Educação Física e curriculum. Contrastes com a prática Educación Física y curriculum. Los contrastes con la práctica |
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Professora Educação Física Pós-Graduada em Educação Física Escolar Acadêmica em Direito |
Nilce Portes da Silva (Brasil) |
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Resumo O presente artigo trata dos temas pertinentes a Educação Física, seu currículum e o comprometimento do profissional com a aplicação nos grupos escolares já que a Educação Física tem papel fundamental no desenvolvimento social, motor e psicomotor de crianças e adolescentes além de ofertar estas mesmas oportunidades ao ensino noturno. Sabe-se que a proposta curricular abrange modalidades esportivas e culturais diversas, más a proposta curricular coerente com o meio ao que deverá ser inserido é um dos motivos mais graves do não cumprimento do curriculum, deficitando a valorização da disciplina por outros profissionais dentro da escola, pais e gestão escolar. Sendo assim levantaremos pontos importantes desta reflexão nos baseando em 03 eixos: Educação Física e Curriculum, Educação Física e formação profissional e Educação Física frente aos novos desafios. Ao final deste texto, percebemos que há a necessidade de re-significação da Educação Física, principalmente na escola. É necessário dar novos sentidos à sua prática, deixar para trás velhos vícios, tornando a disciplina algo realmente importante para a vida das pessoas e para a sociedade. Unitermos: Educação Física. Curriculum. Formação profissional.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A reflexão aqui apresentada mostra a grande dificuldade que o conteúdo da Educação Física vem enfrentando, sendo realizado com o pouco valor por ele merecido e as relações de conflito que emergem no decorrer de nossa realidade em participar das aulas práticas na disciplina de Educação Física. Durante as aulas práticas me foi observado que existe uma montanha de diferenças entre o que se é proposto tanto no curriculum, quanto no planejamento com as realidades oferecidas no ensino público. Várias atividades especialmente esportes de rendimento são trabalhadas de forma desordenada até mesmo com crianças da educação infantil até o 5° ano do ensino fundamental. Grande parte das escolas oferece treinamentos desportivos para crianças com idade inferior a 10 anos de idade, e infelizmente o profissional de Educação Física leva para o seu cotidiano escolar essas interferências no conteúdo. Sabemos que o papel fundamental da Educação Física, é reconhecer a participação da Educação Física no desenvolvimento integral do aluno e trabalhar com esta problemática tornou-se um grande desafio para o professor, pois na sua individualidade o aluno trás toda a marca da sociedade na qual está inserido, expressando através de gestos e palavras todas suas expectativas, frustrações, angústias e medos. E com certeza, os saberes que os alunos já possuem caracterizam-se como instrumento otimizado nas discussões a serem desencadeadas, funcionando também como um elemento de comparação entre a realidade vivida e àquela que se pretende.
A escola deve trabalhar a individualidade como um todo, buscando a socialização dos educandos frente a ações do cotidiano e de possíveis manifestações que necessitem auto-controle ou decisões repentinas. Para tanto é de fundamental importância a mediação do professor para a reconstrução deste conhecimento, favorecendo a troca de conhecimentos e criando condições para a construção de uma nova compreensão sobre os valores que permeiam nossas relações. Com um respaldo teórico apropriado ao tema, pretende-se sair do patamar do senso comum, rompendo paradigmas e dando significância as relações do cotidiano das aulas de Educação Física e daí para a complexidade da vida na sociedade na qual está inserido.
A descrição do material didático-pedagógico utilizado na proposta de intervenção com turmas da educação básica demonstra simplicidade, sem muito interesse primeiro pelos gestores escolares e em seguida pelo próprio interventor da disciplina. Alguns profissionais vendo a grande dificuldade em se adquirir materiais específicos para as aulas, ou simplesmente em reutilizar ou reciclar materiais para uso em atividades de psicomotricidade ou lazer e recreação, buscam atividades esportivas mais comuns como o esporte de rendimento já criticado por vários autores, que segundo Bracht (1997), a gênese do esporte moderno acontece em meados do século XVIII, tornando-se uma atividade corporal de caráter competitivo que institucionaliza elementos lúdicos das classes populares, além de conteúdo inapropriados, com pouca importância somente para “dar aulas”, ou conteúdos escritos na lousa sem aplicação cotidiana. A Educação Física é uma pratica pedagógica que trata de atividades expressivas corporais, ao qual necessita de aperfeiçoamento didático com propostas curriculares e manutenção dessas propostas pelo gerenciamento escolar, mas acima de tudo, em comprometimento profissional do principal mediador: o professor de Educação Física.
Portanto, a Educação Física, como qualquer outra disciplina, tem responsabilidade na concretização de todo esse processo. O responsável em desenvolver a cidadania na escola é principalmente o professor, porque este, dentro da instituição, tem mais contato com os alunos, dispõe de vários meios de reforços, estabelece um vínculo afetivo em que serve de modelo para ser seguido e de referência para o aluno. Além disso, o professor tem os conteúdos específicos de cada disciplina como objeto da discussão ética e dispõe de espaço para abordá-la, ou seja, ele representa as normas e expectativas que existem sobre os alunos na escola vinculando valores, ligando esta forma de ensino ao conteúdo proposto.
O professor durante suas aulas deveria, portanto, ter a atitude de tomar a iniciativa para poder proporcionar situações que dentro do seu planejamento prévio, aproveitaria as oportunidades de educar, formar ou desenvolver valores e atitudes consideradas desejáveis. O professor de Educação Física não deve ser repetidor de séries exaustivas de exercícios, mas deve se transformar naquele que dirige as experiências da criança permitindo-lhe produzir. Não deve ser o elemento que determina e corrige; deve ser o orientador, aquele que propõe as atividades, controla o processo, interage, encoraja e valoriza a criança no grupo. Assim a orientação implica na consideração das características individuais; motivação, direito ao erro, auto-correção, espontaneidade. A Educação Física deverá deixar de ser uma prática vazia, para transformar-se num real complexo educacional capaz de efetivamente oportunizar o desenvolvimento das inúmeras potencialidades humanas de forma crítica, reflexiva e portanto consciente. Segundo Kunz (1994) o esporte como conteúdo hegemônico impede o desenvolvimento de objetivos mais amplos para a Educação Física, tais como o sentido expressivo, criativo e comunicativo.
Atualmente, com o processo inclusivo nas escolas, determinado pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e subseqüente pela lei 9394/96, estabeleceu-se uma nova visão sobre o modo de agir e pensar em educação. É dentro desse universo escolar encontramos a Educação Física como aliada ao desenvolvimento bio-psico-social do aluno. A Lei PLC 101/93 (Projeto em andamento oriundo da Câmara dos Deputados), nos aponta a situação em que se encontrava a educação física em seu artigo 34 em que propõe a Educação Física, como proposta integrante da proposta pedagógica da escola e como componente curricular da Educação Básica, ajustando - se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.
Hoje se sabe que os conteúdos são instrumentos utilizados para se chegar aos objetivos presentes em um planejamento, seja ele, bimestral, trimestral, semestral ou anual. Deve-se ter em mente que os objetivos dispostos nos planos de trabalho nem sempre é aquilo que se deve dar ou deveria e sim, o que ele aprenderá e desenvolverá com as atividades propostas. Existem casos onde o professor determinará atividades com regras e posicionamentos pré-determinados, más com o desenvolvimento desta atividade aplicada na turma em questão, surgem novas fases com caminhos ainda não percorridos e que podem e devem ser explorados.
Acompanhamos de perto toda a problemática ao redor das aulas de Educação Física, já que o bom planejamento e a própria execução dos mesmos não cabe somente ao professor, más cabe também a gestão escolar, já que tudo o que é desenvolvido dentro da escola terá papel fundamental fora dela. Atividades sem cunho avaliativo, sem eficácia na aplicabilidade e a falta de comprometimento com o curriculum, acarretará desfalque na aprendizagem e na própria experiência profissional.
Não se trata, todavia, de culpar apenas os professores de Educação Física que não conseguem legitimar sua importância frente às outras disciplinas ou na gestão, já que estes não são responsáveis pela elaboração do currículo que os orientou deficitariamente em toda sua formação profissional. Poder-se-ia colocar a culpa nas próprias escolas que não incentivam nem valorizam novas práticas propostas pelos professores, mas enfim, esta também não se pode ser crucificada, quando o maior culpado ainda é o modelo de educação de nosso país. Mesmo sabendo que o conhecimento atribuído a Educação Física, restringe-se, em muitas escolas, ao esporte irrefletido/inquestionável, deve-se ter em mente que muito além do "fazer por fazer", temos o que ensinar, e para que esse "ensinar" extrapole o que foi citado anteriormente, é preciso redimensionar todo o conhecimento adquirido por estes profissionais, garantindo que toda a cultura corporal adquirida e que venha a ser incorporada seja significativa para o educando, buscando a realidade social de cada grupo.
Quando se fala em Educação Física Escolar, busca-se no educando desenvolver suas habilidades sejam elas físicas ou psíquicas de maneira organizada atuando sobre os jogos, ginástica e danças, lazer e recreação, que estão diretamente ligados aos procedimentos, além do fazer e o avaliar de maneira sistemática. Desta maneira o educando vivenciará toda a cultura do movimento além de criar e desenvolver competências nos aspectos afetivos, sociais e cognitivos relacionados à prática de atividades físicas e corporais. Segundo BETTI (1992), não basta correr ao redor da quadra; é preciso saber por que se está correndo, como correr, quais os benefícios advindos da corrida, qual intensidade, freqüência e duração são recomendáveis. Não basta aprender as habilidades motoras básicas do basquetebol, por exemplo; é preciso organizar-se socialmente para jogar, reconhecer as regras como um elemento que torna o jogo possível, aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não como um inimigo a ser aniquilado, pois sem ele simplesmente não há jogo. É preciso enfim que o aluno incorpore a corrida e o basquetebol à sua vida para que deles tire o melhor proveito possível.
Sendo assim, devemos reconhecer de que forma o currículo da Educação Física tem se adaptado às demandas do multiculturalismo em uma realidade freqüentemente alimentada pelos debates e discussões que advogam o respeito e reconhecimento das diferenças culturais, e à escola caberá transmiti-lo para que todos adquiram as mesmas condições para que possam exercer adequadamente o seu papel na sociedade estabelecida. Apesar de estarmos discutindo a importância do currículo e do cumprimento do mesmo pelos profissionais em Educação Física, adequando-os as necessidades diárias e levando em consideração as vivências, devemos ressaltar o educar com amor a profissão, a importância da atividade física, os seus benefícios, as melhores maneiras de realizá-la, as principais modificações ocorridas no ser humano em função da prática da atividade física, e assim crescer, desenvolver...
E como objeto de reflexão, volto à questão dos conteúdos e deixo aos seguintes questionamentos para os novos projetos educativos ou para quem sabe para novos professores e gestores da educação: Para que servem os conhecimentos que será oferecido? Que resultado pode-se esperar destes conhecimentos para o educando e para a sociedade? Que princípios deverão guiar nosso trabalho, visando transformarmos a sociedade e o nível de comprometimento do professor de Educação Física frente ao currículo e as práticas pedagógicas?
Buscamos a união fundamental dos eixos já discutidos anteriormente, e sabemos que um não sobrevive sem o outro já que a prática desses elementos é constante, diário. A comunidade escolar tem em suas mãos uma maneira diferente de trabalhar, já que oportuniza a todos, insere cada indivíduo dentro de suas potencialidades motoras ou não motoras, enfim podemos trabalhar a sociedade nas práticas diárias, com atividades significativas e re-significativas, com conteúdo.
Devemos nos valer de propostas aplicadas e que deram certo, que realmente surtiram efeito neste processo educacional; novas práticas surgirão e que não busquemos algo tão longínquo e sim o que está ao nosso alcance para que a Educação Física siga contribuindo fortemente para a formação integral das crianças e jovens e para re-significação da profissão.
Bibliografia
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC, 1998. 116p.
BRASIL. Lei LDB : de diretrizes e bases da educação: lei n. 9.394/96. Apresentação Esther Grossi. 3. ed. Brasília: DP&A, 2000.
BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. Vitória: UFES, Centro de Educação Física e Desportos, 1997.
http://www.celia.na-web.net/pasta1/trabalho3.htm, visualizado em 17/08/2011.
JUNIOR, Sidnei Lopes dos Santos. Uma Atitude Reflexiva Filosófica Acerca da Educação Física Brasileira: Críticas e Possibilidades. UFSM
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994
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