com os professores e que foram transcritas, analisamos que o atual modelo do currículo do curso de licenciatura em Educação Física não faz muitas abordagens sobre os temas relacionados à criança, infância e Educação Infantil. Muitas teorias específicas à temática da Educação Infantil acabam não comentadas no processo de formação dos futuros professores, o que nos leva a crer que uma reforma curricular se faz necessária para que todos os temas relacionados à Educação Física sejam abordados. Podemos concluir, entre outras coisas, que este estudo apresenta-se como um elemento que possibilita repensar a necessidade e urgência de tratar temas da infância e da Educação Infantil em um curso de formação de professores de Educação Física, haja vista a pouca ênfase dada a tais questões no currículo do curso observado.

          Unitermos: Educação Física. Educação Infantil. Análise curricular. Formação de professores.

 

Abstract

          This paper searches to address the questions concerning the academic progress of students from the Graduation in Physical Education of the Federal University of Santa Catarina. The objective comes from my own experience when training with children in early education and because of the difficulties I when through during the training process. From a qualitative approach and characterized as a descriptive and exploratory research, this case study was developed from a documental analysis of the Reformulation of the Degree Course in Physical Education Project and from a semi-structured interview, made with four teachers who work or have worked in disciplines that have direct or indirect relationship with the themes of childhood/early childhood education. The teaching programs and teaching plans proposed by each discipline were also analyzed, seeking answers about child education and Physical Education issues. Dialoguing with the literature about the themes and with the data from the interviews that have been transcribed with the teachers, we analyzed that the current model of the curriculum of the course in licentiateship in Physical Education does not do many approaches on issues related to children, childhood and upbringing. Many specific theories to the topic of early childhood education do not approach the process of training future teachers, which leads us to believe that a curriculum reform is needed so that all issues related to Physical Education are discussed. We can conclude, then, among other things, that this study presents itself as an element that allows to rethink the need and urgency to address issues of childhood and early childhood education in a training course for teachers of Physical Education, since there is little emphasis on such issues in the curriculum of the course observed.

          Keywords: Physical Education. Child Education. Curriculum review. Teacher training.

 

          A versão deste texto é um recorte do estudo monográfico de Giane Gotardo, orientado pelo Prof. Ms. Cristiano Mezzaroba, defendido no curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina, em julho de 2009.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Considerações iniciais

    A inclusão da Educação Infantil pela Constituição de 1988 foi o marco inicial para o reconhecimento das creches e pré-escolas na formação educacional das crianças de 0 a 6 anos. Todas as crianças passaram a ter direitos de educação proclamados pelo Estado. Foi a partir do reconhecimento da Educação Infantil, que novos e intensos trabalhos relacionados à criança foram feitos, resultando na definição do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 e mais além, em 1996, na promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), incluindo a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, vindo esta a se constituir um nível de ensino. Segundo Cerisara (2002), a Constituição de 1988 reconhece a criança no lugar de sujeito de direitos em vez de tratá-la como objeto de tutela, como era anteriormente à Constituição.

    A LDB/96 inclui a Educação Infantil com a finalidade de desenvolver integralmente as crianças de até seis anos de idade1, ofertando também creches para crianças de até três anos de idade e as pré-escolas para as crianças de quatro a seis anos. Portanto, a Educação Infantil passa a ser um direito da criança e um dever do Estado.

    Com tantas mudanças no cenário educacional, outra importante questão, relacionada à Educação Física, é que esta passa a ser vista como um componente curricular, também começou a ganhar seu espaço após a publicação da LDB/96. De acordo com este documento (Art.26, § 3o.), “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Sendo assim, a Educação Física passa a fazer parte do currículo da Educação Infantil, e assim ajudará na formação de cada criança.

    A Educação Física, pela suas possibilidades de desenvolver todas as dimensões das crianças, tem o mesmo grau de importância das demais atividades que compõe a Educação Infantil. Ter um profissional, que além de se enquadrar na proposta pedagógica da escola, também privilegie a Educação Física com a sua importância, contribui para a formação das crianças de 0 aos 6 anos, que viverão as mais complexas fases do desenvolvimento humano, tanto nos aspectos intelectual, emocional, social e no motor desta faixa etária. Para Machado (1994), a criança é um ser social, o que significa dizer que seu desenvolvimento se dá entre outros seres humanos, em um espaço e tempo determinado. A infância é um período da vida considerado de grande importância não somente pelo momento atual destas crianças, mas também pelas repercussões da Educação Infantil em períodos futuros (adolescência, juventude e fase adulta).

    Apesar dos grandes passos dados pela Educação Física, sendo incluída na Educação Infantil, ao considerarmos o trabalho da Educação Física nesse nível educacional, percebemos que existem lacunas, principalmente no que se refere aos conteúdos que são trabalhados. Segundo Mello (2001), o aspecto lúdico é importante, entretanto, os conteúdos das aulas de Educação Física não podem resumir-se a uma visão recreacionista.

    Muitos professores acabam utilizando o momento da Educação Física para deixar as crianças livres nos parques das creches, sem dar a elas um sentido do espaço parque e da função da Educação Física no desenvolvimento integral da criança. É necessário que se tenha uma intencionalidade ao deixar as crianças brincarem no parque, para que elas consigam se desenvolver da melhor maneira possível.

    Para confirmar nossa afirmação, apresenta-se o argumento de Mello (1996, p.127):

    Uma Educação Física que visa o desenvolvimento da criança como um todo, a intencionalidade ou conscientização do movimento torna-se imprescindível, principalmente na idade pré-escolar, para que a criança possa conhecer a si própria, testar seus limites, modificar seus gestos, compreender a função de seus movimentos e criar novos movimentos que a auxiliem a superar suas dificuldades.

    Os conteúdos não são especificados com clareza, permitindo que diversas posturas pedagógicas sejam assumidas, fazendo com que as atividades de movimento sejam restringidas a brincadeiras no parque, jogos de correr, brincadeiras nos espaços internos e externos da creche, porém, todas com o objetivo da recreação. A princípio parece ser uma boa idéia, entretanto, esquecemos, como professores com a responsabilidade de mediação pedagógica, de aplicar todo nosso conhecimento em atividades e movimentos em momentos que poderiam estar sendo mais bem utilizados pelas crianças. Com isso, entendemos que o conteúdo da Educação Física nesse espaço educacional não pode ser trabalhado e desenvolvido apenas com aplicação de atividades com regras já pré-estabelecidas, mas sim servir como um espaço de vivências onde a criança também possa buscar através da sua própria ação, significados, novas experiências e conhecimentos.

    Ao discutir o ensino de Educação Física nas escolas, Vago (1999) demonstra que a LDB/96 estabeleceu a obrigatoriedade dessa disciplina, porém não definiu os critérios para o seu ensino. Com isso, o aparecimento de diferentes formas de realizar o ensino de Educação Física, na maioria das vezes, descaracterizando o ensino curricular dessa disciplina, acabou diminuindo sua importância como componente da grade curricular em relação às demais disciplinas.

    A partir dessas questões de descaracterização da Educação Física na Educação Infantil, começamos a nos deparar com outras questões que cada vez com mais frequência vão surgindo no nosso campo de atuação, principalmente e como conseqüência da falta de clareza dos conteúdos. Segundo Caparroz e Bracht (2007), ex-alunos da licenciatura apontam dificuldades em relação ao trabalho que desenvolvem. Essas dificuldades surgem desde como realizar e como organizar o trabalho docente em Educação Física na escola/creche, até em como concretizar o conteúdo visto durante a graduação.

    Betti (1998, p.19) descreve que "a principal tarefa da Educação Física na escola é introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la.” Esse conhecimento supostamente todos os professores de Educação Física têm, aprendidos de diversas maneiras nos cursos de graduação e antes disso, em decorrência de suas experiências anteriores. O que lhes falta é conhecimento para concluir um planejamento que insira essas atividades de maneira que sejam bem compreendidas pelas crianças, ou ainda, como Betti (1992 p.286) escreve: “é preciso enfim levar o aluno a descobrir os motivos para praticar uma atividade física, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com a atividade”.

    Caparroz e Bracht (2007) ainda citam que as maiores dificuldades dos professores de Educação Física é centrar as reflexões na problemática, ou seja, a dificuldade de organizar/planejar/sistematizar o ensino da Educação Física na creche e, conseqüentemente, a dificuldade de ensinar esse componente curricular.

    O professor de Educação Física deve auxiliar a criança a compreender o seu sentir e o seu relacionar-se com o movimento, e ao mesmo tempo tem que ser capaz de planejar e buscar didáticas para que isto aconteça. Porém, na Educação Infantil parece ser ainda mais difícil trabalhar com o planejamento da Educação Física, e esta vem sendo uma das maiores questões dos novos professores de Educação Física que estão atuando na Educação Infantil.

    É desta forma que vemos que a questão não é “como” fazer a organização do planejamento, mas sim “por que” o fazer.

    Ostetto (2006, p.178) enfatiza essa questão, argumentando que:

    a elaboração de um planejamento depende da visão do mundo, de criança, de educação, de processos educativos que temos e que queremos: ao selecionar um conteúdo, uma atividade, uma música, na forma de encaminhar o trabalho. Envolve escolha: o que incluir, o que deixar de fora, onde e quando realizar isso ou aquilo. E as escolhas a meu ver, derivam sempre de crenças e princípios.

    Ainda sobre esta questão, Ostetto (2006, p.189) alega que “a proposta de planejamento, na ação, vai depender, em muito, do educador”. Não basta apenas que o professor tenha informações e queira planejar, mas sim, que tenha compromissos com as crianças e saiba a importância que elas têm.

    Sendo assim, fica a pergunta: A descaracterização da Educação Física na Educação Infantil se dá pela falta de conteúdos ministrados durante a graduação para esse nível educacional? Ou mesmo pela própria ausência da tematização do assunto? A discussão é recente, complexa, mas necessária, principalmente em função deste “novo” e rico espaço para os professores de Educação Física atuar.

    Acreditamos que no decorrer de seus cursos de formação inicial, outros acadêmicos dos cursos de Licenciatura em Educação Física também tenham sentido essas mesmas dificuldades ao entrarem pela primeira vez em contato com a Educação Física na Educação Infantil (quando oportunizada para este nível de ensino), e desta maneira, neste texto, buscamos encontrar possíveis compreensões a respeito das relações entre Educação Física e Educação Infantil, pensando no currículo de um curso de licenciatura, pela sua particularidade de estar diretamente ligado à formação de professores de Educação Física.

    O Projeto de Reformulação do curso de Licenciatura em Educação Física (PPP - CDS/UFSC, 2005), caracteriza a Educação Física como uma profissão que “determina a aquisição de conhecimentos de origem acadêmica para o desenvolvimento das atividades profissionais.” Isso podemos atribuir a qualquer profissão, não apenas à Educação Física. Porém, o que o referido projeto quer argumentar é que:

    a formação profissional é justificada principalmente por existir diferenciação entre a atuação de um profissional da área e um não-habilitado. Esta diferenciação deverá ser visualizada claramente no domínio de princípios teóricos básicos e aplicados que direcionam a ação profissional, e não na simples posse de habilidades motoras e de técnicas obtidas através de tentativa e erro que caracterizam um leigo ou não-habilitado. (PPP/CDS/UFSC, 2005, p.14-15)

    Sendo assim, formar professores comprometidos com a sociedade e com o grupo com o qual estão trabalhando, respeitando a cultura e seus contextos particulares, a partir das diferenças, também são questões a serem trabalhadas e discutidas pelos futuros professores.

    Sabendo “dominar” os conteúdos da Educação Física, tanto os teóricos quanto os práticos, os cursos, enfim, formarão professores capazes de discutir, fundamentar e justificar a presença da Educação Física como componente curricular na creche, podendo assim valorizar ainda mais a nossa profissão.

    Assim, o objetivo central desta pesquisa foi analisar se (e como) o curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina trata da dimensão da educação infantil em seu documento oficial, ou seja, seu currículo, pensado como um curso específico de licenciatura, formador de professores de Educação Física.

Procedimentos metodológicos da pesquisa

    Esta pesquisa é uma pesquisa de abordagem qualitativa, pois se trata de uma pesquisa que privilegia a análise de processos através do estudo das ações sociais individuais e grupais, como descreve Martins (2004). Realizando um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude quanto em profundidade e tratando as unidades sociais investigadas como totalidades.

    Caracterizou-se também como uma pesquisa exploratória (TRIVIÑOS, 1987), pois se trata de um estudo preliminar, em que o maior objetivo é buscar saber qual é a importância dada para a Educação Infantil no curso de Licenciatura em Educação Física da UFSC observando seu currículo, e também pelo fato de que através dos resultados obtidos, novas pesquisas com um maior aprofundamento nesta temática poderão surgir. E ainda segundo Junior (2008) é uma pesquisa descritiva-exploratória, realizada quando um tema não possui fontes referenciais suficientes, servindo então para a formulação de um problema para investigação e criação de hipóteses, procurando descrevê-las, classificá-las, compará-las, interpretá-las e avaliá-las, com o objetivo de explicar situações para idealizar futuros planos e decisões.

    De caráter descritivo, visou também observar, registrar e posteriormente analisar as opiniões de um grupo específico de professores do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina (CDS–UFSC), pois a descrição tem finalidade de mostrar à comunidade da Educação Física e áreas afins, a necessidade e a importância de se observar os conhecimentos sobre infância em se tratando de formação de professores de Educação Física, campo do conhecimento que tem a Educação Infantil como uma de suas possibilidades de reflexões, pesquisas e intervenção profissional.

    Esta pesquisa foi desenvolvida a partir de um estudo de caso (MEKSENAS, 2002), que é definido como um método de pesquisa empírica que conduz a uma análise compreensiva de uma unidade social significativa2. Neste caso, por meio de uma amostra intencional, foi selecionado um grupo de quatro disciplinas e quatro professores que atuam no curso de Licenciatura em Educação Física da UFSC. O estudo de caso deve, segundo Meksenas (2002, p.119): “atingir a unidade estudada em profundidade, isto é, lançar mão de vários recursos na obtenção dos dados da pesquisa”. Com isso, a presença do investigador se torna obrigatória durante o processo da pesquisa, possibilitando também a sua interação com os sujeitos pesquisados, característica fundamental, que torna o estudo de caso flexível a ponto de ser possível alterar os procedimentos de investigação para a busca de melhores resultados.

    A pesquisa foi realizada em ambiente acadêmico, com o objetivo fundamental de descobrir respostas mediante o emprego de procedimentos científicos. Desta forma, foi realizada inicialmente, uma análise documental, que buscou conhecer o projeto político pedagógico do curso já citado e que foi a base principal para a seleção de quatro disciplinas do referido curso que, de alguma maneira, tratam das temáticas da infância/Educação Infantil em suas ementas e que posteriormente, possibilitaram o contato com os quatro professores do curso que atuam ou já atuaram nestas disciplinas.

    O objetivo da análise das ementas foi chegar o mais próximo possível das disciplinas com caráter pedagógico. As disciplinas foram escolhidas por base da ementa apresentada no Projeto de Reformulação do Curso de Licenciatura em Educação Física, ou seja, as que nos apresentavam um maior contato e uma maior abrangência sobre os conteúdos da Educação Infantil. As que julgamos com maior afinidade ao problema proposto foram disciplinas de diversas fases/períodos, não seguindo uma ordem ou pré-requisito. Sendo assim, as disciplinas selecionadas foram as seguintes:

  • Fundamentos Histórico-Pedagógicos da Educação Física – 1ª Fase

  • Fundamentos Sócio-Antropológicos da Educação Física – 2ª Fase

  • Jogos e Brinquedos da Cultura Popular – 4ª Fase

  • Educação Física na Infância – 5ª Fase

    Após a seleção das quatro disciplinas, solicitamos aos professores atuantes de cada disciplina uma cópia do plano de ensino, pois foi com ele que fizemos uma maior observação sobre os conteúdos tratados e a aproximação que a disciplina e/ou professor faz com a infância/Educação Infantil, possibilitando assim, a formulação das questões da entrevista semi-estruturada.

    Contextualizações históricas, conceitos, práticas corporais e teorias do desenvolvimento humano fazem parte dos conteúdos das ementas das quatro disciplinas. Com enfoques também para a Educação Infantil, as quatro disciplinas contam com conteúdos pedagógicos, fisiológicos, sociológicos e antropológicos, todos buscando a construção, socialização e aprendizagem de todas as possibilidades de trabalhos que são possíveis na Educação Infantil e também em outros níveis de ensino.

    Para se chegar a um aprofundamento e se conhecer melhor o objeto de estudo, optou-se pelo instrumento metodológico da entrevista semi-estruturada. A entrevista semi-estruturada, segundo Junior (2008) constitui-se de enquetes destinadas a conhecer a opinião de uma população a respeito de um determinado fenômeno e que permite obter o dado na hora, com maior precisão na verificação de erros de interpretação, possuindo um roteiro baseado em uma lista de temas. Ela foi o instrumento principal da investigação, visando buscar respostas para questões como o conhecimento sobre infância e até mesmo sobre as questões curriculares do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSC, na perspectiva dos professores que trabalham com a formação de professores de Educação Física.

    A entrevista semi-estruturada visa garantir que todos os entrevistados respondam as mesmas perguntas, garantindo assim, um resultado mais preciso das questões discutidas. Por se adaptar ao entrevistado, a entrevista semi-estruturada também facilita a continuidade do projeto e das análises, já que o entrevistador pode acrescentar novas questões durante a conversa, buscando assim, chegar cada vez mais próximo de seu objetivo final.

    A partir da transcrição das entrevistas, fizemos a análise das mesmas. A análise das entrevistas foi realizada utilizando-se das ideais sugeridas por Bardin (1977), ou seja, fizemos uma análise de conteúdo das respostas obtidas nas entrevistas. Bardin (1977, p.42) se refere à análise de conteúdo como um:

    conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

    Depois de transcritas, organizamos as entrevistas em três fases, que segundo Bardin (1977, p. 95) são: 1 – a pré análise; 2 – a exploração do material, e 3 – o tratamento dos resultados, a interferência e a interpretação. Cada etapa tem sua especificidade, sendo assim:

  • Pré-análise: Serviu para sistematizar as idéias, através de um programa flexível, baseado nas respostas obtidas, na busca de aproximar a análise aos objetivos do estudo e na elaboração de indicadores que fundamentam a interpretação final.

  • Exploração do material: Nesse momento os documentos foram analisados, tomando como base suas questões em íntima relação com o referencial teórico. A partir desse momento criaram-se as categorias de análise, ocorrendo à codificação e identificação das unidades de registro das entrevistas.

  • Interpretação referencial: A partir dos dados empíricos e das informações coletadas, se estabeleceram relações entre o objeto de análise e seu contexto mais amplo.

    O roteiro da entrevista foi elaborado a partir das questões norteadoras da pesquisa, constituído por oito questões, assim descritas:

  • Teve alguma experiência com Educação Infantil? Qual? Por quanto tempo? Comente.

  • Qual o seu entendimento sobre infância?

  • Os conteúdos de sua disciplina têm relação com o tema/conceitos/aspectos da infância? Qual(is)?

  • Qual a aproximação que sua disciplina faz com a temática da Educação Infantil?

  • A atual grade curricular do curso de licenciatura é suficiente para a formação do futuro professor de Educação Física que irá trabalhar com Educação Infantil?

  • O atual currículo permite uma aproximação e aprofundamento no trato que a Educação Física tem com os conceitos de infância?

  • Como você vê o trabalho que as instituições educacionais, mais especialmente as creches, têm em relação à Educação Física?

  • Qual o papel do professor que atua com formação de professores de Educação Física pensando naqueles alunos que pretendem atuar na Educação Infantil?

    Para terminarmos a descrição dos procedimentos metodológicos desta pesquisa, esforçamo-nos, agora, para relatar o procedimento quanto à análise documental realizada.

    Com a mudança do currículo de licenciatura, que teve um aumento da carga horária e da inclusão dos chamados PPCC 3, constatamos uma maior inclusão das questões da Educação Infantil pelo currículo de licenciatura do CDS/UFSC.

    A análise documental de cada disciplina nos levou a crer que os conteúdos especificados nas ementas são sim trabalhados durante a graduação. Porém, fazendo uma maior investigação, percebemos que esse trabalho ainda pode estar sendo de menor relevância, já que as disciplinas e os professores não seguem uma ordem dos conteúdos a serem apresentados, deixando assim, uma grade distância entre uma disciplina e outra.

    O papel dos professores da graduação assume diferentes rumos na formação inicial de professores de Educação Física. Isso varia de acordo com as orientações ou perspectivas conceituais adotadas nas diferentes disciplinas ou ações de formação pelo professor. Embora constituam referências sobre como a formação está sendo pensada ou concebida, as orientações conceituais geralmente dirigem as atividades de formação, como planificação, desenvolvimento, ensino e avaliação (NASCIMENTO, 2002). Cada professor segue uma linha própria para a escolha dos critérios de avaliação, planejamento4 e metodologia utilizada em sala, podendo assim, deixar de passar conteúdos que seriam úteis na formação dos acadêmicos.

    Diferente do currículo recém-extinto (da licenciatura plena), que somente na sétima fase era oportunizado aos alunos uma experiência direta com a Educação Infantil – e apenas se o acadêmico escolhesse esta área (chamada de “Aprofundamento em Educação Física escolar”) – o novo currículo do curso de licenciatura trabalha com as disciplinas de cunho “infantil” em todo o processo de formação dos acadêmicos, desta maneira, ao nosso ponto de vista, podendo formar um futuro professor de Educação Física que queira atuar na Educação Infantil, mais preparado. Cabe ainda, ressaltar a importância dos estágios obrigatórios e até mesmo os não-obrigatórios, independente dos currículos, extinto ou não. É no estágio que os alunos terão o maior contato e a maior experiência durante a graduação. Os estágios surgem como novas oportunidades para que os acadêmicos troquem os seus saberes com outros acadêmicos e professores, e que da mesma forma recebam novos conhecimentos das pessoas envolvidas.

    Ao repensar o novo currículo de licenciatura, o futuro professor atuante na Educação Infantil, seria capaz de atuar e elaborar seu planejamento5 com mais facilidade, sabendo privilegiar mais momentos de brincadeiras e possibilitando desta forma, que as crianças se movimentem, se expressem e reconheçam os significados lúdicos6.

    Ao iniciarmos esta pesquisa, todo o material que tínhamos era muito amplo, havia muitas questões a serem levantadas e tudo poderia ficar muito vago se não fizéssemos uma seleção e uma análise do que seria mais importante e útil para os resultados finais da pesquisa, para nos confirmar, Ludke & André (1986, p.46) dizem que “na maior parte dos estudos qualitativos, o processo de coleta se assemelha a um funil”, ou seja, foi preciso reunir todo o material e começarmos a separá-los.

    Todo o material foi analisado e, segundo Bardin (1977), dividido por categorias, ou seja, “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos.” (Ibid., p.117).

Elementos teóricos da pesquisa

Contextualizando a Educação Infantil

    A Educação Infantil, segundo Rocha (1999), “tem como objetivo as relações educativas travadas num espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a criança de 0 a 6 anos de idade”. Com o reconhecimento da Educação Infantil pela Constituição e a inclusão das creches e pré-escolas na formação das crianças, os estudos sobre a Educação Infantil vêm ganhando espaço e cada vez mais caracterizam a Educação Infantil como uma das etapas fundamentais para a formação integral de uma criança. Curtiss (1988) diz que é o período pré-escolar a fase mais importante para a formação de uma pessoa.

    Curtiss (1988), ainda ao fazer uma análise da Educação Infantil, enfatiza que as crianças construirão, nessa idade, os principais instrumentos interiores que servirão de modo inconsciente para se relacionar, descobrir e se desenvolver.

    O planejamento e a construção da infância e da educação, é entendido por Debortolli et al (2002, p.92), que diz que “a realização do direito à educação não se materializa apenas no plano legal ou no plano das boas intenções políticas. Estes são necessários, mas não suficientes. Trata-se de uma construção cotidiana, de sujeitos concretos.” Estamos em um momento em que a concepção de infância está mudando muito e a criança requer uma ampla condição de contatos e estímulos por parte de todos que a cercam, inclusive o ambiente escolar e das creches.

    Tentar encontrar formas de integrar a Educação Física e a Educação Infantil, e ainda tirar o melhor proveito disto é a maior missão dos novos professores. Isso significa que nós, professores de Educação Física, temos que dar muito mais atenção ao conteúdo que vamos trabalhar e a maneira como vamos expor e também construir algum conteúdo às creches, pois temos que levar em conta que precisamos montar um programa que contemple diferentes linguagens, expressões e brincadeiras, sem perder o lúdico da infância.

    Toda essa reflexão só pode ser feita se levarmos em conta que o trabalho do professor de Educação Física e do professor de Educação Infantil não pode ocorrer de maneira separada. Deve ser um trabalho coletivo, em que, professores da turma (pedagogos) e professores de Educação Física devam ter em mente um único e específico objetivo: o desenvolvimento dos seus alunos.

    Segundo Ayoub (1999), a organização curricular em disciplinas com a presença de “especialistas” na Educação Infantil é uma discussão extremamente complexa que necessita contemplar, de um lado, as hierarquizações presentes entre os(as) profissionais da educação, as quais geram disputas por espaços político-pedagógicos e, de outro, os riscos de uma abordagem fragmentária de conhecimento que tende a compartimentar a criança. Porém, vale reforçar que a parceria entre os docentes é muito importante entre todos que atuam nas instituições de Educação Infantil, e a própria autora Ayoub (1999, p.56) diz que:

    A idéia da possibilidade de construirmos relações de parceria, de confiança, não de hierarquizadas, entre diferentes profissionais que atuam na educação infantil, poderíamos pensar não mais em professoras (es) “generalistas” e “especialistas”, mas em professores de educação infantil, que juntas(os), com suas diversas especificidades de formação e atuação, irão compartilhar seus diferentes saberes docentes para a construção de projetos educativos com as crianças. Nesse sentido, poderíamos pensar também em parcerias com as crianças, considerando e valorizando suas experiências e interesses.

    Sendo assim, os professores de Educação Física que atuam na Educação Infantil precisam ter mais postura em relação à sua disciplina, valorizando ao extremo o seu trabalho, para que o campo de atuação cresça cada vez mais, possibilitando que novas pesquisas sobre a importância da Educação Física na Educação Infantil comecem a abrir mais espaço para nossa área, valorizando também os outros profissionais e o trabalho final das parecerias.

    Diante disto, alguns estudos relacionando a Educação Física e a Educação Infantil, buscam novos meios para orientar a integração pedagógica da Educação Básica, como propõe Ayoub (1999, p.57):

    A Educação Física na educação infantil pode configurar-se como um espaço em que a criança brinque com a linguagem corporal, com o corpo, com o movimento, alfabetizando-se nessa linguagem. Brincar com a linguagem corporal significa criar situações nas quais a criança entre em contato com diferentes manifestações da cultura corporal (entendidas como as diferentes práticas corporais elaboradas pelos seres humanos ao longo da história, cujos significados foram sendo tecidos nos diversos contextos sócio-culturais), sobretudo aquelas relacionadas aos jogos e brincadeiras, às ginásticas, às danças e às atividades circenses, sempre tendo em vista a dimensão lúdica como elemento essencial para a ação educativa na infância. Ação que se constrói na relação criança-adulto e criança-criança e que não pode prescindir da orientação do(a) professor(a).

    Repensando na maneira como as propostas pedagógicas devem ser inseridas no contexto da Educação Infantil e da Educação Física como trabalho conjunto, é que temos que analisar que as relações entre ambas as áreas e ambos os professores é de fundamental importância para que o trabalho final resulte em algo produtivo para estes dois campos tendo em vista que o aproveitamento das crianças será maior, e o crescimento dos professores também.

Educação Física na Educação Infantil

    A Educação Física, enquanto disciplina curricular da Educação Infantil deve estar atenta às particularidades desta parte da Educação Básica, considerando as crianças na sua totalidade, que possuem particularidades, vontades e culturas próprias. Deste modo, as instituições de Educação Infantil, ao vincular a Educação Física, devem evitar seguir o modelo “escolarizante” que tem a disciplina como eixo (SAYÃO, 2002b). Porém, é necessário por parte dos professores, uma capacidade de percepção, atenta em captar as vontades e necessidades das crianças para que ela possa estabelecer uma melhor relação entre o ambiente. Logo, segundo Sayão (1996):

    O espaço de educação de zero a seis anos, que foi, no passado, sinônimo de guarda e assistência às crianças, configura-se, atualmente, como o lugar onde os menores de seis anos devem ser “cuidados e educados”, por intermédio de profissionais habilitados para tal que, acima de tudo, devem respeitar as características e necessidades que as crianças desta faixa etária apresentam. (Ibid., p.262)

    Uma vez que a Educação Física está inserida no Projeto Político Pedagógico de alguma instituição de Educação Infantil, ela deve buscar se adequar ao máximo nos princípios do mesmo, enfatizando sempre a brincadeira – essência da criança – e propondo momentos em que ela possa criar e recriar as brincadeiras.

    A presença do profissional especialista é justificada pelo fato de se ter a formação mais adequada, o que nem sempre é real tendo em vista que “tradicionalmente, não há, nos cursos de formação em Educação Física, uma preocupação em formar professores para intervirem na educação de zero a seis anos” (SAYÃO, 1999, p. 23)

    Com base na importância da formação dos professores de Educação Física, o Projeto Político Pedagógico do curso de Educação Física da UFSC diz que:

    A formação de professores de Educação Física é concebida como um processo permanente e contínuo que abrange todo o percurso profissional. Esta formação progressiva é justificada, tanto pela natureza humana da profissão docente, quanto pela dinâmica e complexidade do sistema educativo. De fato, o professor não é um produto acabado, mas um indivíduo que se encontra em contínua formação num processo permanente de desenvolvimento profissional. (PPP/CDS/UFSC, 2005, p.11)

    Sendo assim, podemos questionar se realmente há uma formação contínua para que os futuros professores de Educação Física consigam atuar de forma conjunta com os professores de Educação Infantil, questionando o argumento utilizado por Sayão (1999), ao se referir que pouca atenção é dada aos estudos da Educação Infantil.

Proposta curricular e formação acadêmica

    Foi com dúvidas quanto à formação acadêmica que nos questionamos sobre a verdadeira proposta do currículo de licenciatura. Levando em conta que ambos autores deste texto cursaram Licenciatura em Educação Física (Plena) do currículo que foi extinto em julho de 2009 e que também deparamos com muitas dúvidas sobre a atuação da Educação Física na Educação Infantil, começamos este projeto de pesquisa fazendo uma análise documental do Projeto de Reformulação do Curso de Licenciatura em Educação Física, o qual deu inicio ao novo currículo que está em vigor desde março de 2006, buscando saber se houve acréscimo de disciplinas que tratem da Educação Infantil de forma que o acadêmico consiga chegar ao campo de trabalho com mais conhecimento.

    Buscando informações sobre este tema, encontramos na Biblioteca Setorial do CDS/UFSC diversos trabalhos que falavam da Educação Física e da Educação Infantil, porém, um trabalho em especial nos chamou muito a atenção. A monografia apresentada por Cecília da Silva em novembro de 2005, questionou as questões sobre “quais concepções de infância e criança são veiculadas no curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina?”. Em seu trabalho de conclusão de curso, Silva (2005) justificou-se tanto por esse tema ser pouco estudado como também porque enquanto acadêmica, percebeu o pouco enfoque dado para o assunto.

    Fazemos parte do mesmo currículo de licenciatura, que foi extinto em 2009, e sentimos a necessidade de ter um estudo mais aprofundado sobre os temas da infância durante a graduação. A importância de se ter um amplo conhecimento, isso se refere a estudar todas as áreas que cabem à Educação Física, tornou nossas pesquisas possíveis, pois assim como Silva (2005) analisou o currículo de licenciatura agora extinto, analisamos o novo currículo implantado em 2006, tivemos por base a pesquisa de Silva (2005) para saber quais melhorias foram feitas para que o curso de formação de professores de Educação Física contemplasse todas as áreas que cabem a ela.

    Ao analisar seu trabalho de conclusão de curso, Silva (2005) argumenta que:

    Pelo que pude analisar e observar nas reflexões presentes no corpo do trabalho, no âmbito das disciplinas estudadas, ainda existe um viés psicologizante e biologicista quase que predominante nas falas dos professores, assim como nas ementas do currículo investigado. A infância é entendida como uma etapa inicial da vida, regrada pelos valores de preparação para a vida adulta. Já a criança é o ser que passa por esta etapa e fica caracterizado como um sujeito em constante mudança e só estará completo quando se tornar adulto. (Ibid., p. 57-8).

    Novas pesquisas tem sido realizadas, enfatizando a falta de preparação dos futuros professores de Educação Física, atuantes na Educação Infantil. A Educação Física e a Educação Infantil possuem suas particularidades e especificidades. De acordo com Santana (apud SAYÃO, 1999, p.233) “constata-se que tradicionalmente, não há, nos cursos de licenciatura em Educação Física, uma preocupação em formar professores para intervirem na educação de zero a seis anos”. As palavras de Santana (apud SAYÃO, 1999) nos levam a pensar em que tipo de formação profissional queremos para nosso ofício docente, e em que tipo de formação estamos dando para as crianças que estão tendo oportunidade de freqüentar as instituições de educação infantil, sendo “cuidadas” e também iniciando seu processo de “aprendizagem”. As limitações de desenvolvimento estão cada vez mais claras nas séries iniciais e creches. As crianças tem sido educadas para seguirem o que está sendo sugerido, e dificilmente tem recriado ou construído novos saberes.

    Souza (2001) entende que esse processo de domesticação do corpo infantil inicia-se a partir do momento em que são negadas as crianças suas aspirações lúdicas, seus jogos. Ao negarmos às crianças que elas brinquem e se desenvolvam naturalmente, estamos descaracterizando cada vez mais a infância, e apenas pensando nas práticas pedagógicas que nos interessam.

Análise curricular

    Na análise da estrutura curricular e organização didático-pedagógica, constatamos que houve uma melhora na estruturação do novo currículo e uma melhora na definição da concepção do curso, configurado como um curso de licenciatura. O novo currículo busca formar professores capazes de articular a teoria e a prática, e “capazes de compreender o papel social da escola no que diz respeito ao processo de sociabilização e de ensino-aprendizagem, participando coletiva e cooperativamente da elaboração, gestão, desenvolvimento e avaliação do projeto educativo da escola” (PPP/CDS/UFSC, 2005).

    Para isso, o novo currículo dispõe de disciplinas que tratam tanto dos conhecimentos articuladores dos fundamentos teórico-metodológicos até mesmo questões de cultura popular. Isto tudo, dividido em eixos curriculares, ou seja, uma terminologia adotada pela Diretrizes dos Cursos de Graduação em Educação Física (Resolução n° 07/CNE/2004) bem como as Diretrizes do ENADE da Educação Física, que criam um:

    espaço de ação deixando transparecer a relação entre a teoria e a prática, a forma e o conteúdo, o saber e o fazer. Eles atuam no sentido de criar um campo de ação no qual, mantidas as características específicas de cada disciplina, seu conteúdo e método próprios, bem como o ritmo e características de cada professor, propostas coletivas possam ser desenvolvidas por conjuntos de professores, de turmas e de alunos. (PPP/CDS/UFSC, 2005)

    Os eixos são os seguintes:

  • Dimensões Biodinâmicas do Movimento Humano

  • Dimensões Comportamentais do Movimento Humano

  • Dimensões Sócio-Antropológicas do Movimento Humano

  • Dimensões Pedagógicas do Movimento humano

  • Dimensões Científico-Tecnológicas do Movimento Humano

  • Dimensões das Manifestações da Cultura do Movimento Humano

  • Dimensões Técnico-Funcionais Aplicadas ao Movimento Humano

Apresentação e análise dos dados

    A partir das respostas obtidas com as entrevistas com os professores participantes deste estudo, sintetizamos, abaixo, no Quadro I, as categorias de análise – e seus contextos – que surgiram considerando-se o procedimento de análise de conteúdo de Bardin (1977).

Quadro I. Identificação das categorias e seus respectivos contextos

Experiência profissional com Educação Infantil

Refere-se à busca de informações sobre o conhecimento teórico e prático dos professores da graduação do curso de licenciatura em Educação Física e seus entendimentos sobre a infância.

Entendimento e limitações 

sobre a criança e infância

Compreendem as respostas para o entendimento dos professores da graduação ao se tratar do tema da Educação Infantil, procurando entender as individualidades, limitações e conhecimentos sobre criança/infância quanto dos próprios professores da graduação ao se relacionar com esses temas.

Repensar o currículo – possibilidades e perspectivas

Categoria que trata de informações sobre a atual grade curricular, se permite ou não uma relação com a Educação Infantil e a partir disto, repensar o currículo caso haja necessidade.

    A partir da elaboração e definição de cada categoria, faremos a apresentação, análise e as discussões dos dados obtidos no decorrer da construção do trabalho.

Experiência profissional com Educação Infantil

    Esta categoria surgiu em função das respostas dos professores pesquisados quanto ao conhecimento teórico e prático dos professores da graduação do curso de licenciatura em Educação Física. Saber qual foi a participação e a interação com as crianças, nos ajudará a entender como ocorre a formação dos professores que hoje atuam com disciplinas que basicamente envolvem os temas da infância.

    Quando elaboramos o roteiro de entrevistas, vimos que era fundamental saber como os professores da graduação haviam adquirido seus conhecimentos sobre a Educação Infantil. Durante o período de estágio obrigatório na graduação, torna-se corriqueiro questionar-se “de onde” vem esse conhecimento e esse interesse pelas crianças e infância por parte dos professores acadêmicos

    Questionamos os professores quanto à experiência com Educação Infantil, e dos quatro professores entrevistados, apenas dois haviam trabalhado diretamente com crianças de 0 a 6 anos. Porém, isso nos deu brecha para que entendêssemos que nem sempre o contato direto com as crianças é o que forma o interesse pessoal dos professores, como podemos ver com a resposta do professor B:

    não foi uma experiência direta, mas foi indireta através de orientação. Orientei desde alunos de graduação com monografia sobre Educação Infantil e mestrado. Orientei 3 trabalhos de mestrado e Educação Infantil, e uma delas eu pude ter a experiência assim junto com creches.

    Com base neste argumento, podemos discutir sobre a importância que cada professor atribui à Educação Infantil. Cada professor se faz de uma metodologia (não só de uma “metodologia” do que seria o “como fazer”, mas principalmente de uma ciência base a qual eles estejam vinculados) diferente para incluir os temas da Educação Infantil na formação dos futuros professores de Educação Física que poderão atuar com as crianças. Mesmo com pouco tempo de experiência direta, ou até mesmo nenhuma experiência, observa-se que os professores abrangem a importância da criança e da infância nas suas discussões.

    De alguma maneira, os professores estão envolvidos com a Educação Infantil, seja através dos seus acadêmicos, dos seus alunos de mestrado ou de doutorado, e, portanto, o contato indireto também ajuda na formação e na ampliação dos conhecimentos dos professores envolvidos.

    Dois professores ainda comentaram que fizeram parte de projetos de implantação da Educação Física pela Educação Infantil no ensino básico em cidades de Santa Catarina, ajudando na formulação de novas metodologias, criação de textos e projetos políticos pedagógicos para as cidades. Isso nos leva a crer que independente do contato direto com as crianças e da rotina das creches, o conhecimento desses professores (professor A e professor B) é muito amplo e diverso.

    Já sabendo a importância da infância, os professores tentam tratá-la de forma que às vezes não são muito perceptivas pelos acadêmicos, nas suas conversas acadêmicas, buscando que o aluno faça suas relações entre o conteúdo da disciplina e a Educação Infantil. Mesmo de forma sutil, e até mesmo com poucas experiências profissionais, é visível o conhecimento teórico sobre o que é a infância e a Educação Infantil por parte desses entrevistados. Apesar das diferenças entre os conhecimentos acadêmicos, todos os professores sabem que cada criança tem a sua infância, e que ela deve ser respeitada.

    Dois professores tiveram um trabalho conjunto com creches ou escolas, e assim, contato direto com as crianças. Mesmo sendo pouco tempo de experiência prática, os professores que afirmaram ter trabalhado com a Educação Infantil, se fazem da mesma postura que os outros, ou seja, neste caso, o tempo de trabalho com crianças não diferenciou os professores para os conhecimentos sobre a infância e suas outras temáticas.

    Ao questionar os professores sobre o tempo de atuação com a Educação Infantil, buscávamos saber se os professores haviam trabalhado na prática para a partir das experiências, transmitir seus ensinamentos na graduação. Porém, como a maioria dos professores não trabalhou em creches como professores de Educação Física, vimos que na verdade a formação sobre os conceitos de infância e criança se dá muito além do planejamento das aulas e da convivência diária em creches e escolas. Como exemplo desta constatação, temos um comentário feito pelo professor C, que mostra que o interesse pelos conhecimentos de infância vem do próprio professor, independente da ementa e do currículo elaborado:

    mas na minha prática eu faço isso, porque eu sei da necessidade de trabalhar com essa fase (...) essa fase da vida humana que é a infância.

    Podemos confirmar, assim, que o interesse pela infância é inerente às pessoas, ou seja, se os professores da graduação têm interesse em buscar novas informações sobre esta área da Educação Infantil e assim, utilizá-la na formação de seus acadêmicos mesmo que às vezes, de uma forma pouco visada e até mesmo pouco comentada, elas serão buscadas.

Entendimento e limitações sobre a criança e infância

    A segunda categoria buscou melhor compreender as respostas quanto ao entendimento dos professores da graduação ao se tratar do tema da Educação Infantil, procurando entender as particularidades, limitações e conhecimentos sobre o ser social (a criança) e a categoria social (infância), bem como a forma como os professores pesquisados se relacionam com tais temáticas.

    Muitos professores entendem a criança como produtora de cultura, ou seja, a criança não é mais uma figura meramente ilustrativa como antigamente7. Os professores ainda colocaram a importância do lúdico nessa faixa etária para explicar o desenvolvimento completo das mesmas. Segundo Marcellino (2006), as brincadeiras servem para desenvolver um processo de socialização, de prazer, de felicidade, possibilitando à criança a vivência da sua faixa etária e ainda contribui para sua formação como ser realmente humano e participante da sociedade em que vive. E não apenas como mero individuo requerido pelos padrões de “produtividade social”.

    Com bases nessas colocações dadas pelos professores, observamos que eles sabem a importância da infância e sabem que é nesta fase que a criança tem os interesses mais imediatos de transformação, como podemos observar com a resposta do professor C:

    A infância é uma fase da vida onde todo o processo de desenvolvimento da criança se dá através do seu interesse imediato, que é o lúdico, o brincar. No brincar, a criança (...) desenvolve várias possibilidades que tornam o existir dela muito mais significativo, porque no brincar que ela vai operar além de emocionalmente, também cognitivamente.

    Muitas questões são abordadas sobre o que seria melhor para as crianças de 0 a 6 anos, mas uma das respostas que nos chamaram atenção foi a do professor B, ao se referir que hoje em dia, poucas pessoas sabem da verdadeira importância do brincar nesta faixa etária. O professor B argumenta que há um grande equívoco ao pensar que as crianças devem começar ser alfabetizadas em creches:

    Há uma pressão social externa muito forte, que vem dos pais, vem da sociedade, vem do sistema de educação, da secretaria da educação para que elas sejam escolarizadas. Eu acho que é um erro e equívoco enorme que está se cometendo sobre os fatores de desenvolvimento da criança.

    A visão de que a infância tem perdido sua característica, é comentada por todos os professores, que tem a visão de que cada criança é um ser diferente, e que as escolas, em geral, vêm tratando sem saber exatamente qual é a função da criança nos espaços de pré-escola, que é brincar, se movimentar e se descobrir, segundo os professores entrevistados. Ainda sobre o professor B, define “infância” como:

    Eu nos meus trabalhos, especialmente estou estudando “criança” e não “infância”. Porque infância tem sociologia da infância, pedagogia da infância, psicologia da infância. Você tem umas categorias científicas já, ai já classificam e já dão um certo conceito pra criança, e ai criança não pode ser conceituada, tem que ser descoberta. Então eu uso mais a categoria da “criança”.

    De acordo com Kunz (2003) é no brincar que a criança constrói simbolicamente sua realidade e recria o existente. Assim, as crianças são desafiadas a fazer suas próprias definições com um “se-movimentar”, adequado e correspondente ao papel a ser desempenhado, sendo necessário, portanto, instigar a criação. Contudo, percebe-se que as crianças ainda possuem dificuldades em entender a situação em que estão vivenciando, pois o atual sistema escolar em que estão inseridas trata qualquer forma de movimento como “comum”, sendo mais fácil reproduzir essas formas de movimento padronizadas do que tentar criar algo novo, fazendo-se cada vez mais necessário que as intervenções dos professores sejam para que as crianças se descubram.

    Por conta do que foi comentado sobre cada criança ter seu tempo, questionamos aos professores se eles, sabendo da importância, faziam uma aproximação das concepções de infância com as suas disciplinas. Algumas delas não falam diretamente sobre o “ser criança”, ficando apenas nas questões externas e burocráticas, ou seja, sem dar a aproximação com as prática pedagógica. O professor A, comentou sobre esta aproximação que o currículo e as disciplinas tem com os temas da infância:

    A gente tem por exemplo conteúdos como joguinhos para a Educação Infantil. Mas o sujeito dos joguinhos não está presente no currículo.

    Temos várias disciplinas no decorrer dos cursos de formação que nos mostram o que seria viável fazer com cada faixa etária, porém, geralmente, nenhuma delas nos explicam/mostram o porquê de se fazer deste ou daquele jeito. Com a mudança curricular, vimos a inclusão de algumas disciplinas que falam um pouco mais diretamente da infância, como disse o professor D:

    E essa disciplina tem o compromisso mesmo de focar para essa discussão (...) não é suficiente, mas ela pelo menos agora dá algo mais. Antes era mais do que superficial, e agora ao menos existem esse momento mínimo.

    Esse contato, por mais que seja mínimo, nos mostra que a inclusão dos temas da infância pelos professores da graduação é fundamental para que a formação se dê pelo menos em parte. Sabemos que é difícil estudos bastante aprofundados em relação a cada faixa etária na graduação, porém, assim como vemos uma certa ênfase a faixa etária dos 10 aos 15 anos (coincidentemente aquele público que frente da 5ª a 9ª séries – momento que o esporte se torna conteúdo hegemônico das aulas de EF), seria mais do que necessário que esse tema da infância fosse abordado com mais frequência, e não apenas por um grupo de quatro professores no decorrer do curso, mas sim, em vários momentos e em todos os assuntos que fossem possíveis relacionar.

    As disciplinas de estágio obrigatório quase no final do curso ainda são fundamentais para que o graduando não saia da faculdade sem ao menos ter contato com essa faixa etária, que apesar de nova, é a que mais vem se destacando e crescendo. Por conta disto, Sayão (2002) diz:

    de nossa convivência com as crianças, é possível encarar que, quando as crianças brincam, elas o fazem para satisfazer uma necessidade básica que é viver a brincadeira. No entanto, a insistência de que a brincadeira precisa ter uma função “pedagógica” inserida numa lógica produtivista limita suas possibilidades e impede que as crianças recriem constantemente as formas de brincar e se expressar. (SAYÃO, 2002, p.55-67)

    Fica mais fácil assim, vermos que nossa função enquanto educadores é a de buscar novos caminhos para que as crianças não sejam precocemente inseridas no mundo adulto, descaracterizando a infância e prejudicando no seu processo de ensino-aprendizagem. Constatamos durante as entrevistas a preocupação que alguns professores têm com as crianças e em mostrar aos seus acadêmicos que existem diversas áreas de atuação.

    Os professores fazem as relações que são possíveis durante um semestre letivo, e mesmo sabendo que ainda são muito pouco comentadas, as questões da infância podem ser e deveriam ser mais comentadas e repensadas pelos professores e graduandos. Levando em conta esses fatores, é que analisamos na categoria seguinte o que seria possível fazer para que a infância fosse incluída de maneira mais abrangente no novo currículo.

Repensar o currículo: possibilidades e perspectivas

    A terceira, e última categoria, fez-se necessária já que as respostas dadas na entrevista com os professores, nos levou a crer que mais do que se espera, precisamos repensar na reforma curricular. Não podemos apenas achar que isso se deve por poucos temas da infância serem tratados, mas sim como um todo, pois fica claro, assim, que muitas temáticas da Educação Física estão sendo pouco contempladas no processo de formação dos acadêmicos.

    Todos os professores falaram da necessidade de se repensar e incluir melhor cada tema da educação e da Educação Física e já levando em conta que nenhuma turma foi formada (no momento da pesquisa, julho de 2009). O professor A, coloca que “nossa grade foi pensada muito mais a partir de conteúdos do que a partir do sujeito da educação”, ou como disse o professor B, que já alertava para a deficiência do currículo antes mesmo da sua modificação:

    o núcleo de estudos pedagógicos fez algumas observações, e uma das observações que o grupo fez em relação a essa grade curricular era da ausência de um maior estudo sobre a criança e o trabalho da Educação Física com a criança, com a infância.

    Vemos assim, que há pessoas se preocupando e procurando soluções para que o currículo fique cada vez melhor, ou, ao menos, mais amplo. A princípio, o que seria cabível aos professores, além de falar mais dos temas da infância em suas aulas, é planejar uma nova grade curricular, em que outros temas sejam incluídos. O professor C, comentou que há ainda a possibilidade de inclusão da Educação Infantil por parte dos professores:

    Poucos professores abordam essa questão, mesmo que esteja contemplado, mas se o professor tiver essa abordagem acho que daria ao aluno uma possibilidade maior de ver a Educação Infantil. Mas é muito pouco abordado. Eu acho que tem que se pensar na reforma curricular.

    Esse currículo ainda é novo (o atual teve seu início em 2006), e deveria ser discutido em cada uma das fases, e não apenas em forma de questionários como é feito e analisado pelo colegiado do curso (PPP/CDS/UFSC, 2005), mas buscando informações concretas e reais sobre os problemas que ele enfrenta. A intenção de que houvesse uma melhora no currículo já foi um bom começo para que se aprimorasse, porém, ainda precisa ser revisado.

    As mudanças curriculares surgiram em dois momentos, como diz o PPP/CDS/UFSC (2005):

    Neste período que envolve três décadas, a estrutura curricular foi alterada em duas oportunidades, tanto para atender a legislação pertinente quanto aos anseios da comunidade acadêmica da área (PPP/CDS/UFSC, 2005, p.02)

    Como o próprio projeto de reformulação diz:

    O atual currículo do curso de Educação Física tem sido motivo de discussões diárias a fim de adequar-se a uma realidade em constante mutação, que está a exigir mais e mais dos profissionais egressos.

    Ou seja, as questões quanto à reforma curricular são evidentes tanto para os acadêmicos quanto para o corpo docente do curso. Porém, vimos e entendemos que uma reforma curricular não se faz de um dia para outro, e que é uma tarefa muito difícil, já que exige a participação de toda a comunidade acadêmica e administrativa. Mas sendo assim, a administração do curso deveria se utilizar mais dos materiais elaborados pelos alunos em monografias, teses e dissertações, visando uma melhora do currículo atual.

    Durante as entrevistas realizadas com os quatro professores selecionados, questionamos sobre “qual é a função de vocês na formação dos acadêmicos?”, sendo que constatamos que, para elas, apenas a mudança curricular não resolveria todos os problemas com a falta de conteúdos ou com poucos conteúdos, pois vai muito além dos conteúdos trabalhados em sala de aula, e sim, da maneira como o professor quer que o aluno receba o conteúdo. Sobre isso, o professor C exemplifica bem a questão:

    o papel do professor, de qualquer disciplina é ensinar. As pessoas não têm essa visão. As pessoas se preocupam com os conteúdos específicos a disciplina e esquecem o que fazer com esse conteúdo na escola.

    Pensamos que independente dos seus interesses profissionais, se o sujeito (docente) não gostar de verdade daquilo que está fazendo, propondo e trabalhando, não importa o quanto conhecimento se tenha, a aula em si não será tão produtiva e dinâmica, por professores que realmente se importam com a causa da educação – mas não “qualquer educação”, reprodutiva, e sim critica, ampla, transformadora e criativa.

Considerações finais

    O objetivo maior deste estudo foi buscar informações que ajudassem a entender o porquê da Educação Infantil ainda ser tão pouco comentada/trabalhada pela Educação Física. Por conta disto, buscamos diretamente com os professores da graduação encontrar respostas para nossas perguntas.

    Procuramos buscar o maior número de dados e materiais que permitissem melhor abordar o problema de pesquisa, investigando as deficiências na estrutura curricular que implica em excesso de insegurança e incertezas no momento de um estágio de Educação Física na Educação Infantil.

    Em forma de entrevista semi-estruturada, conversamos diretamente com quatro professores da graduação, e com unanimidade, todos consideram que a reforma curricular, iniciada em 2006, deveria ser pensada para os próximos anos, já que estava evidente que os temas da infância que estão sendo vinculados ao curso não dão conta da demanda de informações e do próprio campo de intervenção, no caso, o ensino infantil.

    A Educação Física ainda é vista como uma matéria complementar, e por mais que alguns professores da área dêem bons exemplos, ainda somos visto como os professores de “segundo plano”, em que na verdade poderíamos estar como “essenciais” para a formação das crianças. Cabe a nós, futuros professores que atuarão na Educação Infantil, batalhar pelo nosso espaço, e mostrar que estudamos durante os 4 anos de faculdade para fazer um bom trabalho.

    Aproveitando uma das falas de um professor entrevistado, “Se você faz licenciatura, é porque você quer ser um professor, e a minha função aqui dentro da universidade é te mostrar o maior número de caminhos para que você mesma construa a sua vontade e seu interesse por determinado grupo” e nossas próprias experiências, questionamo-nos: “E se eu não tivesse feito estágio em uma creche, como eu saberia que esta área é tão boa de se trabalhar e tão carente de pessoas que se doem por ela?”.

    No currículo antigo pouca ênfase foi dada à Educação Infantil. Quase nada explorava-se na graduação sobre a Educação Física na Educação Infantil. Pensamos, assim, que os colegas que estão estudando neste novo modelo de currículo devem aproveitar muito as disciplinas que lhe oferecem esse maior aprofundamento sobre os temas da infância, e que busquem cobrar dos professores da graduação que este tema não se perca entre uma fase/período de curso e outra.

    É uma função também dos alunos querer que todas as áreas que cabem a Educação Física sejam contempladas durante a graduação. Não nos cabe aqui julgar se o currículo é péssimo ou excelente, cabe a nós mostrarmos que da maneira como as disciplinas especificam os temas, não é suficiente para que a formação acadêmica se dê por completo nos quatro anos de faculdade.

    Ficou evidente que a reforma curricular é essencial. Ficou claro também que a inclusão de qualquer tema, neste caso a Educação Infantil, só será incluída nas discussões de sala de aula se os professores assim quiserem, então, para que a educação não seja um completo abandono durante a graduação, deixamos aqui a contribuição de um trabalho, o qual com muitas evidências, se prova que além de ser muito importante, a relação entre a educação e a Educação Física é fundamental para que as crianças cresçam em harmonia e para que a nossa área ganhe cada vez mais espaço.

Notas

  1. Falamos de crianças de zero a seis anos de idade, mesmo após o deferimento da Lei n°. 11.114 de 16 de maio de 2005, que começou a ser implantada no ano de 2006, onde o ensino fundamental passa a ser de nove anos, e deste modo, a Educação Infantil atenderá crianças de zero a cinco anos.

  2. Segundo Meksenas (2002, p. 118), o estudo de caso “não é um método em que o pesquisador tem de antemão (a priori) todos os elementos da pesquisa que irá conduzir”, sendo assim, o investigador tem a flexibilidade de ir em busca dos resultados que visam um melhor resultado durante todo o percurso de investigação.

  3. “Práticas pedagógicas como componente curricular - Conjunto de atividades diferenciadas que, integradas numa perspectiva interdisciplinar, contribuem para que o professor em formação se sensibilize, discuta e experimente situações educativas e didáticas, contribuindo assim para o desenvolvimento progressivo das competências docentes no exercício da prática pedagógica” (PACHECO & FLORES, 1999, citado em PPP/CDS/UFSC, 2005).

  4. Nasário (1999, p. 65) explica que “deve-se entender que é o planejamento que orienta e conduz de forma organizada, as ações do conteúdo mais perto da concretização dos objetivos propostos”.

  5. Para Oliveira (1997, p.133) ”o objetivo da elaboração do projeto/planejamento não se constitui em um simples cumprimento de tarefas burocráticas, ele deve fazer parte do processo educativo que está se pretendendo planejar”.

  6. O lúdico nada mais é, segundo Luckesi (2000), atividades que propiciam uma experiência de plenitude, em que nos envolvemos por inteiro, estando flexíveis e saudáveis. Possibilitando a quem a vivencia, momentos de encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, de percepção, momentos de auto-conhecimento e conhecimento do outro.

  7. Antigamente as concepções de infância visavam as crianças como um “homem em miniatura”. Nesta visão, a infância era concebida apenas como um caminho para a vida adulta. Nesta idéia, a criança era um ser inacabado “sem nada específico e original, sem valor positivo” (KISHIMOTO, 2001, p.19).

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires, Noviembre de 2011
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