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O efeito da prática sistemática da ginástica 

artística no tempo de reação de crianças

El efecto de la práctica sistemática de la gimnasia artística en el tiempo de reacción de los niños y las niñas

 

*Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte - FESBH

**Grupo de estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora

Universidade Federal de Minas Gerais - GEDAM/UFMG

(Brasil)

Amanda Antunes Duarte*

Fernanda Carolina de Assis e Santos*

Carolina Costa Barbosa*

Márcio Mário Vieira* **

carolcb84@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi comparar o efeito da prática sistemática da ginástica artística no tempo de reação de crianças. O tempo de reação foi medido utilizando-se uma plataforma ligada a um microcomputador contendo seis recipientes enumerados 1, 2 e 3 na parte superior e 1, 2 e 3 na parte inferior. O tempo de reação foi extraído da tarefa de transporte de bolas de tênis da parte inferior da plataforma para a parte superior em uma ordem pré-determinada (1-1/2-2/3-3) na maior velocidade possível. Interpretou-se como tempo de reação o período entre a apresentação do estímulo e o momento em que o sujeito tirou a mão da chave de respostas para iniciar a tarefa. A amostra foi composta por 30 indivíduos. Vinte crianças entre 9 e 11 anos de idade (10,6 ± 0,8), de ambos os sexos, foram divididas em dois grupos (n=10): crianças (GC) e ginastas (GG). Ainda foi utilizado um grupo de adultos fisicamente ativos (n=10) com idade entre 18 e 35 anos de idade (25,7 ± 5,4). Foi utilizada uma Anova one way para a análise estatística o qual não registrou diferença entre os grupos. Os resultados indicaram que a prática sistemática da ginástica artística não influenciou no tempo de reação de jovens ginastas.

          Unitermos: Tempo de reação. Ginástica Artística. Crianças.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A ginástica artística se caracteriza pela modalidade esportiva na qual o principal elemento é a acrobacia. Consiste em um esporte elegante, com diferentes níveis de complexidade, composto por movimentos específicos que tem como objetivo a perfeita execução de seus elementos. Os bons níveis de desempenho dos praticantes de ginástica artística se relacionam as capacidades que foram desenvolvidas com o treinamento como a flexibilidade, força, velocidade, resistência muscular, coordenação motora, equilíbrio, propriocepção e a capacidade de reação constituem em exemplos dessas estruturas que influenciam o comportamento habilidoso (FERREIRA, 1994).

    Ao se considerar a prática como um importante componente formador do comportamento habilidoso, deve-se distinguir que tipo de ênfase essa variável deve assumir no contexto da formação do indivíduo. Pode se caracterizar os aspectos ligados a reabilitação, ao lazer, ao alto rendimento e a educação, diferenças que determinam o tipo de prática e seu objetivo (GAYA; TORRES, 2007). Assim, a prática sistemática pode ser considerada aquela que busca os melhores níveis de desempenho os quais correspondem as características principais da performance habilidosa, menor gasto energético, maior nível de precisão e menor tempo para aquisição e execução (SCHMIDT,1988). Esse comportamento habilidoso é construído através da melhora de um conjunto de capacidades inerentes ao desempenho das diversas modalidades esportivas (FRANCHINI, 2001).

    Dentre as inúmeras capacidades o tempo de reação (TR) representa o intervalo de tempo entre a apresentação de um estímulo e o início da resposta (RODRIGUES; RODRIGUES, 1994; SCHMIDT; WRISBERG, 2001; WEINECK, 1999; MAGILL, 2000) sendo utilizado como ferramenta para avaliar a velocidade e eficácia da tomada de decisão dos indivíduos. Os intervalos mais longos determinam problemas no processo de seleção da resposta enquanto intervalos curtos indicam bons níveis perceptivos, levando-se em consideração o nível do desempenho (MACHADO-PINHEIRO; GAWRYSZEWSKI; RIBEIRO-DO-VALLE, 1998; SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006). Ainda, o processo de seleção de respostas em tempo hábil e sua precisão se relacionam com o tempo de reação, também caracterizado como capacidade de reação. A quantidade e a qualidade dessa capacidade contribuem diretamente com os processos relacionados ao mecanismo de resolução de problemas motores (Souza; Almeida, 2006).

    O TR pode ser influenciado por fatores como o tipo de estímulo (WELFORD, 1980), a complexidade da tarefa (HENRY; ROGERS, 1960) ou nível de conhecimento da tarefa (MACEDO et al., 2007). Contudo, a idade e a prática parecem influenciar mais fortemente essa variável (HAYWOOD; GETCHELL, 2004; SOUZA; ALMEIDA, 2006; SCHMIDT, 1993).

    O tempo de reação (TR) diminui à medida que se aumenta a idade e esse fator pode ser explicado pelos processos de maturação do sistema nervoso. Contudo, essa melhora tende a estabilizar na fase adulta (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Os achados de Henry e Rogers (1960) confirmam essa afirmação determinando que crianças apresentam intervalos de TR mais longos quando comparados a adultos. O mesmo foi observado no estudo de Cratty (1986), no qual crianças de 5 anos de idade apresentam TR duas vezes mais longos que adultos.

    Na relação entre o TR é a prática pressupõem-se que a prática sistemática influencia diretamente a redução do TR diminuindo o número de incertezas no estágio de seleção da resposta, assim como o intervalo de tempo no estágio de programação do movimento, por conseqüência aumentando a eficiência do desempenho (LIDOR; ARGOV; DANIEL, 1998; MAGILL, 2000). Na comparação de indivíduos praticantes de atividade física e sedentários o TR de ativos foi significativamente menor, pois a prática propiciou maior capacidade de discernimento em relação aos aspectos relevantes e irrelevantes de um estímulo (ABERNETHY, 1988; WILLIAMS; WALMSLEY, 2000). No que se refere a prática de modalidades esportivas e sua influência sobre o TR de seus praticantes o estudo Younghen (1959), com mulheres adultas, concluiu que mulheres atletas apresentam TR significativamente menores que mulheres não atletas. Todavia, esse estudo não dividiu os grupos baseados nas diferentes modalidades esportivas. Estudos têm mostrado que a prática de atividade física na forma de modalidades esportivas pode promover uma melhora no tempo de reação (TR) (LUPINACCI et al., 1993; VOORRIPS et al., 1993; KUUKKANEN; MÄLKIÄ, 1998; SIMONEN et al., 1998).

    Os efeitos da prática sobre o TR aparentam ser conclusivos, contudo, em sua maioria os estudos comparam sedentários e ativos, e quando o foco são modalidades esportivas compararam-se iniciantes e habilidosos (KIOUMOURTZOGLOU et al., 1997; LANDERS; BOUTCHER; WANG, 1986; MCPHERSON, 1999). Entretanto, a prática apresenta diferentes características dentre elas a organização e a duração. A prática sistemática esta relacionada com o processo de desenvolvimento de uma modalidade esportiva que é plurianual, sistematizada e organizada em etapas podendo ocupar mais de uma fase da vida (NUMOMURA; CARRARA; CARBINATO, 2009). Assim, poderia a prática sistemática da ginástica artística reduzir o TR de crianças, de forma a se aproximarem do desempenho de adultos? Rejeitando a influência da idade e apresentando menores intervalos de TR quando comparados a crianças não praticantes? Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos da prática sistemática da ginástica artística no tempo de reação de crianças.

Método

Amostra

    Participaram do estudo 30 indivíduos voluntários de ambos os sexos. Dez crianças ginastas (crianças que praticavam apenas ginástica artística) e dez crianças que não praticavam nenhuma forma de atividade física regular, com exceção da Educação Física escolar. A faixa etária das crianças estava entre 9 e 11 anos, média de idade de 10,6 (± 0,8). O grupo de adultos fisicamente ativos, pratica de atividades regulares (2 a 3 vezes por semana com tempo não inferior a 50 minutos), com faixa etária entre 18 e 35 anos, média de idade de 25,7 (± 5,4). Todos os indivíduos eram inexperientes na tarefa, saudáveis, ou seja, sem presença de problemas visuais, motores ou cognitivos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte, sob parecer de número 025/2011.

Instrumento e tarefa

    Foi utilizado um aparelho composto de duas estruturas: uma plataforma contendo seis recipientes enumerados de 1 a 3 e uma central de controle ligada a um microcomputador, constituída por diodos que fornecem estímulo visual para iniciar a tarefa e uma chave de resposta para registro das medidas de tempo. Um software foi desenvolvido para medida e armazenamento dos tempos de reação e tempo de movimento fornecido pelo aparelho.

    A tarefa consistiu em transportar três bolas de tênis, uma por vez, dos recipientes da parte inferior da plataforma para os recipientes da parte superior seguindo a ordem pré-determinada (1-1/2-2/3-3), na maior velocidade possível. O teste foi composto por quinze tentativas nas quais o tempo de reação (TR) foi medido a partir do início do estímulo visual (acendimento dos diodos) e o início da resposta (retirada da mão da chave). Utilizou essa tarefa que também apresenta tempo de movimento, para aproximar a situação das tarefas do cotidiano, que em sua maioria, também apresentam tempo de movimento.

Figura 1. Desenho esquemático do aparelho utilizado

Delineamento e procedimento experimental

    Os indivíduos foram divididos em três grupos (n=10): crianças (GC), crianças ginastas (GG) e adultos fisicamente ativos (GA).

    Os voluntários foram recebidos pelos pesquisadores responsáveis, que verbalmente informaram os procedimentos do teste. O indivíduo era posicionado em frente à chave de controle e a plataforma, de forma a visualizar os diodos ao lado direito da chave; logo a seguir os voluntários iniciavam a realização do teste para registro do tempo de reação seguindo o sequenciamento pré-determinado e em velocidade máxima.

    Antes do início de cada tentativa os sujeitos receberam a informação sobre a seqüência de movimentos a ser realizada através da apresentação de um cartão de 8 x 11 cm que ficava afixado no centro da plataforma. Ao sinal “prepara”, fornecido pelo experimentador, a chave era pressionada, e após um estímulo visual (acendimento dos diodos) a chave era solta iniciando o transporte das bolas de tênis na ordem pré-definida entre os recipientes. Ao término da seqüência de posicionamento das bolas, a chave deveria ser pressionada novamente caracterizando o fim da tarefa.

    Foram utilizados apenas indivíduos destros e excluídos aqueles que erraram a sequência.

Resultados

    Na figura 2 foi apresentado o desempenho dos grupos em média do tempo de reação.

Figura 2. Gráfico do tempo de reação dos grupos em milissegundos

    A Anova one-way (3 grupos) conduzida registrou diferença entre os grupos [F(2, 27)=11,596, p=0,0002]. O teste post-hoc Tukey determinou que o tempo de reação do grupo de crianças ginastas foi superior ao grupo de adultos (p=0,00654), e ainda adultos apresentaram menores TR que crianças (p=0,00033) e não houve diferença entre o grupo de crianças ginastas e crianças (p=0,4015).

Discussão e conclusão

    No presente estudo as crianças que praticavam ginástica artística sistematicamente não apresentaram menores tempos de reação (TR) que crianças não praticantes ou mesmo que os adultos. Esses resultados não confirmaram o papel da prática esportiva na redução do tempo de reação. Analisando-se o nível de desenvolvimento de adultos confirmou-se que seu TR foi menor não apenas que crianças, mas também que as praticantes de modalidades esportivas (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Quanto a comparação crianças e adultos os presentes resultados corroboram os achados de Henry e Rogers (1960) e Cratty (1986) que encontraram que crianças apresentam maiores intervalos de TR quando comparadas a adultos. Contudo, a prática da ginástica artística não corroborou com os achados sobre o efeito favorável da prática sistemática de atividade física, estudos como Lupinacci et al. (1993), Voorrips et al. (1993), Kuukkanen; Mälkiä, (1998) e Simonen et al. (1998) que registraram sua influência positiva sobre o TR, fornecendo suporte ao papel da atividade física regular na diminuição do TR.

    Uma possível explicação para os achados do presente estudo pode estar na no nível de desenvolvimento motor das crianças o qual ainda não se apresenta maduro para possibilitar as possíveis operações de seleção e elaboração da resposta características dos intervalos de tempo de reação (CRATTY, 1986; HAYWOOD; GETCHELL, 2004).

    Outra explicação pode se basear nas características da ginástica artística, na qual o tempo de reação esta em aspecto secundário, uma vez que sua principal necessidade se dirige ao tempo de movimento em alta velocidade, ou seja, nos aspectos ligados a força muscular (HENRY E ROGERS, 1960). Ainda, a natureza de uma habilidade fechada como a ginástica artística, reforça a baixa necessidade de menores intervalos de TR, uma vez que o ambiente se mostra sempre estável, sem interferências externas (MAGILL, 2000, SCHMIDT, 1988).

    Outro fator interveniente pode ser a baixa especificidade do teste o que pode ter favorecido as crianças não praticantes de ginástica, em sua maioria, experientes em tarefas de apertar botões.

    Em suma, os resultados apresentados não confirmaram a influência da prática sistemática da ginástica artística na diminuição do TR de crianças impossibilitando assim uma melhora no desempenho através da menor capacidade de reação. Para resultados mais consistentes sugere-se futuros estudos que apresentem em seu desenho metodológico uma amostra constituída de indivíduos praticantes de diferentes tipos de modalidades esportivas e testes mais específicos.

Referências

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