Alteração nos estados de ânimo de universitários em aulas de ginástica rítmica com diferentes aparelhos oficiais Los cambios en los estados de ánimo de universitarios en clases de gimnasia rítmica con diferentes implementos reglamentarios |
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*Graduada em Educação Física pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais. Unileste, MG **Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília Docente do Curso de Educação Física do Unileste, MG (Brasil) |
Glayda Mara Dias Lana* Nelma Almeida Santos* Águida Leite Reis* Flávia Costa Pinto e Santos** |
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Resumo O objetivo deste trabalho foi analisar a alteração nos estados de ânimo em aulas de Ginástica Rítmica com diferentes aparelhos oficiais (bola, fita e maças). Foram selecionados 17 estudantes de uma instituição de ensino superior do leste do estado de Minas Gerais - Brasil, representando 100% dos alunos matriculados no 3° período do curso no segundo semestre de 2009. No início e no término das aulas os participantes preencheram a Lista de Estados de Ânimo Reduzida e Ilustrada (LEA-RI). Com aplicação do Teste t de Student foram comparadas as diferenças entre as médias dos valores da LEA-RI. Houve aumento significativo nos estados de ânimo positivos e diminuição dos negativos após as aulas com os aparelhos fita e maças (p £ 0,05), o que não foi observado na aula com utilização do aparelho bola. Apesar de a ginástica já ter seu papel na alteração do estado de ânimo, observou-se que o aparelho utilizado também pode influenciar nos estados de ânimo dos praticantes, podendo dar suporte na elaboração dos planejamentos das aulas aos profissionais de Educação Física que atuam na área de Ginástica Rítmica. Unitermos: Ginástica Rítmica. Aparelhos Oficiais. Estados de Ânimo.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Ginástica Rítmica (GR), modalidade esportiva administrada pela Federação Internacional de Ginástica, foi estruturada como esporte competitivo no final da primeira guerra mundial. O primeiro registro de competição internacional data de 1961, envolvendo apenas alguns países do leste europeu. Tornou-se modalidade olímpica em 1984 e desde então é prática exclusivamente feminina no âmbito competitivo (CBG, 2010). As participações masculinas se dão em atividades demonstrativas, no contexto da Ginástica para Todos.
A prática da GR é dada por uma combinação de movimentos com os aparelhos arco, bola, maças, corda e fita, envolvendo técnicas corporais de vários níveis de dificuldade, acompanhadas por música instrumental. Os aparelhos utilizados são: arco, bola, maças, corda e fita (MORI; DEUTSCH, 2005; MACHADO; FERREIRA FILHO, 2010), sendo que o seu manuseio é o que encanta os iniciantes na modalidade (CAÇOLA; LADEWIG, 2006).
A prática da ginástica favorece o desenvolvimento das respostas afetivas, cognitivas e comportamentais do ser humano, por sua ampla variedade de objetivos (MORI; DEUTSCH, 2005). Por ser modalidade esportiva de expressão artística (LAFFRANCHI, 2001), ela suscita o afloramento das emoções em sua prática, que são reações químicas e neurais determinadas biologicamente, as quais dependem de mecanismos cerebrais, podendo ser manifestadas como medo, raiva, alegria, tristeza e muitas outras formas (DAMÁSIO, 2000). Elas podem ser fortes ou fracas, passageiras ou duradouras e um mesmo indivíduo pode mudar a emoção frente a um mesmo fenômeno com o tempo. Por essas afirmativas podemos perceber a subjetividade de estudos realizados com as emoções. Diante dessa realidade Engelman criou o termo estado de ânimo (avaliação momentânea das emoções de uma pessoa em dada situação), os quais são chamados ainda na literatura como estados subjetivos ou estados totais (ENGELMAN, 2002).
O estado de ânimo de uma pessoa faz com que esta possa se desenvolver, progredir, vencer desafios, bem como, podem tornar uma ação uma verdadeira batalha, com dificuldades, sem envolvimento, sem ânimo (SAMULSKI, 2002). Assim, o ânimo positivo facilita o processo de aprendizagem, já o negativo faz com a aquisição e a retenção das informações seja dificultada (NASBY; YANDO,1982 apud BUENO, 2006). Daí observa-se a relação entre estados de ânimo e processos motivacionais. A carência de publicações abordando esse tema motivou a realização deste estudo, que objetivou verificar a predominância da tendência motivacional, gerada pelas alterações que ocorrem no estado de ânimo de universitários antes e após a aula prática com alguns dos diferentes aparelhos de GR.
Metodologia
De uma população de 17 universitários de ambos os sexos matriculados na disciplina Ginástica Rítmica (GR) do curso de Educação Física de uma Instituição de Ensino Superior de Minas Gerais – Brasil, 100% foram convidados a participar do estudo, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido. Para coleta de dados foi utilizada a Lista de Estados de Ânimo reduzida e ilustrada (LEAR-RI) desenvolvida por Volp (2000 apud MORI; DEUTSCH, 2005), antes e após a aula, sendo uma com cada um dos 5 aparelhos oficiais da GR (arco, bola, corda, fita e maças). A escolha da LEA-RI se deveu à sua maior atualidade e à facilidade de sua aplicação, por conter ilustrações de cada um dos 14 adjetivos relacionado aos estados de ânimo com uma figura de face, auxiliando aos respondentes na definição dos mesmos no momento. A mesma apresenta uma escala de quatro valores com seguinte pontuação: Muito Forte: 4, Forte: 3, Pouco: 2 , Muito Pouco: 1.
A coleta de dados foi realizada nas dependências da Instituição de Ensino Superior, pelas próprias pesquisadoras, no horário regular das aulas, durante 5 semanas seguidas. O 1° aparelho (arco) foi utilizado como adaptação dos sujeitos ao instrumento avaliativo LEA-RI (estudo piloto), não considerado os dados do mesmo. Os dados coletados no dia da aula com o aparelho corda também não puderam ser validados na pesquisa, pois ficou evidente a alteração nos estados de ânimo dos estudantes, pois os mesmos fizeram uma prova teórica antes da aula. Foram então validados os dados das coletas de três aparelhos da GR: bola, maças e fita, visando maior fidedignidade na pesquisa.
As aulas tinham a duração de 1 hora e 30 minutos, sendo compostas sempre de alongamento, atividades de reconhecimento do aparelho, treinamento com as técnicas específicas de cada aparelho e aplicação destas em uma seqüência coreográfica. Eram feitas sempre na mesma sala, com músicas que variavam de 100 a 160 bpm (batidas por minuto).
Resultados
Foi realizado o teste t de Student para analisar a influência do uso de determinados aparelhos da ginástica rítmica em algumas variáveis relacionadas ao humor ou estado emocional das 17 pessoas avaliadas. As variáveis analisadas foram divididas em dois grupos: o primeiro, denominado de “estados de ânimo positivos” foi composto pelas variáveis “feliz”, “espiritual”, “agradável”, “calmo”, “leve” “ativo” e “com energia”; o segundo foi denominado de “estados de ânimo negativos” e composto pelas variáveis “agitado”, “triste”, “desagradável”, “pesado”, “inútil”, “tímido” e “com medo”.
Os resultados da diferença entre as médias foram referentes ao valor do pós teste menos o valor do pré teste. Ao se analisar em conjunto as variáveis do primeiro grupo (características positivas) com as variáveis do segundo (características negativas) pode-se perceber, através da tabela 4 abaixo, que os resultados foram significativos (ao nível de 5%) em todos os casos, exceto na utilização da bola (em ambas as características).
A tabela 6 a seguir apresenta o resultado do teste para cada característica separadamente.
Discussão
Analisando-se a Tabela 4, observa-se que houve resultados significativos da alteração dos estados de ânimo para fita e maças, na qual o valor de p encontrado foi menor do que 0,05, tendo sido constatado um aumento dos adjetivos positivos e diminuição dos adjetivos negativos. Pode-se atribuir esses resultados ao fato de que os alunos provavelmente não tiveram contato anterior com os aparelhos fita e maças tomando-os como uma novidade ao realizar as atividades programadas. Enfatiza Cratty (1983) que fatores externos (motivação extrínseca) podem provocar modificações na estrutura psicológica do indivíduo quando este se depara com algo que seja novo e que conseqüentemente, tenha complexidade. No caso do aparelho bola a alteração nos estados de ânimo não foi estatisticamente significativa tendo como provável explicação a familiaridade dos participantes com o mesmo, o que pode ter interferido nos resultados uma vez que, de uma forma ou outra já tiveram contato anterior com a bola em outras modalidades esportivas. A música é outro fator extrínseco (influências externas) que, por sua vez, de acordo com Hernandez e Bouza (1990) apud Mori e Deutsch (2005) é de importância durante aulas, treinos e competições na GR, sendo uma inspiração para o movimento. Em estudos das mesmas autoras (MORI; DEUTSCH, 2005) é confirmado que a música introduzida nas aulas de GR interfere nos estados de ânimo dos participantes provocando o aumento dos adjetivos positivos e diminuição dos negativos.
Ainda respaldando o aumento dos estados de ânimo positivos apresentado nas Tabelas de 1 a 4, considera-se importante salientar que fatores internos (intrínsecos) alteram os estados de ânimo, a nível fisiológico, segundo Morgan (1985) apud Gobbi et al. (2007) pelo aumento provocado no nível de endorfina gerado pela prática da atividade física. Gobbi et al. (2007) afirma que a liberação de hormônios estimulantes como a Nor-adrenalina, faz com que o indivíduo fique mais ativo e, como conseqüência, altera positivamente seus estados de ânimos, fazendo com que os níveis de ansiedade e tensão sejam reduzidos, com associações dos sentimentos de euforia. Tais reações são importantes na aquisição de benefícios psicológicos e fisiológicos decorrentes do exercício físico em geral (WERNECK; BARA FILHO; RIBEIRO 2005) o que se aplica às aulas de GR.
Esses resultados sugerem que a utilização dos aparelhos “fita” (Tabela 1) e “maças” (Tabela 2) têm, de fato, efeito positivo sobre o humor ou estado emocional das pessoas, seja aumentando as sensações consideradas boas, seja reduzindo as sensações consideradas ruins. Vários autores afirmam, em diferentes estudos, que exercícios físicos reduzem os estados de ânimos negativos (BERGER; OWEN, 1998; HANSEN, 2001 apud GOBBI et al, 2007). No que diz respeito ao aparelho “bola”, pode-se afirmar que não há evidência suficiente para se concluir que a utilização deste aparelho altere as características analisadas. Na Tabela 6, com base no Teste t, pode-se observar que 5 dos adjetivos do aparelho fita tiveram diferença significativa, sendo 3 adjetivos positivos e 2 negativos, já no aparelho maças também houve essa diferença significativa sendo em 1 adjetivo positivo e 1 negativo, mas chama a atenção o fato de nenhuma característica apresentar diferença significativa quando a bola é utilizada, o que nos deixa a evidência de que o aparelho fita é o mais motivante quando os adjetivos são comparados separadamente.
Conclusão e recomendações
Pode-se concluir que, para o grupo dos indivíduos avaliados, a aula com o aparelho bola não provocou alterações significativas nos estados de ânimo, o que nos permite deduzir que não houve predominância da tendência motivacional externa da bola para este grupo. O mesmo não se observou nas aulas com os aparelhos fita e maças, nas quais a diferença entre os estados de ânimo antes e após as aulas foi significativa, podendo sugerir que o manejo dos referidos aparelhos possa ter um efeito positivo no estado de ânimo dos participantes.
Pelas limitações do presente estudo sugere-se pesquisa futuras abordando metodologia de características longitudinais (avaliando várias aulas com o mesmo aparelho durante tempo prolongado), tentando construir um modelo mais completo para explicar as mudanças psicológicas geradas pela prática da Ginástica Rítmica com aparelhos, podendo gerar evidências de que os fatores novidade e familiaridade podem desaparecer depois de um certo tempo executando os exercícios, fator impossível de analisar com a metodologia proposta no presente estudo.
Assim, profissionais de Educação Física que atuam na área de Ginástica Rítmica podem incluir em suas aulas, como método pedagógico facilitador a aprendizagem técnica, os aparelhos que teoricamente aumentam os adjetivos positivos e diminuem os adjetivos negativos, alternando com aqueles aparelhos que não deram evidências da alteração positiva nos estados de ânimo, na tentativa de tornar suas aulas mais atraentes, podendo gerar conseqüente alcance de metas técnicas com maior rapidez pelo maior envolvimento das ginastas nas tarefas propostas.
REFERÊNCIAS
BUENO, Viviane Freire. Efeito da associação de sabor e música sobre o julgamento gustativo e estado de ânimo de crianças. 2006, 115 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Experimental). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo – USP, 2006.
CAÇOLA, Priscila Martins; LADEWING, Iverson. Avaliação da retenção de uma habilidade de salto da ginástica rítmica ensinada através da prática em partes e da prática como um todo. Lecturas: Educación Fisica y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, v11, n.100, set, 2006. http://www.efdeportes.com/efd100/gr.htm
CBG. Confederação Brasileira de Ginástica. Ginástica Rítmica. Website oficial, Curitiba, 2010. Disponível em: http://cbginastica.com.br/cbg/index.php?option=com_content&view=article&id=79&Itemid=66
CRATTY, B. J. Psicologia no esporte. 2.ed. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1983.
DAMÁSIO, António R. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das letras, 2000.
ENGELMAN, Arno. Da Conceituação de Estado Subjetivo até a Proposição dos Escalões de Percepto. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 15, n. 2, p. 393-405, 2002.
GOBBI, Sebastião; RIBEIRO Carolina Peixoto; OLIVEIRA, Sandra Regina Garijo de; QUADROS JUNIOR, Antonio Carlos de. Efeitos da dança e do treinamento com pesos nos estados de ânimo de idosos. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, V. 18, N. 2, p. 161-168, ago/dez 2007.
LAFFRANCHI, Bárbara. Treinamento desportivo aplicado à ginástica rítmica. Londrina: Unopar, 2001.
MACHADO, Vivian Corona; FERREIRA FILHO, Raul Alves Ferreira. Inclusão de movimentos básicos da ginástica rítmica nas aulas de Educação Física escolar. Lecturas: Educación Fisica y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, v. 14, n.141, Fev , 2010. http://www.efdeportes.com/efd141/ginastica-ritmica-nas-aulas-de-educacao-fisica-escolar.htm
MORI, Patrícia, DEUTSCH, Silvia. Alterando estados de ânimo nas aulas de ginástica rítmica com e sem utilização de música. Motriz, Rio Claro, v. 11, n. 3, p. 161-166, set./dez. 2005.
SAMULSKI, D. M. Psicologia do esporte manual para educação física, psicologia e fisioterapia. São Paulo: Manole, 2002. 379p.
WERNECK, F. Z., BARA FILHO, M. G., RIBEIRO, L. C. S. Mecanismos de melhoria do humor após o exercício: revisitando a hipótese das endorfinas. Revista Brasileira Ciência e Movimento, Brasília, v. 13, n. 2, p. 135-144, dez. 2005.
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