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Interacção das variáveis sócio-demográficas com o stress e o 

burnout em professores do 2º e 3º ciclos de ensino secundário

Interacción de las variables sociodemográficas con el estrés y el burnout en profesores de 2º y 3º ciclo de escuela media

 

Doutorando em Psicologia da Saúde

pela Universidade Miguel Hernandez de Elche

Diploma de Estudos Avançados em Psicologia da Saúde

pela Universidade Miguel Hernandez de Elche

Mestre em Ciências do Desporto na área de especialização em Treino de Alto de Rendimento

pela Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, da Universidade do Porto

Licenciatura em Ensino da Educação Física, pela Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação 

Física, da Universidade do Porto. Docente no Instituto Superior de Ciências Educativas de Odivelas

Docente na Escola Secundária de Marco de Canaveses

António Miguel Nunes Ferraz Leal de Araújo

amnfla@gmail.com

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          No âmbito do ensino avaliar a percepção do stress e do Burnout, considerando a sua inter-relação com um conjunto variáveis independentes, entre as quais, o sexo, o vínculo, a idade, os anos de serviço, as habilitações, o departamento e os níveis de ensino, permite-nos conhecer a origem de alguns problemas que afectam a qualidade do processo ensino-aprendizagem, bem como a saúde mental do professor. A função docente, no contexto actual, é considerada como uma das profissões mais stressante e causadora de esgotamentos (Araújo, 2008; Perez & Oltra, 2000), neste sentido procura-se com este estudo relacionar o stress geral/profissional e o Burnout dos professores portugueses (N=2427) com a interacção de algumas variáveis sócio-demográficas. Com recurso à TwoWay Anova os resultados evidenciaram interacção, com diferenças estatisticamente significativas, nos seguintes casos: sexo X departamento em termos de stress geral percepcionado; sexo X anos de serviço no factor F5-Trabalho burocrático/administrativo; sexo com os anos de serviço; com os níveis de ensino; e com as habilitações, na dimensão Realização Pessoal.

          Unitermos: Stress geral e profissional. Burnout. Sexo. Idade. Anos de serviço.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Diversas pesquisas, no âmbito da docência, que estudam o stress e o Burnout na sua relação com as variáveis sócio-demográficas atribuem às professoras maiores níveis de stress geral e profissional (Araújo, 2008; Gomes, Silva, Mota, & Montenegro, 2006; Melo, Gomes, & Cruz, 1997; Mota-Cardoso, Araújo, Ramos, Gonçalves, & Ramos, 2002; Perez & Oltra, 2000; Pocinho & Capelo, 2009), bem como maiores níveis de Exaustão Emocional e menores níveis de Realização Pessoal e de Despersonalização. Relativamente à idade, os resultados são mais ambivalentes, no entanto os professores com maior idade apresentam mais stress (Aznar, Rodríguez, & Aznar, 2002; Correia, Gomes, & Moreira, 2010; Mota-Cardoso et al., 2002; Reviriego & Carreras, 2009); e mais Burnout (Araújo, 2008). No que respeita aos anos de serviço, os docentes com antiguidade apresentam mais stress profissional (Gomes et al., 2006; Mota-Cardoso et al., 2002). Já ao nível do departamento de ensino, os professores de línguas são os que valorizaram mais o stress profissional (Mota-Cardoso et al., 2002). No que concerne às habilitações, os Bachareis cotam mais stress (Mota-Cardoso et al.,2002). Na variável níveis de ensino o stress profissional foi mais sentido pelos professores que leccionam a mais que um nível de ensino (Correia et al., 2010; Mota-Cardoso et al., 2002). No que respeita ao vínculo, Correia et al. (2010) verificaram que os “professores do quadro de zona pedagógica” apresentavam maiores níveis de stress relativamente à carreira docente, por sua vez, Mota-Cardoso et al. (2002) verificaram que os docentes, no início da carreira, eram os que apresentavam maiores níveis de stress em alguns dos factores de stress. Gomes et al. (2006), ao estudarem a experiência de Burnout, no que respeita ao género , referem-nos que mulheres assumem níveis mais elevados de Exaustão Emocional, enquanto os homens evidenciam uma maior prevalência de Despersonalização. Relativamente às variáveis idade e anos de serviço não encontraram relações significativas com este síndrome.

    Porém as diferenças na percepção do stress e do Burnout podem mais precisas quando se estuda a interacção das variáveis, ou seja, quando se pesquisa se essas diferenças são percebidas em função do género.

Método

    A amostra contém 2427 professores que leccionaram, no ano lectivo 2008/09, em Escolas do Ensino Básico (2º/ 3º Ciclos) e Secundário, em Portugal. Para a recolha de dados foi administrado um conjunto de questionários “on line”, através da ferramenta Google docs, destinados a obter informações acerca das variáveis em análise, nomeadamente: o Perceived Stress Scale (PSS-10), o Questionário de Stress nos Professores (QSP-36), o Inventário de "Burnout" de Maslach (MBI). O tratamento dos dados foi feito com recurso ao SPSS-18. A análise estatística utilizada foi a Two-Way Anova. As variáveis independentes estudadas foram: o sexo, a idade, os anos de serviço, o vínculo, as habilitações, os níveis e o departamento de ensino.

Resultados

    Os resultados da aplicação do questionário de percepção do stress geral (PSS) estão expostos na Tabela1, abaixo apresentada. Da sua análise podemos verificar que apenas a interacção do sexo com o departamento de docência em termos de stress geral percepcionado evidenciou diferenças estatisticamente significativas (F(7,2419)= 4,060; p = 0,007), com as professoras em todos os departamentos a reportarem mais stress geral percebido.

    A interacção do sexo com a idade, sem diferenças estatisticamente significativas (F(9,2417)= 0,524; p = 0,718), mostrou que, por um lado, as professoras pontuaram mais stress geral e que, por outro lado, as categorias de idades intermédias em ambos os sexos foram as que mais o pontuaram.

    A análise da interacção do sexo com os anos de serviço sem diferenças estatisticamente significativas (F(7,2419)= 1,202, p = 0,308), evidenciou que o género feminino pontuou maiores índices de stress e mostrou que em ambos os sexos quem pontuou menos stress foram os professores pertencentes à classe com menos tempo de serviço (M= 16,40; M= 20,65) e quem o pontuou mais foi a classe dos docentes com 20/29 anos de serviço (M= 19,17; M= 23,03).

    A interacção do género com as habilitações sem significância (F(7,2419)= 0,268, p = 0,848), mostrou que as docentes comparativamente percepcionaram índices mais elevados de stress e que os Mestres o pontuaram menos (M= 16,79; M= 21,65) e os Doutorados o pontuaram menos (M= 21,22; M= 24,81).

    A interacção do sexo com os níveis de ensino também sem variância (F(9,2417)= 1,386, p = 0,236), mostrou que as professoras pontuaram índices mais elevados de percepção de stress, especialmente as que leccionavam ao 3º Ciclo (M= 22,93). No caso dos professores a categoria que pontuou maiores níveis de stress foi a dos docentes que leccionava ao 2º Ciclo (M=18,71).

    Por último, a interacção do sexo com o vínculo sem significância (F(7,2417)= 1,382, p = 0,236), mostrou que, novamente, as professoras relataram a percepção de maiores níveis de stress. Realçando também que as professoras que pontuaram mais stress eram do Quadro (M=22,63) e as que menos o pontuaram eram Professoras Contratadas (M=21,49). No caso dos professores, quem pontuou maiores níveis de stress foram os Professores do Quadro de Zona Pedagógica (M=18,63) e quem pontuou menos foram os docentes pertencentes à categoria Outra (M=12,66).

Tabela 1. Interacção entre as variáveis sócio-demográficas e o stress geral percebido

    Quando cruzamos a idade e o género para sabermos o stress geral, no exercício da profissão, verificamos que não se mostrou estatisticamente significativa (F(4,2422) = 0,590, p = 0,670), podemos reparar ainda, na Tabela 2, que as professoras, percepcionaram maiores níveis de stress profissional geral (QSP0) em todas as categorias de idades, embora com menores desvios-padrão.

    Em termos factoriais, também não se verificaram interacções estatisticamente significativas na percepção do stress profissional para nenhum dos factores. De um modo geral, em quase todos os factores as professoras relataram maiores níveis de stress profissional em todas categorias de idades. As excepções aconteceram no factor F2-Políticas disciplinares inadequadas, na categoria dos mais idosos em que os homens pontuaram maiores níveis, com uma diferença mínima e no factor F5- Trabalho burocrático/administrativo, em que os docentes mais jovens cotaram mais stress que as suas colegas, com um desvio-padrão maior (2,73±1,2; 2,60±1,01).

Tabela 2. Análise da interacção das variáveis género versus idade na percepção do stress profissional

    Com base na Tabela seguinte, podemos vislumbrar que a interacção dos anos de serviço com o género na percepção do stress profissional apenas se mostrou estaticamente significativa com o factor F5-Trabalho burocrático/administrativo (F(4,2423)= 2,866, p = 0,035). Também se pode observar que as mulheres pontuaram em quase todas as classes de tempo de serviço maiores índices de stress profissional, embora com desvios-padrão inferiores. A excepção aconteceu, novamente, no factor F5, na categoria de docentes com menos anos de serviço em que os homens pontuaram mais stress (M= 2,85, M= 2,79).

Tabela 3. Análise da interacção das variáveis género versus anos de serviço na percepção do stress profissional

    A interacção do género com as habilitações na percepção do stress profissional geral bem como em termos factoriais não evidenciou inferências significativas, como pode ser observado na Tabela 4. Novamente, as professoras relataram mais stress independentemente das habilitações. A excepção aconteceu, mais uma vez, no factor F5– Trabalho burocrático/administrativo no qual os Doutorados pontuaram maiores níveis de stress, relativamente às suas colegas.

Tabela 4. Análise da interacção das variáveis género versus habilitações na percepção do stress profissional

    Igualmente a interacção entre a percepção do stress profissional e os níveis de ensino em função do género não se mostrou estatisticamente significativa (Tabela 5). Aqui, também as professoras, independentemente do nível de ensino que leccionam, pontuaram, maiores níveis de stress no desempenho da sua profissão.

Tabela 5. Análise da interacção das variáveis género versus níveis de ensino na percepção do stress profissional

    Reportando-nos à análise da Tabela 6, podemos constatar que a interacção do género com o vínculo na percepção de stress profissional não evidenciou inferências estatisticamente significativas. Todavia, as professoras, em todas as categorias, foram aquelas que pontuaram maiores níveis médios de stress.

Tabela 6. Análise da interacção das variáveis género versus vínculo profissional na percepção do stress profissional

    Os dados relativos à interacção da percepção do stress profissional considerando o género e o departamento, não evidenciaram diferenças estatisticamente significativas, embora, mais uma vez, as professoras tenham percepcionado maiores índices de stress (Tabela 7). A excepção verificou-se no factor F5– Trabalho burocrático/administrativo, nos docentes pertencentes ao departamento de Ciências em que as médias foram iguais para ambos os sexos.

Tabela 7. Análise da interacção das variáveis género versus departamento de docência na percepção do stress profissional

    Considerando a análise dos dados referentes ao Burnout, reportando-nos à Tabela 8, podemos vislumbrar que a interacção sexo versus idade não se mostrou estatisticamente significativa nas três dimensões. Porém, as maiores diferenças, em termos médios, em relação à dimensão Exaustão Emocional (EE) verificaram-se nas três categorias de idades mais avançadas, com as professoras a pontuarem, em todas as categorias, maiores níveis. Já na dimensão Realização Pessoal (RP) os professores percepcionam maiores índices nas três primeiras categorias de idades e as professoras nas duas últimas. As maiores diferenças entre sexos foram encontradas nas categorias de 20-29, 30-39 e ≥60 de idade. Na dimensão Despersonalização (D), de um modo geral, as professoras sentiram-se menos despersonalizadas e as maiores diferenças foram encontradas nas escalas de idades mais jovens e na categoria 50/59.

Tabela 8. Médias, desvios-padrão e significância estatística das dimensões do Burnout considerando a interacção da idade com o género

    A interacção do género com os anos de serviço relativamente à percepção das dimensões do Burnout evidenciou variância na dimensão Realização Pessoal (F(3,2423)= 2,799, p < 0,039) e nas restantes dimensões não mostrou diferenças estatisticamente significativas. Contudo, uma análise mais detalhada da Tabela 9, mostra-nos, por exemplo, que as professoras percepcionaram maiores níveis de EE, menores níveis de RP e menores níveis de D.

Tabela 9. Médias, desvios-padrão e significância estatística das dimensões do Burnout considerando a interacção dos anos de serviço com o género

    A interacção do género com os níveis de ensino em termos da percepção dos sentimentos de Burnout, consultando a Tabela 10, mostrou diferenças estatisticamente significativas, apenas, na dimensão RP (F(4,2422)= 3,170, p =0,013), tendo as professoras percepcionado maiores índices de EE e menores índices de D e de RP, independentemente do nível de ensino que leccionavam.

Tabela 10. Médias, desvios-padrão e significância estatística das dimensões do Burnout considerando a interacção do nível de ensino com o género

    A interacção do departamento em função do sexo na percepção do Burnout não se mostrou estatisticamente significativa em nenhuma das dimensões (Tabela 11). As professoras revelaram maiores níveis de EE; menores níveis de RP e menores índices de Despersonalização.

Tabela 11. Médias, desvios-padrão e significância estatística das dimensões do Burnout considerando a interacção do departamento de docência com o género

    A interacção do vínculo contratual com o sexo na percepção do Burnout (Tabela 12), não se mostrou estatisticamente significativa nas três dimensões. Aqui, também as professoras pontuaram mais a EE e menos a RP e a D, com duas excepções, a primeira, no que respeita à RP em que os Estagiários pontuaram menos (M= 3,86, M= 3,93) e a segunda, em relação à D, em que as professoras da categoria Outra pontuaram mais esta dimensão (M= 0,70, M= 1,23).

Tabela 12. Médias, desvios-padrão e significância estatística das dimensões do Burnout considerando a interacção do vínculo contratual com o género

    A interacção das habilitações com o sexo em termos de percepção de Burnout (Tabela 13) apenas se mostrou estatisticamente significativa na dimensão RP (F(3,2423)= 2,789, p = 0,039). Relativamente à EE, as professoras relataram maiores níveis à excepção dos Doutorados. Na RP as Licenciadas e Mestradas percepcionaram maiores índices, tendo os professores, por sua vez, cotado maiores índices na classe dos Bachareis e Doutorados. A D foi relatada com maior grau pelos docentes em todas as categorias de habilitações.

Tabela 13. Médias, desvios-padrão e significância estatística das dimensões do Burnout considerando a interacção das habilitações com o género

Conclusão

    Apesar de as professoras sentirem mais stress geral e profissional bem como níveis superiores de Burnout, a análise da interacção do sexo com as restantes variáveis sócio-demográficas apenas evidenciou variância com o departamento de docência em termos de stress geral percepcionado; com os anos de serviço no factor F5-Trabalho burocrático/administrativo; com os anos de serviço, com os níveis de ensino e com as habilitações, na dimensão Realização Pessoal. Assim sendo, poderemos dizer que as professoras com diferenças estatisticamente significativas: percebem mais stress geral independentemente do departamento de docência; em termos de anos de serviço o trabalho burocrático/administrativo é sentido com mais acuidade; e sentem-se menos realizadas no exercício da sua profissão quer em termos de anos de serviço, quer em termos do nível de ensino que leccionam, bem como, no que respeita às habilitações.

Referências bibliográficas

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