Proposta de material didático para as aulas de Educação Física  do ensino médio: ‘Biomecânica para pensar/agir no voleibol’ Propuesta de material didáctico para las clases de Educación Física en la  escuela media: ‘La biomecánica para pensar/intervenir en el voleibol’
	Professor de Educação Física do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Sudeste de Minas – Campus Juiz de Fora. Mestre em Educação (Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ) Pós-graduado em Educação Física Escolar (Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF/MG) Licenciado em Educação Física (UFJF/MG). Membro pesquisador do Coletivo de Estudos de Política Educacional - FIOCRUZ	Graziany Penna Dias graziany.dias@ifsudestemg.edu.br (Brasil)
	Resumo           O presente texto é a apresentação do material didático produzido para aulas de Educação Física, de nível médio, tendo como tema o ensino do voleibol numa outra perspectiva, a de biomecânica para a educação física. Nessa perspectiva foram utilizados os referenciais biomecânicos num viés qualitativo. O compreender nesse procuraram garantir apreensão tanto desses referenciais quanto de suas influencias nos fundamentos, que passaram, a nosso ver, a serem mais carregados de sentido, já que se compreende não só “o como fazer”, mas também “o porquê se faz”.           Unitermos: Biomecânica. Educação Física. Voleibol.
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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    O presente texto é fruto do esforço na produção de material didático para as aulas de Educação Física dos cursos integrados, de nível médio, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas – Campus Juiz de Fora. A perspectiva de tal material se alinha com uma determinada visão e perspectiva de Educação Física, entendida como área de conhecimento que tematiza os conteúdos da cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

    Nesse ínterim, também se compreende que os avanços em relação aos aspectos pedagógicos de trato com o conhecimento, apontam a necessidade da Educação Física também construir materiais didáticos que possibilitem maior compreensão dos temas da cultura corporal, em suas múltiplas dimensões.

    Isso já vem acontecendo, como é o caso do livro didático público do Paraná,¹ para turmas do ensino médio, que contribuiu de forma exemplar, para novas visões sobre os conteúdos da área. Sua elaboração se deu de forma diferenciada de se conceber a produção de um livro didático, pois se pautou numa perspectiva participativa, já que foi construído com os professores da rede pública estadual, procurando abordar, os conteúdos da cultura corporal, de forma crítica e contextualizada. De acordo com Angulski et. al. (2011),

    O Livro Didático Público, escrito integralmente por professores do Ensino Médio da rede pública estadual, é o resultado de um processo que valorizou as experiências dos professores, acumuladas ao longo da sua trajetória profissional no espaço escolar, a troca de experiências entre professores da mesma disciplina do nível Médio da rede e professores das Instituições de Ensino Superior, sem perder de vista o rigor da pesquisa e a cientificidade do conhecimento de forma crítica e reflexiva. (p. 05).

    E, dessa experiência, pode-se tirar duas questões importantes. A primeira é sobre a contemporaneidade dos conteúdos, refletindo na prática concreta dos alunos. Segundo Angulski et. al. (2011),

    Os aspectos contemporâneos do conteúdo tratado precisam discutir abordagens atuais deste conhecimento, incluindo a reelaboração dos conceitos, as aplicações ou usos contemporâneos destes conceitos, as práticas atuais, enfim, abordagens que colaborem para que estes conhecimentos e sua aprendizagem sejam significativos para os alunos. (p. 04).

    O segundo aspecto é com relação à perspectiva do trabalho interdisciplinar, pois os conteúdos trabalhados deveriam referir a duas áreas de conhecimento de outras disciplinas, de modo a tratar tanto dos conhecimentos relativos à especificidade da sua disciplina, mas apontando suas relações com as outras áreas (ibid.).

    Na medida em que o conhecimento representa uma unidade do diverso (KOSIK, 2002), ou seja, uma totalidade que expressa suas mediações com a realidade a sua volta e não simplesmente como uma unidade separada do mundo, a-histórica e acrítica, como era concebido, hegemonicamente; é compreensível a opção pela perspectiva interdisciplinar na elaboração do material didático. Referência que foi seguida por nós já que o material aborda, por exemplo, áreas da Física, sem com isso perder o foco e a especificidade dos conteúdos da Educação Física.

    Essas duas perspectivas também nortearam o trabalho do presente material didático. Não obstante, outras referências também foram relevantes nesse processo. Pautando em Saviani, numa elaboração extremamente relevante sobre o trabalho educativo, singular do gênero humano². De acordo com ele, “[...] o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto dos homens.” (SAVIANI, 1997, p. 17).

    De acordo com essa elaboração, portanto, o ser humano não nasce enquanto tal, mas tem que lhe ser inscrita e produzida à humanidade. E isto, é feito por meio da educação, em que a escola se torna instituição central. Essa instituição, segundo Saviani (1997), trabalha com um determinado tipo de saber denominado de “saber-escolar”. Esse se configura como um saber que sistematiza o conhecimento científico, erudito; confrontando-o com o saber popular, que não é descartado, nessa perspectiva, mas requalificado com base no saber científico, produzido pela humanidade.

    De acordo com o autor,

    [...] para a escola existir não basta à existência do saber sistematizado. É necessário viabilizar as condições de sua transmissão e assimilação. Isso implica em dosá-lo e sequenciá-lo de modo que a criança passe gradativamente do seu não-domínio ao seu domínio. Ora, o saber dosado e sequenciado para efeitos de sua transmissão-assimilação no espaço escolar, ao longo de um tempo determinado, é o que nós convencionamos chamar de “saber-escolar”. (ibid., p. 23).

    E, nesse contexto de condições para transmissão e assimilação do conhecimento sistematizado, é que se insere a necessidade e importância da produção de materiais didáticos, que possam contribuir com o processo de assimilação-transmissão dos saberes científicos, na forma de “saberes-escolares”, confrontando/afirmando os saberes adquiridos no senso comum, na experiência imediata.

    Outro ponto de destacarmos é com relação à visão de biomecânica. De acordo com Nozaki (2005), enquanto área de conhecimento das ciências naturais, a biomecânica, na realidade brasileira teve um papel destacado na década de 1960, momento em que o esporte ascendeu no cenário mundial, pós 2ª guerra mundial. Nesse contexto a biomecânica vai ser ter um direcionamento de seus estudos para o desporto de alto rendimento, visando à melhoria da performance desportiva.

    Pois, na medida em que as nações passaram a utilizar o esporte, via eventos esportivos mundiais, para mostrar sua força político-econômica-social, nada mais lógico, na perspectiva hegemônica, do que alinhar a biomecânica a esse projeto.

    De acordo com Nozaki (2005): “Os estudos de Biomecânica, nessa perspectiva, não atendiam às necessidades pedagógicas da Educação Física. Assim, a Biomecânica, nos anos 90, também foi apontada como uma entre tantas outras disciplinas científicas, que não mantinham diálogo com a Educação Física.” (p. 51).

    Os estudos e pesquisas, pouco se relacionavam com a Educação Física, voltada para área escolar. O abismo se colocava ainda maior, quando se procurava pensar a biomecânica enquanto área que pudesse contribuir com a formação do professor. Não obstante, algumas pesquisas e trabalhos³ procuraram reverter essa visão fragmentada, procurando discutir uma biomecânica para educação física, mas com recomendação que noz faz Nozaki (1999),

    [...] sem contudo cair na armadilha de achar que o aprimoramento técnico do gesto motor seja o objetivo final da aula, assim como que tal gesto motor não deva ficar confinado àqueles de origem esportiva, mas sobretudo, também provenientes dos jogos, ginástica, dança, folclore, entre outros [...]. (p. 254).

    O material didático que se segue, foi fruto também dessas reflexões. O material que foi produzido sob o título “Biomecânica para pensar/agir no voleibol”, procurou discutir as referências do campo biomecânico que podem ser identificadas em alguns dos fundamentos do voleibol, com o intuito de possibilitar a vivência reflexiva da execução desses movimentos. No entanto, como foi, inclusive, expresso no material: “Não implica, porém, que esses aspectos vão ditar como devem ser realizados os movimentos, mas como referências importantes que ajudarão na construção, inclusive, de um estilo próprio para a realização de qualquer um desses fundamentos”.

    A técnica foi entendida como meios para se atingir fins, de maneira que essa tem de estar subordinada às finalidades humanas e não o contrário (BRACHT, 2009). Dessa forma, a partir da compreensão desses referenciais que influenciam os fundamentos, a perspectiva foi que os alunos compreendessem os fundamentos não só numa perspectiva mecanicista. O compreender procurou ir além, numa perspectiva qualitativa, inclusive, vislumbrando a reinvenção dos movimentos, que passam a ser mais carregados de sentido, já que se compreende não só “o como fazer”, mas também “o porquê se faz”. Segue, portanto, o material.

Notas

1. Para ter acesso ao livro, acessar o link: http://www.seed.pr.gov.br/portals/livrodidatico. Inclusive, o livro está disponibilizado para uso livre, desde que respeitado a indicação da fonte.

2. A expressão gênero humano é utilizada no lugar de espécie humana, não por acaso, mas pautado nas elaborações de Duarte (2001). O autor não descarta a idéia de que o ser humano faz de parte da espécie humana, porém ele avança nessa elaboração. De acordo com ele a categoria espécie humana se refere à identificação do homem, por seus elementos biológicos, assim como os demais seres vivos. Desta forma, essa categoria não ajuda a diferenciar o homem dos animais. Já a categoria gênero humano destaca as características humanas que são formadas ao longo da história social, não transmissíveis pela herança genética. “A categoria de gênero humano não se reduz àquilo que é comum a todos os homens, não é uma mera generalização de características empiricamente verificáveis em todo e qualquer ser humano. Gênero humano é uma categoria que expressa a síntese, em cada momento histórico, de toda objetivação humana até aquele momento”. (ibid., p. 26). Para saber mais ver Duarte (2001).

3. Santos (1998) “O paradigma da cultura corporal e a técnica dos movimentos: seus aspectos limitantes e a possibilidade de superação”, Pacheco (1995) “Biomecânica: um recurso de fundamentação teórica para o ensino de dança”, Nozaki (1997) “Biomecânica e Educação Física: do seu quadro de relações a uma possível contextualização” e Silva (1996) “Descontextualizarão entre teoria e prática na educação física: o caso da biomecânica”.

Referências bibliográficas

• ANGULSKI, Cíntia Müller; FUGIKAWA, Claudia Sueli Litz; SANTOS, Fabiano Antonio dos; GONÇALVES, Felipe Sobczynski e NAVARRO, Rodrigo Tramutolo. Livro Didático Público de Educação Física: um diálogo com a prática pedagógica. Disponível em: http://www.cbce.org.br/cd/resumos/162.pdf, Acesso em: 23/08/2011.

• BRACHT, Valter. Esporte de rendimento na escola. In: STIGGER, Marco Paulo & LOVISOLO, Hugo (orgs.). Esporte de Rendimento e Esporte na Escola. Campinas, SP: Autores Associados, 2009, pp. 11-26.

• COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1993.

• DUARTE, Newton. Educação Escolar, Teoria do Cotidiano e a Escola de Vigotski. – 3ª ed. rev. e ampl. – Campinas, SP: Autores Associados, 2001. (Coleção polêmicas do nosso tempo, v. 55).

• KOSIK, Karel. Dialética do Concreto – 7ª ed. – Editora: Paz e Terra, 2002.

• Livro Didático Público de Educação Física / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 248 p. Disponível em: http://www.seed.pr.gov.br/portals/livrodidatico. Acesso em: 23/08/2011.

• NOZAKI, Hajime T. Biomecânica e Educação Física: do seu quadro de relações a uma possível contextualização. Rio de Janeiro: UERJ – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 1997 (Dissertação de Mestrado em Educação).

• ______. Biomecânica e educação física. In: JUNIOR, Alfredo Gomes Faria et alli (orgs.). Uma introdução à Educação Física. Niterói, RJ: Corpus, 1999.

• ______. Biomecânica. In: GONZÁLEZ, F. J. & FENSTERSEIFER, Paulo E. (orgs.) Dicionário Crítico de Educação Física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

• PACHECO, A. J. P. Biomecânica: um recurso de fundamentação teórica para o ensino de dança. Memória de licenciatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1995.

• SANTOS, F. N. L. O Paradigma da Cultura Corporal e a Técnica dos Movimentos: seus aspectos limitantes e a possibilidade de superação. Memória de licenciatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.

• SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações – 6ª ed. – Campinas, SP: Autores Associados, 1997 (Coleção polêmicas do nosso tempo, v. 40).

• SILVA, R. V. C. Descontextualizarão entre Teoria e Prática na Educação Física: o caso da biomecânica. Memória de licenciatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1996.

 

Biomecânica para pensar/agir no voleibol

“Aprender não é nunca chegar a ser capaz de repetir

o mesmo gesto, mas de, perante a situação,

dar uma resposta adequada por meios diferentes.”

Maurice Merleau-Ponty

Introdução     Em qualquer atividade humana os aspectos mecânicos estão presentes influenciando, em muito, as ações humanas direcionadas a qualquer fim que seja. No voleibol, enquanto manifestação da cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES, 1992), culturalmente produzida e historicamente situada; também encontramos os aspectos biomecânicos (cinéticos e cinemáticos) que influenciam os seus movimentos específicos, os fundamentos (posição de expectativa, saque, recepção e levantamento – toque por cima e manchete – levantamento, cortada e bloqueio).     Assim, em cada uma dessas ações podem ser identificados aspectos biomecânicos. E, entender esses aspectos, de forma qualitativa, pode contribuir para a realização desses movimentos com maior facilidade.     Não implica, porém, que esses aspectos vão ditar como devem ser realizados os movimentos, mas como referências importantes que ajudarão na construção, inclusive, de um estilo próprio para a realização de qualquer um desses fundamentos.     A técnica será entendida aqui como meios para se atingir fins, de maneira que essa tem de estar subordinada às finalidades humanas e não o contrário (BRACHT, 2009). Iniciaremos por compreender esses aspectos e suas relações com os fundamentos do voleibol. 1.     Recepção (Toque por cima e manchete)     A recepção no voleibol é feita, em geral, por meio das ações do toque por cima e da manchete. Esses movimentos visam recepcionar a bola que foi enviada pelo time adversário, por meio do saque. Também ajudam a preparar o ataque. Nesses movimentos percebemos alguns elementos biomecânicos (cinéticos e cinemáticos) importantes de serem considerados. Pois, por se tratarem de ações feitas com os braços, parte-se do mal entendido de que são realizados apenas por esses e não pelo corpo como um todo. Assim, uma referência importante é a de “transferência de energia”.     Quando realizamos o toque por cima, por exemplo, temos de ter em mente que todo o movimento que se acrescenta (ou se retira) nessa ação específica, adiciona (ou subtrai) mais energia mecânica, fazendo com que a bola vá mais longe (ou mais perto).     Assim, quando há realização do toque por cima, da manchete e do saque; torna-se importante que ao realizar o fundamento, seja utilizado o corpo como um todo (DARIDO & JÚNIOR, 2007), na execução desses movimentos, como mostram as figuras a seguir.     Nessas figuras podemos observar que em “A” o movimento é realizado apenas utilizando-se a extensão dos braços, fazendo com que a bola seja projetada com uma determinada energia. Já a figura “B”, mostra o uso das pernas e braços, trabalhando em conjunto para enviar a bola. Quando isso ocorre há uma soma das energias dos movimentos de extensão das pernas e braços para realizar o mesmo movimento.     Pela perspectiva da “transferência de energia”, teremos um acréscimo de energia mecânica, desde os pés até os braços e mãos (que vão se estendendo); fazendo com que a bola seja enviada com mais energia, sem com isso utilizar mais força muscular. Observa-se, portanto, que a força muscular não é o elemento principal na realização desse movimento.

    Da mesma forma, quando pensamos no deslocamento feito em quadra, também podemos identificar esse processo da “transferência de energia” e sua influência nas ações do jogo. Por exemplo, quando um aluno vai em direção à bola, deslocando-se para frente, para realizar sua recepção, pela manchete, esse aluno detém uma velocidade de deslocamento e ao tocar nessa bola (que já vem com uma determinada velocidade), vai lhe transferir mais velocidade, pois além da velocidade da bola, a mesma vai retornar com a soma de grande parte da velocidade de deslocamento do aluno (Figura A). Isso faz com que essa bola vá para além do desejado (passá-la a um colega, por exemplo).

    Da mesma forma, se esse aluno se desloca para trás, (a favor da trajetória da bola) na hora que está realizando o toque ou a manchete, ele acaba retirando parte da velocidade dessa bola, fazendo com que ela vá com menos velocidade, assim, menos energia mecânica (Figura B).

    Assim, faz-se importante ter em mente que o nosso deslocamento na quadra de jogo também transfere energia à bola (seja aumentando, seja diminuindo). E isso traz implicações ao jogo, pois muitas vezes a realização do fundamento manchete, pelo aluno, está perfeita (em termos da sua execução), mas devido a não observação desse processo de “transferência de energia” o resultado final, por exemplo, de enviá-la a um colega, fica prejudicado.

2.     Saque por baixo

    O saque historicamente vem passando por uma evolução, de modo que atualmente, ele representa não só a forma clássica de iniciar a partida, colocando a bola em jogo, mas o primeiro momento de ataque que uma equipe realiza sobre a outra. Porém, esse fundamento pode trazer a dificuldade na sua realização. Pois como tarefa, tem que se transpor a bola para o outro lado da quadra, fazendo-a avançar a uma distância de mais de 09 metros, passando por sobre a rede, de altura variável (de acordo com a idade e o gênero), mas que ultrapassa, em média, os 2,20 metros de altura, sendo feito com uma batida vigorosa por uma das mãos. Além disso, tem-se o problema da direção que a bola é batida, pois ela pode cair fora da área de 09 metros.

    Muitas vezes o que se observa e ouve-se de quem não consegue realizar o saque é o seguinte: a falta de força no braço para golpear a bola (NOZAKI, 1999). Como veremos o saque não tem como fator determinante, para sua execução, a necessidade de grande força muscular, de modo que a partir de referenciais da biomecânica é possível desenvolver a técnica, com estilo próprio, para realização desse fundamento. Seguem, portanto, alguns desses referenciais.

2.1.     Velocidade angular e velocidade linear

    O corpo humano ao realizar uma ação, desenvolve movimentos angulares e lineares. Sendo assim, esses movimentos transferem velocidade tanto angular quanto linear. Pensando estritamente no saque por baixo, podemos estabelecer as seguintes reflexões como mostra figura 1. Nessa tem-se a execução do saque por baixo. Estão identificadas duas regiões do braço onde a bola vai ser golpeada. Na região 1 se refere ao antebraço, na região 2, a mão. A ideia aqui é podermos compreender os aspectos relativos às velocidades angular e linear. Nessa figura temos também o braço na posição A, que é a posição inicial, quando esse é projetado atrás. Já a posição B é quando o mesmo braço projeta-se para frente, golpeando a bola.

Assim, já é possível estabelecermos a relação entre essas velocidades angulares e lineares a partir do movimento angular, no caso, o saque. Na flexão da articulação do ombro, e, em relação a todo o braço movimentado, temos tanto a região 1 quanto a 2, com mesma velocidade angular, pois se tem, num mesmo espaço de tempo, o mesmo ângulo.

    Contudo, teremos diferentes velocidades lineares para essas mesmas regiões, pois os descolamentos lineares são diferentes, como mostra a indicação da figura 2.

    Isto implica dizer que se o sacador golpear a bola com a mão irá imprimir maior velocidade linear a ela do que se tocasse a bola com o antebraço (NOZAKI, 1999). Portanto, na hora de golpear a bola é interessante que o aluno o faça com o braço estendido (BOJIKIAN e BOJIKIAN, 2008). Esse apontamento já demonstra que na execução do saque a força muscular do braço não é o fator determinante na sua realização. Mas a forma como se realiza o movimento.

    E com essa referência é possível criar um estilo próprio na hora de sacar, pois não há aqui a determinação de qual ângulo o braço deve realizar para sacar a bola, isso vai depender da individualidade de cada um. Talvez para algumas pessoas seja possível golpear a bola com um determinado ângulo que para outras talvez tenha de ser maior ou menor.

2.2.     Aceleração positiva

    A aceleração positiva é outra referência, do campo biomecânico, importante para ajudar a compreender o movimento do saque por baixo. Cabe entender inicialmente a aceleração como sendo a variação da velocidade na unidade de tempo (HALL, 1999).

    Dessa forma, quando realizamos o saque é importante que o movimento seja sempre acelerado, implicando que na hora de golpear a bola não se pare o braço imediatamente, pois dessa forma se estará acelerando negativamente, ou seja, desacelerando, e, por conseguinte, diminuindo a velocidade transferida à bola. A figura 03 ilustra o que queremos dizer.

    Essa posição “A” refere-se à projeção do braço, que golpeará a bola, encontrando-se inicialmente atrás da linha do corpo. A posição “B” refere-se ao exato momento em que a bola é golpeada, e como dissemos, se o braço parar nessa posição significa que houve uma desaceleração do movimento. E a posição “C” representa o momento em que o braço finaliza o movimento após o golpe dado à bola, implicando que houve aceleração positiva no momento (posição B) em que essa bola foi golpeada, sendo, portanto, transferida maior velocidade.

2.3.     Área e pressão

    Área e pressão são outros dois referenciais importantes que também vão ajudar a compreender o ato de sacar a bola. Vão ajudar inclusive a pensar a questão da direção de envio da bola até o outro lado da quadra. Entende-se a pressão como sendo a divisão da força pela área em que essa é exercida. Assim temos uma relação importante expressa da seguinte forma: quanto maior for a força, maior é a pressão, ou seja, a força é diretamente proporcional a pressão. E quanto maior for a área de contato dessa força, menor será a pressão, ou seja, a área é inversamente proporcional a pressão.

    Assim na hora de golpear a bola essa pode ser uma informação relevante especialmente quando se tem dificuldade de transpor a bola para a quadra adversária, pois quanto menor o contato da superfície da mão com a bola, maior será a pressão exercida, transferindo, dessa forma, mais energia mecânica.

    Não obstante, isso traz algumas implicações na questão da precisão, pois quanto menor a área maior pode ser a imprecisão na direção que essa pode tomar. Por exemplo, uma forma mais “precisa” de golpear a bola, pode ser com a mão em forma de “concha” (côncava) (BOJIKIAN e BOJIKIAN, 2008) que promove um maior contato da superfície da mão com a bola, aumentando a precisão, mas também diminuindo a pressão.

    As outras formas de contato geralmente por apresentarem menor área de contato com a bola admitem um formato mais convexo, que aumenta a pressão exercida na bola, mas perde-se na precisão. Isso pode ser observado, quando da realização de um saque, a bola sai lateralmente ao invés de transladar em linha reta. As figuras 04 e 05 a seguir ilustram essas relações.

3.     Saque por cima no voleibol

    O saque por cima, também chamado de saque tipo tênis, tem se constituido numa das principais formas de ataque. Em competições basicamente não se vê outro tipo de saque sendo utilizado, pois esse é extremamente difícil de ser defendido. Existem diversas variações na forma de realizar esse tipo de saque, para efeitos de nosso estudo vamos ater aos dois mais conhecidos: o saque tipo tênis com rotação e o saque flutuante (BOJIKIAN e BOJIKIAN, 2008). Cabe destacar que as mesmas reflexões feitas nos itens: “2.1 - Velocidade angular e velocidade linear”, “2.2 – Aceleração Positiva” e “2.3 – Área e pressão”; valem, também, para o saque por cima, não importando suas variações. Assim, fica a mesma referência de golpear a bola com o braço mais estendido possível, de forma acelerada e atendo-se as referências sobre área de contato da mão na bola.

    Esses dois saques apresentam características interessantes, sob o ponto de vista biomecânico, quando entendemos a bola enquanto projétil. De acordo com Nozaki (1999), chamamos projéteis os corpos lançados ao ar e que não conseguem imprimir velocidade e direção própria durante sua fase de vôo. Nesse momento os fatores de interferência são: a “força da gravidade” e a “resistência do ar” (HALL, 1999).

    Assim, quando a bola é golpeada ela sofre a força da gravidade, que atuará puxando a mesma de volta ao solo. No caso da resistência do ar teremos implicações interessantes. Dependendo da ação que empreendemos a essa bola, assim como da intensidade ou não da corrente de ar, fazemos com que ela “ganhe” efeitos que podem tanto facilitar a transposição da bola para o outro lado da quadra, quanto ser bem ofensivo, dificultando a sua recepção pelo jogador do outro time.

    De acordo com Rasch (2008) quando uma bola é lançada com rodopio ou batida fora do seu centro de maneira que rodopie, faz com que ela, por efeitos aerodinâmicos, tenha uma trajetória curva e a direção dessa curva terá relação com o sentido do giro que essa bola vai ter. De acordo com a figura 06, temos o seguinte: o lado da bola que gira na direção da corrente de ar oferece menos resistência a essa, fazendo com que a pressão do ar seja menor nessa região da bola, não obstante a região da bola que gira contra a direção dessa mesma corrente de ar oferece maior resistência, fazendo que a pressão do ar seja maior nessa região. Isso cria diferentes pressões em lados opostos da bola. Esse fenômeno também é conhecido como efeito Magnus. O resultado disso é que bola tende a desviar sua trajetória para o lado em que há menos pressão, como mostra a figura 06.

    Assim o saque tipo tênis com rotação, feita no sentido anti-horário (igual ao da figura 06) tende a subir mais ajudando na transposição mais facilitada por sobre a rede. Essa rotação também possibilita uma trajetória mais uniforme já que a bola sofre a ação dessas pressões da corrente de ar. Entretanto, por ter uma trajetória mais definida ele é mais previsível a recepção do adversário. Para realizar esse tipo de saque a ação determinante é a da mão que no momento do golpe faz uma flexão do punho. Em outras palavras, a mão é projetada para frente e para baixo.

    Já essa previsibilidade da trajetória não acontece com o saque tênis flutuante, pois nesse, a bola é golpeada de modo a não exercer nenhuma rotação, ou seja, ela vai “parada”. Com isso a bola “flutua”, descrevendo uma trajetória irregular. De acordo com Bojikian e Bojikian (2008, p. 82), quanto mais densa for a camada de ar que a bola encontrar mais freada será projeção. Para realizar esse saque a mão deve bater na bola de forma estendida, sem flexão do punho, ou seja, com a mão firme, como se fosse uma raquete a golpear a bola. Dessa forma, não é feito nenhum movimento de rotação na bola.

Considerações finais

    O presente material teve por intenção refeltir sobre alguns movimentos essenciais do voleibol, à luz da biomecânica. Não obstante, esse olhar foi muito mais na perspectiva de compreender a influência desses aspectos, em caráter mais qualitativo, ou seja, de forma a compreender o movimento mais por referência da sua ação do que por meio de fórmulas. Não que essas não sejam importantes, mas na medida em que não se pretende aqui o aprimoramento técnico do gesto motor, como objetivo final das aulas de Educação Física; o compreender nessa perspectiva qualitativa garante antes a sua compreensão e, inclusive, sua reinvenção dos movimentos, que passam a ser mais carregados de sentido, já que se compreende não só “o como fazer”, mas também “o porquê se faz”.

    Adredita-se que com essas referências possa ser possível criar um estilo próprio de realizar esses fundamentos. Outro aspecto relevante foi mostrar que essas ações do jogo não são estritamente força muscular, de maneira que é possível a todos(as) realizar os fundamentos, com base nas suas capacidades individuais. Talvez cada um faça de formas variadas para atingir o mesmo objetivo. É essa, portanto, nossa perspectiva de técnica, como dito no início, meios para se atingir fins, de modo que a técnica subordina-se ao ser humano e não o contrário.

Referências bibliográficas

• BRACHT, Valter. Esporte de rendimento na escola. In: STIGGER, Marco Paulo & LOVISOLO, Hugo (orgs.). Esporte de Rendimento e Esporte na Escola. Campinas, SP: Autores Associados, 2009, pp. 11-26.

• BOJIKIAN, João Crisóstomo Marcondes e BOJIKIAN, Luciana Perez. Ensinando Voleibol. São Paulo: Phorte, 2008.

• COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

• DARIDO, Suraya Cristina & JÚNIOR, Osmar Moreira de Souza. Para Ensinar Educação Física: possibilidades de intervenção na escola. Campinas, SP: Papirus, 2007.

• HALL, Susan. Biomecânica Básica – 3ª edição – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.

• NOZAKI, Hajime T. Biomecânica e Educação Física. In: JUNIOR, Alfredo Gomes Faria et alli (orgs.). Uma introdução à Educação Física. Niterói, RJ: Corpus, 1999.

• RASCH, Philip J. Cinesiologia e Anatomia Aplicada. – 7ª edição – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

• Documentos e artigos consultados ONLINE WILDMANN, Paulo. História do tênis. Disponível em: http://www.bhtennis.com.br/site3/index.php?option=com_content&view=article&id=41:historia-do-tenis&catid=19:artigos&Itemid=104, Acesso em: 01/09/2011.

• História do voleibol. http://pt.wikipedia.org/wiki/Voleibol. Acesso em: 01/09/2011.

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