Introdução
Considerada como uma pandemia mundial, a obesidade tem como possíveis causas a
alimentação com alto teor calórico associada à inatividade física,
resultando em um desequilíbrio energético que leva a hipertrofia desordenada
de células adiposas, colaborando assim com surgimento de doenças classificadas
como crônico degenerativas (FORD; MOKAD, 2008). De acordo com a literatura, as
principais características desta doença são o desequilíbrio do balanço
energético e redução do metabolismo (FRANCISCHI et al, 2000)
A realização de exercício físico e restrições calóricas podem colaborar
para reversão deste quadro, auxiliando na regulação do balanço energético e
diminuição do peso corporal. Powers e Howley (2000), afirmam que o exercício
físico colabora com 30 a 40% do gasto energético diário. Oliveira (2005),
ainda afirma que os efeitos desta prática podem perdurar por um período de
até 12 horas após a realização da atividade contribuindo dessa forma, para o
aumento da taxa metabólica de repouso.
Dentre as atividades que promovem maiores gastos energético a prática de
exercícios resistidos ou musculação se destaca, devido a sua capacidade de
produzir aumento da massa muscular (ADES et al, 1996). De acordo com Santarém
(1999), os exercícios resistidos, ou de contra-resistência, de modo geral são
realizados com peso. No entanto, a busca por hipertrofia muscular tem colaborado
com o aumento do uso indevido de substâncias que ajudam no ganho de massa
magra, dentre elas se destacam os Esteróides Anabólicos Androgênicos (EAA).
Estas substâncias sintéticas são derivadas da testosterona ou seus
precursores, sendo associados à reversão de quadros de hipogonadismo ou
deficiência do metabolismo protéico, sua utilização desordenada pode
produzir diversos efeitos adversos (SILVA et al, 2002).
De acordo com a literatura os EAA são administrados em períodos normalmente
conhecidos como ciclos que duram de 4 a 12 semanas (KENNEDY, 1992). Os EAA são
consumidos via oral e intramuscular, com períodos de abstinência que variam
entre um mês e um ano. As doses costumam ser de 10 a 100 vezes maiores que as
doses habitualmente preconizadas em tratamentos e estudos médicos (POPE; KATZ,
1988). Os efeitos mais comuns são o aumento da hipertrofia muscular e redução
dos depósitos de gordura corporal, alem de acne, aumento dos pelos corporais,
calvície, afinamento da voz, redução do tamanho dos testículos nos homens e
voz grossa e amenorréia nas mulheres (BROWER, 1989).
O panorama internacional para o consumo não médico dos EAA vem alcançando
proporções cada vez maiores, independente de sexo ou faixa etária mediante
seus efeitos a curto prazo. Sendo assim o presente estudo objetivou verificar
que forma o uso do Decanoato de Nandrolona (DECA) pode atuar na redução da
gordura corporal e no ganho de força em ratos Wistar submetidos ao treinamento
resistido.
Metodologia
Amostra
A amostra foi composta por 20 ratos da raça Wistar machos de 60 dias,
fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Estadual de Maringá, mantidos
sobre dieta padrão e água a vontade durante todo período experimental, os
animais foram mantidos em condições ideais de ciclo de iluminação
claro/escuro de 12/12 horas e temperatura constante de 23°C, aos 90 dias de
vida, foram sacrificados, e as gorduras retiradas.
Procedimentos
experimentais
Os animais foram divididos em 4 grupos experimentais:
animais sedentários (SC).
Grupo
2:
ratos sedentários que fizeram uso
de decanoato de nandrolona (SH).
Grupo
3:
ratos submetidos ao treinamento
físico resistido (TC).
Grupo
4:
ratos submetidos ao treinamento
físico resistido utilizando decanoato de nandrolona (TH).
Administração
de Decanoato de Nandrolona
Os grupos SH e TH receberam administração intramuscular semanal de decanoato
de nandralona (Deca-Durabolin®; Organon do Brasil Ltda, São Paulo, SP, Brasil)
na dose de 10 mg.kg-1/semana (duas aplicações de 5mg.kg-1/semana) proposta por
Trifunovic et al. (1995), Woodiwiss et al. (2000) e Norton et al (2000), em seus
estudos, equivalente às doses abusivas utilizadas por atletas.
Protocolo
de exercício resistido
O os exercícios resistidos foram realizados pelos grupos TC e TH, durante
quatro semanas, três vezes por semana, três séries de dez repetições no
aparelho de agachamento, com intensidade definida em 75% da carga máxima
estabelecida no teste de 1RM, reavaliados e alterados a cada 15 dias.
O protocolo de exercícios resistidos utilizou um aparato adaptado do modelo
proposto por Tamaki et al. (1992), composto por um módulo eletrônico que
emitia corrente elétrica (20mV, 0,3s de duração e 3s de intervalos) aplicada
à calda do animal, emitindo estimulo que auxiliava na execução do movimento
do agachamento.
Figura
1. Aparato de treinamento resistido adaptado do modelo proposto por Tamaki
et al (1992).
Gorduras
Para a determinação da porcentagem de gordura utilizou-se o método
gravimétrico, previamente padronizado e descrito por Oller do Nascimento e
Williamson (1986), sendo os valores expressos em g/100 g de peso corporal.
Tratamento
estatístico dos dados
Para análise dos dados, inicialmente, foi aplicado o teste de Shapiro Wilk,
utilizado para verificar a distribuição dos dados. Tabelas de frequências
percentuais foram adotadas para as diversas classificações.
Todos os dados foram analisados com o auxílio do programa Excel e do
pacote estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão
13.0. A significância foi fixada em 5% (P<0,05).
Resultados
Todos os dados foram apresentados em forma de tabelas, contendo informações
sobre as comparações realizadas entre os grupos que realizaram ou não
exercício resistido e receberam ou não o Decanoato de Nandrolona.
Tabela
01. Peso da gordura subcutânea (g/100g de peso corporal), da água total e
da gordura extraída do tecido pelo método Gravimétrico
A tabela 1 apresenta os valores médios da quantidade de gordura subcutânea dos
animais submetidos ao efeito do treinamento físico resistido e a
administração do Decanoato de Nandrolona. Diferenças significativas (p <
0,05) foram notadas entres os grupos SC e SH, entre SC e TC na variável água
total. Na variável gordura do tecido extraído, diferenças foram encontradas
entres os grupos SC e SH, entre SC e TC. Entretanto a associação entre o
treinamento e administração da DECA não mostrou alteração representativa.
Tabela
02. Peso da gordura periepididimal (g/100g de peso corporal), da água total
e da gordura extraída do tecido pelo método Gravimétrico
A tabela 02 apresenta os valores médios da
quantidade de gordura periepididimal dos animais submetidos ao efeito do
treinamento físico resistido e a administração do Decanoato de Nandrolona.
Diferenças significativas (p < 0,05) foram notadas entre o grupo SC e SH,
entre SC e TC na variável gordura total do tecido extraído. Também foram
verificadas diferenças significativas na quantidade de gordura total de tecido
úmido entre SC e SH e entre SC e TC, porém a associação entre o treinamento
e administração da DECA não mostrou alteração representativa.
Tabela
03. Peso da gordura mesentérica (g/100g de peso corporal), da água total e
da gordura extraída do tecido pelo método Gravimétrico
No parâmetro gordura mesentérica, diferenças significativas (p < 0,05)
foram notadas entres os grupos SC e SH, entre SC e TC na variável gordura de
tecido úmido. Na variável gordura total de tecido extraído ocorreram
diferenças significativas entre os grupos SC e SH e entre o SC e TC. Desta
forma a utilização do esteróide foi eficaz para uma redução dos depósitos
deste tipo de gordura o que não ocorreu quando associado ao programa de
exercício resistido.
Tabela
04. Peso da gordura retro peritonial (g/100g de peso corporal), da água
total e da gordura extraída do tecido pelo método Gravimétrico
Em relação à quantidade de gordura peritonial apresentada na Tabela 4 não
houve diferença significativa nos resultados apresentados.
Tabela
05. Comparação do aumento de carga (g) por momento e entre os grupos, 10
repetições com (75%) da carga máxima e o teste de uma repetição máxima
(100%)
Em relação ao ganho de força, quando analisados os momentos verifica-se que o
grupo que recebeu o hormônio apresentou maiores valores nos três momentos,
porém quando observado as cargas de cada momento os animais que receberam DECA
apresentaram maiores valores, no entanto a diferença no aumento de carga entre
os grupos mostrou que os animais do grupo controle tiveram um maior aumento do
1° para o 3° momento. Desta forma a associação entre treinamento físico
resistido e a administração da DECA não colaborou para um aumento do ganho de
força.
Discussão
O uso indiscriminado de Esteróides Anabólicos Androgênicos (EAA) é cada vez
maior, principalmente entre os praticantes de algum tipo de treinamento
resistido. O consumo, antes exclusivamente de atletas tomou proporções
alarmantes, pois passou a ser utilizados por atletas amadores e freqüentadores
de academia (BROWER, 1989). No presente estudo, o uso de Decanoato de Nandrolona
foi feito com objetivo de investigar se a administração deste EAA poderia
causar alterações em ratos submetidos a um treinamento resistido.
Em relação aos depósitos de gordura foram investigados quatro tipos de
gordura (subcutânea, periepididimal, mesentérica e retro peritoneal), como
representado nas tabelas de 1 a 4, com exceção da gordura retro peritoneal
(tabela 04) que não apresentou diferença entre os grupos todas a outras
apresentaram diferenças significativas entre o grupo sedentário controle e
sedentário hormônio, entre sedentário controle e treinamento controle.
Segundo Radak et al (1999), tanto o treinamento aeróbico como o anaeróbico
(resistido) colaboram para uma modificação da composição corporal. Yoshioka
et al (2001), ainda diz que o treinamento resistido faz com que haja um maior
consumo de lipídios em repouso ou na fase de recuperação pós-exercício,
sendo esta uma possível explicação para o fato dos animais apresentarem
menores quantidades de gordura.
Outro ponto importante é o que afirma McArdle et al (2006), quando diz que o
exercício físico pode causar aumentos da Taxa Metabólica Basal sem
necessariamente ocorrer o aumento da massa magra, porém o mesmo autor afirma
que o aumento de 1 libra (454g) de massa magra faz com que ocorra um aumento
diário de 7 a 10 Kcal na taxa metabólica de repouso.
As variáveis, intensidade, duração e freqüência envolvidas na realização
do exercício físico resistido podem desencadear o desenvolvimento de
hipertrofia das fibras musculares por meio da ativação, proliferação e
incorporação de células satélites, aumento da síntese de proteínas
contráteis e não contráteis e adição de novos sarcômeros em um arranjo
paralelo, desta forma aumentando a capacidade do músculo de gerar força
(HUNTER et al, 1998; TAMAKI et al, 2001; HAWKE; GARRY, 2001). Porém quando
observado as tabela 5 é possível perceber que ocorreram diferenças
significativas em relação ao aumento de cargas nos diferentes momentos. Os
animais que receberam o EAA obtiveram maiores cargas nos três momentos,
entretanto os animais controle apresentaram um maior aumento de carga do 1°
para o 3° momento.
Embora sejam encontradas associações entre o uso de EAA e o aumento da força
muscular. (TAMAKI et al, 2001). Outros estudos não relataram o mesmo efeito,
sendo que as possíveis explicações possam ser que tipo de treinamento foi
aplicado, diferenças individuais e genéticas no que diz respeito ao tamanho,
quantidade e porcentagem de fibras de contração rápida e também o tempo de
aplicação de determinado protocolo de treino (ELASHOFF et al, 1991; CUNHA et
al 2004).
Conclusões
A utilização de Decanoato de Nandrolona nos animais causou uma discreta
alteração no que se refere à redução do tecido adiposo, uma vez que este é
um hormônio anabólico, que por sua vez tem a capacidade de promover
alterações na redução do tecido adiposo corporal assim como o exercício
físico resistido, no que diz respeito ao aumento de força ocorreram
diferenças significativas nos três momentos de readequação das cargas,
porém quando comparado os grupos não ocorreram diferenças estatisticamente
significativas. Desta forma sugere-se ainda que novos estudos sejam realizados
com a mesma população por um período maior de tempo para identificação de
outras alterações, uma vez que o uso de EAA ocorrem em ciclos de 4 a 12
semanas.
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