Educação Física e promoção da saúde: encontros possíveis Educación Física y promoción de la salud: encuentros posibles |
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*Professor de Educação Física. Especialista em Psicomotricidade Mestre em Educação em Saúde. Doutorando em Saúde Coletiva Docente da Universidade Estadual do Ceará (UECE) **Professor Doutor. Médico Psiquiatra Professor Titular da Universidade Estadual do Ceará (UECE) |
Heraldo Simões Ferreira* José Jackson Coelho Sampaio** (Brasil) |
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Resumo Este artigo visa estabelecer uma relação entre educação física e a promoção da saúde. Trata-se de um estudo bibliográfico envolvendo autores da área da saúde como: Buss, Candeias, Forte e Minayo. Os autores ressaltam, através da leitura de teóricos, que a constituição de um ambiente favorável promove a saúde e a qualidade de vida, sendo estes considerados objetivos primordiais à educação física. Unitermos: Educação Física. Promoção da saúde.
Abstract This article aims to establish a relationship between physical education and health promotion. This is a bibliographic study authors involving health care as: Buss, Candeias, Forte and Minayo. The author points out, through reading the theoretical, that the establishment of a favorable environment promotes health and the quality of life, which are considered primary targets for physical education. Keywords: Physical Education. Health promotion.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A promoção da saúde, através de seu objetivo de integrar o indivíduo ao meio e promover a qualidade de vida, aponta para ações de prevenção e promoção, resultante de um novo paradigma, segundo o qual a assistência deve centrar-se na saúde e não na doença.
Vislumbra-se um novo desafio: o de ampliar o conhecimento da população sobre os determinantes da saúde, o auto cuidado, as relações com o meio em que se vive e o direito a saúde como estratégia para a educação em saúde visando a aquisição da qualidade de vida.
Promoção da saúde
No debate sobre promoção da saúde e qualidade de vida, concordamos com Buss (2000: 173), quando o mesmo cita as condições para o desenvolvimento da interação entre as abordagens:
...um especial destaque deve ser dado ao tema das políticas públicas saudáveis, da governabilidade, da gestão social integrada, das estratégias dos municípios saudáveis e do desenvolvimento local. No nosso entendimento, estes são mecanismos operacionais concretos para a implementação da estratégia da promoção da saúde e da qualidade de vida, com ênfase particular no contexto do nível local.
Ainda sobre o assunto abordado, concordamos com Minayo e colaboradores (2000), quando explica que a qualidade de vida, no âmbito da saúde, tem na promoção da saúde seu foco mais importante.
A promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde. Pode ser definida, também como uma combinação de apoios educacionais e ambientais que visam atingir ações e condições de vida conducentes à saúde. Uma das metas da promoção da saúde é o impulso a cultura da saúde e ao estilo de vida saudável, dando prioridade às questões da saúde, entre elas a prática de atividades físicas.
A expressão “Promoção da Saúde”, de acordo com Buss (2000), surgiu em 1946, quando Henry E. Sigerist, médico canadense, a indicou como uma das quatro áreas da medicina. Porém, no campo da saúde pública, apareceu pela primeira vez no Relatório Lalonde, cujo título Nova Perspectiva sobre a Saúde dos Canadenses propôs uma onda de mudanças na estrutura do setor de saúde daquele país, seu autor foi o então Ministro da Saúde, Marc Lalonde.
Como resultado deste relatório é realizado em 1978 em Alma Ata (ex- URSS) a Primeira Conferencia Internacional sobre Assistência Primária à Saúde, com o apoio da OMS (Organização Mundial da Saúde). Nesta conferencia foram estabelecidos os princípios da universalização, equidade, regionalização e hierarquização dos serviços de saúde, além de objetivar a realização da meta de “Saúde para todos no ano 2000” (PECCINI, 1995).
No ano de 1979, o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos divulga através do documento Pessoas Saudáveis, que promoção de saúde e prevenção de saúde são conceitos distintos.
A partir de então vários encontros foram realizados como intuito de discutir a promoção da saúde no mundo. Assim em 1986, acontece o 1º Congresso Internacional sobre Promoção da Saúde, em Ottawa, Canadá. Deste encontro surge a Carta de Ottawa que enfatiza a criação de políticas publicas voltadas para a saúde, da criação de ambientes favoráveis à saúde, reforço de ações comunitárias e desenvolvimento de habilidades pessoais (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996).
A conferência seguinte foi realizada em Adelaide (1998), onde as políticas públicas relacionadas à saúde tiveram uma atenção especial. Principalmente a saúde da mulher, a alimentação, o combate ao tabaco e ao álcool, e a criação de ambientes favoráveis (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996).
Em 1991, acontece em Sundswal mais um congresso internacional e desta vez o tema ecologia e ambiente para as questões de saúde imperaram. Na cidade de Bogotá, em 1992, temas e problemas específicos da América Latina relacionados à saúde foram abordados (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996). No ano de 1997, a Declaração de Jacarta considera a saúde um direito essencial e fundamental para o desenvolvimento social e econômico da humanidade.
A partir destas conferências e de seus produtos principais, as cartas, a concepção de saúde passou a ser encarada de outra forma, onde o conceito não cede enfoque apenas na doença. Procura-se a compreensão de que inúmeros fatores somados resultam na saúde completa do ser humano. Apontam na idéia de que a equidade no setor deve ser atingida, o “empoderamento” do povo em relação à saúde deve ser atingido, o ambiente deve ser benéfico e por isso bem cuidado e a pobreza deve ser combatida com a ajuda de todos os setores.
Não podemos falar de promoção da saúde sem comentar educação em saúde, pois são conceitos correlacionados. Educação em saúde é entendida por “quaisquer combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde” Pedrosa (2001: 270).
Para Candeias (1997), a educação em saúde é apenas uma parte do conjunto de atividades técnicas voltadas à saúde. Desta forma, este estudo será baseado em uma maneira de educação em saúde, pois a educação psicomotora constitui apenas uma parte das atividades técnicas voltadas para a saúde, portanto, uma atividade-meio. Procura desencadear mudanças de comportamento individual, justificáveis do ponto de vista das recomendações na área da saúde.
Como afirma Forte (1998), a educação em saúde deve ter como pressuposto básico o respeito à dignidade humana. É um dos componentes fundamentais a serem utilizados nas estratégias para a promoção da saúde, pois contribui para conscientizar as pessoas, oferecer condições para que os indivíduos possam analisar criticamente sua realidade, capacitar os sujeitos para conquistarem o controle da sobre sua vida e saúde, enfim, fornecer conhecimentos para libertação e mudança.
Entretanto, sua função é bem mais complexa que convencer indivíduos a viverem de forma higiênica e saudável, conforme os preceitos e conhecimentos da vida moderna. A educação em saúde tem a potencialidade de ser promotora de saúde e de ser um instrumento a mais para superar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais em sua prática.
É necessário para tanto, o uso de metodologias educativas que possibilitem o confronto de saberes buscando identificar raízes culturais, econômicas e sociais que geram a situação que se está vivendo. Não deve limitar-se a repasse de informações ou a sugerir auto cuidado, mas descobrir conhecimentos, formas de enfrentamento e atitude diante as enfermidades.
A educação em saúde pode ser resumida a habilidade de organizar de forma educativa programas de saúde em quatro tipos de ambiente: a escola, o local de trabalho, o ambiente clínico e a comunidade.
É importante definir que quando usamos o termo Educação em Saúde fazemos referência às práticas educativas oriundas da educação popular que encaram o ato educativo como processo de construção coletiva de conhecimento e uma possibilidade de transformação de situações analisadas a partir da sua apreensão pelos sujeitos envolvidos no processo. Este marco teórico referencial foi sistematizado pela primeira vez por Paulo Freire (FREIRE, 1969) e, como preconiza seu método, utiliza-se metodologia participativa, onde a equipe de saúde e a população interagem em um processo de troca e acumulação de saberes.
Concluindo, é fácil afirmar que a Promoção da Saúde e a Educação em Saúde são inseparáveis. Poderíamos resumir os conceitos aqui colocados, destacando que a educação em saúde procura alterar comportamentos individuais, enquanto que a promoção de saúde, embora sempre inclua a educação em saúde, visa mudanças organizacionais, que sejam capazes de beneficiar um setor da comunidade. A Promoção da Saúde só se concretiza com o conjunto de ações educativas, tornando o indivíduo e seu grupo social saudáveis.
Educação Física promotora da saúde
A Educação Física é um processo de Educação em Saúde, seja por vias formais ou não formais, pois ao promover uma educação efetiva para a saúde e uma ocupação saudável do tempo livre de lazer, constitui-se em um meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo e em conseqüência favorece a obtenção de qualidade de vida.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, b: 36):
As relações que se estabelecem entre Saúde e Educação Física são perceptíveis ao considerar-se a similaridade de objetos de conhecimento envolvidos e relevantes em ambas às abordagens. Dessa forma, a preocupação e a responsabilidade na valorização de conhecimentos relativos à construção da auto-estima e da identidade pessoal, ao cuidado do corpo, à consecução de amplitudes gestuais, à valorização dos vínculos afetivos e a negociação de atitudes e todas as implicações relativas à saúde da coletividade, são compartilhadas e constituem um campo de interação na atuação escolar.
De acordo com o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2002), o profissional de Educação Física é um especialista em atividades físicas, nas suas mais diversas manifestações, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem estar, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda para a consecução da autonomia, auto-estima, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações pessoais, da preservação do meio ambiente, visando enfim a consecução da qualidade de vida.
É afirmado cientificamente que a prática de atividades físicas é necessária para a consecução da qualidade de vida, considerando que a Declaração de Olímpia sobre Nutrição e Atividade Física (1996) confirmou no art. 2º que: “todas as crianças e adultos necessitam de alimentos e atividades físicas para expressar seus potenciais genéticos de crescimento, desenvolvimento e saúde”.
O Programa Vida Ativa, promovido pela Organização Mundial de Saúde (1998), reconhecendo a importância da atividade física para a saúde das pessoas, estabelece como prioridade que o mesmo atinja principalmente crianças e jovens; que estudos científicos comprovam que uma atividade física regular é essencial para um melhor cuidado da maturação de criança e adolescentes; e que um estilo de vida ativo é reconhecido como um dos melhores meios de promoção de saúde e qualidade de vida, inclusive combatendo os diversos estresses da vida diária.
O Conselho Internacional para a Ciência do Esporte e Educação Física, realizado em Berlim no ano de 1999, levantou em suas conclusões que uma vida ativa na infância afeta diretamente e de modo positivo à saúde na idade adulta e que o fortalecimento dos músculos, ossos e articulações são muito importantes para a coordenação motora, o equilíbrio e as mobilidades necessárias para as tarefas do cotidiano.
Assim, prática de atividades físicas, como um meio da educação em saúde, é um processo educativo que visa informar, capacitar e levar a toda a comunidade seus benefícios, estando desta maneira, contribuindo para a promoção da saúde e a qualidade de vida (BETTI, 1991).
Na atualidade, a pesquisa sobre qualidade de vida tem recebido muita atenção no campo da Educação Física, no que ser refere à ligação entre estilo de vida ativo e sua contribuição à aquisição e manutenção da boa qualidade de vida.
Podemos observar nos encontros, seminários e congressos nacionais e internacionais de Educação Física realizados nos últimos anos a ênfase dada á qualidade de vida.
Conforme atestam Assumpção, Morais e Fontoura (2002), em uma revisão bibliográfica:
O Simpósio Internacional de Ciências do esporte realizado em São Paulo em outubro de 1998, promovido pelo CELAFISCS com o tema Atividade Física : passaporte para a saúde, deu prioridade à relação saúde/ atividade física/ qualidade de vida destacando os seus aspectos funcionais e anátomo-funcionais.
Os resumos e conferências publicadas nos anais do Congresso Mundial da AIESEP realizado no Rio de Janeiro, em janeiro de 1997, cujo tema oficial foi a Atividade Física na perspectiva da cultura e da Qualidade de Vida, destacam a relação da qualidade de vida com fatores morfo-fisiológicos da atividade física.
No I Congresso Centro-Oeste de Educação Física, Esporte e Lazer, realizado em setembro de 1999, na cidade de Brasília, promovido pelas instituições de ensino superior em Educação Física da região Centro-Oeste, o tema da atividade física e saúde representou 20% dos trabalhos publicados nos anais. A temática da atividade física e qualidade de vida foi objeto de discussão em conferências e mesas redondas. Também neste evento observa-se a ênfase dada aos aspectos biofisiológicos da relação atividade física/ saúde/ qualidade de vida.
É verdade também que muitos autores da área da Educação Física reforçam a idéia de que a qualidade de vida pode ser atingida através de um estilo de vida ativo.
Ainda nos reportando à Assumpção, Morais e Fontoura (2002) que destacam em seu estudo Katch & McArdle (1996), pois citam que a pratica da atividade física é um fator preponderante para ao aumento da expectativa de vida dos seres humanos, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (1999) afirma que a qualidade de vida pode ser aprimorada pela prática de atividade física, Lima (1999) explica que a atividade física é um elemento indispensável à qualidade de vida dos seres humanos, Nahas (1997) admite que a atividade física é um fator de qualidade de vida, quer seja em termos gerais, quer seja relacionada à saúde, Silva (1999) associa à prática da atividade física à obtenção e preservação da qualidade de vida e Dantas (1999), que, ao analisar de que forma a atividade física melhora a qualidade de vida do ser humano, chega à conclusão que programas de atividade física são eficazes para a consecução da boa qualidade de vida.
Os autores também se referem ao “Manifesto de São Paulo para a promoção de Atividades Físicas nas Américas” - publicado na Revista Brasileira Ciência e Movimento (jan/ 2000) - que destaca a necessidade de inclusão da prática de atividade física no cotidiano das pessoas de modo a promover estilos de vida saudáveis rumo à melhoria da qualidade de vida.
Reflexões conclusivas
Assim é correto concluir que a Educação Física possui um objetivo primordial: promover uma qualidade de vida favorável.
A Educação Física deve ser conduzida como um caminho de desenvolvimento de estilos de vida ativos pelos brasileiros, para que possa contribuir para a qualidade de vida da população.
Queremos enfatizar que durante a prática da Educação Física na escola, a criança está realizando as mais diferentes formas de movimento, em conseqüência disso realiza uma atividade física que então proporcionará uma boa qualidade de vida por diversos aspectos, sejam eles relacionados à satisfação pessoal, diversão, alegria, condicionamento físico e relacionamento interpessoal.
Assim, na escola, a atividade física, promotora da qualidade de vida, é claramente observável durante a prática ministrada pelo profissional de Educação Física. Esta prática pode ser indicada como um dos fatores comprovadamente importantes para a aquisição de um estilo de vida saudável, sendo um atenuante para a prevenção e combate aos agravos à saúde da nossa sociedade atual.
Nos últimos anos esta necessidade tem levado um número cada vez mais crescente de pais a se preocuparem com suas crianças, iniciando-as na prática de uma atividade física, visando um melhor bem estar físico e mental, uma melhor qualidade de vida, um estilo de vida ativo, enfim, uma vida mais saudável.
Através do exposto, concluímos que a saúde não é apenas a ausência de enfermidades, é todo um bem estar social, mental e físico. Assim, viver bem é possuir qualidade de vida. Observamos que as duas abordagens expostas estão intrinsecamente ligadas.
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