Uma análise da correlação entre atividade física e percepção da imagem corporal em idosos Un estudio de la correlación entre actividad física y percepción de la imagen corporal en personas mayores |
|||
*Graduada em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia Especialista em Pedagogia do Esporte pela Faculdade Adventista de Hortolândia **Doutora em Educação Física pela Unicamp Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia |
Miriam de Melo Gonçalves Assunção* Helena Brandão Viana** (Brasil) |
|
|
Resumo Nas últimas décadas, tem havido um aumento significativo da população idosa, e com isso os estudiosos passaram investigar formas de cuidar da qualidade de vida dessa população. Novas estratégias surgem para o melhor conhecimento das características do idoso, a fim de compreendê-los e auxiliá-los. Dentre os fatores importantes para uma vida com qualidade está a prática de atividade física, que interfere diretamente na capacidade de independência, na auto-estima e principalmente na sua imagem corporal. Buscamos com esse estudo mostrar a percepção de idosos ativos e inativos sobre sua imagem corporal e se a prática de atividade física interfere nesse conceito. Unitermos: Atividade física. Idosos. Imagem corporal.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
O indivíduo que tem a oportunidade de passar pelas fases do desenvolvimento humano e chegar até a última fase chamada velhice, tem também a oportunidade de observar e vivenciar as inúmeras mudanças que acontecem no corpo ao longo da vida. Cada fase tem sua característica, seja ela física, psicológica, mental ou espiritual, as experiências que cada indivíduo vivencia constroem seu caráter, conceitos sobre a vida e principalmente sobre si mesmo. Nossos hábitos, conceitos, características, experiências de vida, situações presentes em nosso inconsciente, são itens adquiridos durantes as fases do desenvolvimento que podem vir a nos influenciar de forma positiva ou negativa. Durante o desenvolvimento passamos por algumas modificações. Na fase do envelhecimento naturalmente cabelos brancos aparecem, a visão se desvanece, ouvidos já não escutam como antes, o cansaço começa a fazer parte das atividades de vida diária.
Embora haja mudanças que aparentemente são ruins, existem hábitos que podem auxiliar na diminuição dessas alterações como a atividade física, uma alimentação balanceada e uma vida equilibrada. Essas mudanças que ocorrem no ao longo da vida, vai interferir na percepção que cada um tem de si mesmo. A forma como o indivíduo se vê é nomeado de Imagem corporal, esta imagem não pode ser considerada simples, segundo Turtelli e Tavares (2007). As autoras afirmam que existem diversas visões de como se define imagem corporal.
Estudiosos do tema apontam que há uma divisão entre “imagem corporal” e “esquema corporal” . Imagem corporal é definida por características psicológicas e esquema corporal por características biológicas.
Para Pasian (2010), a imagem interna que o indivíduo desenvolve sobre seu corpo tende a produzir efeito sobre seus relacionamentos com as pessoas ao seu redor e consigo mesmo, desta forma esse sentimento com o “eu” interfere no cuidado com sua saúde física e mental. O conjunto desses sentimentos integram o fenômeno Imagem corporal.
Tavares (2003), classifica de forma clara que imagem corporal é a forma que enxergamos nosso corpo, ou seja, a representação mental do nosso próprio corpo.
A forma da nossa representação mental do corpo acontece por meio do nosso pensamento, sentimento, o que percebemos sobre a nossa própria aparência geral (HART, 2003 apud GAMA et al., 2010). Gama et al., (2010), citando (Bedford & Johnson, 2006; Federici, 2004), reforçam que a imagem corporal sofre influências da sociedade e do ambiente que cada indivíduo vive, dos contatos sociais, das experiências adquiridas, ou seja, ao mesmo tempo em que construímos nossa imagem corporal com nossas sensações nossos pensamentos também somos influências pelo que a sociedade pensa sobre nosso corpo.
Quando não há divisão entre as duas nomenclaturas os estudiosos dizem que imagem corporal e esquema corporal são indissociáveis e que são a representação dinâmica que a pessoa faz para si mesma de sua vivência a cada momento (TURTELLI e TAVARES 2007).
Duarte (2007), divide a mesma opinião que Turtelli e Tavares (2007), acreditam que a imagem corporal é algo dinâmico, sofre influências do movimento, da emoção, do processo cognitivo, algo difícil de ser linear.
Com todas suas características, influências, alterações, a imagem corporal é de grande importância na vida das pessoas e algumas vezes somos sustentados por ela. Sendo a imagem corporal um fator que se altera em sua compreensão de indivíduo para indivíduo, e afeta a qualidade de vida das pessoas, objetivou-se investigar a percepção da imagem corporal por pessoas idosas.
Método
Protocolo de avaliação
Para a análise da imagem corporal do idoso utilizamos a Body Investment Scale (BIS), instrumento criado em 1998 por Orbach e Mikulince, e validada em Israel, seu idioma de origem foi o inglês. A escala possui 24 perguntas que trata de Imagem Corporal, e abrange quatro fatores:
Quadro 1. Fatores do BIS
1 |
Sentimentos e atitudes a respeito da imagem corporal |
2 |
Conforto ao toque |
3 |
Cuidados com o corpo |
4 |
Proteção com o corpo |
Fonte: Campana e Tavares (2009, p.165)
No Brasil, psicólogos bilíngües traduziram o questionário e para comprovação semântica, aplicaram em 20 estudantes de João Pessoa. Para que fosse validado os psicólogos aplicaram em 317 mulheres também residentes em João Pessoa com idade entre 15 e 58 anos (GOUVEIA et al., 2008).
Após a coleta de dados estes foram submetidos a análise exploratória, com rotação varimax (método estatístico). Quatro fatores explicam a variância de 36,3% do total final de escala. O quarto fator foi desconsiderado por apresentar um α = 0,37.
Quadro 2. Fatores e questões da validação brasileira
F A T O R E S |
Denominação |
Questões relacionadas |
1 |
Imagem corporal |
5, 10, 13, 17, 21; |
2 |
Cuidado corporal |
1, 8, 12, 14, 15, 18, 19, 24; |
3 |
Toque corporal |
2, 9, 11, 20, 23; |
Os pesquisadores analisaram os resultados e desconsideraram quatro perguntas, desta forma a versão brasileira é composta por quatro questões a menos que a original, totalizando 20 perguntas. Trata-se de uma escala tipo Likert com cinco opções de respostas, discordo totalmente, discordo, não concordo nem discordo, concordo, concordo totalmente, que representam valores de 1 a 5. Para se obter o escore total da escala, deve-se reverter os escores dos itens 2, 5, 9, 11, 13, 17, e quanto maior a soma total dos itens, maior é o sentimento positivo em relação ao corpo (CAMPANA e TAVARES, 2009).
Característica da amostra
A princípio trinta e quatro pessoas participaram da pesquisa, entre homens e mulheres, sendo sua maioria mulheres, dentre as pessoas que preencheram o questionário, cinco foram desconsideradas por possuírem idade inferior a 60 anos, totalizando 29 questionários analisados. Os participantes apresentaram idade média de 71,86 anos, sendo 95 anos o indivíduo mais velho e 60 anos o indivíduo mais novo, o desvio padrão foi de 7,582.
Participaram oito inativos e 21 ativos, residentes na cidade de Hortolândia, S.P e de Feira Nova, PE, todos sem exceção assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a análise do questionário foram invertidos os valores das questões 2, 5, 9, 11, 13, e 17. Assim houve a seguinte alteração.
Depois de realizada essa alteração nas questões correspondentes, analisamos os dados através do programa EXCEL.
Resultados
Os dados obtidos através da análise foram os seguintes:
Figura 1. Correlação Imagem Corporal e Idade – grupo de ativos
São representados acima a idade de cada indivíduo classificado como ativo, e sua pontuação no Body Investment Scale (BIS) sobre a imagem corporal em nível geral, totalizando 21 participantes. Obervou-se que a idade dos participantes ativos da pesquisa que variou de 60 a 92 anos, pouco influenciou na sua pontuação no Body Investment Scale (BIS) de modo geral. O mesmo ocorreu com o grupo dos inativos conforma mostra a Figura 2.
Figura 2. Correlação Imagem Corporal e Idade – grupo de inativos
Gouveia, et al., (2008), subdividem em quatro fatores a imagem corporal neste instrumento, denominados imagem corporal, cuidado corporal , toque corporal e proteção corporal. Apresentaremos os resultados de acordo com os fatores, e consideraremos idade e imagem corporal.
Figura 3. Fator 1 Imagem Corporal – grupo ativos
Figura 4. Fator 1 Imagem Corporal – grupo inativos
No quesito separado do BIS, denominado Imagem Corporal, o que foi observado é que as pessoas ativas fisicamente pontuam um pouco mais alto no BIS.
Figura 5. Fator 2 Cuidado Corporal ativos
Figura 6. Fator 2 Cuidado Corporal – grupo inativos
No fator, Cuidado Corporal, o grupo de ativos teve um indivíduo com pontuação 20, mas a grande maioria pontuou mais que 30, tendo vários respondentes pontuando 40. Já nos inativos a pontuação ficou um pouco mais abaixo.
Figura 7. Fator 3 Toque Corporal – grupo ativos
Figura 8. Fator 3 Toque Corporal – grupo ativos
No fator Toque Corporal, a pontuação do grupo de inativos ficou mais alta que os inativos. Na literatura encontramos também a relação dessas das variáveis (toque e atividade física), onde outras pesquisas apontaram que pessoas ativas fisicamente tem mais abertura para o Toque Corporal, ou contato físico (VIANA, 2008).
Discussão
Cada vez mais estudos mostram e afirmam que ter uma vida ativa proporciona ao indivíduo diversos benefícios a saúde em todos os aspectos e em todas as idades. Marcelino (2010), realizou um estudo com idosos que relatavam dores crônicas o resultado foi que, os que praticaram atividade física orientados por um profissional de educação física obtiveram uma melhora significativa, antes da pesquisa eles relataram “muita dor”, e depois de participarem das intervenções os profissionais relataram “sem dor”. O autor ainda identificou melhoras na auto-estima e na imagem corporal dos praticantes de atividade física.
Stanski et al. (2010), realizou uma pesquisa utilizando a escala de silhuetas femininas, com mulheres idosas e identificou que a grande parte delas não estão satisfeitas com seu corpo.
Nesse estudo foi identificado que a idade das participantes não foi um item que resultou em alteração na percepção da imagem corporal. Entre os participantes tivemos um indivíduo com idade de 95 anos que apresentou um valor alto em sua percepção da imagem corporal, ao mesmo tempo uma participante com idade de 60 anos também apresentou um valor alto de imagem corporal, portanto nesse estudo não conseguimos identificar se há uma relação entre idade e maior conceito de imagem corporal.
Referências bibliográficas
CAMPANA, Angela Nogueira Neves Betanho e TAVARES; Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Avaliação da imagem corporal: instrumentos e diretrizes para pesquisa. São Paulo. Editora: Phorte, 2009.
GAMA, Eliane Florêncio et al. Nível de satisfação corporal de idosas. Anais I Simpósio de Internacional I Congresso Brasileiro de Imagem Corporal, UNICAMP 2010.
GOUVEIA, V. V. et al. Escala de Investimento Corporal (BIS): evidência de sua validade fatorial e consistência interna. Avaliação Psicológica, v. 7, p.57-66, 2008.
MARCELINO, V. R. Influências da atividade física na imagem corporal e percepção de dor de pessoas idosas com dores crônicas. Anais I Simpósio de Internacional I Congresso Brasileiro de Imagem Corporal, UNICAMP 2010.
MATSUO, F. R.; et al. Imagem corporal de idosas e atividade física. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2007.
PASIAN, S. Uso de testes projetivos na pesquisa de imagem corporal. Anais do I Simpósio de Internacional I Congresso Brasileiro de Imagem Corporal, UNICAMP 2010.
STANSKI, M. R. et al. Imagem corporal da idosas da Universidade Aberta da terceira idade. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 15, nº 150.Novembro 2010. http://www.efdeportes.com/efd150/imagem-corporal-de-idosas.htm
TAVARES, M. C. G. C. F. Imagem Corporal: conceitos e desenvolvimento. Barueri. Editora Manole, 2003.
____________________. O dinamismo da imagem corporal. São Paulo.Editora Phorte, 2007.
VIANA, H.B. Adaptação e validação da ASKAS – Aging sexual knowledge and atitudes scale em idosos brasileiros. 2008. Tese de doutorado, da Faculdade de Educação Física, da Universidade Estadual de Campinas.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 16 · N° 161 | Buenos Aires,
Octubre de 2011 |