Aptidão física relacionada à saúde de escolares do município de Bagé, RS, Brasil
Aptitud física relacionada con la salud en escolares del municipio de Bagé, RS, Brasil |
|||
*Mestre em Educação Física na área de Atividade Física e Saúde pela Universidade Federal de Pelotas. Graduado em Educação Física pela Universidade da Região da Campanha. Professor Titular da Rede Municipal de Ensino de Bagé, RS, Brasil **Mestra em Educação Física na área de Atividade Física e Saúde pela Universidade Federal de Pelotas. Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas ***Doutor em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor da Universidade Federal de Pelotas |
Marcio Neres dos Santos* Cátia Fernandes Leite** Alexandre Carriconde Marques*** (Brasil) |
|
|
Resumo Introdução: A aptidão física inclui componentes que se relacionam intimamente com a saúde e qualidade de vida das pessoas em todas as idades. O monitoramento desses componentes pelos profissionais da saúde é primordial para as medidas de intervenção, promoção e manutenção da saúde. Objetivo: Avaliar os componentes da aptidão física relacionada à saúde de adolescentes escolares da rede municipal de ensino de Bagé, RS, Brasil. Metodologia: Foram selecionados aleatoriamente adolescentes, de ambos os sexos, estudantes de uma escola da zona urbana e submetidos aos testes de força muscular (abdominais em 1 minuto), resistência cardiorrespiratória (corrida/caminhada de 9 minutos), flexibilidade (sentar-e-alcançar) e composição corporal (Índice de Massa Corporal). Resultados: Participaram 71 indivíduos, 63,4% femininos (n=45), com idades de 10 a 12 anos (Média=11,1±0,4 anos). Meninos apresentaram maiores índices de força (Média=29,2±8,7) e resistência cardiorrespiratória (Média=1196,8±146,8) do que as meninas (p<0,01), enquanto os indivíduos mais velhos apresentaram menor nível de flexibilidade (Média=22,2±11,0) comparado aos demais grupos (p<0,05). Os escolares apresentaram comprometimentos apenas no componente cardiorrespiratório. Conclusão: Embora existam diferenças, em relação ao sexo e a idade, o grupo de escolares apresenta um desempenho geral dos componentes de aptidão física similar e positivo. Unitermos: Aptidão física. Saúde. Escolares. Adolescente.
Abstract Introduction: the physical fitness includes components related with health and quality of life of the people in every age. The monitoring this components by professionals is prime for actions intervention, prevention and maintenance of health. Methods: were selected randomized schoolchildren’s males and females of urban zone that performed tests of muscular strength (abdominals by 1 minute), endurance cardiorespiratory (run/walk by 9 minute), flexibility (sit-and-reach) and body composition (body mass index). Results: Participated 71 subjects, 63,4% females (n=45), ages 10 and 12 years (Mean=11,1±0,4 years). Males showed better muscular strength (Mean=29,2±8,7) and endurance cardiorespiratory (Mean=1196,8±146,8) that females (p<0,01) and subjects older presented smaller of flexibility levels (Mean=22,2±11,0) that the other subgroups (p<0,05). In overall, the group presented complications only cardiorespiratory component. Conclusion: although there are differences, by sex and age, group have overall performance of physical fitness similar and positive. Keywords: Physical fitness. Health. Schoolchildren’s. Teen.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A aptidão física é definida como um conjunto de atributos físico-biológicos inerentes ao indivíduo, os quais podem ser mensurados e aprimorados por meio de procedimentos específicos (CASPERSEN et al., 1985). Basicamente, a aptidão física é divida em duas formas: a aptidão física relacionada à performance motora, a qual é necessária para atividades motoras especializadas, como nos esportes; e a aptidão física relacionada à saúde, a qual envolve componentes importantes para a saúde, prevenção de doenças e realização das atividades diárias. Os componentes da aptidão física relacionada à saúde são a resistência cardiorrespiratória, a força ou resistência muscular, a composição corporal e a flexibilidade (CASPERSEN et al., 1985). Além da manutenção da saúde e prevenção de doenças, níveis satisfatórios dos componentes de aptidão física relacionada à saúde também estão associados ao bem-estar e à qualidade de vida das pessoas de todas as faixas etárias (NAHAS, 2006).
O processo de transição epidemiológica ocorrido nas últimas décadas promoveu as doenças crônicas não-transmissíveis à liderança das causas de morbidade e mortalidade na sociedade atual. Geralmente essas doenças são de longa duração, e além de acometerem adultos e idosos, elas têm surgido cada vez mais cedo afetando adolescentes e crianças (BRASIL, 2005). Entre os principais fatores de risco, particularmente entre os jovens, destacam-se o excesso de peso (sobrepeso e obesidade) e a inatividade física. Por exemplo, as prevalências de obesidade entre crianças e adolescentes aumentaram substancialmente nas últimas décadas, ficando em torno de 20% (DUTRA et al., 2006). Os resultados de prevalência de inatividade física são ainda mais preocupantes, pois cerca de 60% dos indivíduos nessa faixa etária são considerados inativos fisicamente (HALLAL et al., 2006).
Entretanto, a tomada de medidas de prevenção e controle dos fatores de risco para as doenças crônicas parecem ser as estratégias mais efetivas no combate a esses agravos (WING et al., 2001). A atenção dos profissionais de saúde no monitoramento das condições de saúde de indivíduos e grupos torna-se de substancial importância, pois além do conhecimento necessário para as ações terapêuticas, a identificação precoce de tais fatores é fundamental para a eficácia das medidas de combate a essas complicações. Nesse sentido, o objetivo desse estudo foi avaliar os componentes da aptidão física relacionada à saúde de adolescentes escolares da rede municipal de ensino da cidade de Bagé, Rio Grande do Sul, Brasil.
Materiais e métodos
O procedimento de amostragem para o estudo foi do tipo por conveniência e incluíram os alunos do sexto ano de uma escola da rede municipal de ensino de Bagé, RS localizada na zona urbana da cidade. A participação dos alunos no estudo foi previamente autorizada pelos pais/responsáveis através do preenchimento de uma ficha de consentimento. Os critérios de inclusão adotados foram: estar presente na aula de educação física no dia de aplicação dos testes e a concordância do aluno em realizar o teste.
As medidas foram mensuradas e avaliadas conforme as orientações do manual de aplicação de medidas e testes do Projeto Esporte Brasil – PROESP-BR (GAYA, 2009). O PROESP-BR é um programa que avalia indicadores biológicos (crescimento corporal, estado nutricional e de aptidão física) de crianças e jovens de 7 a 17 anos em todo o país. Entre outros objetivos, o PROESP-BR sugere parâmetros (pontos de corte) para esses indicadores biológicos que classificam os indivíduos dentro de parâmetros de normalidade ou de risco à saúde.
O estado nutricional foi avaliado pelo Índice de Massa Corporal (IMC) em kg/m2 através da tomada das medidas da estatura e do peso corporal, com os alunos descalços e vestindo o mínimo de roupa possível. A estatura foi medida utilizando uma fita métrica (em cm) e o peso corporal com uma balança digital com precisão de 0,1 kg. As medidas de desempenho físico foram a força, a flexibilidade e a resistência cardiorrespiratória. A medida de força foi avaliada pelo teste de abdominais em 1 minuto; a flexibilidade, pelo teste de sentar–e–alcançar adaptado (sem o banco de Wells); e a resistência cardiorrespiratória, através do teste de corrida/caminhada de 9 minutos. As medidas de peso e estatura foram tomadas no mesmo dia de avaliação. Os demais testes físicos foram aplicados cada um em dias diferentes.
As análises dos dados envolveram estatística descritiva, com cálculo de média, desvio padrão e as comparações entre grupos pelo teste t de Student e análise de variância (ANOVA one way) com teste post hoc de Scheffe. O nível de significância estatística adotado para todas as análises foi de p<0,05. Todos os procedimentos estatísticos foram realizados no software SPSS.
Resultados
Participaram do estudo 71 alunos, 63,4% do sexo feminino (n=45), com idades entre 10 e 12 anos (Média=11,1±0,4 anos). A Tabela 1 resume os dados de aptidão física da amostra, descrevendo os dados para o grupo geral e por sexo. Os valores de IMC e de flexibilidade para meninos e meninas foram muito semelhantes, ficando em torno de 19 kg/m2 e 30 cm, respectivamente. Em relação ao teste de força, os meninos foram significativamente superiores às meninas apresentando um escore aproximado de 29 repetições. Do mesmo modo, na avaliação da resistência cardiorrespiratória os indivíduos masculinos obtiveram um escore aproximado de 1.197 metros, sendo significativamente superior ao obtido pelas meninas.
Tabela 1. Características gerais de aptidão física dos escolares, segundo o sexo
Tabela 2. Características gerais de aptidão física dos escolares, segundo a idade.
As características gerais de aptidão física de acordo com a idade são apresentadas na Tabela 2. Os indivíduos com dez anos de idade apresentaram o maior resultado no teste de força (Média=26,8±7,2 repetições) e o menor nível de IMC (Média=18,0±1,5 kg/m2). No teste de resistência cardiorrespiratória foi observada uma pequena diferença entre os grupos, com os sujeitos do grupo de 12 anos apresentando melhor desempenho (Média=1171,2±140,4 m). Entretanto, diferenças estatísticas nos componentes da aptidão física entre os grupos de idade foram observadas apenas para a flexibilidade, sendo que os indivíduos do grupo com 12 anos de idade apresentaram desempenho médio significativamente inferior (Média=22,2±11,0 cm) aos demais grupos. Em relação à idade, não houve diferenças significativas nos escores dos componentes de aptidão física relacionada à saúde dos adolescentes para meninos e meninas (Tabela 3).
Tabela 3. Características dos componentes da aptidão física dos escolares conforme o sexo e a idade.
A Tabela 4 apresenta os dados de aptidão física dos indivíduos e os valores nacionais de referência, estratificada pelas variáveis sexo e idade. Indivíduos masculinos dos grupos de idade de 10 e 11 anos apresentaram IMC médio de 18,8±0,4 kg/m2 e 19,9±4,2 kg/m2, respectivamente, e indivíduos femininos do grupo de 11 anos de idade obtiveram valores de IMC médio de 19,6±3,7 kg/m2. Todos esses valores foram significativamente menores do que aqueles observados nos grupos de referência. Os resultados obtidos no teste de força pelos escolares avaliados, tanto para indivíduos masculinos como para femininos, não revelaram diferenças significativas em relação aos dados nacionais de referência.
Em relação à flexibilidade, os níveis médios apresentados pelas meninas do grupo de 11 anos de idade, de 31,9±9,0 cm, foram significativamente superiores aos parâmetros de referência. Em contrapartida, os meninos e meninas do grupo de 11 anos de idade foram os únicos que obtiveram escores médios de resistência cardiorrespiratória significativamente inferiores aos dos parâmetros de referência, sendo, respectivamente, de 1207,3±151,9 e 1051,6±186,1 metros.
Tabela 4. Comparação da aptidão física dos escolares de Bagé-RS com os valores nacionais de referência do PROESP-BR, segundo o sexo e a idade.
Discussão
Em uma análise geral, o grupo de escolares avaliado apresentou resultados satisfatórios para os componentes da aptidão física relacionada à saúde. Somente no componente de resistência cardiorrespiratória os resultados apresentados, pelo grupo, estiveram substancialmente abaixo dos valores adequados sugeridos na literatura (GAYA, 2009). Na comparação entre sexos, os indivíduos masculinos obtiveram desempenho superior aos femininos nos testes de força e de resistência cardiorrespiratória. Esses dois testes de aptidão envolvem uma atividade motora intensa, com uma contribuição efetiva de todo conjunto osteomuscular, o que parece ter favorecido o desempenho dos indivíduos masculinos, uma vez que meninos apresentam uma maior participação em atividades físicas comparado às meninas (HALLAL et al., 2006). Diferenças nos testes de aptidão em relação à idade ocorreram apenas para a flexibilidade, sendo que os indivíduos do grupo de 12 anos apresentaram níveis muito abaixo dos demais.
A análise dos componentes estratificada por sexo e idade mostra certa homogeneidade do grupo em relação aos componentes de aptidão física. Isto sugere que apenas quando estratificamos por sexo ou por idade, isoladamente, observam-se diferenças nos componentes de aptidão física, as quais podem decorrer de casos extremos com conjunto de dados. Por exemplo, na estratificação por sexo, uma menina com resultado muito baixo e/ou um menino com resultado muito alto, ou vice-versa, podem ter modificado substancialmente o escore final do grupo em questão e, assim, contribuído para uma diferença considerável em relação aos grupos de comparação. O mesmo exemplo serve para a estratificação por idade, com um indivíduo mais novo obtendo um resultado muito baixo e/ou um indivíduo mais velho com um resultado muito elevado, ou vice-versa. Essa situação é possível porque as análises foram realizadas com base nos valores médios dos grupos e, como se sabe, embora a média seja uma medida útil de resumo de uma distribuição de dados, o seu valor também é sensível a valores extremos.
Confrontando os resultados de aptidão física dos escolares avaliados de Bagé com os valores sugeridos pela literatura (GAYA, 2009), considerando o sexo e a idade dos indivíduos, observa-se que o grupo apresentou um desempenho geral positivo. Quanto ao IMC, em nenhum dos grupos avaliados os indivíduos apresentaram perfil de risco à saúde, sendo que, os meninos dos grupos de 10 e 11 anos e as meninas do grupo de 11 anos de idade, apresentaram escores de IMC menores do que os dados de referência. No teste de força, o desempenho dos escolares foi similar aos dados de referência para todos os grupos demonstrando boa aptidão muscular dos adolescentes.
No componente flexibilidade o desempenho dos escolares avaliados foi positivo, especialmente entre os grupos femininos, sendo que as meninas de 11 anos de idade obtiveram um escore superior ao valor de referência. Por outro lado, os resultados de aptidão cardiorrespiratória obtido pelos escolares foram insatisfatórios. Em todos os grupos de idade e sexo, os escores médios obtidos pelos avaliados foram menores que os valores de referência. O desempenho mais baixo foi obtido pelos grupos de 11 anos de idade, onde meninos e meninas estiveram abaixo dos valores de referência. Esse baixo desempenho no teste cardiorrespiratório deve ser observado com atenção, uma vez que níveis limitados de aptidão cardiorrespiratória estão associados com níveis elevados de IMC, predispondo os indivíduos ao risco de colesterol elevado, hipertensão arterial e obesidade (GAYA, 2009).
Conclusão
Concluímos que o grupo de escolares possui níveis positivos de aptidão física relacionada à saúde, apresentando comprometimentos apenas no componente cardiorrespiratório. Embora tenham sido identificadas diferenças nos componentes de força, resistência cardiorrespiratória e flexibilidade, em relação ao sexo e idade, o grupo apresenta um nível de aptidão física relacionada à saúde bastante similar.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas não-transmissíveis : DCNT no contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro / Brasil. Ministério da Saúde – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.
CASPERSEN, C. J.; POWELL, K. E.; CHRISTENSON, G. M. Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public Health Report, v. 100, n.2, 126-131, 1985.
DUTRA, C. L.; ARAÚJO, C. L.; BERTOLDI, A. D. Prevalência de sobrepeso em adolescentes: um estudo de base populacional em uma cidade no Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(1):151-162, jan, 2006.
HALLAL, P. C.; BERTOLDI, A. D.; GONÇALVES, H.; VICTORA, C. G. Prevalência de sedentarismo e fatores associados em adolescentes de 10-12 anos de idade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(6):1277-1287, jun, 2006.
NAHAS, M. V. Atividade física, aptidão física e saúde. Londrina: Midiograf, 2006.
WING, R. R.; GOLDSTEIN, M. G.; ACTON, K. J.; BIRCH, L. L.; JAKICIC, J. M.; SALLIS, J. F. et al. Lifestyle changes related to obesity, eating behavior, and physical activity. Diabetes Care 24:117–123, 2001.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 16 · N° 162 | Buenos Aires,
Noviembre de 2011 |