efdeportes.com

Estados emocionais dos atletas lesionados em tratamento fisioterápico

Estados emocionales de deportistas lesionados bajo tratamiento de fisioterapia

 

*Psicóloga, Especialista em Psicologia do Esporte

e do Exercício Físico. Universidade Feevale, NH

**Psicólogo, professor de educação física, Coordenador da Especialização

em Psicologia do Esporte e do Exercício Físico. Universidade Feevale, NH

Patrícia Sambaquy Ritter*

Marcio Geller Marques**

marciogmarques@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo foi verificar os estados emocionais de atletas lesionados com idades entre 13 e 20 anos em tratamento fisioterápico. Fizeram parte do estudo 21 atletas que atuam nas seguintes modalidades em Caxias do Sul – RS: basquete, vôlei, futsal e futebol de campo. Como instrumentos de medida, utilizaram-se o Perfil de Humor (BRAMS). Com relação aos resultados, os atletas lesionados apresentaram raiva, depressão, tensão confusão, fadiga e vigor acima da média apontando a necessidade de acompanhamento psicológico no período de lesão esportiva dos atletas estudados. Os humores depressão e vigor apresentaram correlação negativa (-.0449) e o humor raiva destaca-se por estar correlacionado com tensão (0.577), confusão (0.676) e fadiga (0.473). Confusão e tensão também apresentaram correlação (0.573). Os atletas avaliados neste estudo estavam acometidos de uma lesão esportiva quando participaram desta pesquisa o que evidencia que durante o tempo em que estão se recuperando que podem perder a titularidade da equipe enquanto os demais atletas continuam seus treinos neste período, e assim levanta-se a questão de como ficam os estados emocionais destes atletas, visto que não podem apresentar seus talentos em competições e treinamentos sugerindo a necessidade de acompanhamento psicológico durante o tratamento de um desportista.

          Unitermos: Estados de humor. Lesão esportiva. Atletas. Psicologia do esporte.

 

Abstract

          This study was aimed to ascertain the emotional state of injured athletes aged between 13 and 20 years in physiotherapy. Study participants were 21 athletes who work in the following ways in Caxias do Sul - RS: basketball, volleyball, soccer and football field. As measuring instruments, we used the profile of Humor (BRAMS). Regarding the results, the injured athletes showed anger, depression, tension, confusion, fatigue and force above average indicating a need for psychological support during sports injuries of athletes studied. The moods of depression and force showed a negative correlation (-. 0.449) and humor anger stands out because it is correlated with tension (0.577), confusion (0.676) and fatigue (.). Confusion and tension are also correlated (0.573). The athletes evaluated in this study were suffering from a sports injury when participating in this research which shows that during the time they are recovering they may lose the ownership of the team while the other athletes continue their training in this period, and thus raises the question of how are the emotional states of these athletes, because they can not show their talents in competitions and training suggests the need for psychological support during treatment for an athlete.

          Keywords: Mood states. Sports injury. Athletes. Sports psychology.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Atualmente, observa-se um número crescente de lesões esportivas em todas as faixas etárias que praticam desportos tanto por lazer, recreação como competição. As lesões podem decorrer de diversos fatores, dentre eles podem estar cargas de treino e o aumento da freqüência de jogos. Além disso, os esportes competitivos estão cada vez mais exigentes levando, muitas vezes, os atletas a excederem seus limites físicos e psicológicos, o que pode acarretar lesões.

    Muitos atletas ao receberem o diagnóstico de lesão auferem um problema na sua vida de curto, médio ou longo prazo que modifica suas rotinas tanto de treinamento quanto nos aspectos particulares. A lesão, dependendo de sua extensão precisa de cirurgia, fisioterapia e outras intervenções que envolvem cuidados físicos e psicológicos. É importante ressaltar que dependendo do processo de recuperação do sujeito este pode ter sua vida social afetada em função da limitação física que pode vir a influenciar o humor, dependendo do caso, de forma negativa, bem como interferir na vida particular, familiar e social propriamente dita.

    O humor de um atleta pode variar e sofrer abalos que não podem ser negligenciados pelos profissionais que atuam com este esportista. É de suma importância compreender cada atleta nas suas particularidades, por isso é importante avaliar o humor do atleta e intervir de acordo com o que se avaliou.

    As lesões esportivas podem ter efeito debilitante na vida de um atleta, pois o mesmo precisa trocar os treinos e competições pela reabilitação e, em alguns casos pode ter sua vida particular prejudicada devido às limitações físicas. Por este motivo, que o psicólogo esportivo deve aprimorar seus conhecimentos sobre esta temática, bem como conhecer as variáveis psicológicas que possam estar interferindo com o intuito de auxiliar na prevenção e reabilitação das lesões. A partir disto, o objetivo deste estudo foi verificar os estados emocionais de atletas lesionados.

Adolescente e o esporte

    A adolescência é um período de transição do desenvolvimento humano entre a infância e a idade adulta. Neste período da vida as alterações hormonais dão início a puberdade e são altamente relevantes, há também um surto de crescimento, ou seja, crescimento acelerado de peso, altura juntamente com o desenvolvimento muscular e esquelético. Ocorre nesta fase o crescimento de caracteres sexuais primários e secundários. No que tange aos pais, os pares, os amigos próximos a moradia, a qualidade de ensino, esportes, todos influenciam de alguma forma o desempenho educacional do indivíduo que esta passando pela adolescência. A condição socioeconômica é um fator relevante que tende a afetar a afetar as relações familiares, a qualidade da escolarização, as oportunidades de atividades extracurriculares e lazer (PAPALIA; OLDS, 2000).

    Na adolescência o esporte assume um importante papel, pois ajuda no desenvolvimento global do indivíduo e é uma importante ferramenta de inclusão social e pode aproximar familiares, bem como auxilia no desenvolvimento físico e emocional. Da mesma forma que o indivíduo se desenvolve em etapas, no esporte o sujeito precisa de um tempo significativo para atingir seu rendimento máximo para adquirir os aprendizados necessários na modalidade que se propõe a praticar.

    Miranda e Bara Filho (1998) afirmam que a preparação ideal no esporte leva vários anos até que o sujeito atinja de forma gradual e dentro de suas capacidades seu melhor desempenho. Neste tempo são desenvolvidos treinamentos técnicos, táticos, psicológicos que buscam desenvolver o melhor do atleta dentro da sua modalidade. Observa-se, como citam os autores que, em alguns casos, de forma despretensiosa, características psicofísico/social são postas de lado e acaba-se prejudicando o desenvolvimento de um esportista completo que usufrua de forma integral todos os benefícios do treinamento esportivo.

    No esporte o adolescente tem a oportunidade de explorar novas maneiras de desenvolver-se como individuo e atleta com base no desenvolvimento de suas características físicas, psicológicas, intelectuais, etc. O crescimento que o esporte irá proporcionar ao adolescente é baseado em seus desejos pessoais. Um jovem que procura um esporte o faz por determinados motivos, os quais devem ser amplamente investigados por pais, treinadores e outros profissionais envolvidos. De acordo com Korsakas “toda prática esportiva oferecida às crianças e aos adolescentes é permeada por ações adultas – dos pais, dos dirigentes, dos professores, dos técnicos, dos árbitros; todos interferem de alguma forma nas experiências esportivas de seus praticantes” (2002, pg. 41). Isto porque, quando os mesmos buscam se informar do que motiva o indivíduo a praticar o esporte torna-se muito mais simples otimizar o treinamento. É fundamental visar o bem-estar o jovem no esporte de forma positiva e prazerosa (MIRANDA; BARA FILHO, 2008; BECKER JUNIOR, 2008).

Lesão esportiva

    A lesão esportiva é um problema comum no cotidiano esportivo, desta forma deve ser amplamente estudada por profissionais da saúde, dentre os mesmos estão os psicólogos, os quais devem compreender como a mesma pode influenciar o rendimento do atleta e sua qualidade de vida. São diversos os fatores que estão atrelados a uma lesão e cada atleta possui suas particularidades que precisam ser entendidas pelo psicólogo que deseja tornar ótimo o tratamento a fim de recuperar o atleta lesionado visando sua melhora integral, portanto é preciso dissecar este tema de forma cautelosa e bem apurada.

    Atualmente, a participação nos mais diversos esportes, sejam estes de alto rendimento, lazer ou recreação, vem aumento de forma significativa e concomitante a esta crescente adesão das pessoas as atividades desportivas observa-se o aumento de lesões esportivas dos mais variados tipos (SMITH, 1996). Portanto, torna-se imprescindível que os profissionais da saúde possam estudar o tema com o intuito de auxiliar em todos os esportes para que os sujeitos possam lidar da melhor forma possível com a problemática que os acomete. Para tanto, o profissional precisa estar ciente que a grande maioria dos atletas, sejam estes de esportes de rendimento, lazer ou recreação buscam nos eventos competitivos ou recreativos seu rendimento máximo que somada com uma carga excessiva de trabalho nos treinamentos tem aumentado de forma significativa o número de lesões em desportistas (MENDO, 2002).

    No que se refere às lesões esportivas sabe-se que há fatores psicológicos fortemente atrelados à predisposição a mesma, bem como ao tempo de reabilitação e ao retorno às atividades desportivas. Os fatores psicológicos também podem interferir no nível de sucesso dos processos de reabilitação (WEINBERG; GOULD, 2001). Outra questão que deve ser considerada e avaliada pelo profissional da saúde ao se deparar com uma lesão esportiva é que quando o atleta se lesiona, este problema é considerado pelo desportista de alto nível como um dos maiores fatores de stress esportivo (DE ROSE JR., 1999).

    Buceta (1995) afirma que três tipos de avaliações psicológicas são essenciais a fim de garantir um adequado acompanhamento psicológico de um atleta após a lesão esportiva, são estas: a avaliação da lesão propriamente dita, a avaliação do impacto emocional da lesão esportiva, bem como a avaliação da adesão, do rendimento e do progresso do tratamento. Sabe-se que a avaliação da lesão propriamente dita é competência do médico esportivo, desta forma, cabe ao psicológico trabalhar de forma integrada com o mesmo para que possa obter informações essenciais para o seu trabalho. Além do médico, fisioterapeuta e outros profissionais também poderão ser importantes neste momento para que possam trocar informações e trabalhar de forma interdisciplinar visando uma ótima evolução do processo e o bem-estar do atleta. As informações advindas do técnico são de suma importância e permitem mapear a situação do atleta no contexto de treinamento e competições.

    O psicólogo juntamente com a equipe que atua com o atleta lesionado deve compreender que a lesão é um dano causado por traumatismo físico sofrido pelos tecidos do corpo humano, as quais podem ser acompanhadas de experiências psicológicas que afetam o bem-estar do esportista lesionado e podendo vir a afetar, em algum nível, todos os que estão a sua volta. (ANDREOLI, WAJCHENBERG; PERRONI, 2003)

    É fundamental compreender a classificação das lesões esportivas com o intuito de desenvolver o trabalho de acordo com o grau e intensidade do problema, ou seja, individualizar ao máximo o processo nos aspectos psicológicos. Guerrero (2001) classifica os tipos de lesão em leves, moderadas, graves, incapacidade desportiva e incapacidade funcional. As lesões leves são caracterizadas por traumatismos que necessitam de tratamento, mas não chegam a afetar o comportamento do atleta nos treinamentos nem mesmo nas competições. Já as moderadas chegam a provocar algum desconforto no treinamento e diminuem o rendimento do esportista em competições. As lesões graves, por sua vez, são caracterizadas por um período considerável de disfuncionalidade que esta diretamente relacionada com um ou mais meses de afastamento dos treinos e competições. O atleta pode precisar de internação hospitalar e, em alguns casos intervenção cirúrgica. A incapacidade desportiva refere-se às lesões que têm como conseqüência de sua gravidade, um tempo muito longo de recuperação, o que desfavorece que o esportista recupere o seu nível anterior a lesão de rendimento no esporte. Por fim, a incapacidade funcional caracteriza as lesões muito graves que são assinaladas pela permanente disfuncionalidade motora do atleta.

    A contribuição de Andersen e Williams (1998) sobre a explicação do papel que os fatores psicológicos desempenham em lesões esportivas, sendo tal relação vista a partir de situações desportivas estressantes. Os autores observam que é importante complementar que o “estresse, entretanto não é o único fator que influencia lesões esportivas”, junto com outros fatores como “de personalidade, história de estressores e recursos de controle influenciam o processo estresse e, por sua vez, a probabilidade de lesão” (WEINBERG; GOULD, 2001, p.420). Desta forma, a entrevista psicológica é um dos instrumentos importantes para que este possa mapear a real situação que o atleta vivencia.

    O começo de uma lesão ocasiona, na maioria das vezes, conseqüências negativas tanto para a participação quanto para o rendimento do atleta no seu esporte. Desta forma, não é raro que o esportista apresente medo, tensão, fadiga, incredulidade, depressão, queixas somáticas (enjôos, perda de apetite, insônia, entre outras) e também dificuldade com o período longo de reabilitação e a restrição de atividades podendo a sentir uma sensação de ser dominado pela lesão esportiva. (BECKER JUNIOR, 2008; MAY, CAPURRO; STUOPIS, 1999).

    De acordo com Becker Junior (2008) é preciso compreender que a lesão é um fator negativo e é um problema que pode acometer o desportista a qualquer momento. A lesão é uma das dificuldades que mais tende a preocupar a equipe técnica e, até mesmo, os torcedores. Em alguns esportes são permitidas jogadas mais fortes e violentas fazendo com que tenham maior risco de lesão do que outros.

    Machado (2006) afirma que o medo é um aspecto interligado ao processo emocional do atleta, isto porque é uma emoção presente freqüentemente nos desportos e que pode ser decorrente de diversas causas, dentre elas o desportista pode estar com medo que do “fracasso que ameaça sua performance e carreira” (p.32). Além disso, não são raros atletas que possuem medos relacionados com contusões que poderão ameaçar suas carreiras, seja temporária ou definitivamente, por movimentos mal executados ou por jogadas de impacto.

    A incidência repetitiva de lesões esportiva demonstra ser um fator indicativo da existência de necessidade de intervenção psicológica para com o atleta acometido pelo problema (MADDISON; PRAPAVESSIS, 2005). Desta forma, Rúbio (2007), afirma que o psicólogo do esporte tem como uma de suas funções acompanhar os atletas lesionados durante a sua reabilitação com o intuito de favorecer este processo e promover um melhor entendimento dos sentimentos experiênciados, assim como se busca vivenciar o problema de uma forma mais proativa.

    Becker Junior (2000) assinala que algumas mudanças ocorrem na vida do desportista após a lesão, as quais englobam os aspectos desportivos, físico e psicossocial. Dentre as principais mudanças destacam-se no bem-estar físico a lesão física, a dor, o tratamento e a reabilitação, bem como as restrições físicas temporárias podendo existir mudanças físicas permanentes. Já no bem-estar emocional é comum observar trauma psicológico, ansiedade, depressão, sentimento de perda e ameaça à performance no futuro. O atleta também precisa lidar com as demandas emocionais do tratamento e da reabilitação. O bem-estar social, de acordo com Becker abarca possíveis perdas de importante papel social, separação da família, amigos e companheiros de time, um novo relacionamento com os profissionais do departamento médico e, em alguns casos, a necessidade de depender dos outros. O autor também engloba o autoconceito do desportista, no qual a sensação de perda de controle, alteração da auto-imagem, ameaça de metas futuras e até mesmo questionamento de valores morais, ameaça de perda da posição na equipe, necessidade de tomar de decisões sobre circunstâncias estressantes como fatores que podem sofrer mudanças após uma lesão esportiva.

    A reação emocional de um atleta a uma lesão esportiva é similar àquela de pessoas que encaram a morte iminente, as quais são desenvolvidas por Kübler-Ross (1997). De acordo com essa visão da psiquiatra e abordada por Samulski (2009), atletas que se deparam com uma lesão geralmente seguem cinco fases: 1)Negação, 2) Raiva, 3) Barganha, 4) Depressão e 5) Aceitação. Embora, os esportistas possam apresentar diversas destas emoções em resposta à lesão esportiva, elas não seguem um padrão estereotipado pré-estabelecido. Nem todos os indivíduos passam pelos cinco estágios ou fases após a lesão, por isto é importante observar cada indivíduo na sua individualidade.

    Segundo Becker Junior (2010) psicólogos estão ampliando seu trabalho com atletas utilizando técnicas com o intuito de recuperá-lo da falta de motivação, bem como da falta de energia, de estresse e com os próprios procedimentos do processo de reabilitação visando o retorno do atleta as competições. O autor afirma que as técnicas que estão sendo utilizadas são: manejo da dor e técnicas de imaginação e visualização visando diminuir a dor do atleta no período de recuperação. As técnicas de preparação psicológica e relaxamento também são utilizadas e objetivam o rendimento do desportista durante o período de recuperação.

Perfil de humor

    No esporte competitivo o humor é determinante para o desempenho do atleta, tanto nos treinamentos quanto nos momentos de disputa. A mudança de humor, segundo o Dicionário de Psicologia Dorsch (2001, p.464) é um “termo para designar mudança na constituição emocional, provocada por influências exógenas ou endógenas”. O humor é um termo que envolve diversos sentimentos, deve ser entendido como passageiro na sua natureza e pode variar de intensidade e duração. Na maioria das vezes, o humor envolve mais de uma emoção (LANE; TERRY, 2000). O humor pode ter influencia dos mais variados fatores internos e externos ao atleta. Quando um atleta sofre uma lesão o humor pode sofrer mudanças, as quais devem ser investigadas para que se possa focar na necessidade do atleta e, assim ter um tratamento direcionado às necessidades do desportista. O humor é um fator significativo na recuperação de um desportista, pois pode estar dificultando na adesão ao tratamento ou, em alguns casos, favorecendo.

    No contexto esportivo competitivo são muitos os comportamentos que acabam sofrendo influência de fatores psicológicos e podem vir a afetar o desempenho motor do atleta. No esporte há diversos estímulos que podem causar tanto efeitos emocionais positivos quanto negativos, dependendo do indivíduo e de suas características influenciando diretamente no desempenho do esportista. (VIEIRA, FERNANDES, VIEIRA, VISSOCI, 2008)

    Os estados afetivos são de suma importância quando se fala em lesão esportiva, pois permeiam o cotidiano do indivíduo e como se dará os dias que se seguem a mesma. Afetos como apavorado, animado, confuso, esgotado, sonolento, ansioso, alerta, entre outros podem estar expressando reações tanto fisiológicas quanto psicológicas de um desportistas em um período pós lesão esportiva.

    Depressão: o humor Depressão não pode ser confundido com a depressão clínica. A depressão é muito utilizada para descrever os sentimentos de um indivíduo em um determinado momento e este conceito utilizado constantemente pelo senso-comum deve ser diferenciado da depressão abordada no contexto clínico, a qual se refere a uma patologia que deve ser criteriosamente tratada por psicólogos e psiquiatras.

    De acordo com o dicionário de psicologia Dorsch (2001) é um conceito que não possui uma definição uniforme, ao contrário, possui diversas subclassificações segundo diferentes variáveis. Sendo assim, a depressão pode ser um conceito complexo para muitos sintomas; no aspecto emocional pode-se observar mau humor, tristeza, desanimo, infelicidade, perda de energia e interesse, dificuldade de concentração, alterações do apetite e do sono, lentificação das atividade físicas e mentais, sentimento de fracasso ou pesar e o próprio humor deprimido.

    Beck, Tush, Shaw e Emery (1997) assim como, J. Beck (1997) afirmam que tanto os comportamentos como os sentimentos dos indivíduos são influenciados por seus pensamentos, suas cognições, ou seja, a forma como cada indivíduo percebe os eventos que vivência. No que se refere à depressão J. Beck afirma que a cognição é o fator determinante, o transtorno cognitivo é elemento primário da patologia, e as construções negativistas do pensamento são o fato primário na cadeia sintomatológica. Bandura (1969) afirma que indivíduos deprimidos tendem a apresentar expectativas de desempenho significativamente altas, o que as conduz a experimentar pouco sucesso e muitos fracassos, o que as induz a prestar atenção seletiva aos eventos negativos, tendendo a auto-avaliação negativa e a negligenciar os eventos positivos.

    Fadiga: o estado de humor fadiga é descrito de diferentes formas nas diversas áreas da saúde. Dentro da psicologia refere-se a um estado de desgaste relacionado a redução da motivação do indivíduo (LEE, HICKS; NINO-MURCIA, 1991). Já na educação física é descrita como o declínio na capacidade de gerar tensão muscular com a estimulação repetida (MCARDLE, KATCH; KATCH, 1998) e o The American Illustrated Dictionary (1981) afirma que fadiga é um “estado com aumento do desconforto e diminuição da eficiência resultante de um esforço prolongado ou excessivo”. A fadiga, de modo geral, pode ser abrangida como um conjunto de alterações que ocorrem no organismo humano, as quais são resultantes de atividades físicas ou mentais que levam uma sensação generalizada de cansaço. A perda de eficiência de um indivíduo é uma conseqüência direta da fadiga, ou seja, a pessoa passa a ter a sua capacidade de trabalho reduzida. Dentre os principais sintomas estão a diminuição da motivação, redução de percepção e atenção, bem como prejuízo na capacidade de raciocínio e menor desempenho nas atividades físicas e mentais (Nahas, 2001).

    A Fadiga tem em seu mote os humores esgotado, exausto, sonolento e cansado. Já a Tensão engloba humor apavorado, ansioso, preocupado e tenso. Para finalizar tem-se a sub-escala Vigor que une os humores animado, com disposição, com energia e alerta. Ao todo são seis sub-escalas que somadas com algumas informações básicas do atleta podem permitir ao profissional um acompanhamento enriquecido do atleta. Os dados do BRAMS podem ser transformados em dados quantitativos para uso de outros profissionais (TERRY, LANE, LANE; KEOHANE, 1999; TERRY, LANE; FOGARTY, 2003. ROHLFS ET AL, 2006).

    A Fadiga refere-se à incapacidade do sujeito funcionar no seu nível adequado de capacidade. Pode-se chegar a um nível crônico de fadiga, o qual pode ser avaliado com a aplicação regular e sistemática da presente Escala de Humor. Os sintomas de fadiga crônica podem ser observados através de alterações na capacidade de atenção, concentração e memória de um indivíduo. Além destes sintomas, é comum observar irritabilidade e mudanças no sono, bem como significativo cansaço físico. Vale ressaltar que a fadiga pode gerar problemas importantes tanto de ordem psicossomática, como fisiológica e psíquica. (LANE; TERRY, 2000).

    Vigor: dentre as seis sub-escalas que compõe o BRAMS apenas uma refere-se a humor positivo, a qual esta relacionada com Vigor. É um humor caracterizado por energia física, excitação, animação, atividade corporal e disposição (TERRY, 1995). O vigor abarca elementos de suma importância no contexto esportivo, principalmente para o rendimento satisfatório de um esportista, portanto é composto por humores positivos.

    Dentro do estado de humor vigor é muito discutido sobre a motivação também caracterizada como um humor positivo, a qual se apresenta como um processo ativo, o qual é dirigido para uma meta, e esta sujeito a interação de questões pessoas, as quais são intrínsecas, e do meio, extrínsecas (SAMULSKI, 1995). Quando existe mudança de interesses, motivos, metas, necessidades ou mesmo intenções a motivação de um atleta pode sofrer mudanças. O atleta pode, constantemente, modificar seu caminho e ter novas motivações. (DESCHAMPS; DE ROSE JR., 2006).

    Samulski (2009) afirma que a motivação é a totalidade dos fatores que produzem o comportamento do atleta e o conduzem a um objetivo específico, portanto, o vigor e a motivação estão entrelaçados, na medida em que o primeiro é caracterizado por sentimentos que irão ser de suma importância na motivação de um desportista para uma tarefa específica, sendo esta, no caso de uma lesão esportiva, uma ótima recuperação para que o atleta possa retornar aos treinos e competições o quanto antes.

    Confusão mental: é um termo utilizado, na psiquiatria, para caracterizar um quadro em que as funções neurológicas não estão funcionando bem. Outra definição do termo confusão mental é caracterizada por atordoamento, sentimentos de incerteza, instabilidade para controle de emoções e da atenção, ou seja, é uma resposta do organismo à ansiedade e/ou depressão (BECK, CLARK, 1998). O indivíduo que apresenta sintomas de confusão mental é acometido de uma diminuição da sua capacidade de tomada de decisões, bem como apresenta prejuízos na sua capacidade de pensar e raciocinar.

    A Confusão Mental pode estar atrelada as questões de ansiedade e depressão, por ser caracterizada por atordoamento, ou seja, o indivíduo pode estar confuso, abalado ou mesmo perturbado. A depressão é caracterizada por humores depressivos e deve ser fruto de ampla investigação quando tiver um escore muito alto, devido a possível ligação entre humores depressivos e uma depressão clínica. Já a Tensão refere-se ao orgânico, ou seja, como o aparelho músculo-esquelético sofre com a situação vivenciada pelo sujeito e isto pode ou não ser observado através das manifestações psicomotoras.

    De acordo com Greenberger e Padesky (1999) a ansiedade esta entre as emoções mais perturbadoras que um indivíduo pode sentir. A palavra ansiedade é comumente utilizada para descrever curtos períodos de nervosismo ou medo que os sentem quando enfrentam experiências difíceis em suas vidas. A ansiedade, é um estado emocional que engloba tanto componentes psicológicos como fisiológicos, é um estado emocional que faz parte das experiências humanas e passa a ser patológica quando é desproporcional a situação desencadeante ou quando não existe um objeto específico a que esteja dirigida. É um sentimento que interfere diretamente na confusão mental de um indivíduo. Há também a experiência de desconforto corporal subjetivo durante o estado de ansiedade, o sujeito apresenta sensação de aperto no peito, na garganta, bem como dificuldade para respirar, fraqueza nas pernas e outras sensações

    A concentração também esta relacionada com a confusão mental é fundamental para o desempenho esportivo de um atleta, inclusive quando o mesmo vivência um processo de recuperação de lesão. Isto porque a mesma pode sofrer prejuízos importantes. A concentração refere-se a capacidade de um atleta manter o foco da sua atenção sobre estímulos específicos que lhe são relevantes em determinado meio. Pensamentos do desportista relacionados aspectos irrelevantes podem vir a aumentar a freqüência de erros durante treinos e competições. São três os principais elementos da concentração: foco em sinais relevantes do meio, manutenção do foco durante todo o tempo e consciência da situação vigente (WEINBERG; GOLD, 2001).

    Tensão: a tensão juntamente com a raiva esta relacionada aos maiores índices de lesões esportivas de maior gravidade e, em alguns casos uma tensão mais elevada pode vir a contribuir para o rendimento esportivo de um desportista, pois pode estar auxiliando para uma maior produção de energia (Tenenbaum; Eklund, 2007). A tensão, abarca o humor ansiedade que também pode estar interferindo na confusão mental, o qual é de significativa importância no contexto esportivo e, de acordo com Machado (2006, p. 273)” a ansiedade é um termo usado para a emoção experimentada quando nos deparamos com eventos aversivos que podem nos causar dor”.

    Battison (1998) afirma que estresse é um termo comumente utilizado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo, em resposta à tensão crescente. Sabe-se que certo nível de estresse é observado freqüentemente e pode ser compreendido como algo positivo, ou seja, um facilitador para que o esportista enfrente os desafios do seu cotidiano. Entretanto, estresse em excesso pode fazer com que o corpo reaja de forma incerta, desagradável. No que se refere as lesões esportivas, De Rose Jr. (1999) afirma que são consideradas pelos desportistas de alto rendimento como uma das maiores fontes de estresse esportivo.

    É determinante para a qualidade do desempenho de um atleta a capacidade dos mesmos em lidar com o estresse. Portanto, quanto mais forem capazes de identificar as fontes geradoras do estresse em seu meio esportivo, possivelmente estará mais bem preparado para enfrentar situações de pressão emocional existentes no seu cotidiano.

    Raiva: a Raiva engloba tanto o que o atleta esta sentindo em relação a si mesmo naquele momento quanto ao que sente em relação as demais pessoas. No esporte a explicação para o surgimento da raiva de Samulski (2009) envolve o que se observa diversas vezes. O autor afirma que a raiva aparece quando a meta que um sujeito pensou poder atingir não é alcançada. Spielberger (1992) afirma que a raiva alude a um estado emocional que abarca sentimentos subjetivos que variam de intensidade, os quais são acompanhados de estimulação do sistema nervoso autônomo.

    Greenberger e Padesky (1999) afirmam que a emoção da raiva varia desde à irritação até à fúria. A raiva é determinada pela situação que o sujeito vivência e é diretamente influenciada pela interpretação que o mesmo faz dos significados dos acontecimentos. A raiva é um sentimento que varia de um sujeito para outro e depende de como cada um elabora determinado evento, portanto os acontecimentos que podem gerar raiva estão geralmente relacionados ao passado de cada pessoa, bem como as suas regras e crenças particulares.

    Segundo Pujals e Vieira (2002) é preciso compreender que existe uma agressividade que é parte integrante do contexto esportivo, a qual é exercida dentro de regras bem estruturadas e condições específicas. Algumas modalidades esportivas apresentam um regulamento que tolera, dentro de seus critérios, a agressividade. Desta maneira, alguns esportistas estão habituados a disciplina destes esportes, apresentam aceitação à atitudes que são consideradas integrantes do regulamento do desperto que praticam. Quando a agressividade ultrapassa os limites permitidos e o próprio bom senso do esportista tende a atrapalhar tanto ele próprio como os integrantes da sua equipe.

Metodologia

População de estudo

    Os participantes do estudo são vinte e um (21) atletas jovens do sexo masculino, entre 13 e 20 anos (Tabela 1), de esportes de modalidades coletivas, futebol, voleibol, futsal e basquetebol (Tabela 2) de Caxias do Sul no Rio Grande do Sul, Brasil. Os mesmos possuem treinamento esportivo e experiência na prática regular em competições de níveis estaduais e/ou nacionais.

Tabela 1. Idades dos atletas avaliados

    Os atletas participantes desta pesquisa possuem idades variadas, o sugere que a lesão independe da idade. A pesquisa engloba atletas que vão desde os 13 até os 20 anos. Os atletas de 17 anos são em maior número, seguidos de atletas de 15 anos o que pode sugerir a necessidade de maior atenção nestas faixas etárias nas modalidades estudas.

Tabela 2. Modalidades praticadas pelos atletas avaliados

    A presente pesquisa foi realizada com equipes de futebol de campo, futsal, basquetebol e voleibol masculino. Dentre estes esportes e nas equipes avaliadas os atletas de futebol de campo se sobressaíram significativamente em número de lesionados compondo 52,38% da amostra. Vale ressaltar que foi possível avaliar duas equipes desta modalidade. A segunda modalidade com maior número de atletas foi o basquetebol (23,81%), a qual também contou com a participação de duas equipes. Já futsal e voleibol foram representadas neste estudo com apenas uma equipe cada modalidade.

Tabela 3. Maior conquista

    Os atletas avaliados foram questionados sobre a maior conquista que o esporte lhes proporcionou até o momento da pesquisa. Um número significativo de atletas considerou o Campeonato Estadual como sua maior conquista (66,66%). Alguns atletas destacaram o Campeonato Brasileiro (14,38%) e, outros destacaram o Campeonato Regional como sua maior conquista até o momento da pesquisa (19,05%).

Tabela 4. Dados Descritivos da Amostra

    A média de tempo de tratamento foi de 2,62 o que evidencia que com este tempo de prática os atletas lesionados podem perder a titularidade na equipe enquanto os demais atletas continuam a realizar suas atividades regularmente no período que os mesmos permanecem se recuperando da lesão. Assim, levanta-se a questão de como fica o estado emocional destes atletas, visto que não estão podendo mostrar seu talento nos treinos e/ou competições. Em relação ao tempo de prática pela média (6,76) mostra que os desportistas estão se dedicado ao esporte em busca do seu melhor rendimento e dos seus objetivos pessoais no esporte.

Instrumentos

    Um dos instrumentos que se utilizou foi a Escala BRAMS (ROHLFS et. AL. 2006). O presente instrumento passou pelo processo de tradução dos termos em inglês para o português e foi validado no ano de 2006 pelos pesquisadores do estudo. A aplicabilidade de instrumentos similares de medidas de perfil de humor ocorria no ano 2000 junto a diferentes modalidades esportivas e diferentes faixas etárias de atletas brasileiros.

    O BRAMS possui vinte e quatro itens que representam os estados de humor de esportistas, divididos em seis fatores a serem mensurados, sendo eles: fadiga, depressão, raiva, vigor, confusão mental e tensão, com quatro itens ou palavras para cada fator descrito.

    A presente pesquisa fará uso te um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O referido termo foi assinado pelos responsáveis pelo atleta ou pelos próprios atletas com 18 anos ou mais antes da coleta de dados.

Resultados

    Os atletas participantes deste estudo estavam acometidos de uma lesão esportiva quando foram avaliados o que evidencia que durante o tempo em que estão se recuperando que podem perder a titularidade da equipe enquanto os demais atletas continuam seus treinos neste período, e assim levanta-se a questão de como ficam os estados emocionais destes atletas, visto que não podem apresentar seus talentos em competições e treinamentos.

Tabela 5. Correlações: Tempo de prática e Maior conquista

    As correlações entre tempo de prática e maior conquista (-0.562) expostas na tabela 5 indicam que os jovens atletas avaliados estão alcançando melhores resultados já no início de suas práticas esportivas. Com isto, pode-se levantar a questão de que os atletas que possuem o maior tempo de prática são os que ainda não conseguiram conquistar, até então, bons resultados e ainda buscam a realização de sonhos no contexto esportivo.

    A partir dos dados apresentados nas tabelas que seguem, as quais indicam as correlações dos estados de humor, é possível observar que, após sofrer uma lesão esportiva, é plausível verificar correlações entre: raiva e fadiga, a raiva e a confusão, raiva e tensão, confusão e tensão, bem como correlação negativa entre depressão e vigor. Os humores raiva, depressão, fadiga e tensão são denominados humores negativos e, o vigor é caracterizado como humor positivo.

    A tabela 5 apresenta a correlação entre a raiva e os humores confusão, fadiga e tensão após uma lesão esportiva.

Tabela 6. Correlação Raiva

    A raiva apresentou correlação com fadiga (0.473), confusão (0.676) e tensão (0.577). O profissional deve estar atendo a presença deste sentimento no decorrer do tratamento logo após uma lesão esportiva, pois por ser um sentimento negativo pode desencadear pensamentos e comportamentos disfuncionais que, correlacionado com fadiga, confusão e tensão tende a ser desfavorecedor no decorrer do tratamento, pois o atleta pode estar com dificuldades de lidar com o seu problema e de direcionar sua energia para o tratamento. Na correlação com a fadiga, a raiva pode estar desmotivando o atleta a executar as tarefas necessárias. Já relacionada à confusão, a raiva pode favorecer a desatenção e falta de concentração neste período, bem como os sentimentos negativos do desportista. E, quando correlacionada com a tensão, a raiva é possível ter um grande potencializador de estresse e sentimentos negativos que prejudicam tanto o psicológico quanto o físico dificultando a recuperação.

    A raiva é um sentimento que interfere na capacidade do indivíduo de se concentrar, manter-se focado, atento, o que tende a favorecer a confusão mental do mesmo. Assim como a raiva pode desencadear os problemas supracitados, a fadiga, a confusão e a tensão também podem desencadear a raiva. Portanto, a falta de atenção, a dificuldade de se concentrar, o estresse, o cansaço excessivo, bem como os sentimentos negativos pode desencadear a raiva no desportista lesionado. Desta forma, um atleta que apresenta a fadiga, a confusão e/ou a tensão pode sentir raiva e isto pode prejudicar o tratamento. Assim como, pode ter pouca motivação, atenção, concentração para desenvolver as atividades necessárias no período de recuperação.

Tabela 7. Correlação Confusão Mental

    Os humores confusão e tensão apresentam correlação (0.563) apresentam uma correlação que pode vir a afetar de alguma forma a recuperação de um atleta lesionado, isto porque o que reflete a relação que ambos os humores possuem com a ansiedade, sentimento que em excesso pode prejudicar de forma importante a reabilitação de um atleta visto que interfere tanto no psicológico quanto físico do mesmo. A correlação entre tensão e confusão pode estar indicando prejuízos em todas as áreas, não apenas no aspecto esportivo, visto os impactos que a tensão e a confusão podem ter na atenção, concentração, no estresse, na alteração dos sentimentos e na auto-estima do sujeito devido aos sentimentos de incerteza quanto ao futuro.

Tabela 8. Correlação Vigor

    A depressão e o vigor apresentam correlação negativa (-0.449). A presente correlação reflete a incompatibilidade do humor depressivo com o humor vigor. É uma correlação que pode estar indicando a motivação ou sua falta para o desenvolvimento de uma recuperação satisfatória. Isto porque quanto maior for a motivação do atleta menos deprimido ele estará e vice-versa. Pode-se analisar que um atleta altamente motivado não irá apresentar sintomas depressivos e, aquele eu apresentar sintomas depressivos terá mais dificuldade de aderir ao tratamento e aceitar as conseqüências de uma lesão. Portanto, o profissional deve estar atento aos sintomas do atleta que serão fortes indicativos do seu estado de humor no decorrer do tratamento. Isto porque, sintomas de um estado de humor depressivo podem estar desfavorecendo a adesão ao tratamento e, sintomas de um estado de humor como o vigor podem favorecer e devem ser estimulados para que permaneçam sempre presentes. É preciso ter claro que a depressão é um humor negativo que tende a diminuir a capacidade do indivíduo de exercer suas atividades normais devido os sentimentos de incapacidade que o acomete. Já o vigor potencializa o sujeito para que o mesmo exerça suas atividades e favorece a adesão as atividades. Desta maneira, atletas que apresentam um alto índice de depressão tendem a ter dificuldade de aderir ao tratamento e, ao contrário, os atletas com o vigor alto tendem a ter um bom desempenho com rápida recuperação.

    É possível perceber em relação às correlações que os humores estão interligados, que é preciso estar atento aos diversos sentimentos do atleta para que se possa compreender o funcionamento deste indivíduo. Assim como, é relevante observar que os humores negativos estão ligados na medida em que aumentam simultaneamente. Já o vigor, um humor positivo fundamental para a adesão ao tratamento tende a estar em baixa quando o humor depressão está elevado. Tais questões remetem a idéia de que os atletas precisam ser assistidos e seus sentimentos valorizados visando a compreensão dos humores e sentimentos como um todo, onde determinados sentimentos podem desencadear outros podendo até mesmo piorar o quadro emocional do desportista.

    Brandt (2008) e Werneck, Coelho e Ribeiro (2002) vão ao encontro dos resultados desta pesquisa ao salientarem que os estados de humor estão relacionados à adesão do atleta ao tratamento e interferem diretamente na sua recuperação podendo auxiliar numa recuperação integral ou não, bem como pode interferir no tempo de tratamento. Isto porque, da mesma forma que um atleta que apresenta grandes alterações no humor, pode não conseguir atingir o melhor desempenho esportivo. Esta variável psicológica influência na cognição e comportamento do desportista, interferindo decisivamente no processo de tomada de decisão e de execução das habilidades motoras, importantes para o processo de recuperação após uma lesão.

Tabela 9. Media e desvio padrão dos estados emocionais

    A tabela 9 apresenta os dados descritivos da pesquisa, média e desvio padrão de cada estado de humor presente. Observa-se nesta tabela que todos os humores apresentam resultados acima da média, o que reflete a importância de um acompanhamento psicológico neste período de recuperação nos atletas estudados. Os humores Raiva (57.48), Confusão (53.29), Depressão (54.10), Fadiga (55.48), Tensão (51.95) e Vigor (53.05) estão indicando o quanto uma lesão pode estar interferindo no psicológico de um atleta e a importância de estes desportistas terem acompanhamento psicológico durante o período de recuperação e tratamento.

    A raiva (57.48), neste estudo apresenta-se acima da média e pode estar relacionada a sentimentos de fracasso ou não cumprimento de expectativas, ou seja, um atleta que adquire uma lesão pode estar sentindo-se fracassado e ter suas expectativas interrompidas, as quais se supunham seguras e, parte dos planos não pôde ser concretizada.

    A variável confusão também apresentou resultado acima da média neste estudo (53.29). Acredita-se que um atleta após uma lesão apresenta sentimentos de incerteza, bem como instabilidade para o controle de suas emoções e pode ter uma queda no controle da sua atenção para desenvolver as suas atividades. O período posterior a lesão é de suma importância que o atleta apresente um índice baixo de confusão mental, isto porque influência a atenção e a concentração, capacidades que são fundamentais para que um atleta lesionado consiga um bom resultado na sua recuperação.

    O humor depressão, assim como os demais, também teve resultado acima da média no presente estudo (54.10) e pode estar indicando a forma como o atleta encara a lesão e até mesmo a forma como se dá o processo de recuperação. A intensidade da depressão pode ser resultado do valor subjetivo que o esportista atribui às conseqüências da lesão. A tristeza, sentimento presente no estado de humor depressão, surge quando as experiências de perda estão presentes. O atleta, após uma lesão esportiva, pode sentir tristeza e apresentar humor deprimido por estar vivenciando uma perda referente à lesão esportiva, a qual pode mudar de forma importante a rotina de um atleta devido a sua gravidade (Samulski, 2009).

    Nos questionários aplicados a fadiga apresentou uma média de 55.48, a qual é considerada alta. Um atleta com fadiga pode estar se sentindo assim quando não consegue alcançar os seus objetivos, podendo isto ser umas das causas da fadiga, bem como interferir em algum grau, dependendo do atleta, na sua motivação durante o período de recuperação, no qual ele não pode exercer suas atividades como estava fazendo até o momento.

    A tensão apresenta-se acima da média (51.95), o que pode estar sugerindo o quanto o atleta sofre com ansiedade e estresse após ser acometido pela lesão esportiva. De acordo com Becker Junior (2008) existe uma relação importante entre estresse e a lesão esportiva, isto porque o atleta pode estar preocupado com possíveis conseqüências negativas da lesão esportiva.

    A fadiga (55.48), outro humor com resultado acima da média foi abordada verbalmente, através de comentários espontâneos, pelos atletas enquanto os mesmo respondiam o questionário. Os atletas avaliados encontravam-se no fim do ano, fator que pode ser levado em consideração e talvez possa ser compreendido através de um novo estudo como um motivo a mais para a presença significativa de fadiga nos resultados dos testes. O desanimo é um sentimento que pode influenciar diretamente a fadiga de um atleta e, desportistas lesionados podem estar se sentindo desanimados pela impossibilidade de treinar e competir (ROHLFS et. al., 2006, Santos, 2008).

    Os níveis de fadiga apresentados no teste estão acima da média (55.48), desta forma deve-se observar se o atleta apresenta prejuízos na atenção, concentração, memória podendo aumentar a irritabilidade, bem como prejuízos no sono. Acompanhamento este que deve ser realizado de forma individual e sistemática, o que vai de encontro ao que Lane e Terry (2000) afirmam.

    Nos testes o humor depressão obteve o escore de 54.10, o mesmo pode ser indicativo de um descontentamento ou aflição do atleta em relação a sua recuperação, o que deve ser confirmado ou não através de acompanhamento. Este humor pode estar relacionado à angústia da espera pelo retorno aos treinos e competições, ou seja, a imprevisibilidade do retorno as atividades esportivas pode interferir no equilíbrio emocional do desportista.

    O Vigor, ao contrário dos demais humores presentes neste estudo, é um humor positivo que pode favorecer a adesão ao tratamento e até mesmo decorrer a diminuir o tempo de tratamento de um desportista. Neste estudo este estado de humor também ficou acima da média (53.05) e pode ser um importante instrumento para que os profissionais trabalhem a adesão e a motivação do atleta durante este período um tanto quanto complicado para qualquer esportista. Isto porque, é um humor que tende a favorecer o atleta a aderir ao tratamento, a freqüentar os treinos e interagir com os seus companheiros de equipe durante o período em que não pode treinar e competir. Níveis maiores de vigor psicológico pode estar associados a atitudes mais positivas no processo de reabilitação do atleta e a uma maior disponibilidade de comportamentos favorecedores do processo de recuperação. Nos atletas pesquisados o vigor (53.05) é um estado de humor pouco presente a lesão esportiva. É um estado de humor positivo e relaciona-se a auto-eficácia, podendo ser associado a uma melhor percepção da situação e aliciamento de recursos pessoais apropriados para a tarefa. O trabalho de Terry (1995) vai ao encontro dos achados desta pesquisa quando afirma que o vigor apresentado pelos desportistas é um elemento para trabalhar a motivação e a adesão do esportista ao tratamento visando à otimização das condições físicas e emocionais, isto porque o vigor está diretamente ligado ao melhor rendimento esportivo, representando um estado de disposição para a tarefa, ou seja, os atletas demonstraram, através de seus resultados motivação para o tratamento, para melhorar o quanto antes e voltar aos treinos e competições.

Conclusão

    Conclui-se que os atletas pesquisados estão tensos, com sintomas de fadiga, com sentimentos de raiva, assim como apresentam sintomas depressivos e de confusão mental, embora demonstrem estar motivados, o que reforça a idéia de que se trabalhados os humores negativos a recuperação pode ser efetiva e, talvez em um curto período de tempo.

Referências

  • ANDERSEN, M.B. & WILLIAMS, J.M. A model of stress and athletic injury: prediction and prevention. Journal of Sport & Exercise Psychology, v.10, n.1, p.05-25, 1998.

  • ANREOLI, C.V.; WAJCHENBERG, M. & PERRONI, M.G. Basquete In: COHEN, M. & ABDALLA, R.J. Lesões nos esportes – diagnostic, prevenção e tratamento. São Paulo: Revinter, cap. 47, 2003.

  • BANDURA, A. Principles of behavior modification, New York: Holt, Rinehart & Winston, 1969.

  • BATTISON, T. Vença o Estresse: o homem moderno. São Paulo: Manole, 1998.

  • BECK, A.T. & CLARK, D.A. Anxiety and depression: as information processing perspective. Anxiety Research, v.1, p.23-56, 1998.

  • BECK, A.T., TUSH, A.J., SHAW F.N., EMERY, E. Terapia Cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artmed, 1997.

  • BECK, J. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.

  • BECKER JUNIOR, B. Manual de Psicologia do Esporte e Exercício, Porto Alegre: Nova Prova, 2000.

  • BECKER JUNIOR, B. Manual de Psicologia do Esporte e Exercício. 2ª Ed., Porto Alegre: Nova Prova, 2008.

  • BECKER JUNIOR, B. Treinamento Psicológico para Jovens Desportistas. In: GAERTNER, G. (ORG.) Psicologia e Ciências do Esporte. 2ª reimpr. Curitiba: Juruá, 2010.

  • BRANDT, R. Estados de Humor de atletas da seleção brasileira de vela nos jogos pan-americanos. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação do Movimento Humano). Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

  • BUCETA, J. M. Psicologia y Lesiones Desportivas: prevencion y recyoeracion, Madrid: Dykinson, 1995.

  • DE ROSE JUNIOR, D. Situações específicas e fatores de stress no basquetebol de alto nível. Tese Livre-Docência. São Paulo: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, 1999.

  • DESCHAMPS, S. R. & DE ROSE JUNIOR, D. de Os aspectos psicológicos da personalidade e da motivação no voleibol masculino de alto rendimento. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 10, n.10, 2006. http://www.efdeportes.com/efd92/motiv.htm

  • DORLAND WAN. The American illustrated medical dictionary. 20 ed., Philadelphia: Saunders, 1981.

  • DORSCH, F., HÄCKER, H. & KURT-HERMANN Dicionário de Psicologia Dorsch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

  • GREENBERGER, D. & PADESKY, C.A. A Mente Vencendo o Humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 1999.

  • GUERRERO, J. P. Componentes psicológicos de lãs lesiones deportivas. Em Cruz, J., Feliu (Ed.). Psicologia del deporte, p.215-244, España: Síntesis, 2001.

  • KORSAKAS, P. (2002). O esporte infantil: as possibilidades de uma prática educativa. In: DE ROSE JR, D. Esporte e Atividade física na infância e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed. (39-49). 2002.

  • KÜBLER-ROSS, E. On death and dying, Ed. Touchestone, 1997.

  • LANE & TERRY, The nature of mood: development of a concetual mode with a focus on depression, Journal of Applied Sport Psychology (JASP), v.12, n.1, p.16-33, 2000.

  • LEE, K.A., HICKS, G. & NINO-MURCIA, G. Validity and Reliability of a scale do assess fatigue. Psychiatr. Res., n.36, p.299-305, 1991.

  • MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte: da educação física escolar ao esporte de alto nível. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2006.

  • MADDISON, R. & PRAPAVESSIS, H.A. Psychological approach to the prediction and prevention of athletic injury. Journal of Sport and Exercise Psychology, n.27, p.289-310, 2005.

  • MCARDLE, W.D., KATCH, F.I. & KATCH, V.L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 4ª Ed., cap.19, p.333, 1998.

  • MENDO, A.H. La intervención psicológica en las lesiones desportivas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 52, 2002. http://www.efdeportes.com/efd52/lesion.htm

  • MIRANDA, R. & BARA FILHO, M. Aspectos psicológicos do esporte competitivo. In: Tratamento Desportivo, v. 03, 1998.

  • MIRANDA, R. & BARA FILHO, M. Construindo um atleta vencedor: uma abordagem psicofísica do esporte. Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001.

  • PAPALIA, D.E. & OLDS, S.W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 7ª Ed, 2000.

  • PUJALS, C. & VIEIRA, L. F. Análise dos fatores psicológicos que interferem no comportamento dos atletas de futebol de campo. Rev. da Educação Física/UEM Maringá, v.13, n.1, p.89-87, 1ºsem. 2002.

  • ROHLFS, I.C.P.M., ROTTA, T.M., KREBS, R.J., CARVALHO, T. Aplicação de instrumentos de avaliação estados de humor na detecção de síndrome de excesso de treinamento. Revista brasileira de medicina do esporte, v.10, n.2, p.111-116, mar/abr 2006.

  • RÚBIO, K. Da psicologia do esporte que temos à psicologia do esporte que queremos. Rev. Bras. Psicol. Esporte, v.1, n.1, p.01-13, 2007.

  • SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. Belo Horizonte: UFMG, 1995.

  • SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte: conceitos e novas perspectivas. 2ª Ed. Barueri, SP: Manole, 2009.

  • SANTOS, G. Relação dos Estados Transitórios de Humor com a Performance em Competição de Futebol de Campo da Cidade de Pouso Alegre/MG. Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, 6, Ed. Especial, p.596-608, julho2008.

  • SMITH, A. M. Psychological impact of injuries in athletes. Research in Sports Medicine, n.22, p.391-405, 1996.

  • SPIELBERGER, C.D. Inventário de Expressão da Raiva como Estado e Traço (trad. A.M.B. Biaggio). São Paulo: Vetor, 1992.

  • TENENBAUM, G. & EKLUND, R. Handbook of sport psychology. New York: Wiley, 2007.

  • TERRY, P. C. The efficacy of mood state profiling among elite performers: a review and synthesis. The Sport Psychologist, n.9, p.309-324, 1995.

  • TERRY, P.C., LANE et.al. Team cohesion and mood in sport. Group Dynamics: Theory, Research and Practice, n.4, p.244-253, 2000.

  • TERRY, P.C., LANE, A.M. & FORGATY, G.J. Construct validity of the Profile of Mood States – A for use with adults. Psychology of Sport and Exercise, n.4, p.125-139, 2003.

  • TERRY, P.C., LANE, A.M., LANE, H.J., KEOHANE, L. Development and validation of mood measure of adolescents. Journal of Sports Sciences, n.17, p.861-872, 1999.

  • VIEIRA, L.F., FERNANDES, L., VIEIRA, J.L.L. & VISSOCI, J.R.N. Estados de Humor e desempenho motor: um estudo com atletas de voleibol de alto rendimento. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 10, n1, p.62-68, 2008.

  • WEINBERG, R.S., GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício, 4ª Ed., Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • WEINGBERG, R.S., & GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artmed, 2001.

  • WERNECK, F.Z., COELHO, E.F. & RIBEIRO, L.C. Relações dos estados de humor e a performance em voleibolistas. In: TURINI, M. & DA COSTA, L. Coletânea de Textos em Estudos Olímpicos, v.2, p.337-350, Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 161 | Buenos Aires, Octubre de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados