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O Flamengo e a Raça Rubro-Negra: 

a análise de uma torcida organizada de futebol

Flamengo y la Raza Rojo-Negra: análisis de una hinchada organizada de fútbol

 

*Doutor em Educação Física

Universidade Gama Filho (UGF/RJ)

**Especialista em Educação Física Escolar

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

***Mestrando em Educação Física, UGF/RJ

****Graduado em Educação Física, UGF/RJ

(Brasil)

Prof. Dr. Silvio Telles*

Prof. Esp. Thulyo Lutz**

Prof. Ms. Rômulo Reis***

Prof. Caio Estalote****

Prof. Vinícius Dias****

thulyolutz@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo identificar quais as características da torcida organizada de futebol Raça Rubro-Negra, e de seus torcedores. A pesquisa de caráter descritivo e exploratório contou com a participação de 20 torcedores do clube de Regatas do Flamengo, filiados à torcida organizada Raça Rubro-Negra. Os dados foram coletados por meio de um questionário composto por perguntas abertas referentes ao assunto pertinente. Os resultados mostraram que os torcedores agregam alto valor à torcida, tornando-a uma verdadeira família, com regras e comportamentos próprios, com o intuito de incentivar a equipe de futebol à vitória. A rivalidade entre as torcidas é um fenômeno existente, entretanto é possível observar que os torcedores, quase em sua totalidade, se dirigem ao estádio à procura de momentos de alegria, prazer e emoção.

          Unitermos: Futebol. Torcida organizada. Raça Rubro-Negra.

 

Abstract

          This study aimed to identify the characteristics of the organized cheering group known as “Raça Rubro-Negra”, and its supporters. The research was descriptive and exploratory with the participation of 20 fans of Flamengo's Soccer Team, affiliated to this organized cheering group, “Raça Rubro-Negra”. Data were collected through a questionnaire composed of open questions relating to the subject addressed. The results showed that supporters add high value to the cheering group, transforming it into a true family, with rules and behaviors in order to encourage the football team to victory. The rivalry between the supporters is a phenomenon that exists, though it is possible to observe that almost all of the fans, go to the stadium looking for moments of joy, pleasure and excitement.

          Keywords: Soccer. Fan club. Raça Rubro-Negra.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é o esporte mais popular do mundo. No Brasil, sua importância não é diferente, e segundo Daólio (2006), é inegável a influência que o futebol teve na vida nacional a partir do século XX. Apesar de caracterizar-se, no inicio, como um esporte de elite, a partir de meados da década de 1920, ele se popularizou de tal forma que atinge hoje, direta ou indiretamente, toda a população brasileira.

    Acredita-se que um dos principais motivos para que o futebol ganhasse essa popularidade foi o fato de não precisar de muitos equipamentos para organizar uma partida. Bastava um pedaço de terra onde pudessem improvisar as traves e uma bola para se começar um jogo de futebol. Diante disto, não há como negar, o futebol é uma das maiores representações daquilo que podemos chamar de cultura de massa. O esporte que nasceu para ser praticado pelas elites, foi com o passar dos tempos ganhando ares de cultura popular. Sendo cultura de massa, aquela que surgiu para ser consumida pelos mais diversos grupos, aquela que consegue atingir públicos de diferentes segmentos sociais, aquela que consegue transformar os indivíduos iguais, o futebol consegue se encaixar nesse contexto (CAJUEIRO, 2004).

    Desta forma, o futebol se apresenta como uma representação da sociedade que o pratica, enraizado pelos valores deste povo, como um verdadeiro fenômeno nacional. Daólio (2006) considera o esporte como uma pratica social e que por meio dele a sociedade expressa todas as suas aspirações mais antigas, seus desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas. Para Vogel (1982), existe uma relação entre o espetáculo do jogo de futebol e determinados comportamentos rituais da sociedade que o pratica.

    Tomando o futebol como parte da cultura do brasileiro, é comum observarmos nos estádios, mesmo em jogos que acontecem no meio da semana, enormes multidões torcendo pelos seus times. Torcedores fanáticos, pessoas que são capazes de largar a família, os amigos e até o emprego para acompanhar o seu time jogar, até mesmo em outras cidades e países. Daólio (2006), ao fazer referência a um fato sobre torcedores fanáticos, afirma que uma enorme massa humana acompanhou o time à medida que ele foi derrotando seus adversários e rumando em direção à partida final, numa verdadeira e desmedida euforia. Tornaram-se públicos vários casos de torcedores que abandonaram suas famílias, seus empregos e passaram a viajar com o time durante vários dias.

    O fanatismo exarcebado muita das vezes está atrelado ao fato de o torcedor ser filiado a alguma torcida organizada; que são formadas por um agrupamento de torcedores que se dirigem a favor do time, com valores e regras próprias. Dentre as torcidas mais famosas do Brasil, vale destacar a Raça Rubro-Negra, formada por torcedores do Clube de Regatas do Flamengo.

    Sendo o futebol uma atividade que desenvolve atitudes que representam o comportamento de massas, e essas podem exprimir as características de um determinado grupo em comum, nesse caso a torcida organizada Raça Rubro-Negra, do clube de Regatas do Flamengo; desvelar os motivos que levam indivíduos a aderirem à determinada torcida, aceitando, criando e transformando suas normas de conduta, regras e “leis” internas contribui para compreender o fenômeno sociológico do futebol sobre a vertente do torcedor filiado. Isto posto, buscamos identificar quais as características da torcida organizada Raça Rubro-Negra, e dos torcedores filiados a esta torcida de futebol.

    Para o alcance desse objetivo desenvolvemos algumas questões específicas, a saber:

Método

    Esta pesquisa se apresenta como descritiva e exploratória voltada para as características da torcida organizada Raça Rubro-Negra, bem como de seus torcedores. A amostra estudada foi composta por 20 torcedores filiados, escolhidos de forma aleatória, sendo 16 homens e 4 mulheres, com idade entre 17 e 50 anos, tendo como media de idade 25 anos, residentes em bairros da cidade do Rio de Janeiro, tais como chachambi (dois), Madureira (um), Irajá (quatro), Vila da Penha (dois), Méier (um), Jacarepaguá (quatro), Recreio (dois), Laranjeiras (um), Gávea (um), Jardim Botânico (um) e Icaraí (um).

    A população escolhida teve como pré-requisito ser filiado oficialmente à torcida Raça Rubro-Negra e declarar participar ativamente como torcedor, não bastando apenas à filiação formal. Tal preocupação deve-se à necessidade de uma amostragem que realmente viva intensamente sua relação com a torcida e suas interações com os objetivos do estudo

    Para a coleta dos dados, optamos por utilizar uma entrevista não estruturada do tipo guiada. Segundo Gay (1976), ao elaborarmos um roteiro para as entrevistas, buscamos as mesmas ou semelhantes informações dos entrevistados. Essa ferramenta permite ao entrevistador ajustar a seqüência e o vocabulário das questões em função do respondente. Com este roteiro, que cobre áreas de interesse da entrevista, é dado ao entrevistador liberdade de explorar, aprofundar, elucidar, o assunto, que é objeto do estudo. Com isso, o entrevistador tem liberdade de orientar a entrevista, como se fosse uma conversação normal, de forma espontânea, mas dentro do assunto pré-determinado, até cobrir todos os tópicos de interesse do roteiro, permitindo que os mesmos temas sejam abordados por diferentes pessoas de forma sistemática e compreensiva.

    O instrumento utilizado foi um questionário aplicado aos 20 torcedores, composto por 13 perguntas abertas referentes: adesão à torcida, rivalidade entre clubes e torcidas, características dos torcedores, fidelidade dos torcedores, ídolos do clube, dentre outros assuntos. Os entrevistados responderam ao questionário em sua residência ou no ambiente de trabalho, no período de 15 de março a 20 de maio de 2010, sempre de maneira individual. As respostas foram gravadas em aparelho de mp3 e posteriormente transcritas. Algumas respostas foram analisadas em conjunto, não seguindo a ordem descrita no questionário. Tal decisão teve a intenção de possibilitar uma maior compreensão na escrita e na leitura.

    As entrevistas foram autorizadas através do Termo Livre e Esclarecido de Consentimento como indicam as Normas e Diretrizes Regulamentadoras da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Posteriormente foram transcritas e enviadas aos autores que fizeram a revisão de suas falas. Todos os entrevistados assinaram o Termo Livre e Esclarecido de Consentimento dando ciência sobre os objetivos da pesquisa.

Revisão bibliográfica

    Torcer é uma construção cultural, e baseia-se principalmente em nossas relações e em nossas experiências. Desde meninos somos influenciados por familiares e amigos. Ganhamos bolas de futebol e o uniforme do clube preferido por um de nossos pais. São as influências de familiares, de amigos, a identificação com a história e/ou origem do clube, a proximidade com o mesmo ou a vivência de momentos de sucesso ou fracasso da equipe, além do fato de ir ao estádio com os pais ou parentes, amigos ou vizinhos, que orientam a escolha do time e o estabelecimento de vínculo afetivo com ele. Por isso a relação com equipes de outros esportes não é tão fiel quanto à relação de um torcedor com seu time de futebol. Essa escolha não é aleatória. Ela tem um sentido, segue uma lógica de significados. (MORATO, 2003)

    O Fanatismo e a paixão do brasileiro pelo futebol se apresentam de maneira tão demasiada, que de acordo com Amaral (2008), o torcedor fanático tem o time como a segunda família, o estádio é a segunda casa, e a história do clube é sagrada e única. O torcedor se sente representado pelo time, da mesma forma que também o representa em seus valores e significados. Ainda segundo o autor, escolhido o clube do coração, o torcedor passa a ter uma válvula de escape para suas fortes emoções. Dentro do estádio sua única preocupação é com a vitória, é com o resultado, é com o gol.

    Há uma distinção importante a ser feita entre torcedores e torcida, o que pressupõe constituições e formas diferenciadas. A gênese da figura do torcedor, pessoa que declara ato de fidelidade eterna para um determinado time de futebol, está diretamente associada às disputas, aos campeonatos e às competições, caracterizadas pela relação de identificação torcedor-time. Já a torcida é o agrupamento de torcedores que se associam a um determinado grupo, descaracterizado pela identificação torcedor-time, mas vinculado à relação institucional torcedor-torcida-time, gerando comportamentos performáticos e espetacularizados nas arquibancadas dos estádios. (PIMENTA, 2004)

    As torcidas organizadas se distinguem dos torcedores comuns por suas normas, regras e valores próprios, além de criar comportamentos estéticos diferenciados, na forma de torcer e de se vestir. É fácil reconhecer uma torcida organizada dentro dos estádios, são verdadeiras multidões que em prol do mesmo objetivo, vestem uma só cor e vibram com uma só paixão. Toledo (1996) acrescenta que as torcidas organizadas são como fenômenos que se manifestam pela paixão coletiva por times e clubes, mas que se desdobram e se transformam em paixão pelas próprias torcidas, seus símbolos, suas práticas, e pela sociedade que promovem e que organizam em torno do futebol.

    A maior torcida organizada do Clube de Regatas do Flamengo, a Raça Rubro- Negra foi criada em 24 de abri de 1977. Nesta época, era moda fundar uma torcida organizada de futebol. Às vezes em um jogo só, ou no 1º jogo das torcidas, estas tinham 500 integrantes, já no 2º jogo eram apenas 350, no terceiro jogo 200 e até chegasse ao número muito reduzido, próximo dos 50 integrantes. No entanto, com a Raça Rubro-Negra foi muito diferente. Muito antes de a torcida ser fundada, mais precisamente seis meses antes, já se colocavam vários cartazes espalhados pelo estádio do Maracanã, iam-se as rádios, inclusive com o lema: “O maior movimento de torcida do Brasil”. Este lema surgiu na radio nacional com o intuito de divulgar a futura torcida. Quando a torcida foi realmente fundada, os integrantes só assistiam aos jogos sentados, da mesma maneira de todas as torcidas brasileiras; mas para provar que esta torcida queria inovar e “jogar” com o time, no decorrer do ano de 1977 esta história foi mudando. Havia instantes dos jogos em que os torcedores da Raça Rubro-Negra se levantavam na arquibancada, até o momento em que outros torcedores irritados com esta situação, arremessavam garrafas, obrigando-os a se sentar. Entretanto, em um jogo que não se sabe precisar qual, os torcedores decidiram por assistir ao jogo em pé, mesmo “levando garrafadas na cabeça”, mudando a história das arquibancadas dos estádios. Por muitos jogos, este novo hábito sofreu resistência, mas com o tempo ao ouvirem a música “é, é, é a nossa Raça só assiste jogo em pé!”, as pessoas levantavam-se automaticamente e empurravam o time do Flamengo para mais uma vitória. (estas informações citadas acima foram extraídas do site oficial da torcida Raça Rubro-Negra).

    Corroborando com o texto acima, e para retratar o fanatismo e amor dos torcedores pelo clube, Monteiro (2003) cita que foi a torcida organizada Raça Rubro-Negra que introduziu o costume de assistir aos jogos de pé, com o intuito de se diferenciar dos torcedores “comuns” e também para mostrar a sua dedicação ao time, sendo considerado um sacrifício físico em nome do time e da instituição.

    Atualmente, nas arquibancadas os diversos núcleos da Raça Rubro-Negra, locais e regionais, se fundem para formar a massa não mais anônima, e sim qualificada e identificada como torcida organizada.

Resultados e discussão

    Os resultados da pesquisa mostram que 80% dos entrevistados se associaram à torcida com idade entre 15 e 18 anos. A família se mostrou ter sido a maior influência para que estes torcedores escolhessem o Flamengo como clube, e com o tempo, se sentiram motivados a se associar à torcida. De acordo com um entrevistado, o fato de ter sido levado pelo o seu pai para assistir aos jogos do Flamengo desde pequeno, acabou incentivando-o a torcer pelo time e posteriormente se filiar à Raça Rubro-Negra.

    Em outra questão, foi solicitado aos entrevistados que citassem três palavras que representassem a torcida Raça Rubro-Negra. As palavras que apareceram com maior freqüência foram Paixão, Amor e Raça, respectivamente. Isto demonstra um alto valor agregado pelo torcedor à torcida. Com relação a este assunto, Morato (2003) afirmou que a relação com as equipes de outros esportes não é tão fiel quanto à relação de um torcedor com seu time de futebol. Essa escolha tem um sentido, uma lógica de significados. O quadro abaixo menciona as palavras citadas pelos entrevistados, e a respectiva freqüência.

    Ao serem questionados sobre a forma como vêem a torcida, a maioria dos torcedores da Raça Rubro-Negra informou ser uma grande família, um grupo de pessoas que se unem para torcer e incentivar o time, contagiando a todos. Disseram ainda, ser uma grande tribo, onde cada torcedor tem a sua função, dedicando o seu amor ao time e à torcida. É possível observar tamanho fanatismo dos torcedores para com a torcida e ao clube, onde muitos deles deixam de realizar seus afazeres, sejam eles no labor ou familiar, para acompanhar o time de futebol nos jogos dos campeonatos.

    Os torcedores foram questionados porque se associaram a Raça Rubro-Negra, e não à outra torcida qualquer. Foi possível verificar que o fato da torcida ser tradicional, possuir o maior número de torcedores filiados e ser conhecida por incentivar ao time de maneira gloriosa, foram pontos importantes nas escolhas dos torcedores. Dentre as respostas, uma se destacou; um torcedor informou que se associou a torcida por “ser uma torcida mais família, porque famílias inteiras vão aos jogos e ficam na Raça Rubro-Negra, não ocorrendo confusão e torcedores prontos para apoiar o time em qualquer circunstância.” Isto nos faz ressaltar a importância de os torcedores, sejam eles de torcidas organizadas ou não, irem aos estádios à procura de momentos de alegria, prazer e paz.

    No que se refere à fidelidade ao clube escolhido, 19 entrevistados, ou seja, 95% deles informaram que nunca trocaram de clube, sempre torceram pelo Flamengo. Apenas um torcedor, informou que trocou de clube, e a resposta se deu da seguinte forma: “eu era muito pequeno e fui induzido pela minha família a torcer por um time e quando fiquei mais maduro, escolhi o time que realmente mexeu comigo, o Flamengo”. Para corroborar este assunto, Amaral (2008) diz que o time é uma segunda família e o estádio é uma segunda casa, mas existem casos que algumas pessoas ao ficarem mais maduras têm a percepção de saber realmente qual o clube que ele mais se identifica.

    Ainda com relação à fidelidade ao clube, Silva (2005) diz que ao escolher um time para vida toda, nessa escolha não entra a lógica do descartável, marca do mundo moderno. Não é à toa que o sujeito que muda de time é chamado de vira-casaca, não só porque muda a camisa do time, mas porque, com isso, muda a pele, vira outra pessoa. Manter-se fiel a um time pela vida toda é manter seu caráter, suas idiossincrasias, é ter um rosto definido.

    Em relação à violência, todos os entrevistados responderam que sabem da existência de brigas entre as torcidas, porém informaram não fazer parte do grupo que participa das brigas, tanto dentro quanto fora dos estádios. Contudo, apenas um entrevistado informou que faz parte desse grupo e que participa das brigas por influência de alguns torcedores que vão aos estádios apenas com o intuito de promover conflitos. Sobre este assunto, Pimenta (2004) diz que os torcedores que fazem parte das torcidas organizadas ficam com o estigma de serem pessoas que vão para estádio só para promover confusão e brigar com a torcida rival. É possível concluir, que grande parte dos torcedores filiados à Raça Rubro-Negra não promovem brigas dentro dos estádios, se dirigem a ele apenas para torcer. Entretanto, é notório identificar que há, mesmo que seja eventualmente, momentos de conflitos gerados por determinados torcedores dentro da própria torcida organizada.

    Sabe-se que as torcidas organizadas de clubes distintos demonstram determinada afinidade por outras. Algumas torcidas organizadas são associadas, aliadas ou possuem um alto grau de afinidade com a torcida Raça Rubro-Negra. Os entrevistados mencionaram que estas torcidas são: “torcida uniformizada: os imbatíveis” do clube Vitória da Bahia; “os Fanáticos” do clube Atlético Paranaense. De acordo com um torcedor, o principal motivo da aliança entre as torcidas é: “Proteger a torcida Raça Rubro-Negra quando for aos jogos fora de casa, para fazer o papel da polícia, porque a mesma não da proteção à torcida.” Para retratar o assunto, vale ressaltar que recentemente no último jogo do campeonato brasileiro de 2009 entre Coritiba e Fluminense, após o jogo, a torcida do mandante de campo (Coritiba) protagonizou uma barbárie em campo, agredindo torcedores, policiais e depredando o estádio Couto Pereira. Tal situação foi transmitida ao vivo em rede nacional por uma emissora de televisão, ratificando uma imagem negativa sobre as torcidas organizadas. Na saída do estádio, a torcida do Paraná que é aliada à torcida do Fluminense, escoltou a mesma até a saída do centro da cidade, para dar segurança contra os torcedores do Coritiba.

    Um assunto que merece destaque no que se refere ao universo futebol e torcida, é o fato da rivalidade entre os clubes; 90% dos torcedores investigados mencionaram que o clube que desperta maior rivalidade na torcida do Flamengo, é o Vasco da Gama. Um torcedor definiu esta situação de rivalidade com muita clareza, ao informar como resposta: “Esta rivalidade começou com divergências relacionadas às torcidas organizadas, onde foi passando diretamente aos esportes, e hoje vemos o Vasco da Gama como o nosso maior rival.” É possível identificar músicas elaboradas exclusivamente para afrontar e intimidar a torcida e o time adversário.

    É sabido que o futebol proporciona momentos de extrema alegria e prazer aos seus torcedores, e quando estes se encontram em torcidas organizadas, formando verdadeiras nações, esta situação acontece em demasia. Buscou-se depreender dos torcedores, os momentos de maior alegria à frente da torcida e dos jogos do Flamengo. O ponto em comum de maior destaque dentre as respostas fornecidas, é o momento relacionado à conquista de títulos, sejam eles em nível estadual, nacional ou internacional. Contudo, a conquista mais citada foi a do hexa campeonato brasileiro de 2009, com 50 % das respostas. Acredita-se que este percentual acentuado possa se apresentar devido ao título mencionado ter sido o mais recente conquistado pelo clube do Flamengo.

    Arthur Antunes Coimbra, o Zico, foi citado pelos entrevistados como o melhor jogador de todos os tempos do Clube de Regatas do Flamengo, esta resposta atingiu um percentual de 100%. Para a torcida Raça Rubro-Negra, Zico é reverenciado como um verdadeiro “Rei”, devido aos títulos e conquistas pelo clube em diversos anos como jogador. Vale ressaltar, que jogadores tais como Romário, Ronaldo, Junior, Adílio, Sávio e Nunes também foram considerados verdadeiros ídolos pelo grupo investigado. Estes foram citados em outra questão que tinha como objetivo identificar jogadores que fizeram história no clube.

    Em outro item buscamos identificar quais são os jogadores que os torcedores consideram como ídolos do clube nas últimas temporadas. Os jogadores mais citados foram Adriano, Bruno, Leonardo Moura, Petckovic, Vagner Love e Willians. Estes jogadores foram responsáveis pela conquista do campeonato brasileiro de 2009. O quadro abaixo representa a quantidade de vezes que cada jogador foi citado pelos entrevistados.

Considerações finais

    O desenvolvimento deste estudo possibilitou verificar algumas características da torcida organizada Raça Rubro-Negra, dos seus torcedores e, conseqüentemente do Clube de Regatas do Flamengo. Pode-se dizer que as torcidas organizadas e as suas manifestações peculiares tornam uma simples disputa esportiva entre duas equipes de futebol em um verdadeiro espetáculo, típico das manifestações do povo brasileiro, reverenciado e adorado por quase toda a população nacional.

    É evidente a paixão do brasileiro pelo futebol, em especial ao time escolhido. Entretanto, esta paixão parece ganhar mais força quando este torcedor se filia a alguma torcida organizada. Não é a toa que os torcedores da Raça Rubro-Negra carregam consigo, inclusive nas músicas, o lema Raça, Amor e Paixão pelo clube. Para os torcedores, a Raça Rubro-Negra é uma verdadeira família que tem como objetivo incentivar a equipe e ao clube em qualquer circunstância.

    Pode-se concluir que torcer vai muito além de uma simples manifestação a favor de uma equipe de futebol. Entretanto, é necessário que o torcedor controle suas emoções exarcebadas durante um jogo, em especial quando o assunto é a rivalidade com torcedores da mesma torcida, de outra torcida e até de outro clube. Assim, o futebol e as torcidas cada vez mais terão adeptos para tornar esta manifestação cultural que embora tenha nascido tão longe do Brasil, o povo brasileiro a representa como nenhum outro.

    Por fim, é necessário que mais estudos sejam elaborados para contribuir na discussão em torno da instituição futebol e das torcidas organizadas, a fim de compreender as mais diversas manifestações em torno destes fenômenos, para tornar o futebol, cada vez mais, o esporte mais popular do mundo.

Referências

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