Linfedema hoje: uma revisão do tratamento fisioterapêutico Linfedema hoy: una revisión del tratamiento fisioterapéutico Lymphedema: physical therapy management |
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*Especialista em Fisioterapia em Uroginecologia, Acadêmica do curso de Pós-graduação em Fisioterapia Dermato-funcional e Cosmetologia Fisioterapeuta do Instituto de Medicina Integrada de Manaus **Mestre em Tecnologia em Saúde, Professora das Faculdades Integradas Espírita, Professora do Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino, Professora da Inspirar - Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde, Fisioterapeuta da Exline Clínica Integrada. ***Mestre em Ciências da Saúde. Professora da Inspirar ****Especialista em Fisioterapia Uroginecológica pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos, CBES; Mestrando do Mestrado em Fisioterapia da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC |
Barbara da Costa e Silva* Gilian Fernanda Dias Erzinger** Telma Cristina Fontes Cerqueira*** Gustavo Fernando Sutter Latorre**** (Brasil) |
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Resumo Introdução: Linfedema é o acúmulo de líquido intersticial concentrado em partículas grandes e proteínas. No espaço intersticial existem substâncias oriundas do metabolismo celular, restos celulares e microrganismos, que se não forem eliminadas atrapalham o bom funcionamento celular, acarretando disfunção do tecido acometido. O sistema linfático tem a função de transporte destas substâncias, que são absorvidas por ele, formando a linfa. Elas são transportadas por canais linfáticos até os linfonodos, onde estes removem da linfa as substâncias nocivas e a linfa segue seu trajeto por ductos linfáticos cada vez maiores até atingir a circulação venosa. Quando há disfunção na produção da linfa (aumento) ou lesão de ductos linfáticos ou ainda de linfonodos, ao ponto dos ductos linfáticos remanescentes não vencerem a demanda da linfa, esta se acumula nos tecidos e ocorre o linfedema. Objetivos: Os objetivos desta revisão bibliográfica são descrever a abordagem fisioterapêutica atual empregada no linfedema e mostrar a validade da aplicação dos diferentes tratamentos fisioterápicos da doença. Metodologia: A procura foi realizada por meio de consulta eletrônica nas bases de dados do Pubmed, da Capes Periódicos e da Biblioteca Cochrane de revisões sistemáticas. A recuperação dos arquivos bibliográficos foi realizada por meio dos endereços eletrônicos (sítios) da Biblioteca Cochrane, do Portal Brasileiro da Informação Científica (Periódicos Capes) e do Portal da Biblioteca Virtual em Saúde (Bireme). Foram, também, consultados sítios eletrônicos que discutissem a respeito do tema, além de livros publicados. Resultados: Poucos estudos foram encontrados na literatura científica. Conclusão: Não é possível determinar, com base na bibliografia pesquisada, se há resultados benéficos provenientes da prática fisioterapêutica no linfedema, havendo uma escassez na literatura recente de estudos adequadamente desenhados a respeito do assunto. Unitermos: Fisioterapia (Especialidade), Modalidades de Fisioterapia, Linfedema.
Abstract Introduction: Lymphedema is the accumulation of concentrated interstitial fluid in large particles and proteins. There are substances in the interstitial space from the cellular metabolism, cellular debris and microorganisms, which are not eliminated hinder the proper functioning cell, causing dysfunction of the affected tissue. The lymphatic system has the function of transport of these substances, which are absorbed by it, forming the lymph. They are transported by lymphatic channels to the lymph nodes, where they remove harmful substances from lymph and lymph follows its path by increasing lymph ducts to reach the venous circulation. When there is dysfunction in the production of lymph (increase) or injury of lymphatic ducts or to lymph nodes, lymph ducts to the point of not winning the remaining demand of the lymph, it accumulates in tissues and the lymphedema occurs. Objectives: The objectives of this review are to describe current physiotherapeutic approach employed in lymphedema and conclude on the validity of the application of various physiotherapeutic treatment of the disease. Methodology: The demand was made by consulting the electronic databases of Pubmed, Capes Periodicals and the Cochrane Library of systematic reviews. The recovery of the library files was performed by means of electronic addresses (sites) of the Cochrane Library, of the Brazilian Scientific Information Portal (Periodicals Capes) and the Portal of the Virtual Health Library (BIREME). They were also found electronic sites that discuss on the subject, and books. Results: Few studies were found in the literature. Conclusion: It is not possible to determine, based on literature searched, if there are beneficial results from physical therapy practice in lymphedema because there is a shortage in recent literature of properly designed studies on the subject. Keywords: Physical therapy (Specialty). Physical therapy modalities. Lymphedema.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Linfedema é o acúmulo de líquido intersticial concentrado em partículas grandes e proteínas (BERGMAN et al, 2004). No espaço intersticial existem substâncias oriundas do metabolismo celular, restos celulares e microrganismos, que se não forem eliminadas atrapalham o bom funcionamento celular, acarretando disfunção do tecido acometido, tendo o sistema linfático à função de transporte destas substâncias, que são absorvidas por ele, formando a linfa, líquido transportado por canais linfáticos até os linfonodos, onde estes removem da linfa as substâncias nocivas e o fluido segue seu trajeto por ductos linfáticos cada vez maiores até atingir a circulação venosa (GODOY & GODOY, 2009; GUEDES NETO, 2004; MEIRELES et AL, 2006). Quando há disfunção na produção da linfa (aumento) ou lesão de ductos linfáticos ou ainda de linfonodos, ao ponto dos ductos linfáticos remanescentes não vencerem a demanda da linfa, esta se acumula nos tecidos e ocorre o linfedema (SASKIA e THIADENS, 2005).
No Brasil, não há um número exato de pessoas portadoras do linfedema. Porém, no mundo, estima-se que a filariose linfática atinge mais de 20 milhões de pessoas em 73 países e mais de 20% da população do planeta vive em áreas endêmicas. Nos países ocidentais, a estimativa é de 600 mil a dois milhões de pessoas (GODOY e GODOY, 2009). Além, dados recentes mostraram que, cerca de 25% das mulheres submetidas ao tratamento do câncer de mama, desenvolverão linfedema secundário do membro superior, após um certo período indeterminado e com gravidade também indefinida. Tal incidência significativa deve ser considerada pelas áreas de saúde (GODOY e GODOY, 2009).
A comparação entre a prevalência e/ou incidência de linfedema entre os diferentes estudos realizados é difícil, devido à utilização de diferentes critérios para diagnóstico, em populações distintas, submetidas a diferentes tratamentos, e com prognósticos variados (BERGMANN et al., 2004). As interferências são tanto psicológicas como sociais, uma vez que há limitações tanto na vida diária, bem como na estética do membro afetado, gerando um quadro negativo no psíquico dos pacientes e também na qualidade de vida.
Os objetivos deste estudo são descrever a abordagem fisioterapêutica atual empregada no linfedema e demonstrar a validade da aplicação dos diferentes tratamentos fisioterápicos da doença. Uma vez que a literatura fisioterapêutica sobre o tratamento de linfedema é limitada, pouco conhecida e divulgada, este estudo se propõe a fazer uma revisão bibliográfica sobre o assunto, buscando dados que validem o emprego de técnicas fisioterapêuticas.
2. Materiais e métodos
Este estudo foi realizado por meio de uma revisão da bibliografia concernente às técnicas fisioterapêuticas para o tratamento de linfedema, nos últimos dez anos. A procura foi realizada por meio de consulta eletrônica nas bases de dados do Pubmed, da Capes Periódicos e da Biblioteca Cochrane de revisões sistemáticas. A recuperação dos arquivos bibliográficos foi realizada por meio dos endereços eletrônicos (sítios) da Biblioteca Cochrane, do Portal Brasileiro da Informação Científica (Periódicos Capes) e do Portal da Biblioteca Virtual em Saúde (Bireme). Os seguintes unitermos foram empregados na pesquisa bibliográfica: fisioterapia (modalidades), fisioterapia (técnicas), linfedema.
Foram incluídos estudos publicados de qualquer natureza, nos últimos dez anos (2000 a 2009), citando técnicas fisioterapêuticas empregadas no tratamento de linfedema. Estudos publicados nas línguas portuguesa, inglesa, francesa e espanhola foram incluídos. Estudos não publicados foram excluídos. Foram, também, consultados sítios eletrônicos que discutissem a respeito do tema, além de livros publicados.
3. Resultados e discussão
De acordo com Godoy & Godoy (2009), no início, o linfedema está na fase sub-clínica, e não se pode reconhecê-lo com uma simples observação, porém, quando são realizados exames complementares como a linfocintilografia, tal doença pode ser diagnosticada de forma precoce. Na próxima fase de evolução, o edema já aparece com algumas características, pois o paciente ao acordar, não observa a presença do edema no membro que vai surgindo no decorrer do dia e melhora com o repouso (Linfedema do Grau I). Nesta fase, a influência das temperaturas já é observada. Nos dias com temperaturas mais amenas, dá-se a impressão de melhora, ocorrendo o contrário com temperaturas mais altas. Medidas simples podem melhorar o edema, mas, com o decorrer do tempo, ele se torna endurecido, devido ao acúmulo de proteínas e outras substâncias, contribuindo para a formação de fibrose. Isto o torna um edema irreversível com o repouso e medidas mais efetivas de tratamento e cuidados especializados devem ser tomados (Linfedema do Grau II). A evolução para as grandes deformidades, verrucosidades e padrão fibrótico mais avançado, origina o Linfedema do Grau III, que é a elefantíase.
Suas causas mais freqüentes são: neoplasias - podem acometer os ductos ou linfonodos na forma de metástases ou ser sede da própria neoplasia (linfomas); radioterapia - por fibrose linfática; inflamatória - por fibrose linfática; filariose faz paralisia linfática pela ação direta do verme; pós-operatórias - por ressecção de linfonodos ou linfáticos; pós-traumáticas fazem lesão direta de ductos linfáticos, entre outras.
O edema é a principal manifestação clínica da doença. Os membros edemaciados podem apresentar sensação de peso, infecções de repetição, verrucosidades, pigmentação, úlceras, etc. As micoses interdigitais são freqüentes nessa doença, necessitando atenção diária do paciente. A febre e calafrios são indícios de uma provável infecção o que coloca o paciente em sinal de alerta. As erisipelas de repetição também são um sinal de alerta para a possibilidade de um linfedema subclínico e de agravamento da doença.
O tratamento do linfedema deve ser iniciado o mais precocemente possível, uma vez que é uma patologia crônica e tende a aumentar com o tempo, tornando-se mais fibroso e propenso a infecções. Pode ser não cirúrgico, paliativo, objetivando a melhoria da sintomatologia, consistindo na chamada “Terapia Física Complexa” (associação de Drenagem Linfática, Cuidados com a pele, Elastocompressão e Exercícios Miolinfocinéticos).
O fisioterapeuta especializado, de acordo com o diagnóstico e baseado na sua avaliação detalhada, fará um programa de tratamento individual.
Os exercícios visam à amplitude total do movimento, respeitando, porém, o limite individual. A auto-massagem consiste em massagear suavemente, em círculos, as duas regiões de linfonodos mais próximas, ou seja, a axila oposta ao linfedema e a virilha homolateral; seguir realizando manobras em semicírculos nas regiões compreendidas entre os grupos de linfonodos íntegros e a região edemaciada (MEIRELLES et al., 2006).
O Linfedema inicial (grau I) pode ser revertido com orientações dos cuidados profiláticos com a pele, da cinesioterapia específica e auto-massagem, que estimula a circulação linfática nas vias e linfonodos intactos que podem transportar o líquido estagnado.
Já os linfedemas moderados a graves (graus II, III e IV) ou seja, os casos onde já existem fibrose linfostática e alterações tróficas da pele é necessária a combinação de todos os recursos da linfoterapia. O tratamento é dividido em duas fases. A primeira fase, intensiva, com freqüência diária ou em dias alternados, é focada nos cuidados com a pele, a linfodrenagem manual, o enfaixamento compressivo funcional, a auto-massagem e a cinesioterapia. Objetiva a redução máxima do volume do linfedema, melhora da estética e da funcionalidade do membro, numa duração média de três a seis semanas.
Já a segunda fase, de manutenção, consiste basicamente na conscientização e orientação do paciente para com o tratamento. Focada no uso contínuo de contenção elástica adequada, indicada pelo fisioterapeuta e no reforço das orientações quanto aos cuidados da pele, exercícios físicos e auto-massagem. Objetiva a manutenção da melhoria conseguida na 1ª fase, para evitar a recidiva do linfedema, com duração ditada por reavaliações mensais.
O papel mais importante da linfoterapia é a prevenção do linfedema. Para isso, o paciente que sofreu lesões linfáticas deve procurar o fisioterapeuta especializado o mais rápido possível, para ser orientado em relação aos cuidados com a pele e à auto-massagem, prática de exercícios físicos e realização de drenagem linfática.
Além da recuperação funcional pós-operatória, é fundamental o estímulo das vias linfáticas íntegras, capazes de drenar o excesso de líquido. Consegue-se isso através da drenagem linfática manual e da auto-massagem.
A compressão representa uma das formas mais importantes de intervenção no tratamento do linfedema, ajudando na remoção dos fluidos acumulados e manutenção das reduções conseguidas. Para ela pode-se usar bandagens, meias, luvas elásticas. É importante distinguir entre bandagens compressivas e meias elásticas, principalmente quanto ao controle da pressão exercida por cada uma delas. Nas meias a compressão já é graduada na própria confecção, e nas bandagens a compressão é variável e depende da tração exercida no momento da aplicação, o que a torna mais vantajosa, pois se adapta às deformidades do membro
Quanto ao mecanismo de ação, as bandagens elásticas podem ser semelhantes às meias elásticas, elas exercem uma pressão externa constante no membro favorecendo o retorno venoso e linfático.
Quanto às bandagens, existem vários tipos de materiais e de confecção. Elas podem ser divididas pelas seguintes categorias: não elástica, baixa elasticidade (< 70%), média elasticidade ( > 70 - 140%), alta elasticidade ( > 140%). Podem ainda ser divididas por subcategorias: não aderentes, aderentes ou auto-adesivas (co-aderentes). As bandagens aderentes podem ser compostas por micropartículas de látex com uma camada de cola, normalmente polacryl ou óxido de zinco. Essas bandagens suportam bem o calor e a umidade. No tratamento do linfedema as bandagens não elásticas ou de baixa elasticidade são as indicadas.
A procura de um material que se adapte a nossa realidade é de fundamental importância para o uso adequado nesses pacientes, uma vez que nosso clima é tropical e cujo poder econômico da população é baixo. Foi necessário encontrar novas alternativas de baixo custo, adaptadas ao clima do país e com função de exercer uma pressão ideal enquanto movimento favorecendo a drenagem de fluídos e manter a redução do membro. Foi criada uma meia de tecido não elástico, denominado no Brasil de “gorgorão” cuja composição do fio é de algodão e preenche os requisitos de baixa elasticidade, o que possibilitou adaptar um modelo de meia com fechamento, que permite o controle da pressão a ser exercida. Seu funcionamento é o mesmo mecanismo da aponeurose, uma estrutura rígida que, com a ação do movimento, não permite o músculo distender, auxiliando no bombeamento do sangue e da linfa.
Na falha do tratamento conservador, por outro lado, o tratamento cirúrgico é reservado para casos específicos em que não se consegue melhorar com o tratamento clínico-fisioterápico. Pode ser realizadas anastomoses entre os vasos linfáticos, ressecando os que estão doentes ou então realizar a dermolipectomia dos tecidos subcutâneos.
Os objetivos principais do tratamento a partir da dermolipectomia é a redução de peso, melhoria do formato do membro acometido e a diminuição da incidência dos acessos inflamatórios e tornar possível aos portadores de elefantíase vestir roupas normais e usar calçados.
Godoy & Godoy (2009) têm enfatizado as atividades linfomiocinéticas como forma coadjuvante no tratamento. Os cuidados de vida diária também são importantes tanto como forma preventiva, bem como terapêutica.
A região afetada requer alguns cuidados permanentes, como cuidados com cortes e retiradas de cutícula das unhas, evitar: tomar injeções no membro afetado, furar as pontas dos dedos com agulhas e alfinetes, retirar sangue ou verificar a pressão arterial e usar dedal. Também deve ser evitados cremes depilatórios ou lâminas de barbear, com queimaduras, ferimentos e traumas, além do uso de relógios ou anéis apertados (em edema de braços ou mãos), o uso de colarinhos, gravatas ou colares apertados (em edema de pescoço), calor excessivo e contato com substâncias tóxicas.
Para proteger a pele de ressecamento, o qual forma micro rachaduras, deve-se hidratar a área com creme ou loção sem perfume, álcool ou cânfora, várias vezes ao dia, além de usar repelente contra picadas de insetos de acordo com orientação médica.
Exercícios físicos regulares são imprescindíveis, mas sempre com orientação especializada.
3.1. Drenagem linfática manual
Desde a criação da técnica de drenagem linfática manual pelo biólogo dinamarquês Emil Vodder e sua esposa Estrid Vodder em 1936, vários adeptos difundiram-na e ela se transformou num dos principais pilares no tratamento do linfedema. Após longa experiência com técnicas de massagens, quando ambos trabalhavam em Cannes, Riviera Francesa, surgiu a Drenagem Linfática. Eles observaram que muitas pessoas apresentavam quadros gripais crônicos, nos quais se detectava aumento dos linfonodos na região cervical. Após essa observação, executaram determinados tipos de movimentos de estimulação física (massagem), realizados na região envolvida e obtiveram a melhora do quadro apresentado. A partir dessa constatação desenvolveu-se a técnica de drenagem linfática manual, sistematizando alguns tipos de movimentos e orientando o sentido de drenagem.
Em 1936, a técnica foi publicada em Paris e após a publicação vários grupos assimilaram estes conceitos, os quais são utilizados até hoje. Inicialmente, a técnica foi divulgada nos congressos de estética, realizadas por esteticistas, biólogos e outros profissionais adeptos. Ultimamente tal técnica é parte importante no tratamento do linfedema. Os médicos estimulam sua prática aos fisioterapeutas e a outros profissionais afins, como terapeuta ocupacional e a enfermagem. Dentre os médicos que iniciaram a utilização dessa técnica destacam-se os trabalhos de Asdronk em 1963, que a incorporou como parte do tratamento médico, iniciando uma série de contribuições a esse procedimento. Nos meados de 1967, foi criada a sociedade de drenagem linfática manual, e, a partir de 1976, ela foi incorporada a sociedade alemã de linfologia.
Dentre os principais grupos que utilizam esta técnica temos: Foldi, Leduc, Casley-Smith, Ciucci, Mayall e outros, os quais acrescentaram suas contribuições pessoais, principalmente no tratamento de pacientes portadores do linfedema. No entanto, mantiveram os princípios preconizados por Vodder.
A necessidade de reavaliar em nível experimental os princípios da técnica levou Godoy & Godoy a desenvolver modelos hidrodinâmicos de drenagem e criou uma nova técnica de drenagem linfática. Em 1999, descreveu essa nova técnica de drenagem linfática com o uso de roletes como mecanismo de drenagem, na qual se questionou a utilização dos movimentos circulares preconizados pela técnica convencional e sugeriu a utilização dos conceitos da anatomia, fisiologia e da hidrodinâmica.
Os principais movimentos da técnica de Vodder (círculos, semicírculos) foram substituídos por movimentos de drenagem que seguem o trajeto dos vasos. Os vasos linfáticos caminham em paralelo, facilitando o deslizamento de bastões, da mão ou de qualquer dispositivo flexível e maleável que possa ser adaptado para esta finalidade. Esta foi a grande contribuição à técnica de drenagem linfática.
Outra característica foi a maior objetividade no ato de drenagem, optando pelas grandes correntes linfáticas, mas seguindo as normas estabelecidas por Vodder quanto ao sentido dos movimentos de distal para proximal. O uso de bastão (material adaptado de borracha siliconada ou espuma) foi inicialmente o mais utilizando e, posteriormente, o deslizamento das mãos sobre a pele no trajeto das principais correntes linfáticas.
3.2. Fisioterapia aquática
De acordo com CARVALHO e AZEVEDO (2007), a fisioterapia aquática fundamenta-se nos conceitos e efeitos causados pela pressão hidrostática que a água exerce sobre os tecidos e corpos imersos, incrementando a circulação sangüínea, promovendo o relaxamento muscular e propiciando o aumento da amplitude de movimentos. No caso de linfedemas pós-mastectomia, a fisioterapia aquática consiste na orientação da estimulação, através de auto-massagem dos linfonodos das regiões paraesternais, claviculares e axilares remanescentes com o ombro abduzido, o cotovelo fletido e a mão posicionada posteriormente à região cervical. Após a auto-massagem, são realizados alongamentos ativos e exercícios de fortalecimento da cintura escapular e membros superiores, com movimentos de flexão e abdução dos mesmos, a fim de favorecer a absorção do líquido intersticial em excesso. A sessão de fisioterapia aquática termina com breve relaxamento geral. A associação dos efeitos de bomba muscular que os exercícios ativos provocam, adicionados aos efeitos da pressão hidrostática e o posicionamento adequado do membro, favorecem a redução do linfedema.
3.3. Eletroestimulação
A estimulação elétrica é um recurso terapêutico muito utilizado na prática clínica para aliviar a dor, fortalecer a musculatura, reduzir e restringir edema, cicatrizar feridas, entre outros. A corrente de alta voltagem tem uma forma de onda monofásica de pico duplo, com uma duração fixa na faixa de microssegundos, até 200 ms, e uma tensão superior a 100 volts, que afeta a formação de edema por reduzir a permeabilidade na microcirculação, efeito esse atribuído à diminuição do tamanho dos poros capilares na microcirculação, restringindo o movimento de proteínas para o espaço intersticial. A alta voltagem passa através da pele, produzindo efeitos térmicos e eletroquímicos desprezíveis, tornando disponível uma maior densidade de corrente para os tecidos-alvo; além disso, produz efeitos no sistema vascular, pois a contração muscular rítmica e o relaxamento muscular devido à estimulação têm um efeito de bombeamento, aumentando o fluxo sangüíneo no músculo e tecidos vizinhos – e esse efeito auxilia na redução do edema (GARCIA et al., 2007).
4. Conclusâo
Não é possível concluir se há resultados benéficos provenientes da prática fisioterapêutica no linfedema por causa dos poucos dados encontrados e analisados por esta revisão da bibliografia.
Há a necessidade de realização de estudos randomizados controlados bem planejados com amostras adequadas, medidas de resultados válidas e acompanhamento, a longo prazo, para preencher esta lacuna. Só, após a realização destes estudos, é que será possível tirar conclusões mais efetivas a respeito do emprego de práticas fisioterapêuticas no linfedema. A análise econômica também deveria ser incorporada em estudos futuros.
Seria melhor, do ponto de vista metodológico, que todos os trabalhos que versassem sobre fisioterapia em linfedema apresentassem critérios de inclusão e exclusão rígidos e padronizados, a fim de que os estudos pudessem ser comparados entre si.
Concluímos com esta revisão bibliográfica que a literatura concernente ao tratamento fisioterapêutico de linfedema é escassa e necessita ser ampliada, de maneira mais rigidamente controlada. Este estudo, no entanto, pode servir como incentivo para futuras pesquisas na área, o que, certamente, beneficiará os milhares de paciente acometidos por linfedemas ao redor do mundo.
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