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Esquizofrenia e a intervenção do profissional de Educação Física

La esquizofrenia y la intervención del profesional de Educación Física

 

*Graduanda de Educação Física, DES/UFV, MG

** Mestranda em Aspectos Sócio-Culturais do Movimento Humano, DES/UFV, MG

*** Professora Doutora do Departamento de Educação Física, DES/UFV, MG

Departamento de Educação Física, DES

Universidade Federal de Viçosa, UFV, Viçosa, MG

(Brasil)

Elizângela Fernandes Ferreira*

Aurora Corrêa Rodrigues*

Dallila Tâmara Benfica**

Eveline Torres Pereira***

elizangela.ferreira@ufv.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho objetivou propor ao profissional de Educação Física uma intervenção com indivíduos esquizofrênicos. A pesquisa se baseou em uma revisão de literatura cientifica sobre o tema Esquizofrenia. Abordando os tópicos sintomas e diagnósticos, abordagem familiar, tratamento, intervenção e proposta de intervenção. Considerando a importância do profissional de Educação Física em uma equipe multidisciplinar, evidenciamos que à escassez de estudos nesta área pode prejudicar a atuação profissional perante o transtorno.

          Unitermos: Educação Física. Esquizofrenia. Intervenção.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo a Organização Mundial da Saúde a esquizofrenia atinge cerca de 1% da população mundial. No Brasil, a sua prevalência aproxima-se de 1%, sendo compatível com a observada em outros países (MARI & LEITÃO, 2000). Este transtorno pode ser caracterizado pela ocorrência de experiências diferentes por parte do portador em relação à realidade, ela é considerada uma doença e, por afetar o funcionamento mental da pessoa, está classificada entre os transtornos mentais. (ASSIS et al., 2009)

    Este transtorno pode comprometer a vida do indivíduo, tornando-o frágil diante as situações estressantes. Além disso, tem o agravante de desencadear no indivíduo a falta da percepção da vida real, podendo afetar sua personalidade, suas habilidades sociais e seu equilíbrio mental, prejudicando assim sua qualidade de vida, outro agravante envolve manifestações psicopatológicas variadas, do pensamento, da percepção, da emoção, do movimento e do comportamento. (SOUZA & COUTINHO, 2006)

    Diante desse quadro é importante ressaltar que o tratamento para indivíduos com esquizofrenia é essencial, pois proporciona uma melhora na qualidade de vida, amenizando seus sintomas, o que lhe permite uma participação efetiva na sociedade. Visto que o transtorno danifica os aspectos psicológicos, fisiológicos e comportamentais, estudos recentes vêm relatando a importância de uma equipe multidisciplinar, para atuar na minimização dos efeitos prejudiciais do transtorno, (ADAMOLI & AZEVEDO, 2009). Desse modo pode-se inferir a importância de uma equipe multidisciplinar para o tratamento desta demência.

    Neste contexto a participação do profissional de Educação Física, na equipe multidisciplinar justifica-se pela capacidade de desenvolver os aspectos sociais, cognitivos e fisiológicos através dos diversos conteúdos da Educação Física. Por isso é importante este profissional compreender o transtorno e intervir de forma satisfatória, de modo à auxiliar no tratamento. Assim este trabalho teve como objetivo propor uma intervenção ao profissional de Educação Física em conjunto à uma equipe multidisciplinar.

Métodos

    Inicialmente foi realizada uma revisão da literatura científica sobre Esquizofrenia, conduzida pelas bases de dados medline, scielo e lilacs, utilizando como palavras chave: “esquizofrenia”, “atividade física”, “schizophrenia”, “physical activity”. Foram incluídos neste trabalho estudos que abordavam as características da esquizofrenia, os avanços médicos nesta área e as diferentes formas de diagnósticos adotados, sem restrição de sexo e idade. Não foram delimitados períodos de publicação específicos, nem se fez restrição quanto ao tipo de desenho de estudo, sendo incluídos artigos de revisão, estudo de caso e descritivo. Foram selecionados artigos nos idioma português e inglês. Após a seleção dos artigos encontrados, os mesmos foram lidos e separados pelo tema central de cada um. Assim foram analisados trabalhos com enfoque no tratamento ao familiar de pacientes com esquizofrenia, causas da doença, conceito, epidemiologia, prognóstico e diagnóstico da esquizofrenia.

Desenvolvimento

    A esquizofrenia ainda não tem um fator desencadeador específico e sim fatores contribuintes para sua instalação no indivíduo (CEMBRANELLI, 2010). Os principais fatores estão ligados a teoria da dopamina (WINNER, 2010), a qual se explica o excesso de dopamina na região cerebral, herança genética, infecções pré-natais e fatores ambientais (JAVITT & COYLE, 2010).

    Visto que o risco deste transtorno é maior em membros da família com a doença (MARGARI, 2011), as pesquisas voltaram-se para estudar a sua hereditariedade, em particular a hipótese de herança poligênica, que parece mais consistente com os dados disponíveis atualmente (SCHULTZ & ANDREASEN, 1998). Porém outros estudos relatam que o maior risco pode estar relacionado com complicações na gestação, através de infecções maternas, hemorragia, exposição a toxinas e anóxia fetal (FRANCO, 2010; PETERSON, 2006), ou seja, a ocorrência destes problemas pode aumentar a probabilidade do indivíduo desenvolver transtorno mental após o nascimento. Por outro lado, pesquisas psicanalíticas relacionam a doença com a libido. Para Freud a esquizofrenia trata-se da libido que não se contenta em regredir ao estado narcísico, ela retorna ao auto-erotismo infantil, representada por pulsões e objetos parciais (PIRES, 2005).

Sintomas e diagnóstico

    O distúrbio é caracterizado pela presença de diversos sintomas, juntamente com uma deterioração funcional, durante um tempo determinado de um a seis meses. Durante uma pesquisa desenvolvida em 1974, pesquisadores do Estudo Piloto Internacional da Esquizofrenia (IPSS), procuraram uma simplificação dos tipos de sintomas (ELKIS, 2000). Complementando este argumento Javitt & Coyle, (2010) relata que devido à grande quantidade de sintomas os mesmos foram subdivididos em dois grupos positivo e negativo, buscando facilitar o tratamento.

    Segundo a Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) os sintomas positivos são: delírios alucinações, fala desorganizada e comportamento desordenado e bizarro; e os negativos são: alogia (pobreza de fala e sem conteúdo), embotamento afetivo (diminuição da habilidade de se expressar emocionalmente), anedonia (inabilidade de experimentar prazer, perda do interesse pelo convívio social) e avolição (incapacidade de persistir em algo até atingir o objetivo). Outros sintomas associados à esquizofrenia são: o déficit de atenção, a falta de discernimento e o comportamento motor catatônico. De acordo com Javitt & Coyle (2010), os sintomas positivos são os mais conhecidos entre a população e suas características consideradas um fator grave, enquanto os negativos são menos graves, porém perniciosos.

    O desencadeamento dos sintomas pode ocorrer de forma aleatória, sem a obrigatoriedade da manifestação de todos para caracterizar a esquizofrenia, variando de acordo com o paciente e o tempo da doença (Kaplan apud Souza, 2006). Comumente manifestam-se na adolescência ou no início da idade adulta, sendo que, para seu diagnóstico é necessário a entrevista clínica e a observação do comportamento do indivíduo. Utilizam-se dois sistemas de classificação, o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV) e a Classificação Internacional de Doença (CID-10) (BARBATO, 1998).

    Os subtipos da esquizofrenia podem ser identificados de acordo com seus sintomas ou conjunto deste (Quadro 1).

Fonte: análise dos autores

Abordagem familiar

    A família tem um papel primordial, sendo responsável por observar o comportamento diferente de um familiar e encaminhá-lo para um serviço de saúde, o qual diagnosticará a doença. Após o diagnóstico, devido a algumas características incapacitantes do familiar, ficará a cargo da família o cuidado e a administração de algumas de suas necessidades. Assis et. al. (2010), recorda que muitas vezes as famílias não sabem como lidar com um doente esquizofrênico, necessitando do suporte de profissionais e de outras famílias que passam por experiências semelhantes.

    Segundo Villares et. al. (1999) e Assis et. al. (2010) alguns familiares adotam comportamento de hostilidade, comentários críticos, forte envolvimento emocional e características extremas (o conformismo e a não aceitação). Tal comportamento pode inferir negativamente no desenvolvimento da esquizofrenia, como afirma Kuipers apud Scazufca (2000). No entanto, alguns familiares utilizam outras denominações para caracterizar a doença a fim de minimizar os estigmas sociais que esta reproduz, ou seja:

    “ao evitar o uso do termo esquizofrenia e adotar denominações mais amplas, o familiar pode estar afastando questões de estigma social, imprimindo um caráter mais benigno à condição ou não confrontando experiências dolorosas e incompreensíveis da convivência estressante com o familiar doente e expectativas de melhora ou cura”. (VILLARES et. al. p. 45, 1999)

    Assim como as denominações utilizadas, a aceitação do termo e todas as conseqüências que acarretam no familiar é parte fundamental do processo de reabilitação. Acompanhar o indivíduo, suas evoluções e até mesmo suas recaídas é essencial durante o tratamento. Para isso, a família deve conhecer a doença para entender o que o familiar esta vivenciando e assim auxiliá-lo. Indícios demonstram os benefícios da participação da família no tratamento e controle da esquizofrenia, ou seja, pacientes que vivem com seus familiares têm uma melhora considerável quando comparados com aqueles que vivem em instituições, e a terapia familiar, quando acrescentada à medicação, é mais eficaz do que apenas a medição no tratamento da doença. Vale ressaltar que um ambiente social favorável, no qual a família está presente, contribui para a recuperação e integração do esquizofrênico na comunidade (OMS, 2001).

    A inserção deste na comunidade tem sido difundida mundialmente pela repercussão da desinstitucionalização, a transferência de pacientes com transtorno mental é efetiva na melhora da qualidade de vida do indivíduo e também em relação ao custo e respeito aos direitos humanos (OMS, 2001). Porém os serviços de saúde não devem abandonar os pacientes aos cuidados de suas famílias despreparadas, visto que nem todas possuem condições estruturais, econômicas e emocionais para conduzir satisfatoriamente o tratamento e controle da doença (VILLARES et al., 1999). Sendo assim, segundo Wagner (2011) é necessário uma nova maneira de cuidar da saúde do esquizofrênico, levando em consideração não só o aspecto biológico, mais também a subjetividade do mesmo, promovendo a inclusão e combatendo o estigma.

Tratamento

    O tratamento da esquizofrenia pode ser feito através de uso de medicamentos anti-psicóticos sendo os mais comuns clozapina, olanzapina e risperidona, auxiliados pela psicoterapia, terapia ocupacional e auto-ajuda (SHIRAKAWA, 2000). As estratégias que serão utilizadas dependerão do paciente, da sua família, da fase e gravidade da doença. De qualquer forma, o melhor tratamento envolve uma equipe multiprofissional, com psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistência social, profissional de educação física e outros.

    A presença multiprofissional justifica-se pela gravidade e diversidade de comprometimentos que a esquizofrenia reproduz no seu portador, pois seus sintomas são diversos e atinge várias áreas e pessoas, necessitando assim de profissional adequado para cada subfator desencadeador da doença. Os profissionais juntos poderão auxiliar um ao outro na busca do melhor tratamento e prevenção da esquizofrenia, como também servir de aparato familiar, visto que esta encontra grandes dificuldades para lidar com indivíduo e a sua doença.

    Esse trabalho na perspectiva da multidisciplinaridade já acontece em alguns estabelecimentos como no caso da CAPS (Centro de Assistência e Promoção Social), no estudo Adamoli e Azevedo (2009) eles discutem a importância do atendimento realizado pelos profissionais diversificados à pessoas com Transtorno Mental. Nas palavras dos autores:

    “Este serviço conta com uma equipe multidisciplinar na qual, além do profissional de Educação Física, atuam psiquiatras, médicos clínicos, psicólogos, assistentes sociais, artistas plásticos, músicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, terapeutas ocupacionais e artesão”. (ADAMOLI & AZEVEDO, p. 248, 2009)

Intervenções

    Atualmente as intervenções para este tipo de transtorno abrangem diversas áreas que, segundo Scazufca (2000) seriam a psicoterapia, terapia ocupacional, acompanhante terapêutico e fármacos, porém este trabalho defende a contribuição da Educação Física no tratamento da doença, ressaltando que todos, especificamente dentro de sua modalidade corroboram para a reorganização da vida do esquizofrênico.

    Respectivamente, a psicoterapia objetiva auxiliar o indivíduo com esquizofrenia na sua readaptação, prevenindo recaídas, lidar com os eventos do cotidiano e estresse, autocuidado e além de conscientizá-lo sobre a realidade da doença; a terapia ocupacional o conscientiza de executar tarefa através de atividades como criação de objetos artesanais, a fim de proporcionar ao indivíduo o aspecto de efetuar a finalidade em um trabalho e, por fim, o acompanhante terapêutico com a função de auxiliar o paciente nas atividades do dia-a-dia (SHIRAKAWA, 2006). Tais programas psicopedagógicos agem com o intuito de melhorar o ambiente familiar reciprocamente para o paciente e para os integrantes da família.

    Já o profissional de Educação Física, atuando em conjunto com as outras áreas, pode explorar seus diversos conteúdos – esporte, recreação, condicionamento, estimulação psicomotora, entre outros – e desenvolver a percepção da auto-imagem, socialização, inserção de regras, auto-estima, dentre outros aspectos, que se encontram comprometidos no indivíduo com esquizofrenia. Uma das propostas abordadas neste estudo é a Estimulação Psicomotora. Sabendo que a Psicomotricidade é a ciência que busca o desenvolvimento global (cognitivo, motor, afetivo e social) do indivíduo, essa estimulação buscará contribuir na retomada de consciência da realidade pessoal do mesmo, possibilitando-o assumir o seu próprio crescimento psíquico, valorizar a disponibilidade corporal, a perfeição de ajustamento, a autonomia e o investimento relacional (FIGUEIREDO, 2005). A intervenção psicomotora tem como fundamentos básicos a Tonicidade, Equilíbrio, Lateralidade, Esquema Corporal, Estruturação espaço-temporal, Praxia Global e Praxia Fina (FONSECA, 1995).

    Para corroborar com o exposto acima, a tese de mestrado de Sloboda realizada no ano de 2003 titulada “Atividade Física e Esquizofrenia: percepção dos pais ou responsável”, expõe benefícios sobre a prática de atividade física para indivíduos com esquizofrenia. Segundo a autora, embora os resultados ainda não sejam esclarecedores quanto à ação fisiológica precisa do exercício físico no comportamento total do doente mental, as primeiras pesquisas referentes ao assunto apontam conseqüências positivas na relação entre a atividade física e a doença mental. Sabe-se que os exercícios aeróbicos atingem satisfatoriamente, os principais neurotransmissores envolvidos no humor a na ansiedade (SLOBODA, 2003).

    Estudos como o de Faulkner e Sparkes (1999) referente aos exercícios físicos como terapia para indivíduos com esquizofrenia, também demonstraram ótima possibilidade dessa abordagem nos apoios às psicoterapias tradicionais. Adams (1995), através de um estudo de caso, demonstrou os resultados encontrados num sujeito adulto, com diagnóstico de esquizofrenia, que participou de um programa de musculação com 12 semanas de duração. Foram percebidas mudanças significativas no funcionamento psicológico, na comunicação, no interesse pessoal, na animação e na motivação do sujeito. Quanto aos aspectos físicos e corporais observou-se melhoras na condição cardiorespiratória e na imagem corporal e diminuição da lentidão motora e tensão muscular (BORGES, 2004). Todos esses estudos corroboram a importância de um programa de atividade física para indivíduos com esquizofrenia.

Proposta de intervenção

    Para trabalhar com esquizofrênicos dentro da perspectiva da Educação Física é necessário alguns cuidados antes de se iniciar a intervenção, como saber respeitar o indivíduo, entender suas dificuldades, saber lidar com as possíveis respostas, além da capacidade de improvisar e adaptar de acordo com as reações advindas deles.

    As atividades são realizadas por meio do diálogo contínuo, da observação, da atenção e do acompanhamento. A diversificação e a flexibilização das atividades planejadas podem ocorrer, em função da necessidade e do interesse dos alunos (de forma livre e espontânea), permitindo haver a criação e inovação por parte do grupo.

    O primeiro contato ocorre através de uma apresentação entre professores e alunos (dinâmica de apresentação). Após esta etapa é realizada a atividade em grupo; com o intuito de obter aproximação e confiança entre os mesmos.

    A proposta de intervenção ocorre por meio de atividades lúdico-recreativas com algum valor implícito em sua composição, ou seja, jogos e brincadeiras, atividades individuais e coletivas, com/sem regras, atividades de ação, desafios, atividades de raciocínio, jogos pré-desportivos e cantigas. Estas podem ser desenvolvidas em diversos espaços, com/sem a utilização de materiais e recursos alternativos.

    A metodologia utilizada tem por objetivo estimular funções como habilidade de formar novas memórias (permanentes ou temporárias) e resolução de problemas complexos de forma a proporcionar ao indivíduo com esquizofrenia a exteriorização de seu mundo, gradual e espontaneamente. Portanto, o profissional de educação física atua por meio de jogos que envolvam o raciocínio e estimulem a memória para prevenir a perda desta habilidade.

    A forma catatônica afeta a motricidade do indivíduo, podendo ocorrer em duas formas, a saber: o esquizofrênico poderá ficar por horas sem se mover ou mover-se excessivamente e com rapidez, além de contraturas involuntárias dos músculos. Todavia, o profissional poderá utilizar-se dos preceitos da Psicomotricidade, ou seja, a minimização das limitações e maximização das potencialidades, para intervir com atividades que envolvam o tônus muscular do indivíduo e sua afetividade. Atividades dinâmicas e atrativas que favoreçam a atenção e interesse do aluno ressaltando que, dependendo do tipo de esquizofrenia, a não aceitação de ordens aparecerá, juntamente com a cautela do profissional de Educação Física.

    Uma forte característica da esquizofrenia é a perda do sentimento de unicidade do corpo (VILLAÇA, 2004) e, para suprir tal déficit, o profissional de Educação Física através dos fundamentos da Psicomotricidade tais como noção espaço-temporal e esquema corporal colaborará para trabalhar as percepções corporais e suas sensações, de forma a facilitar ao indivíduo seu desenvolvimento global.

    Além disso, através de suas diversas possibilidades de atuação, o profissional de Educação Física poderá auxiliar os demais profissionais tanto no tratamento como na prevenção dos seguintes aspectos afetados pela esquizofrenia: no restabelecimento de cuidar de si; administrar a própria vida; manter o máximo de autonomia em suas atividades; diminuir o isolamento social; aumentar suas defesas diante das situações estressantes; recuperar e promover a auto-estima, auto-imagem e autoconfiança (através de dinâmicas que valorizem o indivíduo e lhe mostre a sua importância) e, por fim, ajudar na readaptação social.

    A avaliação é realizada por meio da observação e do diálogo, estando presente ao longo da intervenção de forma processual e diagnóstica. A partir de uma reflexão com os alunos, há um entendimento a respeito dos benefícios ou não das atividades propostas, cabendo ao profissional de Educação Física observar no seu aluno com esquizofrenia sua compreensão, tomadas de decisões individuais e coletivas e registrar posteriormente, seus avanços nos relatórios individuais.

Considerações finais

    Por fim, dentro deste programa de trabalho, evidenciamos o papel coletivo da equipe multiprofissional e em especial, a contribuição da Educação Física na elaboração do planejamento das intervenções, de modo a restabelecer metas a serem atingidas e discutir o tratamento e a metodologia grupal, observando que reuniões periódicas e palestras para familiares também devem ser contemplados no cronograma da mesma.

    A grande população de pessoas com esquizofrenia e seus familiares ainda possuem muitas dúvidas acerca deste transtorno, suas características, sintomas e, principalmente, como lidar com ele. Aos profissionais da saúde, fica a responsabilidade, então, de orientar os envolvidos, disseminar o conhecimento sobre a doença e intervir, de maneira efetiva, no seu tratamento, buscando sempre pela melhoria da qualidade de vida do indivíduo de maneira integral (social, afetiva, motora e cognitiva).

    Após as revisões de literaturas percebe-se a forte necessidade de uma proposta intervencionista nessa população, pois a escassez de referências com essa temática é verídica, aliada a ausência de profissionais preparados para atuar com pessoas com esquizofrenia, haja vista que a inclusão do profissional de Educação Física cooperativo e propagador de cultura dentro da equipe multidisciplinar somente vem a acrescentar ações preventivas e a troca de conhecimentos.

    A extensão do tratamento de pessoas com esquizofrenia às famílias, como já foi citado, é outro ponto crucial. A aproximação do aluno/paciente à família é de suma importância e, o profissional através de atividades lúdico-recreativas tem a chance facilitar e otimizar tal interação de modo a corroborar para a aceitação e entendimento dos familiares de que esse público apesar de suas limitações podem estar (re) inseridos ao convívio familiar e a sociedade. 

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