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Treinamento em alta intensidade e 

desempenho aeróbio em jogadores de futebol

Entrenamiento de alta intensidad y rendimiento aeróbico en jugadores de fútbol

 

Graduação em Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Federal da Bahia – UFBA

Especialização em Fisiologia e Metabolismo

pela Universidade de São Paulo – USP

Bruno Monteiro de Moura

mmourabruno@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A nova tendência de treinamento físico e técnico no futebol, que muitos preparadores físicos tem estabelecido nos seus grupos de trabalho é de interesse geral na área da Educação Física. Esse trabalho vem tentar explanar um pouco mais das bases fisiológicas (sistema aeróbio, sistema anaeróbio, VO2max, LA, vLAN, vVO2max, capacidade de sprints repetidos) que sustentam as idéias de treinamento mais intenso, próximo ao limiar anaeróbio e sua conseqüente relação com o desempenho aeróbio dos jogadores de futebol profissional.

          Unitermos: Futebol. Limiar anaeróbio. Desempenho aeróbio.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No futebol a avaliação do Limiar anaeróbio tem sido comumente usada para monitorar o estado atlético e aptidão dos atletas (Edwards, 2003). Outros estudos anteriores têm demonstrado que jogadores com maior capacidade aeróbica cobrem maiores distâncias durante um jogo (Bangsbo, 1994) e também completam maior número de sprints (Smaros, 1980).

    Apesar de o metabolismo aeróbico dominar a distribuição de energia durante um jogo de futebol, as ações decisivas são dominadas pelo metabolismo anaeróbico (Smaros, 1980; Rienzi, 2000). Para realizar sprints curtos, saltos, combates, a liberação da energia anaeróbica é determinante com atenção para correr mais rapidamente ou saltar mais alto.

    Com isso, o objetivo desse estudo foi fazer uma revisão bibliográfica sobre como a aplicação do treinamento no limiar anaeróbio (LA) pode aumentar a desempenho aeróbico em jogadores de futebol.

Produção de energia

    Para realizar quase todas as tarefas que nosso corpo necessita para a nossa sobrevivência (funções biológicas), ou para que possa realizar uma ação do nosso comando (movimentos e exercícios), é necessário um gasto de energia para que isto aconteça. Esta energia é proveniente de uma molécula chamada ATP (adenosina trifosfato – uma molécula universal condutora de alta energia, fabricada em todas as células vivas como um modo de capturar e armazenar energia. À medida que o corpo vai realizando suas funções, o ATP é degradado e, conseqüentemente, posteriormente, é restaurado por outra fonte energética que pode ser proveniente da fosfocreatina (outra molécula geradora de energia), das gorduras, dos carboidratos ou das proteínas.

    A produção de ATP é limitada pelos sistemas de produção energética e o qual surgem a depender da intensidade do exercício, existem três processos diferentes para produção de energia (Caputo, 2009):

  1. Sistema Anaeróbio (subdividido em Alático e lático);

  2. Sistema Aeróbio.

    Segundo o autor, o sistema alático compreende a quebra do glicogênio em CP (Creatina Fosfato) e as moléculas de ATP, já o sistema lático denomina-se pela combustão da glicose ou do glicogênio. Para finalizar o sistema aeróbio compreende a quebra total dos carboidratos (glicose e glicogênio), gorduras e somente em alguns casos, com a presença do O2, proteínas (Caputo, 2009).

    A intensidade do exercício contribui para o fornecimento energético, por exemplo, num exercício de baixa intensidade os sistemas anaeróbios lático e alático ajudam proporcionalmente na ressíntese de ATP até que seja atingido um estágio de equilíbrio seja alcançada pelo sistema aeróbio. Contudo durante a atividade intensa, a demanda de ATP pela contração é muito rápida, a mesma estabilidade nunca é alcançada e a fadiga ocorre (Grassi, 2001).

    Para Bangsbo (1990), essas circunstâncias acontecem devido à ressíntese do ATP captado pelo sistema anaeróbio para ressíntese do ATP total. Na atualidade pesquisas vem demonstrando que o sistema aeróbio responde de forma rápida a demanda energética o início do exercício (Gastin, 2001). Um exercício feito de forma máxima, com duração média de 75s, teria contribuições energéticas parecidas dos sistemas aeróbios e anaeróbios (Gastin, 2001). Esse tempo seria menor do que o proposto por livros de fisiologia do exercício mais conceituados (Fox, 2000; Mcardle, 2000).

Treinamento

    Para dar início à discussão, em um estudo molecular mais agudo relacionando sprints repetidos e exercícios de resistência (Coffey, et al 2009), examinou o pico de VO2max, oito series de cinco repetições máximas (80% 1-RM) de extensão de pernas e dez sprints, com seis segundos de duração, repetidos de seis atletas. Foram coletadas biopsias musculares do vasto lateral ao final do experimento.

    O exercício resistido, em especial, aumentou a fosforilação S6K (~75% P < 0.05), mas não houve efeito quanto o exercício resistido foi realizado após os sprints. O exercício diminuiu a IGF-I mRNA após 3-h de recuperação (~50%, P < 0.06) independente da ordem, enquanto o mRNA foi elevada com uma moderada ordem do exercício (P < 0.01). Quando o exercício resistido foi realizado em seguida dos sprints repetidos PGC-1α mRNA sofreu um aumento (REX1-SPR2; P = 0.02) com uma modesta distinção entre a ordem dos exercícios.

    Os sprints repetidos podem promover interferência aguda nas respostas de exercícios de resistência, atenuando iniciação da tradução de sinalização e exacerbando a expressão ubiquitina ligase. De fato, os sprints repetidos parecem gerar a resposta pelo exercício agudo induzido. Principalmente quando empregado de forma concorrente os sprints repetidos e exercícios de resistência (Coffey, et al 2009).

    No futebol, Aziz (2007) demonstrou a relação entre a máxima capitação de oxigênio (VO2max) numa esteira e o teste de multi-estações de 20m com o índice de desempenho obtido pelo teste de sprint repetidos em jogadores profissionais jovens. O autor obteve o resultado uma correlação moderada entre o VO2max e o teste de multi-estações de 20m, porém não houve correlação significante entre o VO2max e o teste de sprints repetidos. Isso quer dizer que somente a aquisição do VO2max e o teste de multi-estações de 20m são pouco úteis para avaliar atletas profissionais jovens.

    Deste modo, alguns preparadores físicos do futebol vem utilizando o que acontece durante o jogo nos treinos físicos, sendo assim, trazendo cada vez mais a especialidade das valências dos jogos para os treinos.

    Para demonstrar o quão válidos são os treinos cada vez mais parecidos com os jogos, alguns trabalhos vem sendo publicados nos últimos anos, como no caso Silva (2011), que investigou a associação entre as variáveis fisiológicas relacionadas à aptidão aeróbia determinada em corrida na esteira e de forma intermitente com mudança de direção com a capacidade de sprints repetidos em jogadores de futebol. No trabalho foram utilizados três procedimentos:

  1. Protocolo incremental na esteira rolante para determinar o PVEST, o VO2max, a vVO2max e a vLAn;

  2. teste incremental de corrida intermitente (TCar) para determinar o PV;

  3. teste de Bangsbo para avaliar a CSR e determinar o tempo médio (TM), melhor tempo (MT) e índice de fadiga (IF).

    Isso quer dizer que a capacidade de sprints repetidos e a aptidão aeróbia são dependente do tipo de protocolo utilizado. No futebol essa informação é de suma importância, visto que o atleta desloca-se em vários sentidos em curtos intervalos de tempo.

    Em outro estudo, Hazell (2010) estudou os efeitos de sprints com 10 e 30 segundos de duração, realizados de maneira máxima, com intervalo de 2 – 4 minutos de intervalo na resistência aeróbia e anaeróbia. Os grupos foram separados em: 30 segundos – 4 minutos de recuperação, 10 segundos – 2 minutos de recuperação e 10 segundos – 4 minutos de recuperação e um grupo controle (sem treino). Todos os grupos foram similares no pré-teste, o grupo controle manteve-se inalterado ao longo do tempo.

    O grupo 10:2 melhorou 3,0%, o grupo 10:4 obteve a melhora de 3,5% e o grupo 30:4 de 5,2% no tempo de 5 km de corrida. Já no VO2max o grupo 30:4 obteve melhora no VO2max de 9,3% e o grupo 10:4 obteve uma melhora de 9,2% e o grupo 10:2 não obteve. Com isso, conclui-se que sprints de 10 ou 30 segundos independente do intervalo de tempo, mostrou alguma evolução nas valências fisiológicas que também são importantes para os atletas do futebol, tanto durante as ações máximas quanto no período de recuperação (períodos glicolíticos ou oxidativos).

Conclusão

    Um melhor embasamento nos aspectos fisiológicos e biomecânicos do esporte pode elevar os atletas a uma melhor condição de situação de jogo prolongando o período de instauração da fadiga periférica. Visto que o jogo é de longa duração e a depleção de glicogênio, o desequilíbrio hídrico e eletrolítico, elevação da temperatura corporal terão um papel decisivo no rendimento (Caputo, 2009).

    A partir da análise dos estudos, o treinamento realizado na forma mais intensa (no limiar anaeróbio), é objeto de estudo e discussão no âmbito da preparação física do futebol. Levando em consideração que no futebol a capacidade de manutenção do número de sprints repetidos durante uma partida os técnicos entendem que cada vez mais há uma maior necessidade de ocupar os devidos espaços no campo e sem perder o ritmo de jogo.

Referências

  • Aziz, A. R., Muhkerjee S., Chia M. Y. A., The K. C.Relationship Between measured maximal uptake and aerobic endurance performance with running repeated sprint ability in young elite soccer players. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 47:401-7 (2007)

  • Bangsbo J. The physiology of soccer: with special reference to intense intermittent exercise. Acta Physiol Scand; 15 Suppl. 619: 1-156 (1994)

  • Caputo F, Oliveira M F M, Greco C C, Denadai D S. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 11(1):94-102 (2009)

  • Coffey V G., J Bozena, Edge J, Garnham A P, Trappe S W e Hawley J A. Effect of consecutive repeated sprint and resistance exercise bouts on acute adaptive responses in human skeletal muscle. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 297: R1441–R1451 (2009)

  • Edwards A.M., Clark N, Macfadyen A.M. Lactate and Ventilatory thresholds Reflect the Training Status of Professional Soccer Players where maximum aerobic power is unchanged. Journal of Sports Science and Medicine 2, 23-29 (2003)

  • Fernandes da Silva J, Guglielmo L G A, Dittrich N, Floriano L T, Arins F B. Relação entre aptidão aeróbia e capacidade de sprints repetidos no futebol: efeito do protocolo. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 13(2): 111-116 (2011)

  • Fox EL, Bowers RW, Foss ML. The physiological basis for exercise and sport. Dubuque, Wm. C. Brown Communications. (1993)

  • Gastin PB. Energy system interaction and relative contribution during maximal exercise. Sports Med - 31(10):725-41. (2001)

  • Grassi B. Regulation of oxygen consumption at exercise onset: is it really controversial? Exerc Sport Sci Rev 29(3):134-8. (2001)

  • Hazell T. J. l., MacPherson R. E. K., Gravelle B. M. R., Lemon, P. W. R. 10 or 30-s sprint interval training bouts enhance both aerobic and anaerobic performance. Eur J Appl Physiol 110:153–160 (2010)

  • Mcardle, William D. et al. Fisiologia do Exercício - Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5. ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. (2000)

  • Rienzi E, Drust B, Reilly T, Carter JE, Martin A. Investigation of anthropometric and work?rate profiles of elite South American international soccer players. J Sports Med Phys Fitness. 40(2): 162?169 (2000)

  • Smaros, G. Energy usage during a football match. In: Proceedings of the 1st International Congress on Sports Medicine Applied to Football. Rome, 795-801. (1980)

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