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Composição corporal e consumo alimentar de 

bailarinos profissionais de dança contemporânea

Composición corporal y consumo alimentario de bailarines profesionales de danza contemporánea

Body composition and food consumption of contemporary dance professionals

 

*Nutricionista graduada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)

Especialista em Ciências da Saúde e do Esporte pela Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Mestranda em Distúrbios da Comunicação Humana

pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista CAPES

**Educadora Física graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Mestranda em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal

de Santa Maria (UFSM). Bolsista CAPES

***Nutricionista graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal

de Santa Maria (UFSM). Professor assistente do Curso de Nutrição

do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)

****Nutricionista graduada pelo Instituto Metodista de Educação e Cultura (IMEC)

Mestre e Doutora em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (UFRGS), Professora adjunta do Curso de Nutrição

da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e de Nutrição

Esportiva dos cursos de especialização da UFRGS e da PUCRS

Pâmela Fantinel Ferreira Fontana*

Denise Bolzan Berlese**

Thiago Durand Mussoi***

Cláudia Dornelles Schneider****

pamelafferreira@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O estudo teve como objetivo verificar a composição corporal e o consumo alimentar de bailarinos profissionais de dança contemporânea. A amostra intencional compreendeu 16 bailarinos entre 18 e 42 anos, com no mínimo cinco anos de prática de dança, integrantes de uma companhia de dança da cidade de Porto Alegre – RS. Foram realizadas avaliações antropométricas de peso, estatura e dobras cutâneas para predição do percentual de gordura corporal (%GC). Para verificar o consumo alimentar foram aplicados um registro alimentar de três dias e um recordatório alimentar de 24h. Os dados foram considerados estatisticamente significantes quando p < 0,05, de acordo com o teste t de student’s. Os resultados demonstraram valores médios considerados eutróficos para o Índice de Massa Corporal (IMC), OMS (2000), com diferença significativa (p< 0,001) entre os gêneros. Os valores médios de %GC das bailarinas apresentaram-se bons e excelentes para a idade, de acordo com a classificação de Pollock e Wilmore (1993). Entre os bailarinos, três (3) apresentaram valores acima da média para a idade, porém ainda dentro dos valores médios encontrados na literatura para bailarinos. Em relação ao consumo alimentar as bailarinas e bailarinos apresentaram percentuais de adequação considerados insuficientes, de acordo com suas demandas energéticas, para o consumo de energia e carboidratos. De acordo com os resultados os bailarinos profissionais apresentaram composição corporal adequada para a prática da dança, porém um consumo alimentar insuficiente o que pode comprometer o desempenho físico ao longo de suas carreiras artísticas.

          Unitermos: Bailarinos. Gordura corporal. Consumo alimentar. Macronutrientes.

 

Resumen

          Este estudio tuvo el objetivo de verificar la composición corporal y el consumo alimentario de bailarines profesionales de danza contemporánea. La muestra intencional comprendió 16 bailarines entre 18 y 42 años, con por lo menos, cinco años de práctica de danza, integrantes de una compañía de danza de la ciudad de Porto Alegre, Río Grande dos Sul. Fueron realizadas evaluaciones antropométricas de peso, estatura y pliegues cutáneos para predicción del porcentual de grasa corporal (%GC). Para verificar el consumo alimentario, fueron aplicados un registro alimentario de tres días y un recordatorio alimentar de 24 horas. Los datos fueron considerados estadísticamente significativos cuando p < 0,05, de acuerdo con el test t de student. Los resultados demostraron valores medios considerados eutróficos para el Índice de Masa Corporal (IMC), OMC (2000), con diferencia significativa (p < 0,001) entre los géneros. Los valores medios de %CG de las bailarinas se presentaron buenos y excelentes para la edad, de acuerdo con la clasificación de Pollock y Wilmore (1993). Entre los bailarines, tres (3) presentaron valores arriba de la media para la edad; sin embargo, aún dentro de los valores medios encontrados en la literatura para los bailarines. En relación al consumo alimentar, las bailarinas y bailarines presentaron porcentuales de adecuación considerados insuficientes, de acuerdo con sus demandas energéticas, para el consumo de energía y carbohidratos. De acuerdo con los resultados, los bailarines profesionales presentaron composición corporal adecuada para la práctica de la danza; no obstante, un consumo alimentar insuficiente, lo que puede comprometer el desempeño físico a lo largo de sus carreras artísticas.

          Palabras clave: Bailarines. Grasa corporal. Consumo alimentar. Macronutrientes.

 

Abstract

          This study had as aim to check the body composition and food consumption of contemporary dance professionals. The sample intentional was formed by 15 dancers at the age between 18 and 42 years old, with at least five years of practice. They are part of a dance company from Porto Alegre – RS, Brazil. The dancers were evaluated according to their anthropometric measurement of weight, height, and skin fold thickness in order to predict their body fat percentage (%BF). To verify the food consumption we applied a three day food register and a food recordatory of 24 hours. The data were considered statistically significant when p < 0.05 according to the student’s t-test. The results showed average values considered euphoric to the Body Mass Index (BMI), World Health Organization (WHO) (2000), with significant difference (p < 0.001) between the genders. The average values %BF of the dancers was good and excellent for their age, according to the classification of Pollock and Wilmore (1993). Among the dancers, three presented values above average, but they were still in the average values found in the literature. In relation to food consumption, the dancers presented adequacy ratio considered insufficient, according to their energetic demand, for energy consumption and carbohydrates. So, the professional dancers presented body composition adequate to the dance practice. However, they presented an insufficient food consumption which can bind the dancer’s physical performance along their artistic careers.

          Keywords: Dancers. Body fat. Food consumption. Macronutrients.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As exigências físicas impostas aos bailarinos profissionais durante a rotina intensa de ensaios e espetáculos tornam a aptidão física dos bailarinos e a fisiologia da dança, tão importantes quanto o desenvolvimento das competências técnicas e artísticas dessa arte (ANGIOI et al., 2009). Como resultado, a medicina da dança, como subespecialidade médica, tem reunido profissionais de diferentes áreas, incluindo o nutricionista, que aplicam seus conhecimentos e interesses no intuito de potencializar o desempenho dos bailarinos e prevenir possíveis lesões e comprometimentos decorrentes da prática da dança (MARKONDES, 2001; HINCAPIÉ; MORTON; CASSIDY, 2008; HAAS; GARCIA; BERTOLETTI, 2010).

    Um importante componente da aptidão física, diretamente relacionado com o desempenho e rendimento dos bailarinos é a composição corporal. A verificação dos componentes corporais permite uma análise detalhada das adaptações ocorridas durante a prática da dança, auxiliando na individualização dos treinamentos e acompanhamento da performance, já que essa é influenciada diretamente pela proporção entre a massa corporal gorda e massa corporal magra (KOUTEDAKIS; JAMURTAS, 2004; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    Uma alimentação saudável, com adequação das necessidades energéticas, de macro e micronutrientes é indispensável para o ótimo desempenho, visto que, tais necessidades estão aumentadas em detrimento do trabalho corporal desenvolvido. A dieta adequada é importante para a saúde geral do bailarino, pois auxilia na preservação da massa magra e recuperação das reservas energéticas (WOLINSK; HICKSON, 1996; BRASIL, 2009).

    Bailarinos, ginastas e demais atletas classificados de acordo com a massa corporal participam de treinamento árduo, devido aos rígidos padrões estéticos e de desempenho físico dessas profissões (HAAS; GARCIA; BERTOLETTI, 2010; RIBEIRO; VEIGA, 2010). Em virtude da natureza de sua arte, esses indivíduos se esforçam continuamente para manter uma baixa massa corporal (SIMAS; GUIMARÃES, 2002; KOUTEDAKIS; JAMURTAS, 2004; HINCAPIÉ; MORTON; CASSIDY, 2008). Como resultado, com freqüência a ingesta energética cai intencionalmente para abaixo do dispêndio de energia e manifesta-se um relativo estado de desnutrição (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    Uma preocupação freqüente dos bailarinos é em relação a sua imagem corporal, pois a dança trabalha diretamente com o corpo e é por meio deste que o bailarino expressa sua técnica e arte (KOUTEDAKIS; JAMURTAS, 2004). Diante disso os bailarinos acabam restringindo a alimentação sem orientações nutricionais adequadas que podem causar prejuízos graves à saúde e afastamento das atividades profissionais, por meio de doenças e sintomas como, perda de peso, diminuição da taxa metabólica basal, amenorréia e distúrbios menstruais em mulheres, desmineralização óssea, perda de massa muscular e gordura, arritmias cardíaca, desidratação, dentre outras (OLIVEIRA et al., 2003; ROSSI; TIRAPEGUI, 2004; SUDI et al., 2004; THOMAS; KEEL; HEATHERTON, 2005; FERREIRA; BURINI; MAIA, 2006).

    Tendo em vista a escassez de estudos envolvendo bailarinos profissionais e considerando a importância de uma alimentação adequada para a saúde geral e manutenção da carreira artística dos bailarinos, o objetivo deste estudo foi verificar a composição corporal e o consumo alimentar de macronutrientes em bailarinos profissionais de dança contemporânea.

Metodologia

    O estudo caracterizou-se como do tipo descritivo e transversal. A amostra intencional foi constituída de 16 bailarinos adultos, de ambos os gêneros, com no mínimo 5 anos de prática de dança e integrantes de uma companhia profissional de dança contemporânea, da cidade de Porto Alegre (RS).

    Para determinação do estado nutricional e da composição corporal foram realizadas avaliações antropométricas da massa corporal, estatura e dobras cutâneas. A massa corporal e a estatura foram verificadas com auxílio de balança antropométrica tipo plataforma, marca Filizola®, com precisão de 100g e estadiômetro acoplado, com haste móvel usado para medir a estatura em pé. As avaliações foram realizadas com os bailarinos descalços, em posição ortostática e com o mínimo de roupa possível (homens de sunga, mulheres de biquíni), de acordo com a metodologia proposta por Heyward e Stolarczyk (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000). Para avaliar o estado nutricional foi utilizado o Índice de Massa Corporal (IMC), expresso em Kg/m2, conforme os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000).

    A gordura corporal foi estimada através da aferição das dobras cutâneas tricipital, supra-ilíaca, axilar medial, peitoral, coxa medial, abdominal e subescapular, com auxílio de adipômetro científico, com precisão de 0,1mm, marca Cescorf® e fita antropométrica inextensível, marca Sanny®. Cada dobra cutânea foi aferida três vezes alternadas, no hemicorpo direito dos avaliados, para que a mediana fosse utilizada como escore final, de acordo com o protocolo de Pollock e Wilmore (POLLOCK; WILMORE, 1993). Para o cálculo da estimativa da densidade corporal nos homens, foi utilizada a equação de Jackson e Pollock (POLLOCK; WILMORE, 1993):

    Dc = 1,112 – 0,00043499 (peitoral + abdominal + coxa medial + axilar medial + triciptal + supra-ilíaca + subescapular) + 0,00000055 (peitoral + abdominal + coxa medial + axilar medial + triciptal + supra-ilíaca + subescapular) 2 – 0,00028826 (idade)

    Nas mulheres foi utilizada a equação de Jackson, Pollock e Ward (POLLOCK; WILMORE, 1993):

    Dc = 1,097 – 0,00046971 (triciptal + supra-ilíaca + coxa medial + abdominal + subescapular + peitoral + axilar medial) + 0,00000056 (triciptal + supra-ilíaca + coxa medial + abdominal + subescapular + peitoral + axilar medial) 2 – 0,00012828 (idade)

    Em ambos foi utilizada a equação de Siri, para o cálculo do percentual de gordura corporal (%GC) (POLLOCK; WILMORE, 1993). Na literatura atual não existem equações específicas para mensurar a gordura corporal por meio da técnica das dobras cutâneas em bailarinos, portanto a escolha das equações partiu de estudos anteriores com a mesma população (YANNAKOULIA et al., 2000). O % GC foi avaliado de acordo com a classificação de Pollock e Wilmore (POLLOCK; WILMORE, 1993), conforme a faixa etária dos bailarinos em: excelente, bom, abaixo da média, média e acima da média para a faixa etária correspondente.

    Para identificar o consumo alimentar foram utilizados um recordatório alimentar de 24 horas e um registro alimentar de 3 dias, incluindo um dia do final de semana (sábado). O recordatório alimentar foi aplicado pela pesquisadora com formação em Nutrição e o registro foi preenchido pelos avaliados após orientação sobre o tamanho das medidas caseiras. Para o cômputo de energia e macronutrientes ingeridos no recordatório e registro alimentar, as medidas caseiras foram transformadas em gramas e mililitros, utilizando-se como referência a Tabela de Pinheiro et al (2002) (PINHEIRO et al., 2002). O consumo alimentar foi analisado por meio do software de nutrição Dietpro® versão 5.

    Os valores médios de energia e macronutrientes foram confrontados com os valores preconizados, Valores de Ingestão Dietética de Referência (Dietary Reference Intakes – DRIS) (INSTITUTE OF MEDICINE, 2002), visando avaliar o grau de adequação das dietas. O percentual de adequação (% Adeq) dos carboidratos e proteínas foi estimado, de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (BRASIL, 2009). Para as proteínas o % Adeq foi estimado a partir da quantidade de proteína consumida por quilograma de peso ao dia (g/Kg/dia). E para os carboidratos e lipídios de acordo com o menor valor dentro dos intervalos de distribuição aceitáveis para estes nutrientes, em relação ao Valor Energético Total da dieta (VET) (INSTITUTE OF MEDICINE, 2002).

    Todos os dados foram coletados no local de ensaio da companhia de dança na cidade de Porto Alegre, RS, no período de junho e julho de 2009. O estudo foi realizado após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica (PUC, RS), sob o número de protocolo CEP 09/04759, e após a assinatura dos bailarinos ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido elaborado de acordo com as determinações da norma 196/1996 do Ministério da Saúde.

    Para análise dos dados foram utilizados métodos da estatística descritiva simples, como média, desvio padrão e valores de mínimo e máximo. Para análise das variáveis quantitativas de distribuição normal, foi utilizado o Teste t de Student’s, adotando-se nível de significância de 5% (p<0,05), com auxílio do software SPSS versão 15.0.

Resultados

    Entre os bailarinos investigados, 8 eram homens e 8 mulheres, com idades médias iguais a 27,6 ± 8,2 anos e 22,7 ± 5,7 anos respectivamente. A média de horas semanais que os bailarinos praticavam dança foi de 20,5 ± 0,8 horas para as bailarinas e 20,7 ± 1,5 horas para os bailarinos.

    Os bailarinos apresentaram valores médios do IMC estatisticamente maiores do que as bailarinas (23,4 ± 1,5 Kg/m2 vs 20,1Kg/m2 ± 1,3 p<0,001). Ambos apresentaram valores médios dentro dos limites de eutrofia, entretanto uma bailarina apresentou IMC igual a 18,3Kg/m2, valor classificado como baixo peso e um bailarino apresentou IMC igual a 25,2Kg/m2, índice pouco acima dos valores de eutrofia. Em atletas e pessoas fisicamente ativas a utilização do IMC para verificação do estado nutricional pode gerar uma interpretação errônea, principalmente pelo fato do IMC não ser capaz de diferenciar o aumento de peso por excesso de gordura corporal do aumento por hipertrofia muscular, edema, ossos e até mesmo por aumento do volume plasmático induzido pelo treinamento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    As mulheres apresentaram média de %GC superiores aos homens, porém sem diferença significativa (18,5% ± 4,3 vs 14,5% ± 4,6, p>0,05). O mesmo não ocorreu com a massa magra (MM) (41,2Kg ± 4,5 vs 59,8Kg ± 3,9 p<0,001), conforme tabela 1 abaixo.

    De acordo com a classificação do %GC, 37,5% (3) das bailarinas apresentaram %GC excelentes para a faixa etária correspondente, e 50% (4) apresentaram %GC considerados bons para a idade. Entre os bailarinos esta distribuição foi menos homogênea, pois apenas 12,5% (1) apresentaram %GC excelente, sendo que 25% (2) apresentaram valores acima da média para a idade, conforme tabela 2 abaixo.

    Em relação ao consumo alimentar, as bailarinas apresentaram percentual de adequação (% Adeq) do consumo energético de 85,9%, e os bailarinos 79,45%, percentuais insuficientes para suas demandas energéticas diárias (INSTITUTE OF MEDICINE, 2002). O consumo médio de energia não apresentou diferenças significativas entre os bailarinos de ambos os gêneros.

    Os % Adeq das proteínas e lipídios nas dietas das bailarinas e bailarinos foram satisfatórios, isto é acima de 100%. Ambos estão ingerindo quantidades de proteína (1,2g/Kg/d para as mulheres e 1,3g/Kg/d para os homens), acima do recomendável para a população adulta em geral, porém dentro dos valores preconizados para pessoas fisicamente ativas e atletas (BRASIL, 2009; INSTITUTE OF MEDICINE, 2002). O consumo de lipídios foi maior entre os homens, representando 33,2% do Valor energético total (VET) das dietas dos bailarinos e 29,3% do VET das bailarinas.

    Os carboidratos representaram 57% do (VET) da dieta das bailarinas e 53,4% dos bailarinos, percentuais ideais para população em geral, porém pouco abaixo do recomendável para pessoas fisicamente ativas (BRASIL, 2009). Este nutriente apresentou % Adeq de 95,3% e 97,4% nas dietas das bailarinas e bailarinos respectivamente. O consumo de macronutrientes não apresentou diferença significativa entre os bailarinos investigados.

Discussão

    A limitação do estudo foi a escassez de trabalhos envolvendo bailarinos profissionais de dança contemporânea, principalmente do gênero masculino, com características semelhantes à população investigada, além do número pequeno da amostra. Companhias de dança dificilmente possuem mais de quinze integrantes, e pensando na homogeneidade da amostra, dezesseis bailarinos foram investigados, representando 100% dos integrantes da companhia avaliada.

    Ao alcançar o nível profissional o bailarino deve estar psicologicamente preparado para enfrentar situações críticas de estresse, deve manter-se livre de lesões e o mais importante, deve estar apto fisicamente (ANGIOI et al., 2009). A manutenção do alto nível técnico e excelente aptidão física é uma busca constante dos bailarinos profissionais (HINCAPIÉ; MORTON; CASSIDY, 2008; RIBEIRO; VEIGA, 2010).

    Em relação a composição corporal dos bailarinos investigados no presente estudo, podemos verificar que a maioria das bailarinas (n = 7) e dos bailarinos (n = 5) demonstraram %GC classificados entre excelentes e abaixo da média para mulheres e homens na mesma faixa etária, favorecendo-os na prática da dança. Podemos verificar que entre as bailarinas apenas uma apresentou percentuais acima da média para a idade, enquanto três bailarinos demonstraram valores entre a média e acima dela, segundo a classificação de Pollock e Wilmore (1993) (POLLOCK; WILMORE, 1993). Isto pode estar relacionado à inexistência de equações de predição do % GC específicas para bailarinos na literatura atual, ao fato dos bailarinos homens iniciarem a carreira artística com idades mais avançadas do que as bailarinas e a maior rigidez nos padrões estéticos e culturais impostos a elas.

    Alguns estudos têm demonstrado os componentes corporais de bailarinos profissionais e amadores, tendo em vista que os bailarinos devem ser magros para fins estéticos, mas principalmente para se privilegiarem de componentes da massa magra que auxiliam na execução dos movimentos, demonstrando além de leveza e graça, vigor físico (PRATI; PRATI, 2006). Em estudo realizado com 11 bailarinas profissionais brasileiras, foram encontrados valores médios do IMC e %GC semelhantes aos valores demonstrados neste trabalho (IMC: 19,9Kg/m2 ± 1,6 vs 20,1Kg/m2 ± 1,3; %GC: 22,7% ± 4,3 vs 18,5% ± 4,3). Verificamos que as bailarinas investigadas por Prati e Prati (2006) demonstraram valores médios de %GC maiores, quando comparadas com as bailarinas deste estudo, porém ainda dentro dos valores considerados abaixo da média para a faixa etária. De acordo com os autores as bailarinas investigadas apresentaram níveis de composição corporal adequados para a prática da dança, sugerindo que o estar ou ser leve venha beneficiar o desenvolvimento das técnicas, assim como diminuir a sobrecarga nas articulações ao longo dos anos de prática da dança (PRATI; PRATI, 2006).

    Pesquisadores investigaram os valores médios do %GC de bailarinos baseados em vários estudos da literatura e verificaram um %GC médio pra esta população igual a 20,1% para as bailarinas e 14,5% para os bailarinos (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008). O presente estudo encontrou valores médios para ambos os gêneros semelhantes aos valores citados na literatura (18,5% e 14,5% para as bailarinas e bailarinos respectivamente). Os mesmos autores reuniram os valores médios do %GC somente em bailarinos de ballet clássico e os valores demonstrados foram menores, ficando em torno de 18% e 8% para as bailarinas e bailarinos desse estilo de dança. As companhias de dança contemporânea diferentemente do ballet clássico não apresentam uma homogeneidade quanto à técnica e ao biótipo dos bailarinos, pois os integrantes podem originar-se de diferentes seguimentos artísticos, como atores, artistas circenses e atletas. A rigidez estética também pode variar de acordo com as companhias de dança.

    Valadão et al. (2003), investigaram o %GC em bailarinos profissionais de dança contemporânea também da cidade de Porto Alegre – RS, e encontraram valores inferiores ao encontrado neste estudo, considerados excelentes para a idade, mesmo os bailarinos apresentando médias de idade superiores, com médias de 40,5 e 26,6 anos para bailarinos e bailarinas respectivamente.

    Mesmo com o avanço da dança contemporânea, os estudos ainda são escassos com esta população e principalmente com bailarinos homens, talvez pela inabilidade dos pesquisadores em entenderem o treinamento e os termos específicos da dança (MARKONDES, 2001). Entretanto alguns estudos compararam diferentes níveis de bailarinos, entre amadores e profissionais, e diferentes estilos de dança, como o ballet clássico, jazz e dança contemporânea (ANGIOI et al., 2009). White et al. (2004), compararam alunos de ballet clássico com alunos de dança contemporânea e não verificaram diferenças significativas em relação ao %GC (19,9% ± 1,5 vs 19,3% ± 1,4) e MM (41,5 ± 1,1 vs 43,2 ± 1,6). Porém, Chatfield et al. (1990) verificaram diferenças significativas no %GC quando compararam bailarinas intermediárias, profissionais e mulheres sedentárias.

    Outros estudos compararam o % GC de bailarinas e mulheres sedentárias, e encontraram resultados distintos. Novak et al. (1978) compararam as médias de %GC de 12 alunas de dança com 12 mulheres sedentárias e encontraram diferenças significativas entre as médias. Outro estudo, mais atual, não encontrou diferença significativa entre as médias do %GC de 44 bailarinas de dança contemporânea em relação a 30 mulheres sedentárias (WHYTE et al., 2007).

    Devemos salientar que os recursos utilizados na tentativa de estimar parâmetros da composição corporal são bastante numerosos e complexos, podendo gerar uma variabilidade importante na determinação e interpretação dos dados. Em estudo realizado com bailarinas profissionais gregas, os pesquisadores utilizaram dois métodos para análise do %GC e verificaram diferenças entre as faixas de valores. Com o método de aferição das dobras cutâneas o %GC encontrado ficou na faixa de 13,0% - 26,9%, e com a Absormetria Radiológica de Dupla Energia (DXA), considerado padrão ouro para a determinação dos componentes corporais, os valores variaram de 10,3% - 30,4% (YANNAKOULIA et al., 2000). Interpretações equivocadas da composição corporal, podem expor os bailarinos a possíveis alterações na alimentação, estresse e mudanças nos treinamentos, fatores esses, que podem prejudicar a performance e a saúde dos bailarinos.

    Em relação ao consumo alimentar, os bailarinos investigados apresentaram percentuais de adequação para o consumo de energia abaixo de suas necessidades diárias. A restrição da ingestão alimentar tem sido largamente associada com o aumento no número de fraturas em bailarinos e pode afetar a qualidade óssea, comprometendo a performance desses profissionais ao longo da carreira artística (FRUSZTAJER et al., 1990; KOUTEDAKIS; JAMURTAS, 2004; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008). Estudos relatam ainda que a restrição dietética crônica diminui a Taxa metabólica basal (TMB), fator altamente preditivo de disfunção menstrual, amenorréia e osteopenia em bailarinas (KAUFMAN et al., 2002). Sanchez et al (2008) relatam que freqüentemente bailarinas jovens seguem dietas restritivas e recorrem ao uso de laxantes, em períodos próximos aos espetáculos, comprometendo seriamente a saúde.

    A programação da dieta de um bailarino ou de um atleta deve considerar o sexo, idade, massa corporal, composição corporal, condicionamento físico, fase do treinamento, freqüência, intensidade e duração dos exercícios bem como seus hábitos alimentares (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008). As diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte recomendam ainda, considerar o calendário dos espetáculos, os objetivos da companhia, a demanda energética e necessidades de modificação na composição corporal (BRASIL, 2009).

    Um estudo investigou o consumo alimentar de bailarinas e também verificou um percentual de adequação abaixo do ideal (< 85%, segundo a RDA (1989)), com uma média de consumo de energia de 1436,03 ± 650,8 calorias por dia, valor médio menor que o encontrado neste estudo, porém com uma variabilidade grande, de acordo com o desvio padrão da amostra (FRUSZTAJER et al., 1990). Outro estudo comparou o consumo alimentar de bailarinas com mulheres jovens e não encontrou diferença significativa entre as médias dos grupos. O valor médio do consumo de energia diário das bailarinas também foi menor do que o encontrado neste estudo (1269,5 ± 187,3 vs 2006,6 ± 243,7) (KAUFMAN et al., 2002).

    Mcardle et al. (2008), analisaram a ingesta alimentar de atletas de diversas modalidades citadas na literatura mundial e verificaram as calorias ingeridas de acordo com a massa corporal por dia (Kcal/Kg/dia). Nas bailarinas o valor médio encontrado foi 51,7 Kcal/Kg/dia e nos bailarinos a média foi menor, 34 Kcal/Kg/dia. Neste estudo a ingestão média foi menor para ambos os gêneros, 39,6 Kcal/Kg/dia para as bailarinas e 32,4 Kcal/Kg/dia.

    Entre os macronutrientes, somente o consumo de carboidratos apresentou-se abaixo das necessidades para bailarinos e bailarinas. Tendo em vista que, durante o exercício, o principal fornecedor de energia é o glicogênio, derivado dos carboidratos e que a redução de seus estoques prejudicam o desempenho físico, é imprescindível manter os níveis ideais de glicogênio e glicose circulante, por meio da adequação desse nutriente na dieta (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008; BRASIL, 2009).

    É importante considerar que alguns componentes relacionados ao desempenho físico dos bailarinos, como a composição corporal, função motora, muscular e cardiorrespiratória, são desenvolvidos e mantidos por meio da adoção de hábitos alimentares saudáveis e consumo alimentar adequado as necessidades energéticas correspondentes ao trabalho físico desenvolvido na dança (PRATI; PRATI, 2006; HAAS; GARCIA; BERTOLETTI, 2010).

    Atletas e bailarinos freqüentemente recebem orientações nutricionais de um profissional que não o nutricionista, na sua maioria os treinadores, professores e coreógrafos. Alguns autores relatam uma confiança exagerada, por parte dos atletas nas informações nutricionais fornecidas pelos treinadores em detrimento das orientações fornecidas por nutricionistas (WOLINSK; HICKSON, 1996). O avanço da dança e das exigências físicas aos bailarinos profissionais, torna necessário que as companhias profissionais de dança considerem fundamentais para o melhor desempenho dos bailarinos, além de técnica e qualidade artística, a saúde desses profissionais, incluindo nutrição e treinamento adequado. O mesmo deve-se dizer dos profissionais da área da saúde, pois as companhias de dança devem ser entendidas como uma nova área de atuação para estes profissionais.

Conclusão

    De acordo com os dados apresentados os bailarinos apresentaram composição corporal adequada para o desempenho da dança. Entretanto, as deficiências nutricionais evidenciadas podem expor os bailarinos a fraturas, fadiga e demais injúrias que interferem na saúde geral desses sujeitos. Desta forma, mais estudos devem ser realizados com esta população, para melhor identificarmos o perfil nutricional, a composição corporal, os comportamentos alimentares e o treinamento específico da dança a fim de conscientizar as companhias profissionais e amadoras da importância do treinamento adequado dessa arte e da orientação nutricional qualificada, permitindo que o bailarino estenda por mais tempo sua carreira artística com saúde.

Referências

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