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Perfil antropométrico e força de membros 

superiores em competidores de montaria em touros

Perfil antropométrico y fuerza en miembros superiores en competidores de monta de toros

Anthropometric profile and upper-limbs strength of bull rider’s competitors

 

Depto de Educação Física, Faculdade de Ciências

UNESP/Bauru

(Brasil)

Arthur Bertagia de Souza | Carlos Eduardo Lopes Verardi

Cassiano Merussi Neiva | Dalton Müller Pessôa Filho

celverardi@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A força de preensão manual tem sido relatada como determinante no desempenho de empunhadura em modalidades como lutas e escalada. Este estudo teve por propósito avaliar a aptidão de força isotônica máxima e de preensão manual em praticantes e não praticantes de montaria em touros, a fim de obter parâmetros de referência desta população. Foram avaliados 20 sujeitos em dois grupos, sendo 10 classificados como atletas de montaria e 10 não-atletas. A avaliação da força de preensão manual foi realizada em dinamômetro em posição convencional (DP) e específica (DE), com ambas as mãos (D e E). A força isotônica máxima foi determinada pelo teste de uma repetição máxima (1RM) e também foram obtidas medidas de circunferência dos segmentos, bem como a composição corporal por protocolo de dobras cutâneas. Os valores das variáveis foram comparados pelo teste-t (ρ ≤ 0,05) para dados independentes. As relações entre os valores de força e características antropométricas foram traçadas pelo coeficiente de Pearson. Os resultados para AMT em DPD (43.8±6.8 kgf), DPE (39.4±7.7 kgf), DED (44.9±5.6 kgf) e DEE (39.8±8.3 kgf) comparados aos apresentados por n-AMT em DPD (47.0±3.0 kgf), DPE (42.2±6.1 kgf), DED (49.2±1.5 kgf) e DEE (46.2±4.1 kgf) apresentaram diferenças apenas para DED e DEE. A força nos testes de 1RM (supino reto: 73.2±12.0 kg e 82.0±12.0 kg; rosca direta: 45.2±8.9 kg e 43.8±8.9 kg; tríceps pulley: 67.0±6.3 kg e 72.0±6.3 kg; e puxada posterior: 73.5±8.5 kg e 73.7±7.5 kg) não mostram diferenças entre os grupos. A influência sobre a dinamometria apresenta-se diferente entre os grupos, sendo relevante a força de flexão do cotovelo em AMT e a antropometria e força isotônica para n-AMT. Conclui-se que as características morfo-funcionais de membros superiores não demandam especificidade à montaria em touros.

          Unitermos: Preensão manual. Força isotônica. Antropometria. Montaria em touro.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A preensão manual é caracterizada pela ativação isométrica da musculatura de praticamente todo o membro superior (JHONSON; NELSON, 1986); e depende da capacidade de gerar continuamente elevadas tensões com os músculos flexores dos dedos para um bom desempenho (BERTUZZI; FRANCHINI; KISS, 2005). A montaria em touros e cavalos é uma modalidade que pode ser caracterizada por uma demanda elevada da capacidade de força isométrica dos membros superiores, devido à forma de execução da montaria. Para Bergamaschi, Matsudo e Matsudo (2006), a força de preensão manual é de grande valor nas montarias, pois a grande diferença entre o tamanho e peso do animal comparativamente com o atleta, expõe o praticante a uma grande exigência de esforço de membros superiores, assim como equilíbrio, agilidade e coragem. No entanto, esta afirmação depara-se com poucos respaldos de informação sobre estes atletas. Assim, convém especular baseando-se no modo operacional da modalidade e nos fundamentos da preensão manual.

    Verifica-se, assim, a necessidade de avaliar a quantidade de força na preensão dos praticantes de montaria, bem como a força dinâmica de membros superiores, com o propósito de entender suas necessidades de força muscular e, assim, colaborar com o processo de desempenho nesta modalidade. Especula-se que atletas de montaria tendem a apresentar elevados valores para força de preensão manual, quando comparados com valores populacionais de referência, ou não-atletas, mas o perfil antropométrico não apresentará diferenças.

Materiais e método

Sujeitos

    Foram avaliados 20 homens praticantes de montaria em touros. Todos eram destros e sem histórico de lesões. Formou-se dois grupos com 10 sujeitos classificados como atletas (AMT: 174,5±5,2 cm de estatura, 78,9±12 kg de peso corporal, 24,7±6,1 anos) e 10 sujeitos classificados como não atletas (n-AMT: 178,5±7,3 cm de altura, 81,2±8,8 kg de peso corporal, 21,7±2,3 anos), que praticavam a montaria não profissionalmente. O presente estudo obteve um termo de consentimento livre e assistido dos participantes. Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética local.

Procedimentos de avaliação

  • Antropometria: Todos os sujeitos foram avaliados quanto à circunferência dos seguimentos: ombros (bi-acromial), peito (tórax porção superior), tórax (ao nível das articulações costo quarta-esternal); abdominal (bi-ilíaco, linha horizontal); coxa (porção superior, linha vertical, lado direito); perna (perímetro máximo em uma linha perpendicular ao eixo longo da panturrilha); e braço (ponto médio do braço, com o cotovelo flexionado a 90° e antebraço supinado) e antebraço (perpendicular ao eixo longitudinal, mudando-se para cima e para baixo até que o perímetro máximo seja situado). Todas as medidas foram registradas com a fita em contato com a pele, sem pressionar o segmento e obtidas pelo lado direito (Lohman; ROCHE; MARTORELL, 1988). Os valores foram mensurados por uma fita inelástica da marca CESCORF® com 2 metros e precisão de 1mm.

  • Composição corporal: As dobras do tríceps, peitoral e subscapular foram mensuradas pelo lado direito. A densidade corporal (DC) foi determinada pela equação de Jackson e Pollock (1978) propícia à homens entre 18 a 61 anos: DC = [1,1125025 - (0,0013125 x ∑) + (0,0000055 x ∑²) - (0,000244 x idade)]), onde ∑ é a soma algébrica das três dobras cutâneas – triciptal, subescapular e peitoral – e a idade em anos.

    • As dobras cutâneas foram obtidas seguindo as recomendações de Lohman, Roche & Martorell (1988). O percentual de Gordura Corporal (%GC) foi estimado pela equação de Siri (1954): %GC = [(4,95/DC) – 4,5] x 100.

    • Para as medições das dobras cutâneas empregou-se o compasso de dobras científico da marca CESCORF® com precisão de 0,1 mm do modelo GNZ036. A pesagem dos avaliados foi utilizada a balança TANITA, modelo IRONMEN BC553; e para a estatura foi empregado um estadiômetro convencional.

  • Preensão manual: Força de preensão manual padrão (convencional): Todos os participantes foram avaliados quanto à força de preensão manual, em dinamômetro manual padrão da marca Crown® com capacidade de 50 kgf e com intervalos de 500 gf. O teste foi explicado aos participantes quanto à posição adequada de utilização do aparelho e avaliados pela mão dominante e não dominante. Os voluntários permaneceram em posição ortostática, mantendo os braços estendidos e pronados sem apoiar o equipamento no corpo. Foi considerado como lado dominante aquele que o avaliado utiliza para a maioria de suas tarefas cotidianas, inclusive para segurar-se sobre o animal durante a montaria. A força de Preensão Manual Específica foi avaliada de maneira a simular a posição de montaria pelos atletas, com uma das mãos entre as pernas, segurando com certa empunhadura o aparelho e uma das mãos projetada ao alto da cabeça. Todos os testes foram repetidos por 3 vezes para cada membro e mantido a preensão no aparelho por 5 s. A classificação da força de preensão seguiu as recomendações de Hanten et al. (1999).

  • Avaliação da força: A avaliação da força muscular dinâmica empregou o teste de uma repetição máxima (1RM), seguindo o protocolo sugerido por Heyward (1997). Neste, os indivíduos foram orientados a completar duas repetições, com cargas progredindo, após um intervalo de recuperação de três a cinco minutos até um valor máximo que induza à falha concêntrica ao final da primeira repetição. Foram feitas avaliações nos exercícios: Supino Reto, Rosca Direta, Tríceps Pulley, e Puxada Posterior no Pulley alto. Todas as posições seguiram as recomendações descritas em Uchida et al. (2008). A classificação da força de membros superiores seguiu as recomendações de Jhonson & Nelson (1986) para o supino reto.

Tratamento estatístico

    Os dados foram descritos em torno da média aritmética e do desvio-padrão. As diferenças entre os grupos, quanto ao desempenho nos testes de força (preensão manual e 1RM) e variáveis antropométricas foram analisadas pelo T-teste para dados independentes. A correlação entre as variáveis de força nos testes de preensão manual e 1RM com as variáveis antropométricas foram analisadas pelo coeficiente de Pearson. Em todas as análises adotou-se nível de ρ ≤ 0,05.

Resultados

    As Figuras 1 e 2 apresentam o desempenho de força nos testes de preensão manual, em exercícios convencionais com aparelhos e testes motores, revelando que AMT foi classificado como fraco em todas as condições de teste da força de preensão manual, enquanto que n-AMT foi classificado como fraco para DPE, porém médio para DPD, DED e DEE. Os resultados no teste de 1RM no supino reto, o grupo AMT classificou-se como intermediário e n-AMT como médio-avançado.

Figura 1. Comparação da força de preensão manual entre os grupos analisados. Obs.: dinamometria “1” padrão 

para mão direita; “2” padrão para mão esquerda; “3” específica para mão direita; “4” específica para mão esquerda

 

Figura 2. Comparação da força de 1RM entre os grupos analisados. Obs.: “1” Supino Reto; “2” Rosca Direta; “3” Tríceps Pulley; “4” Puxada Posterior

    A Tabela 1 apresenta os valores similares nas avaliações antropométricas de segmentos e percentual de gordura (%G) para os grupos AMT e n-AMT. As correlações apresentadas pelas Tabelas 2 evidenciam correlações da dimensão do braço com os testes isométricos de força para AMT, enquanto que n-AMT apresenta correlações entre as dimensões e força isotônica com o teste isométrico padrão.

Tabela 1. Características antropométricas dos grupos analisados

 

Tabela 2. Correlações de Pearson entre variáveis de força isotônica e circunferência segmentar com a dinamometria

Discussão

    Os resultados sugerem que a força de preensão manual, em teste padrão, e a força máxima dinâmica em exercícios envolvendo os principais grupos musculares dos membros superiores, não são variáveis capazes de distinguir atletas profissionais em competição daqueles que praticam a modalidade de montaria por outras finalidades, além da competição. A classificação do desempenho na dinamometria da mão conduz a especulação de que a capacidade de força de preensão manual não é um fator de relevância para a prática, ou o gesto de execução no dinamômetro é inespecífico para a avaliação da força da mão apresentada por estes atletas.

    Obviamente, esse resultado contraria as expectativas do presente estudo, uma vez que vêm sendo reportadas correlações elevadas entre as dimensões e força dos membros superiores e o desempenho em esportes envolvendo a ação destes, como no remo (AKCA; MUNIROGLU, 2008), entre escaladores de elite e de recreação (BERTUZZI, FRANCHINI; KISS, 2005) e em lutas (JUNIOR et al., 2008). As associações entre força isotônica e força isométrica eram aguardadas como pouco prováveis pela ausência de especificidade, mas previa-se que a força de preensão revelasse uma elevada condição de força de membros superiores dos atletas de montaria pela especificidade com a forma de execução da modalidade. Todavia, problemas associados à execução deste teste podem auxiliar a entender esse resultado, como forma de preensão manual, posicionamento dos demais segmentos durante a preensão, adaptação ao instrumento ou instrução inadequada, e fadiga por exercício prévio (JHONSON; NELSON, 1986).

Conclusão

    As características morfo-funcionais de membros superiores não se apresentam como demandas específicas de atletas de montaria de touro. Apesar disto, acredita-se que o exercício resistido pode melhorar o desempenho global da força e o desempenho nesta modalidade, ao auxiliar no ganho de força e/ou aumento da resistência muscular. Se a força é uma característica específica da modalidade montaria em touros, ainda é necessário contextualizar mais evidências.

Referências

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