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Psicologia do Esporte: surgimento, evolução e consolidação

La Psicología del Deporte: surgimiento, evolución y consolidación

 

*Profª Assistente. Departamento de Educação. Campus Universitário Darcy Ribeiro

Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros

**Prof. Assistente. Hospital Universitário Clemente Faria, Montes Claros

***Profª Adjunta. Departamento de Educação. Campus Universitário Darcy Ribeiro

Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros

Simone Vilas Trancoso Souza*

Linton Wallis Figureiredo Souza**

Juliane Leite Ferreira***

simone.vilas@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Psicologia do Esporte tem como objetivo auxiliar técnicos e atletas a entender e solucionar suas dificuldades psicológicas e sociais, sendo uma tarefa específica do psicólogo do esporte, é ajudar emocionalmente os atletas nas fases de insegurança,treinamento e autoconhecimento, a fim de que eles possam encontrar rapidamente a sua segurança e autoconfiança, de tal forma que possam realizar suas possibilidades máximas de rendimento na competição. Relacionada à Educação Física e à Fisioterapia, a Psicologia do Esporte tem buscado ser reconhecida, atualmente, como uma disciplina da Psicologia, entendida como Psicologia aplicada. Tradicionalmente, porém, o que acontece é a relativa ausência da disciplina nas grades curriculares dos cursos de graduação em Psicologia no Brasil. Como área de produção acadêmica e de atuação profissional, a Psicologia do Esporte tem ainda um longo caminho a percorrer, se considerarmos o que já foi feito e o muito que ainda temos a construir, dada a amplidão e complexidade do mundo esportivo.

          Unitermos: Psicologia. Esporte. Educação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, afirma-se que é de vital importância a administração dos níveis das emoções através da preparação psicológica, para que estas funcionem como aliadas ao desempenho esportivo. E que, provavelmente, o diferencial entre a vitória e a derrota em uma competição encontra-se nesta preparação. Diante do equilíbrio técnico alcançado por atletas e equipes de alto rendimento, os aspectos emocionais têm sido considerados como um importante diferencial nos momentos de grandes decisões. Partindo desta afirmação, conclui-se a importância em relatar brevemente e bibliograficamente, o surgimento, evolução e consolidação da Psicologia do Esporte.

    O esporte é uma atividade através da qual, se experimentam e se conhecem as emoções com intensidade, portanto os processos emocionais podem prejudicar ou ajudar a ação esportiva, implicando não só na preparação física e psicológica dos atletas, mas também em suas relações humanas e sociais.

    A Psicologia do Esporte tem como objetivo auxiliar técnicos e atletas a entender e solucionar suas dificuldades psicológicas e sociais, sendo uma tarefa específica do psicólogo do esporte, é ajudar emocionalmente os atletas nas fases de insegurança, treinamento e autoconhecimento, a fim de que eles possam encontrar rapidamente a sua segurança e autoconfiança, de tal forma que possam realizar suas possibilidades máximas de rendimento na competição.

Histórico

    Esporte e psicologia começaram a ter uma relação mais estreita no final do século XIX e início do século XX, quando alguns estudiosos resolveram pesquisar os efeitos dos aspectos psicofisiológicos sobre as atividades físicas e esportivas, sendo Coleman Griffith apontado como aquele que realmente deu a partida na Psicologia do Esporte norte-americana, destacando-se entre os trabalhos que escreveu o estudo "Psicologia de Atletas" (1928). Durante os anos 60 a Psicologia do Esporte vive uma fase de grande produção e a relação de nomes como Cratty, Oxendine, Solvenko, Tutko, Olgivie, Singer e Antonelli, que marcaram a história da área com contribuições voltadas para a psicologia social na atividade física e esporte, culminando em várias publicações que influenciam trabalhos até os dias de hoje (Willians et al, 1991).

    Foi também durante esse período que se organizou a primeira instituição com o objetivo de congregar pessoas interessadas na psicologia do esporte. Surgiu, então, a International Society of Sport Psychology (ISSP), que além de ter como principal publicação o International Journal of Sport Psychology, passou a realizar reuniões bienais com o objetivo de divulgar trabalhos na área, além de promover o intercâmbio entre os investigadores. Preocupados com distanciamento que a ISSP vinha tomando da área acadêmica, um grupo de pesquisadores fundou, em 1968, a North American Society for the Psychology of Sport and Physical Activity (NASPSPA), cujo foco de estudo e atuação recaía sobre aspectos do desenvolvimento, da aprendizagem motora e da psicologia do esporte, tendo como principal periódico o Journal of Sport and Exercise Psychology.

    Observamos, assim, o surgimento e desenvolvimento de um campo denominado Psicologia do Esporte, muito próximo da atividade física e do lazer, sendo inclusive componente curricular dos cursos de Educação Física, porém, mantendo um distanciamento da Psicologia enquanto 'ciência mãe'.

Interação multidisciplinar em atividades desportivas

    Relacionada à Educação Física e à Fisioterapia, a Psicologia do Esporte tem buscado ser reconhecida, atualmente, como uma disciplina da Psicologia, entendida como Psicologia aplicada. Tradicionalmente, porém, o que acontece é a relativa ausência da disciplina nas grades curriculares dos cursos de graduação em Psicologia no Brasil. Recentemente a tendência tem sido a elaboração de uma 'Ciências do Esporte', que congregaria então a Biomecânica, a Sociologia, a Antropologia, a Medicina e a Psicologia do Esporte, bem como outros campos do saber diretamente voltados para a prática esportiva (DISHMAN, apud RUBIO, 2000). Considerada então como uma sub-área das Ciências do Esporte e ao mesmo tempo uma especialidade da Psicologia, a Psicologia do Esporte vem se ocupando apenas de certos aspectos da Psicologia em geral. A clivagem aparece sobretudo na dicotomia construção teórica/pesquisa versus aplicação prática/intervenção psicológica, onde há uma concentração "na importância de variáveis independentes que influenciam a 'performance' (RUBIO, 2000).

    Assim, temos assistido nesta última década a uma 'descoberta' da Psicologia do Esporte como área de atuação emergente para psicólogos que, diante de uma demanda crescente, enfrentam grandes dificuldades para intervir adequadamente, já que os cursos de graduação em Psicologia ainda não formam nem qualificam o graduando para esta possibilidade de prática. Temas como motivação, personalidade, agressão e violência, liderança, dinâmica de grupo, bem-estar psicológico, pensamentos e sentimentos de atletas e vários outros aspectos da prática esportiva e da atividade física têm requerido estudo e atuação de profissionais da área, visto que o nível técnico de atletas e equipes de alto rendimento está cada vez mais equilibrado, dando ênfase especial à preparação emocional, tida como o diferencial.

    No Brasil, é interpretada como um produto da década de 1980. A partir de então, uma rápida evolução foi percebida, com o surgimento de novos pesquisadores, instituições e laboratórios que deram à Psicologia do Esporte o suporte necessário para a sua inclusão definitiva no cenário esportivo competitivo (RUBIO, 2000). A Psicologia do Esporte, que apesar de ter seu início vinculado a trabalhos realizados há mais de um século, no Brasil ainda é vista como uma novidade pelos profissionais do esporte, sejam eles atletas, técnicos e dirigentes, que não têm clareza de que maneira essa intervenção pode ajudá-los a aumentar o rendimento esportivo ou superar situações adversas.

Áreas de atuação da Psicologia do Esporte

    O marco da recente história da Psicologia do Esporte tem seu início nos anos 50. O primeiro livro de Psicologia do Esporte foi realizado em 1962 por Athayde Silva e Emílio Mira (apud RUBIO, 2000). Em 1974 João Carvalhães, o primeiro psicólogo a atuar num clube de futebol, escreve "Psicologia no Futebol" (A. Machado, 1997; Rubio, 1999). Com a explosão de práticas psicológicas ligadas ao meio esportivo e mirando-se pelas instituições existentes em outros países, é criada a Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte em 1979. Na década de 90, novo impulso é dado a este campo com o representativo aumento de profissionais, com a publicação de trabalhos científicos e o crescimento do número de pós-graduações latu sensu na área. O primeiro laboratório é criado pelo professor Dietmar Salmuski, na Universidade Federal de Minas Gerais. Samulski (1992) destaca a necessidade de uma formação abrangente apontando como sendo quatro os campos de aplicação da Psicologia do Esporte:

    O esporte de rendimento que busca a otimização da performance numa estrutura formal e institucionalizada. Nessa estrutura o psicólogo atua analisando e transformando os determinantes psíquicos que interferem no rendimento do atleta e/ou grupo esportivo.

    O esporte escolar que tem por objetivo a formação, norteada por princípios sócio-educativos, preparando seus praticantes para a cidadania e para o lazer. Neste caso, o psicólogo busca compreender e analisar os processos de ensino, educação e socialização inerentes ao esporte e seu reflexo no processo de formação e desenvolvimento da criança, jovem ou adulto praticante.

    Já o esporte recreativo visa o bem-estar para todas as pessoas. É praticado voluntariamente e com conexões com os movimentos de educação permanente e com a saúde. O psicólogo, nesse caso, atua na primeira linha de análise do comportamento recreativo de diferentes faixas etárias, classes sócio-econômicas e atuações profissionais em relação a diferentes motivos, interesses e atitudes.

    Por fim o esporte de reabilitação desenvolve um trabalho voltado para a prevenção e intervenção em pessoas portadoras de algum tipo de lesão decorrente da prática esportiva, ou não, e também com pessoas portadoras de deficiência física e mental.

    A Psicologia do Esporte tem como meio e fim o estudo do ser humano envolvido com a prática de atividade física e esportiva competitiva e não competitiva. Esses estudos podem abarcar os processos de avaliação, as práticas de intervenção ou a análise do comportamento social que se apresenta na situação esportiva a partir da perspectiva de quem pratica ou assiste ao espetáculo (Azevedo Marques & Junishi, 2000; Markunas, 2000; Martini, 2000).

Conclusão

    Como área de produção acadêmica e de atuação profissional, a Psicologia do Esporte tem ainda um longo caminho a percorrer, se considerarmos o que já foi feito e o muito que ainda temos a construir, dada a amplidão e complexidade do mundo esportivo. Certamente, nessas últimas décadas acumulou-se muita informação sobre indivíduos e grupos que praticam esporte ou atividade física sem que isso implique em conclusões ou respostas irrefutáveis. Sei que no âmbito da psicologia no Brasil essa discussão é ainda mais nova, tanto do ponto de vista do interesse como da produção, o que aumenta a necessidade de ampliarmos a discussão e formarmos pessoas para uma atuação competente, como já temos em outras áreas da psicologia.

    Falar de Psicologia do Esporte significa falar de uma área em construção que soma conhecimento de duas grandes áreas - a Psicologia e o Esporte - e tanto uma como a outra não apresentam uma concordância em seus pontos de vista, e têm uma gama imensa de objetos de estudo e pesquisa. Conclui-se que é imprescindível adentrar no mundo da psicologia esportiva, conhecendo as modalidades, o fenômeno e as instituições esportivas para que seja possível o desenvolvimento de novas práticas. Esperamos que esse texto tenha mostrado que a prática clínica, pura e simples, é insuficiente para uma intervenção nesse campo e, quanto mais estivermos abertos, para o entendimento da psicodinâmica de atletas e grupos esportivos, mais estaremos contribuindo para a construção da área tanto no que se refere à atuação como a pesquisa.

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