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Projetos de extensão universitária em Educação 

Física: estudo de caso na cidade do Rio de Janeiro

Proyectos de extensión universitaria en Educación Física: un estudio de caso en la ciudad de Río de Janeiro

 

Centro Universitário Augusto Motta

UNISUAM, RJ

(Brasil)

Adriana Martins Correia

adricorreia@uol.com.br

Carlos Henrique Ribeiro

c.henriqueribeiro@ig.com.br

Valdo Vieira

valdovieira@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O crescimento terceiro setor em todo o Brasil e, em particular, dos projetos esportivos sociais na cidade do Rio de Janeiro é um fato que chama a atenção de toda a sociedade e vem cada vez mais ganhando espaço na mídia. O papel da universidade é fundamental neste processo: ao mesmo tempo em que tem um compromisso como instituição de pesquisa em avaliar este fenômeno, também não pode se eximir como agente de implantação de projetos, uma vez que as IES no Brasil têm como um dos seus pilares a promoção da extensão dos conhecimentos até a população. O presente trabalho tem como objetivo analisar as contribuições dos projetos esportivos sociais desenvolvidos pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), uma IES situada na região da Leopoldina, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Neste estudo focaremos nas ações que envolvem o oferecimento de práticas físico-esportivas à comunidade local e que estão diretamente vinculadas ao Curso de Educação Física da UNISUAM.

          Unitermos: Extensão. Pesquisa. Ensino. Educação Física. Projetos esportivos.

 

Resumen

          El crecimiento del tercer sector en todo Brasil y, particularmente, de los proyectos deportivos sociales en la ciudad de Rio de Janeiro es un hecho que llama la atención de toda la sociedad y viene ganando cada vez más espacio en los medios. El papel de la universidad es fundamental en este proceso: al mismo tiempo que tiene un compromiso como institución de investigación al evaluar este fenómeno, también no puede eximirse como agente de emprendimiento de proyectos, toda vez que las IES en Brasil tienen como uno de sus pilares la promoción de la extensión de los conocimientos hacia la comunidad. El presente trabajo tiene como objetivo analizar las contribuciones de los proyectos deportivos sociales desarrollados por el Centro Universitario Augusto Motta (UNISUAM), una IES situada en la región de Leopoldina, en la ciudad de Rio de Janeiro, Brasil. En este estudio enfocaremos en las acciones que implican el ofrecimento de prácticas físico-deportivas a la comunidad local y que se vinculan directamente al curso de Educación Física de la UNSUAM.

          Palabras clave: Extensión. Investigación. Enseñanza. Educación Física. Proyectos Deportivos.

 

Abstract

          The growing of many social initiatives leaded by Brazilian NGOs, Universities and Government is something quite interesting, especially in the sports arena. In Rio de Janeiro City many of them are been kept the attention of the society and also media. The general role of University is quite basic in this issue: at the same time it has to develop researches in this field it has also to implement many of this kind of social work. Indeed, the University has to implement its own social work as to qualify its staff and students. The main purpose of this paper is criticize a social work in sports develop by a private University in Brazil, Rio de Janeiro City. In this paper we collected some data with the local practitioners and argue the importance of such initiatives.

          Keywords: University. Research. Teaching. Physical Education. Social work.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O crescimento do terceiro setor em todo o Brasil e, em particular, dos projetos sociais na cidade do Rio de Janeiro é um fato que chama a atenção de toda a sociedade e vem cada vez mais ganhando espaço na mídia. O papel da universidade é fundamental neste processo: ao mesmo tempo em que tem um compromisso como instituição de pesquisa em avaliar este fenômeno, também não pode se eximir como agente de implantação de projetos, uma vez que as Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil têm como um dos seus pilares a promoção da extensão dos conhecimentos até a população. Apesar de recente, os projetos extensionistas desenvolvidos pelas IES brasileiras datam do início do século passado e suas ações tiveram desde aquele período um caráter que procurava aliar o ensino e a pesquisa1.

    O presente trabalho visa compreender o impacto social dos projetos esportivos desenvolvidos pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), uma IES situada na região da Leopoldina, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

    O objetivo desta pesquisa é analisar as ações que envolvem o oferecimento de práticas físico-esportivas aos seus praticantes e que estão diretamente vinculadas ao Curso de Educação Física da UNISUAM na Cidade do Rio de Janeiro.

2.     Os projetos esportivos sociais

    Ao apresentarmos uma pesquisa a respeito dos projetos que são desenvolvidos institucionalmente, buscamos ir além da simples análise dos resultados de dos programas de atividade física orientada. Este processo de investigação faz parte de um fazer integrado com as ações de ensino e de extensão da IES e, especificamente, do curso de Bacharelado em Educação Física da UNISUAM/RJ.

    Em relação ao ensino, a pesquisa também tem como um dos seus objetivos indiretos avaliar o papel dos estagiários do curso de Bacharelado, de modo a perceber não só a repercussão da atuação do programa de estágio em relação ao projeto, como também os reflexos da vivência no projeto na formação destes futuros profissionais.

    Do ponto de vista da ação extensionista, a pesquisa é fundamental no sentido de mapear os resultados que vão reorientar as futuras ações, evitando que o projeto se torne mais uma das muitas ações assistencialistas e assuma definitivamente o papel que se espera de uma Universidade: ser um agente de constante produção, aplicação e renovação do conhecimento. As pesquisas realizadas neste ambiente acabam por ter uma dupla face: ao mesmo tempo em que servem como instrumento acadêmico de discussão teórica, servem também como detectores de possíveis falhas na implantação das ações promovidas pela IES.

    Em nosso campo de atuação profissional verificamos que os projetos esportivos de cunho social têm sido importantes áreas de estudo dentro da área de Educação Física, representando uma área de interesse para pesquisadores que procuram avaliar a qualidade destes serviços oferecidos à população. Em termos históricos, a maioria dos projetos esportivos sociais têm sido implementadas por iniciativas do terceiro setor, ou ainda, por empresas do setor privado. No caso das IES as ações tendem a oferecer atividades de responsabilidade social com seu próprio staff profissional e mais especificamente, garantir aos alunos dos cursos de graduação correlatos estágio profissional mais interessantes e coerentes com a realidade do mercado de trabalho.

3.     A implantação do Projeto esportivo social Vida Corrida

3.1.     Apresentação do Projeto

    O Projeto Vida Corrida foi implantado na Rua Oliveira Belo, no bairro de Vila da Penha, área da Leopoldina, na cidade do Rio de Janeiro. Este local, por tradição, já se constituía como um pólo de lazer e atividade física informal frequentado pelos moradores da região, à semelhança do que acontece com as praias e a Lagoa Rodrigo de Freitas na zona sul carioca. O local é amplo, bem iluminado, tranquilo e costuma ser utilizado não só por adultos praticantes de exercício, como também por famílias em momentos de lazer. Alguns chegam até mesmo a ir de carro para caminhar na Oliveira Belo. Em geral, as pessoas que caminhavam neste local o faziam sem a orientação de um profissional de educação física, muitas vezes acompanhando alguém que já possuía este hábito.

    Assim, percebeu-se que se abria aí um nicho para uma intervenção profissional-científica: uma população que já aderia à prática de atividade física e que demandava por orientação e intervenção adequada. É importante destacar o fato de o projeto se iniciar a partir de uma vocação local, pois a própria população elegeu aquele espaço como ponto ideal para tais práticas. Não se trata, assim, de uma ação vertical da academia em relação aos indivíduos e sim de uma parceria entre as instâncias privada, no caso a UNISUAM e o poder público, representado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

    O local foi remodelado pela Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, a pista com 1,7 km foi sinalizada e placas foram colocadas com orientação sobre a prática de atividades físicas. Inicialmente surgiu a idéia de desenvolver um trabalho de orientação sistemática e a implantação de um clube de corrida naquele local. No entanto, a partir de um convênio firmado com Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o projeto também passou a contar com equipamentos de musculação específicos para ambientes abertos, instalados em um espaço de 100 m2, de fácil acesso e manuseio. A Secretaria ficou responsável pela colocação dos equipamentos e IES assumiu a orientação das atividades físicas, a partir da supervisão da Coordenação de Esportes, que contava com o trabalho de profissionais de Educação Física, apoiados por uma equipe de estagiários, encaminhados e orientados pela Coordenação do Curso de Bacharelado em Educação Física.

    A parceria entre a IES e a Secretaria também prevê que as atividades sejam gratuitas em todos os horários e o ingresso de alunos se daria por preenchimento de uma ficha de cadastro, anamnese física e entrega de atestado médico com validade máxima de seis meses.

    Os objetivos do Projeto Vida Corrida para a população frequentadora destes equipamentos são:

  1. Aumentar a segurança em realizar exercícios físicos, com orientação profissional e aparelhos de qualidade;

  2. Captar pessoas sedentárias da comunidade, a partir da oferta de atividade física próximo à residência, aumentando assim a disponibilidade de tempo, comodidade e segurança para toda a família;

  3. Contribuir, junto a estes novos praticantes, para a redução da incidência de doenças geradas pela inatividade física (hipertensão arterial, obesidade, diabetes, osteoporose, ansiedade e depressão),

  4. Contribuir para o processo de integração social dos moradores do bairro.

    A academia, nomeada de Academia ao Ar Livre, foi estruturada para oferecer atividades de segunda-feira a sexta-feira, na parte da manhã, tarde e noite, nos seguintes horários: 06h as 11h e 15h as 21h. No sábado as atividades ocorrem pela manhã, entre 06h e 11h. As atividades duram entre 40 a 50 minutos, sendo cada horário composto com um número máximo de 20 praticantes.

3.2.     Procedimentos metodológicos da pesquisa

    Caracterizamos essa investigação como um Estudo de Caso, que consiste em um estudo profundo de um ou poucos objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento - nosso objeto de estudo são os praticantes da Academia ao Ar Livre, do Projeto Vida Corrida - com cunho descritivo e exploratório2.

    As atividades seguintes foram de levantamento de instrumentos validados utilizados em outras pesquisas. Em relação à forma de aplicação do instrumento para a coleta de dados, decidimos pela elaboração de um questionário. Nossa opção deveu-se a dificuldade que seria entrevistar os praticantes no momento (ou exatamente antes ou depois) de sua prática de exercícios, o que comprometeria a tranquilidade necessária para a resposta das questões. Neste instrumento incluímos questões com variáveis importantes para o delineamento do perfil dos praticantes (como sexo, idade, ocupação, escolaridade, entre outras), e pontos específicos em relação à prática de atividade física e expectativas em relação ao projeto.

    Elaboramos uma primeira versão do questionário valendo-nos de perguntas abertas e fechadas. Com o objetivo de detectar eventuais falhas na compreensão das questões e revisar nosso instrumento de coleta de dados, realizamos um pré-teste da primeira versão do questionário. Para isso, distribuímos o questionário a um grupo de cinco praticantes, que nos devolveram respondido. Na sequência, reformulamos algumas questões chegando, finalmente, à versão final do questionário. Essa versão final foi submetida a três experts, professores doutores em educação física, que consideraram que o instrumento cumpria seus objetivos.

    Procuramos incluir o maior número possível de questões fechadas visando facilitar a apuração dos dados e a tarefa do respondente. Ordenamos as questões numa sequência lógica e tivemos também o cuidado de elaborar as questões com a máxima clareza para evitar dúvidas ou diferentes interpretações por parte dos respondentes questões que pretendiam verificar seus interesses, motivações e mudanças pessoais ocorridas após a sua entrada nas atividades físicas da Academia ao ar livre, além de sugestões em relação ao Projeto Vida Corrida. A amostra foi caracterizada como não probabilística por acessibilidade, em que os respondentes participantes da pesquisa podem representar o universo a ser investigado3.

    Os discentes colaboradores contaram com a ajuda dos professores e estagiários do projeto Vida Corrida e foram entregues 300 questionários, todos embalados em um saco plástico para evitar que o suor os danificasse, sendo deixada uma urna na Academia, para posterior devolução. Foram recolhidos ao final, 114 questionários respondidos.

4.     Análise dos resultados 

O início das atividades do projeto Vida Corrida ocorreu em 19 de abril de 2008. A partir do mês de novembro do mesmo ano começamos nossa investigação neste espaço com visitas frequentes que procuravam observar o cotidiano das atividades realizadas pelos alunos. Sua relação com os professores e estagiários do projeto, a relação da comunidade com o espaço físico. Procuramos realizar uma observação participante, ou seja, uma observação em que os pesquisadores realizam através do contato direto com os seus observados de forma constante, até que os pesquisadores passem a fazer parte também do cotidiano de circulação deste ambiente.

Tabela 1. Faixa etária e sexo dos respondentes

    Entre os respondentes de nosso questionário, 85 foram do sexo masculino e 29 do sexo feminino. A tabulação dos questionários reflete exatamente a observação efetuada no local: há uma substancial preponderância masculina nas atividades. Consideramos que a preponderância do grupo masculino neste projeto se faz maior porque as atividades são realizadas em um lugar aberto, de grande movimento de veículos automotores, grande passagem de pedestres e com um forte comércio ao redor da praça Oliveira Belo. Neste sentido, o público feminino tende a optar por atividades físicas que historicamente são realizadas dentro de lugares fechados, onde a exposição do corpo tende a acontecer preferencialmente entre mulheres, com pouca presença masculina4.

    Outro aspecto de nossa Tabela 1 é o dado “faixa etária”. O público que frequenta este projeto é de maioria considerada “jovem”. O fato de o número de homens praticantes ser acentuadamente maior do que o de mulheres e de os jovens predominarem nos alerta para a possibilidade de a Academia ao Ar Livre reproduzir o mesmo fator que as grandes academias revelam ao afastar mulheres maduras (ou mesmo homens) que estão fora dos padrões estéticos socialmente valorizados: a vergonha da exposição para os que não possuem o corpo “ideal”. O Projeto parece reforçar, num primeiro momento, o espaço comumente percebido nas academias de musculação em que o fator idade e a forma física são elementos de valorização entre os membros que frequentam tais ambientes. Neste sentido, pode estar ocorrendo nestes meses iniciais de implantação da Academia ao Ar Livre uma ocupação de espaço por um público que já se utiliza dos equipamentos de musculação nas academias da região.

Tabela 2. Estado civil

    Os dados a respeito do estado civil também reforçam o perfil anteriormente delineado: predominam os solteiros. Também se encontra relatado na literatura5 que os estágios da vida, o comprometimento com a família e as condições socioeconômicas são fatores que interferem na inclusão e a manutenção de programas de exercícios físicos. E é exatamente na vida adulta madura, quando geralmente se tem uma família constituída, demasiado tempo dedicado ao trabalho é que os hábitos regulares de atividade física ficam em segundo plano. É fundamental que se encontrem meios para motivar essa parte da população, pois é uma fase de mudanças, ou melhor, declínios fisiológicos. A prática regular de exercícios físicos terá impacto na saúde do praticante, podendo prevenir o aparecimento de algumas doenças como cardiopatias, desvios posturais, encurtamentos musculares, estresse e depressão6.

    Assim, nos parece ser essencial a busca de estratégias para estimular o acesso às atividades oferecidas pelo projeto, incluindo um maior número de mulheres, de pessoas mais velhas e daquelas que possuem pouca disponibilidade de tempo para a prática de atividade física. Ou seja, trazer para esta academia um novo grupo social, que não tem o hábito da prática da atividade física, entendendo suas necessidades e particularidades.

Tabela 3. Bairro de moradia

    Também foi possível constatar que os frequentadores, em sua grande maioria, são moradores da região onde se localiza a Academia ao Ar Livre, sendo que 78,1% se deslocam a pé e outros 10,5% de bicicleta. Isso reforça a relação entre a prática de exercício físico e a proximidade da residência, também constatado por Vieira e Ferreira7 em seus estudos sobre o entorno das atividades físicas desenvolvidas no entorno do Estádio Mário Filho, o Maracanã.

    Acreditamos que a população acaba por escolher atividades próximas de sua residência pela minimização do tempo consumido no deslocamento, o que em termos da Cidade do Rio de Janeiro, significa economia de tempo. Sugerimos como política pública a disseminação de um quantitativo maior de Corredores Esportivos em a disponibilidade de espaços públicos para a prática de atividades físicas em que os cidadãos sintam-se confiantes para frequentar atividades físicas de qualidade próximos de suas moradias.

    Parcerias entre o setor privado e público nas questões das iniciativas de implantação de projetos esportivos sociais tendem a beneficiar, portanto, uma população local que por uma questão de tempo livre, deixa de praticar atividades físicas em seu cotidiano. Além disso, o fato das atividades serem gratuitas tende a contribuir na captação e manutenção de novos alunos.

Tabela 4. Razões pelas quais se inscreveu no projeto

    Observando também o principal motivo destacado como fator de procura pelo projeto, o fato de o item ‘Fortalecimento Muscular’ ter sido o mais assinalado nos pareceu compreensivo, pois se coaduna com perfil deste público jovem e masculino.

    Esta foi uma pergunta em que poderia ser marcada mais de uma resposta, desta forma, os itens ‘Melhora na Qualidade de Vida’ e a ‘Melhora da Saúde’ foram significativamente apontados, o que nos mostra que estas temáticas se encontram consolidadas na sociedade e que as questões funcionalistas, ou seja, a prática das atividades físicas se prestam a alcançar determinados objetivos pessoais, combinando questões relacionadas à beleza e à saúde.

    O que nos chamou a atenção nessas respostas foi o item ‘Orientação Profissional’, pois não há uma relação causal entre prática de exercícios físicos e a boa saúde: há a necessidade de que essas atividades físicas sejam realizadas dentro de certos parâmetros, tanto em relação ao número de dias semanais de treinamento, intensidade das sessões, como em relação às qualidades que precisam ser exercitadas constantemente, como condicionamento aeróbio, força, resistência muscular, flexibilidade e composição corporal ideal. E nos parece que a orientação feita pelos profissionais da UNISUAM é um fator decisivo na participação da população nas atividades desenvolvidas no Projeto. Ou seja, a população inserida no Projeto reconhece a necessidade de profissionais especializados, no caso professores de educação física, para a prática orientada de atividade física.

    Destacamos também o fator social como as respostas assinaladas em ‘Fazer Novas Amizades’. Um dos motivos para praticar exercícios é a socialização. Aderir à prática de exercícios é combater a solidão, adquirir novas amizades e ter o apoio social uns dos outros em uma grande área urbana principalmente para um público eminentemente jovem, masculino e solteiro8.

Tabela 5. Mudanças na vida dos participantes após o início das atividades orientadas no Projeto Vida Corrida

    Dos respondentes, 92,11% declarou que houve mudanças positivas em suas vidas após o início das atividades no Projeto Vida Corrida, Academia ao Ar Livre. Desta forma, procuramos saber dentre os que disseram “sim” quais foram os tipos de mudanças positivas encontradas pelos praticantes.

Tabela 6. Mudanças positivas ocorridas

    De uma maneira geral podemos destacar que os condicionantes físicos, sociais e psicológicos foram contemplados nas respostas. Porém, em uma questão em que os respondentes tinham a liberdade de marcar múltiplas opções e ainda incluir outras se achasse necessário, o resultado nos mostra que as respostas mais expressivas ocorreram naquelas ligadas ao preparo físico, que são fundamentais para que as pessoas realizem as suas atividades de vida diária (AVD’s) com autonomia e independência. 

    Os resultados expressam também como a prática de exercício físico leva o praticante a pensar em sua saúde como um todo, buscando uma alimentação mais saudável, mesmo que, em um primeiro momento a pratica da atividade física esteja relacionada preferencialmente com aspectos relacionados à estética corporal.

    Além disso, corroborando com outros trabalhos nesta mesma temática9,10, as relações sociais são fundamentais em um programa de atividades físicas, devendo ser fundamental que se estimule a amizade e o congraçamento entre os participantes do Projeto. Fazer ”Novas Amizades” que em nossa tabela 6 apresentou 17 citações dos nossos respondentes significa que apesar do forte apelo utilitário das atividades físicas, as questões das relações sociais não podem deixar de serem consideradas pelos professores e equipe de coordenação do Projeto. Stigger acrescenta ainda que o “esporte é uma possibilidade de encontro entre as pessoas. Como um espaço de convivência coletiva e de experiência vivida”11.

    Atualmente algumas ações estão em funcionamento, não só no sentido de atingir as metas de popularização do espaço, como também de incrementar as atividades oferecidas. Como nos sábados a frequência à musculação é menor e o número de pessoas caminhando e correndo é maior, foi planejada uma ação que visa captar e orientar estes “atletas de fim de semana”. Para tal, foram destinados sábados nos quais a metade da equipe de professores atende os praticantes para orientação de corrida e caminhada e a outra metade se afasta um pouco do núcleo e vai fazer campanha de captação junto aos que freqüentam a área, tentando incluir novos adeptos.

5.     Considerações finais

    As informações encontradas nesse trabalho são importantes para subsidiar ações que visem a adesão à prática regular de atividade física pela população que utiliza a Rua Oliveira Belo, na Vila da Penha, Região da Leopoldina como local para as suas práticas esportivas.

    Ressaltamos algumas contribuições significativas desse estudo, como o modo como os frequentadores se deslocam até esse Corredor Esportivo. Quase a totalidade vai a pé ou ainda, embora em menor número, de bicicleta. Isso significa que residem provavelmente próximos ao local. Como mostrado anteriormente, outros estudos reforçam essa associação entre a proximidade de locais propícios para o exercício físico e a frequência na sua prática. O acesso e a forma como se acessa são decisivos na escolha de se exercitar ou não. Como a região é extensa e carente de outras instalações esportivas públicas, recomendamos que se viabilize algum transporte gratuito, como os ‘Leva e Traz’, comum em algumas regiões para levar os alunos até a escola. Sallis et al destacam ainda que as instalações esportivas servem de estímulo visual e chamam a atenção para a questão da prática do exercício, reduzindo barreiras físicas e psicológicas associadas ao exercício12.

    Uma recomendação que acreditamos ser essencial para aumentar significativamente o número de pessoas atendidas pelo Projeto Vida Corrida é instituir as atividades orientadas de corrida e caminhada. Em nossas observações e conversas assistemáticas com praticantes não inscritos nos evidencia que o grande interesse no Corredor Esportivo da Rua Oliveira Belo é a atividade aeróbia. E, além disso, pela especificidade das atividades oferecidas na Academia e do seu espaço físico, o número de pessoas atendidas é relativamente ínfimo, se considerarmos todos os que buscam esse espaço para a sua prática cotidiana de exercícios, sem contar com parte da população que poderia estar se exercitando nesse espaço. Para que se melhorem os índices relativos à saúde da população da região é fundamental que se aumente significativamente o número de pessoas atendidas pelo Projeto Vida Corrida.

    O percentual de satisfação apresentados na pesquisa com o Projeto Vida Corrida mostra a aceitação com as atividades proporcionadas pela UNISUAM, devendo agora, depois da fase inicial, aumentar os serviços oferecidos, indo ao encontro do interesse da população local; buscar mais adeptos, contribuindo assim com efetividade pela melhoria na boa saúde e na qualidade de vida da população da região. Os 92,11% de respostas afirmando que tiveram mudanças positivas em suas vidas após o início das atividades comprovam que o Projeto Vida Corrida pode servir como um campo de estudo que alie ensino, pesquisa e extensão para as IES quadro atual brasileiro.

Referências

  1. GIL AC. Como elaborar projetos de pesquisas. São Paulo: Atlas, 2002. 

  2. GIL AC. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1994. 

  3. NEIVA G, GOMES EM de, COSTA JS. Academias de Ginástica só para Mulheres: inovação ou tradição? In: Anais do XV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte; 2007, Recife. Recife: EDUPE; 2007. p.188

  4. NUNOMMURA M, ANDREOTTI RA, TEIXEIRA LA, OKUMA SS. Nível de adesão ao exercício num programa supervisionado. Rev Bras Ativ Fís e Sau. 1997; 2(3): 61-6. 

  5. PAIVA JL, MARCELLINO, NC. Possibilidades para a extensão universitária a partir de uma política de lazer, nas faculdades de educação física. Rev Bras Cienc do Mov. 2004; 12(1): 85-90.

  6. SALLIS JF, JOHNSON MF, CALFAS KJ, CAPAROSA S, NICHOLS JF. Assessing perceived physical environmental variables that may influence physical activity. Res Q Exerc Sport. 1997; 68:345-351.

  7. SANTOS SC, KNIJNIK D. Motivos de adesão à prática de atividade física na vida adulta intermediária. Rev Mackenzie de Ed Fís e Esp. 2006; 5(1): 23-34. 

  8. SANTOS SC, KNIJNIK D. Motivos de adesão à prática de atividade física na vida adulta intermediária. Rev Mackenzie de Ed Fís e Esp. 2006; 5(1):23-34. 

  9. SANTOS SC, KNIJNIK D. Motivos de adesão à prática de atividade física na vida adulta intermediária. Rev Mackenzie de Ed Fís e Esp. 2006; 5(1):23-34. 

  10. STIGGER MP. Políticas sociais em lazer e esportes e participação - uma questão de acesso e de poder; ou subsídios para tomar uma posição frente à pergunta: são as políticas públicas para educação física, esportes e lazer, efetivamente sociais? Rev Motrivivência. 1988; 11: 83-96.

  11. VIEIRA V, FERREIRA, MS. Perfil de Praticantes de Atividade Física na Pista do Maracanã. Rev Ação & Mov. 2004, 1(2): 81-90.

  12. VIEIRA V, FERREIRA, MS. Perfil de Praticantes de Atividade Física na Pista do Maracanã. Rev Ação & Mov. 2004, 1(2): 81-90.

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