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O efeito do alongamento sobre um teste de força: 

um estudo com atletas de Santa Cruz do Sul, RS

El efecto de la elongación sobre un test de fuerza: un estudio con atletas de Santa Cruz do Sul, RS

 

*Aluno do curso de Educação Física

da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

**Docente do Departamento de Educação Física e Saúde

e do Mestrado em Promoção da Saúde da Universidade de Santa Cruz

do Sul (UNISC). Doutora em Desenvolvimento Regional pela UNISC

Everton Ferreira Lasch

evertonlasch@unisc.br

Hildegard Hedwig Pohl

hpohl@unisc.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente, a prática de alongamentos antes de uma competição de alto rendimento e curta duração, que envolve o uso da força máxima, vem sendo alvo de muitas controvérsias sobre seus reais benefícios ou não. O objetivo geral deste trabalho é verificar se a realização de alongamentos antes de um teste de contração isométrica voluntária máxima provoca alguma interferência nesta força. Neste estudo descritivo-exploratório foram sujeitos seis indivíduos do sexo masculino, todos atletas. Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo-exploratório. Cada sujeito fez o teste de força em três protocolos, sendo o primeiro com o sujeito em repouso, o segundo teste foi antecedido de aquecimento e o terceiro teste foi antecedido com alongamento. O grupo muscular analisado foi o isquiotibiais. Como resultado deste estudo, constatou-se que dos seis sujeitos, apenas um conseguiu obter o valor máximo de força realizando alongamento antes e os outros cinco sujeitos conseguiram o valor mais alto realizando aquecimento. Desta forma, conclui-se que a realização de alongamentos antes de um teste de força máxima provoca uma redução nesta, por outro lado, é possível notar que o aquecimento proporcionou uma melhora no desempenho da força isométrica máxima nestes atletas. Com base nestes resultados, para atletas de alto rendimento, um pouco antes da competição seria eficaz a realização de um aquecimento em vez de alongamentos.

          Unitermos: Alongamento. Força muscular. Contração isométrica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 162, Noviembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Hoje em dia, o alongamento muscular antes do exercício vem trazendo controvérsias no âmbito científico em relação aos seus benefícios, no que diz respeito ao desempenho muscular e na prevenção de lesões do indivíduo. No entanto, ainda parece ser fato, a recomendação clássica do uso do alongamento antes e depois de qualquer atividade física e/ou prática esportiva por grande parte dos profissionais, como condição fundamental para tal. Essa recomendação advém historicamente da premissa de que o uso desse elemento diminui o risco de lesões, atenua o surgimento de dor muscular de início tardio, assim como favorece um melhor desempenho físico de modo geral1.

    Conforme Alter2, o alongamento é o conjunto de técnicas utilizadas para se manter ou para se aumentar a amplitude de movimentos, é benéfico e potencialmente agradável. Black e Stevens3 identificaram, em seu estudo com ratos, que o alongamento agudo, 5% além do comprimento de descanso, provoca um declínio de, aproximadamente, 5% da força isométrica. Shrier4, ao desenvolver uma pesquisa de revisão crítica para averiguar se o alongamento melhorava o desempenho muscular, constatou que, dos 32 estudos revisados, nenhum sugeriu que o alongamento era benéfico para o desempenho, relacionando força, torque e salto, e ainda, 20 estudos relatando que o alongamento agudo diminuía a performance.

    Fowles, Sale e Macdougall5 relatam que a diminuição da força pode ocorrer devido a fatores neurais e mecânicos como: diminuição na ativação de unidades motoras, alterações nas propriedades visco-elásticas do músculo e músculotendinosa e devido às alterações no comprimento-tensão da fibra muscular e que o alongamento imediatamente antes da atividade física diminui a performance, além de não impedir o risco de lesões durante a prática esportiva, ao contrário do simples aquecimento, através de um trote ou tiros prévios.

    Marek et al.6 têm apontado que a técnica de alongamento estática pode induzir perda aguda da ordem de 5 a 30% da força máxima e da potência de grupos musculares previamente alongados. Esses achados têm levado alguns pesquisadores a questionarem a inclusão de exercícios de alongamento durante o período de aquecimento, sobretudo antes de atividades que exijam força e potência muscular, especialmente em provas de curta duração.

    Diante do exposto acima, o objetivo deste trabalho foi verificar se a realização de alongamento ou aquecimento antes de um teste de força máxima em contração isométrica provoca alguma interferência nesta força.

Materiais e métodos de investigação

    Constituem-se sujeitos do presente estudo descritivo-exploratório, seis indivíduos do sexo masculino, com idade entre 18 e 30 anos, sendo estes três atletas de atletismo da UNISC, que participam de competições a nível Regional, Estadual e Nacional e seus treinamentos alcançam em média a marca de 2 horas por dia, e três atletas da equipe de futsal da Associação Santa-Cruzense de Futsal - ASSAF de Santa Cruz do Sul, onde treinam em torno de 2 horas por dia e participam de competições a nível nacional. O protocolo experimental do presente estudo foi previamente submetido à avaliação e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, sob protocolo de número: 2662/10. Para participar do estudo, que constou de avaliação antropométrica e de testes de contração isométrica voluntaria máxima, os sujeitos foram informados dos procedimentos e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O levantamento dos dados antropométricos foi realizado no Laboratório de Atividade Física e Saúde – LAFISA da UNISC, onde foram coletados o peso corporal e a estatura, para tanto utilizou-se uma balança de plataforma com toesa, de marca Welmy, modelo 104A, de precisão 100 gramas e um estadiômetro. Para avaliação do teste de contração isométrica voluntária máxima - CIVM, realizada no Laboratório de Biomecânica da UNISC foi utilizada uma célula de carga com capacidade de 100kfg. e sensibilidade de 2mv/V, presa à articulação do tornozelo e ao solo, formando um ângulo de 90o com a coxa. Sujeito postado em pé, com a perna esquerda apoiada no solo e a direita fletida em ângulo de 900, mãos espalmadas e apoiadas na parede. Após a devida calibração do monitor da célula de carga programado para pico retido, foi dado o comando para a realização de força, o comando de encerramento foi dado quando, mesmo após estímulos de voz emitidos pelo avaliador, não ocorreu aumento no valor de força. Foi feito uma série com três tomadas de força e intervalo de dois minutos entre estas tomadas, protocolo adaptado de MENEGAZ8.

    Os procedimentos e protocolos de intervenção utilizados em todos os seis sujeitos tiveram início com a realização da avaliação antropométrica do peso e estatura, depois foi feito o primeiro teste de CIVM, a seguir se realizou o protocolo de aquecimento (feito na pista de atletismo da UNISC [400 metros] através de trote leve com duração de doze minutos), após o segundo teste de CIVM, foi realizado o protocolo de alongamento que consistiu na realização de seis séries com 30 segundos de alongamento e intervalo de 20 segundos entre as séries, o alongamento foi o seguinte: em pé com a perna esquerda flexionada, estender a perna direita, e com a mão esquerda segurar e puxar a ponta do pé para cima, a mão direita no joelho esquerdo impedindo o flexionamento da perna fazendo com que o grupo muscular dos isquiotibiais seja todo alongado e por fim foi feito o terceiro teste de CIVM.

    Os dados obtidos foram analisados estatisticamente e de forma descritiva através de média e desvio padrão de cada teste realizado, obtidos por meio do programa Microsoft Excel.

Resultados

    Os resultados deste estudo são apresentados em forma de quadros. No quadro 01 está a demonstração da composição corporal dos sujeitos, onde estão descritas as médias e desvios padrão (DP) do peso, altura e idade.

Quadro 01. Média e DP da estatura (cm), peso (kg) e idade (anos)

Variável

Média

Desvio padrão

Mínimo

Máximo

Peso (kg)

74,3

±10,7

65

85

Estatura(m)

1,74

±0,11

1,69

1,85

Idade (anos)

22,5

±7,5

18

30

    No quadro 02 está consta o valor máximo de força que cada um dos seis sujeitos conseguiu alcançar em suas três tentativas em cada um dos protocolos (1º - teste sem nenhuma intervenção, 2º - antecedido de aquecimento e 3º - antecedido de alongamento), e também a média e DP dos valores desta força.

Quadro 02. Valor da força em (KGF) que cada sujeito alcançou com média e DP

Sujeitos

Sem Protocolo

Aquecimento

Alongamento

Média - DP

A

52,08

70,38

51,93

58,13 (± 12,25)

B

85,18

85,34

72,99

81,17 (± 8,18)

C

66,23

70,20

62,61

66,34 (± 3,86)

D

60,19

86,48

85,09

77,25 (± 17,06)

E

79,92

98,73

80,26

86,30 (± 12,43)

F

65,05

81,68

91,14

79,29 (± 14,24)

    Comparando o valor de força alcançado pelos sujeitos nos três protocolos, observou-se uma diferença significativa no protocolo em que o teste foi antecedido por aquecimento, em que dos seis sujeitos da pesquisa, cinco deles (83,33%) conseguiram o maior valor de força, já quando o teste foi antecedido de alongamento, um sujeito (16,7%) obteve o maior valor de força. Por outro lado, nenhum dos sujeitos obteve um maior valor realizando o teste sem a antecedência destes protocolos.

Discussão

    No presente estudo, identificou-se que a maioria dos sujeitos conseguiu alcançar a força isométrica voluntária máxima quando o teste de força foi precedido de aquecimento, ao contrário dos outros dois protocolos, onde apenas um sujeito alcançou a força máxima realizando no caso especifico, o alongamento antes do teste.

    Resultados semelhantes foram encontrados por Manffra e Grego9, em um estudo realizado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, em que sugerem que para a musculatura de isquiotibiais, protocolos de alongamento preparatórios com volumes totais próximos ou superiores há 180 segundos podem comprometer o desempenho de atletas de alto rendimento, cujo sucesso seja dependente da capacidade muscular de produzir força máxima.

    Fowles, Sale e Macdougall5, ao estudarem na McMaster University em Hamilton (Canadá) o impacto do alongamento passivo estático no desempenho de força máxima de flexores plantares, relataram que imediatamente após o protocolo utilizado, foi 28% menor do que na condição pré-teste (sem alongamento), permanecendo diminuído até 60 minutos depois da intervenção. Eles acreditam ainda que o alongamento pode alterar o relacionamento do comprimento-tensão e/ou deformação plástica dos tecidos conectivos. Assim, tal fato levaria a uma limitação na potencialização da força máxima produzida pela unidade musculotendínea.

    Comwell, Nelson e Sidaway10 relatam que a diminuição de força ocorre devido a fatores neurais e mecânicos como: diminuição na ativação de unidades motoras, alterações nas propriedades visco-elásticas do músculo e musculotendinosa e devido às alterações no comprimento-tensão da fibra muscular.

    De acordo com MacPherson, Schork e Faulkner11, uma tensão de 20% ocorre em alguns sarcômeros depois de uma caminhada normal e, certamente, deve exceder em uma rotina de alongamento normal, e isto já teria poder de causar dano ao músculo, resultando no decréscimo de força.

    O volume dos protocolos de alongamento pode ser um fator relevante na perda de força. No estudo de Zakas et al.12, investigando o efeito do alongamento estático nessa mesma musculatura observou que protocolos de cinco e oito minutos causaram déficit significativo no torque isocinético, mas nenhuma diferença significativa foi constatada para um protocolo mais curto, de 30 segundos. Já Brandenburg13, encontrou déficits significativos na performance isocinética dos isquiotibiais após protocolos de alongamento estático com volumes de apenas 15 e 30 segundo.

    Matta et al.14 por outro lado, ao verificarem a influência do alongamento estático inserido dentro do aquecimento, para o desempenho de saltos horizontais de jovens futebolistas, constataram que este não influenciou a performance de explosão muscular. Ainda existem muitos estudos controversos nesta área, por isso se faz necessário novas pesquisas envolvendo este assunto.

Conclusão

    Diante dos dados expostos nesta pesquisa, pode-se perceber que a realização de alongamentos antes de um teste de força máxima provoca uma redução nesta, e por outro lado foi possível notar que o aquecimento proporcionou uma melhora no desempenho da força isométrica máxima nestes atletas.

    Com base nestes resultados, para atletas de alto rendimento, um pouco antes da competição seria eficaz a realização de um aquecimento em vez de alongamentos. Acredita-se que esses alongamentos não teriam grandes influencias para esportistas amadores, apenas para atletas. No entanto, recomendam-se mais estudos, envolvendo indivíduos atletas e não atletas, a fim de comparar resultados.

Referências

  1. RUBINI, E. C.; COSTA, A. L. L.; GOMES, P. S. C.; The effects of stretching on strength performance. Sports Med. 2007; 37(3):213-24.

  2. ALTER, M. Ciência da flexibilidade. Porto Alegre: Artmed, 2a edição, 1999.

  3. BLACK, M.; STEVENS, E. D.; Passive stretching does not pretect against acute contraction-induced injury in mouse EDL muscle. J Muscle Res Cell Motil 2001; 22; 301-310

  4. SHRIER, I.; Does stretching improve performance? A systematic and critical review of the literature. Clin J Sport Med 2004; 14: 267-273.

  5. FOWLES, J. R.; SALE, D. G.; MACDOUGALL, J. D. Reduced strength after passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol. 2000; 89(3):1179-1188.

  6. MAREK, S. M.; CRAMER, J. T.; FINCHER A. L.; MASSEY, L. L.; DANGELMAIER, S. M.; PURKAYASTHA, S. Acute Effects os Static and Proprioceptive Neuromuscular Facilitation Stretching on Muscle Strength and Power Output. J Athl Train 2005; 40(2):94-103.

  7. BLECHER, S.; MATOS, M. G.; ROSETTO Jr, A. J. Teoria e prática na metodologia da pesquisa em Educação Física: construindo sua monografia, artigo e projeto de ação. São Paulo: Phorte, 2004.

  8. MENEGAZ, L. A. A influência do alongamento estático na força isométrica máxima e na eletromiografia. Santa Cruz do Sul: UNISC, 2008.

  9. MANFFRA, E. F.; GREGO, A. N. Influência do volume de alongamento estático dos músculos isquiotibiais nas variáveis isocinéticas. Curitiba: Rev Bras Med Sport – vol. 15, nº 2, 2009

  10. COMWELL, A.; NELSON, A. G.; SIDAWAY, B. Acute effects of stretching on the neuromechanical properties of the triceps surae muscle complex. Eur J Appl Physiol 2002; 86: 428-434.

  11. MACPHERSON, P. C. D.; SCHORK, M. A.; FAULKNER, J. A. Contractioninduced injury to single fiber segments from fast and slow muscles of rats by single stretches. Am J Physiol 1996; 271:C1438-C1446.

  12. ZAKAS, A.; DOGANIS, G.; PAPAKONSTANDINOU, V.; SENTELIDIS, T.; VAMVAKOUDIS, E. Acute effects of static stretching duration on isokinetic peak torque production of soccer players. J Bodywork Mov Ther. 2006; 10:89-95.

  13. BRANDENBURG, J. P.; Duration of stretch does not influence the degree of force loss following static stretching. J Sports Med Phys Fitness. 2006; 46(4):526-34.

  14. MATTA, M.O.; SOARES, H. B.; COSTA, C. M. A.; LIMA, J. R. P.; SOUZA, L. A. L.J. Influência do alongamento estático em diferentes fases do aquecimento para jovens futebolistas.Revista digital EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, nº 128. 2009. http://www.efdeportes.com/efd128/alongamento-estatico-em-jovens-futebolistas.htm

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