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Prática regular de atividade física como meio de 

controle e diminuição da ansiedade em adolescentes

La práctica regular de actividad física como medio de control y disminución de la ansiedad en adolescentes

 

*Discente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro - UNISA

**Orientadora e Docente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro

(Brasil)

Flavio Barbosa Coelho*

Leandro Francisco Arjona*

Leandro Roberto de Oliveira Pereira*

Luana Ribeiro Alves*

Profª. Ms. Solange de Oliveira Freitas Borragine**

wibbo15@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem o objetivo de analisar e compreender as relações entre a atividade física praticada de forma regular e a diminuição dos níveis de ansiedade em adolescentes. Para tanto, utilizou-se de revisão e análise bibliográfica, onde se realiza um levantamento de estudos já publicados sobre o assunto. A adolescência é uma fase de inúmeras mudanças biológicas, psicológicas e sociais, entre as quais estão as transformações das relações familiares e a preocupação pela definição da escolha profissional, preparação para o trabalho e perspectivas para o futuro. Nesse processo o adolescente se depara com realidades diferentes das que já havia enfrentado e assim, reage e tende a se sentir ansioso diante da exigência das adaptações necessárias para a sua vida. É possível constatar que a prática regular de atividade física pode produzir efeitos antidepressivos e ansiolíticos, protegendo o organismo de efeitos prejudiciais, melhorando a saúde física e mental dos adolescentes em especial, e da população em geral. Sugerimos, no entanto, maior número de estudos sobre o tema que possam evidenciar, de forma mais efetiva, a contribuição da prática regular de atividade física nos problemas de ansiedade em adolescentes.

          Unitermos: Adolescente. Ansiedade. Prática regular de atividade física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No período da adolescência o corpo passa por transformações drásticas tanto morfológicas quanto fisiológicas, e estas mudanças afetam não só o corpo como também podem provocar inúmeras alterações psicológicas e sociais, aflorando as emoções e os sentimentos. Estas trazem mudanças de cunho emocional como a confusão dos sentimentos e destacamos aqui a ansiedade, tida como característica desta faixa etária.

    A adolescência é o final da infância e o início da idade adulta. Tais mudanças são marcadas por diversos níveis: físico, mental e social, representando, para o indivíduo, um processo de distanciamento dos comportamentos e privilégios típicos da infância e o início da aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres e papéis sociais exigidos do adulto.

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é definida como o período da vida na qual se desenvolvem as características sexuais secundárias e ocorre a evolução dos processos psicológicos e dos padrões de identificação, preparando o indivíduo para a idade adulta. Nesta fase observa-se a transição de um estado de dependência para outro de relativa autonomia.

    Atualmente se tem destacado a importância da aquisição e manutenção de hábitos saudáveis visando uma melhor qualidade de vida da população. Pesquisas relacionadas à adoção de um estilo de vida mais saudável, por meio da prática regular de atividade física, têm sido defendidas para a prevenção de inúmeras doenças que preocupam a população em geral, problemas como cardiopatias coronarianas, artrites, diabetes, câncer, osteoporose, doenças pulmonares crônicas, acidente vascular cerebral e obesidade, além de possibilitar considerável melhora nos problemas de ordem de comportamento, atitudes e relacionadas às questões psicológicas.

    Neste sentido, cada vez mais se vê a necessidade de uma intervenção para efetivamente se transformar o cotidiano de crianças e adolescentes sedentários, procurando introduzir a prática de atividade física regular como um hábito de vida. Para Biazussi (2008) não basta apenas informar, se faz necessário também socializar os hábitos saudáveis, juntamente com as informações sobre as doenças provocadas ou agravadas pela falta de atividade física, bem como as possibilidades desta prática minimizá-los.

    Por ser uma fase de transição, se desenvolve na adolescência um conjunto de mudanças evolutivas na maturação física e biológica e no ajustamento psicológico e social do individuo, e tantas transformações ocorrendo de forma tão rápida, fazem com que surjam mais facilmente problemas de ansiedade.

    Em meio às teorias da ansiedade, constata-se que não existe um estimulo especifico que identifique essa sensação, sendo que o conceito central da teoria existencial é o de que as pessoas se tornam conscientes de um profundo vazio em suas vidas, e a ansiedade é uma resposta ao imenso vazio da existência (KAPLAN e SADOCK, 1993 apud BATISTA e OLIVEIRA, 2005)

    De acordo com pesquisas por nós verificadas, é possível constatar que a prática regular de atividade física pode produzir efeitos que minimize e proteja o adolescente dos efeitos prejudiciais da saúde física e mental.

Características da adolescência

    Adolescência, de acordo com Oerter e Dreher (2002), é a fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a infância e a idade adulta, onde ocorrem alterações significativas nos níveis físico, mental e social. Este período representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da infância e da aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres e papéis sociais do adulto.

    A adolescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o período da vida a partir do qual surgem as características sexuais secundárias e se desenvolvem os processos psicológicos e os padrões de identificação, que evoluem da fase infantil para a adulta. Entre elas, está a transição de um estado de dependência para outro de relativa autonomia. Considera-se adolescência o período de 10 a 19 anos e distingue-se em adolescência inicial que corresponde aos indivíduos entre 10 e 14 anos de idade e adolescência final, que compreende a idade de 15 a 19 anos. (JATOBÁ e BASTOS, 2007).

    Para Piaget (1976), na adolescência são encontradas transformações bem visíveis no comportamento. Nesta fase, devido à ampliação do potencial de reflexão, o adolescente passa a formular suas próprias teorias ou reconstruir teorias às que já existem; sente que tem o desejo de ser diferente dos demais, quer ser o reformador se destacando no mundo. Neste período surgem tendências de formação de “tribos” onde os adolescentes são unidos por seus pensamentos e teorias, porém um dia, acabam percebendo a fragilidade de suas idéias. O adolescente passa por uma fase em que atribui um poder ilimitado ao seu pensamento, tem consciência de sí quando expõem seus pensamentos, na verdade, pensam apenas em um futuro cheio de glória ou ter o poder de transformar o mundo através da sua ótica.

    Segundo Matheus (2003), o adolescente busca respostas às questões que lhes foram transmitidas, sendo sujeito e não apenas um produto de seu meio. Assim sendo, reage ativamente àquilo que lhe é proposto, buscando formular respostas próprias que façam sentido para ele, permitindo assim, sua entrada na sociedade.

    Baseando-nos em Matheus (2003), podemos citar como as principais características deste período, a crescente consciência do seu eu, o surgimento da independência, a interiorização dos núcleos sociais e da família. O adolescente pode ainda se achar independente e livre o suficiente para poder, ele mesmo, tomar conta de sua vida, mas demonstra sua imaturidade através de reações como agressividade de brusquidão, principalmente quando respondendo às interferências em seus assuntos ou sua vida privada.

    Surgem também sentimentos como os de rancor, vingança e violência, embora de modo esporádico e normalmente pouco duradouros. Quando admira uma pessoa, tem preocupação em detalhar a imitação dos gestos e comportamentos que copia e idealiza. Para tanto, ele vive um conflito em que busca sua identidade, mas não consegue parar de reparar na vida dos outros. (MATHEUS, 2003) Aproximadamente aos dezesseis anos, já é tido como um pré adulto, que de acordo com Gessel (1967) tem uma mente mais segura sobre si e sobre o mundo, que controla suas emoções, seus pensamentos e começa a analisar e entender os motivos de outras pessoas, pois nota que sua felicidade é diretamente relacionada à daqueles que o cercam.

    Nesta etapa da vida, ainda de acordo com Matheus (2003), podemos também apontar como as principais causas da ansiedade na adolescência, além das já citadas, a mudança que ocorre cada vez mais intensamente em seus corpos, o uso de álcool e/ou drogas, distúrbios hormonais, estresses que vão desde o término dos estudos na Educação Básica, de um relacionamento, o fracasso no vestibular, a cobrança da sociedade pelo sucesso e pela perfeição, expectativas irreais criadas sobre si e sobre o mundo, a preocupação e o medo relacionados ao futuro.

Ansiedade e os sintomas mais comuns em adolescentes

    De acordo com Castillo et al (2000), ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão e perigo de algo que é desconhecido ou estranho.

    Voser e Campani (2003) apresentam que a ansiedade pode ser caracterizada de várias maneiras como aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, etc. Registram também que ela pode ser entendida como “um fenômeno animal que ora nos beneficia ora nos prejudica, dependendo de sua circunstancialidade ou intensidade, podendo tornar-se patológica, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal)”. (p. 12). Quando a ansiedade se torna patológica podemos considerá-la um sintoma ou um transtorno incluindo-a num grupo de distúrbios chamados de transtornos ansiosos.

    Para Skinner assim como para Freud há a concordância, como registra Rodrigues (1976), de que o medo e a ansiedade constituem formas de defesa do organismo contra a ameaça a algum perigo. A diferença entre os dois, no entanto, é que o medo se instala sempre que há uma ameaça real, já a ansiedade é um estado emocional que prevê algum estímulo como ameaçador, antecipando-se ao que poderá ou não ocorrer no futuro.

    Batista e Oliveira (2005) apresentam que não existe um estimulo especifico que identifique a sensação de ansiedade, sendo que o conceito central é o de que as pessoas se tornam conscientes de um profundo vazio em suas vidas, e a ansiedade é uma resposta ao imenso vazio da existência.

    A ansiedade pode ser subdividida em dois tipos: a ansiedade normal ou positiva e a ansiedade patológica ou negativa. A ansiedade normal é aquela que pode ser caracterizada como uma resposta adaptativa do ser humano a uma determinada situação, visando preparar este para uma resposta adequada, diminuindo assim as conseqüências. Já a ansiedade patológica ou negativa pode ser entendida como uma sensação indefinida, como um medo, porém infundado, ou seja, uma situação não concreta. (BATISTA e OLIVEIRA, 2005)

    Assim sendo, verificando o que a Associação Psiquiátrica Americana (1995); Organização Mundial da Saúde (1993), citado por Batista e Oliveira (2005) registram, podemos diagnosticar a ansiedade negativa observando alguns sintomas característicos e freqüentemente presentes como: tremores ou sensação de fraqueza; tensão ou dor muscular; inquietação; fadiga fácil; falta de ar ou sensação de fôlego curto; palpitações; sudorese, mãos frias e úmidas; boca seca; vertigens e tonturas; náuseas e diarréias; rubor ou calafrios; polaciúria (aumento do número de urinadas); bolo na garganta; impaciência; respostas exageradas a surpresa; dificuldades de concentração ou memória prejudicada; dificuldades de conciliar e manter o sono e irritabilidade.

    De acordo com registros de Batista e Oliveira (2005) em uma pesquisa de opinião sobre medo e ansiedade na adolescência, constatou-se que na adolescência se evidencia o medo direcionado a ameaças ou perigos subjetivos, atribuídos à chamada crise de identidade. Em relação à ansiedade, as categorias mais freqüentes no estudo foram as ligadas à solidão, ao desconhecido, enfim, o medo do futuro.

    Ainda, segundo os autores, as meninas sofrem mais de ansiedade que os meninos, principalmente pela discórdia entre elas e os pais. Além disso, se mostra com resultado mais alto que o sexo masculino no que tange a ansiedade geral, a ansiedade escolar e a ansiedade em situações de avaliações, verificando-se que na adolescência a alta taxa de ansiedade as tornam (as meninas) mais vulneráveis e predispostas a atitudes mais drásticas como o suicídio.

    Voser e Campani (2003) constatam em pesquisa realizada que a ansiedade é conseqüência, entre outras razões, das expectativas de outras pessoas e das expectativas auto-impostas pelo jovem.

    Analisando os dados obtidos, podemos constatar que a ansiedade na adolescência pode afetar a qualidade de vida dos adolescentes em todas as áreas: cognitiva, social, afetiva e física, logo, se faz necessário o incentivo para que eles busquem alternativas que possam minimizar esses sintomas tão freqüentes e os possibilitem passar por esse período de forma mais tranqüila.

Contribuição da prática regular de atividade física para minimizar estados de ansiedade em adolescentes

    Em respeito à atividade física, os princípios gerais que orientam as respostas do organismo ao exercício e ao treinamento físico são os mesmos para crianças, adolescentes e adultos, no entanto, existem particularidades da fisiologia do esforço em crianças que acontecem tanto do aumento da massa corporal referente ao crescimento quanto da maturação, que se acelera durante a puberdade, relacionada ao desenvolvimento. (LAZZOLI, 1998)

    De acordo com Vieira, Priore e Fisberg (2002) a atividade física auxilia no desenvolvimento do adolescente e na redução dos riscos de doenças, além de exercer importantes efeitos psicossociais, sendo a ansiedade um deles. Ainda existem, no entanto, vários mitos acerca da prática de exercícios físicos na adolescência e inúmeros questionamentos quanto à sua influência em fenômenos como o crescimento esquelético e a maturação biológica, como também nas questões ligadas às emoções.

    De acordo com os autores, a atividade física é um importante auxiliar para o aprimoramento e desenvolvimento do adolescente, nos seus aspectos morfofisiopsicológicos, podendo aperfeiçoar o potencial físico determinado pela herança hereditária e desenvolver, no indivíduo, habilidades para um maior aproveitamento de suas capacidades. Em conjunto à boa nutrição, a prática adequada de atividade física deve ser reconhecida como elemento de grande importância para o crescimento e desenvolvimento normal durante a adolescência, bem como para diminuição dos riscos de futuras doenças.

    A prática do exercício físico, associada a uma oferta energética satisfatória, permite um aumento da utilização da proteína da dieta e proporciona adequado desenvolvimento esquelético. Várias outras influências positivas estão relacionadas à atividade física regular, entre elas o aumento da massa magra, diminuição da gordura corporal, melhora dos níveis de eficiência cardiorrespiratória, de resistência muscular e força isométrica, além dos importantes efeitos psicossociais. (VIEIRA, PRIORE e FISBERG, 2002, p. 3)

    As investigações feitas sobre a relação entre a ansiedade versus atividade física no público adolescente na última decada, apesar de apresentarem resultados bastante diversificados, encontram um ponto em comum no que diz respeito ao efeito positivo que a prática da atividade física tem sobre o estresse e a ansiedade.

    Weimberg e Gould (2000), transcrevem um quadro de Taylor onde relacionam a atividade física como fator de melhoria ao bem estar psicológico, sugerindo que, em geral, a atividade física diminui a ansiedade, a depressão, a tensão, a ira, as fobias, além de melhorar a autoconfiança e a estabilidade emocional.

    Segundo Abele e Brehm (1993) citado por Ballone (2008) a atividade física apresenta um efeito positivo sobre o humor, considerando a atividade física um forte fator de alívio para a ansiedade e depressão.

    Em relação ao efeito do exercício sobre os transtornos de humor, Mello e Tufik (2004) citado por Biazussi (2008), registram que o aumento da incidência de diagnósticos de depressão em crianças e adolescentes vem sendo apresentados nas pesquisas como três vezes mais freqüentes nesta faixa etária quando comparados com adultos. Na adolescência os transtornos de humor são caracterizados por condutas como: redução das atividades diárias, sentimentos negativos, comportamento anti-social, perda da auto-estima, ansiedade e déficits. “O exercício aumenta a auto-estima, ajuda no autoconhecimento corporal e no cuidado com a aparência física, melhora a capacidade funcional, reduz a obesidade e melhora a qualidade de vida dos adolescentes” (p. 15).

    Analisando mais profundamente, Weimberg e Gould (2000), quando fazem referências a outros autores que avaliaram o mesmo tema, relatam a redução da ansiedade, relacionando-a à intensidade e tipo dos exercícios. O tipo de exercício físico mais intenso, principalmente os aeróbicos, parecem modificar positivamente os níveis de ansiedade reduzindo-os por um período entre 2 e 24 horas depois do exercício. Este efeito pode ser estendido por até 15 semanas depois dessa prática aeróbica e apresenta maior efeito benéfico quando a prática do exercício estimula uma freqüência cardíaca até 70 % da freqüência máxima do adolescente, enquanto que as intensidades mais baixas ou moderadas não parecem contribuir na redução da ansiedade. Tais resultados indicam que a atividade física praticada de forma regular, não apenas pode reduzir a ansiedade, como poderia prevenir o desenvolvimento da ansiedade crônica.

    Reforçando a boa relação da prática regular de atividade física e questões relativas a sentimentos e emoções, podemos citar Reed et al. (1998) que em uma pesquisa fazem comparação entre dois grupos. O primeiro, composto por pessoas de vida sedentária, se dedicando a uma atividade mais estagnada, como por exemplo a predominancia da leitura, e o segundo, composto por pessoas ativas, com prática constante de atividade física em suas vidas.

    Ambos os grupos foram submetidos ao exercício e posteriormente a uma seção de leitura e nos dois casos os resultados mostram uma melhoria do estado de humor (afetivo) durante a atividade física, melhora esta que se nota por algum tempo após o término do exercício. Os autores chegaram à conclusão de que existe, de fato, um efeito positivo do exercício físico sobre o humor durante e depois da prática da atividade física, tanto em pessoas sedentárias quanto nas que já ativas.

    Dentre as hipoteses que tentam explicar a ação da atividade física sobre a ansiedade e depressão, uma das mais aceitas é a hipótese das Endorfinas. Segundo Reed et al. (1998), esta hipótese apresenta que a atividade física desencadearia uma secreção de endorfinas capaz de provocar um estado de euforia natural, logo, aliviando os sintomas da depressão e ansiedade.

    Essa idéia, entretanto, não tem concenso entre os pesquisadores. Alguns deles, como Dey (1994) citado por Ballone (2008), por exemplo, preferem acreditar que o exercício físico regularia a neurotransmissão da noradrenalina, da dopamina e da serotonina, igualmente aliviando os sintomas da depressão e da ansiedade. Os neuro transmissores, substâncias que transmitem impulsos nervosos ao cérebro, são responsáveis pelas sensações de bem-estar. Os três principais neurotransmissores relacionados com o humor são a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. A serotonina, responsável pela sensação de bem-estar, proporciona ação sedativa e calmante. Já a dopamina e a noradrenalina proporcionam energia e disposição.

    De acordo com os autores, outra hipótese encontrada é a cognitiva. De natureza eminentemente psicológica, a hipótese cognitiva se fundamenta na melhoria da autoestima mediante a prática do exercício, sustentando que os exercícios em longos prazos ou os exercícios intensivos melhorariam a imagem de si mesmo e, conseqüentemente, a autoestima.

    Como registra Ballone (2008), o bom senso recomenda que sejam pensadas essas hipóteses como partes integrantes de um mesmo sistema, não excludentes, mas integradas. Muito embora não seja possível confirmar ainda e categoricamente alguma relação causal explícita e direta entre a atividade física e a redução da ansiedade e/ou da depressão, o autor apresenta algumas considerações feitas pelo National Institute of Mental Health (órgão estatal norteamericano que avalia a saúde mental) sobre a atividade física e sua relação com o estresse e depressão. A saber: a condição física se encontra positivamente ligada à saúde mental e ao bem estar; a atividade física está associada à redução das emoções relativas ao estresse, tais como o estado de ansiedade; a atividade física está ligada a uma visível redução do nível moderado de depressão e ansiedade; a atividade física, em longo prazo pode ser acompanhada por uma redução dos sintomas neuróticos da ansiedade; as depressões dos tipos moderada-grave ou grave e severa podem exigir um tratamento profissional que necessite a inclusão de medicamentos, a eletroconvulsoterapia ou a psicoterapia.

    Para esses casos mais graves, a atividade física serviria de complemento; uma atividade física adeqüada se acompanha da redução de alguns indicadores de estresse, como por exemplo, a tensão neuromuscular, a freqüência cardíaca em repouso e alguns hormônios relacionados ao estresse (corisol, adrenalina...). No plano clínico, é opinião atual, de acordo com Ballone (2008), que a atividade física produz efeitos emotivos benéficos em quaisquer idade e sexo; registra também que as pessoas com um bom estado físico que necessitam de medicamento psicotrópico podem praticar com total segurança uma atividade física sob vigilância médica.

Papel do Profissional de Educação Física

    Para que o adolescente mantenha uma regularidade e pratique atividade física com prazer, segundo Souza (2007), os profissionais de Educação Física devem recomendar atividades visando o desenvolvimento de várias habilidades, como natação, capoeira, musculação etc., o melhor, no entanto, é deixar o jovem livre para escolher as que o agradam.

    Fazer exercícios é sempre importante, em qualquer idade, e na adolescência pode auxiliar a moldar o corpo e até mesmo a personalidade do praticante. (SOUZA, 2007). De acordo com Carvalho et al citado por Zamai (2009), a implementação da atividade física na infância e na adolescência deve ser considerada prioridade em nossa sociedade, para que esses hábitos sejam incorporados na vida adulta.

    Souza (2007) apresenta que os profissionais da área de saúde devem combater o sedentarismo na infância e na adolescência, estimulando a prática regular do exercício físico no cotidiano e/ou de forma estruturada através de modalidades desportivas, mesmo na presença de doenças, visto que são raras as contra-indicações absolutas ao exercício físico.

    Os governos, em seus diversos níveis, as entidades profissionais e científicas e os meios de comunicação devem considerar a atividade física no adolescente como uma preocupação de saúde pública, divulgando esse tipo de informação e incorporando programas para a prática orientada de exercício físico. (SCHNADELBACH e SARTORI, 2010)

Considerações finais

    Constatamos com este estudo que a adolescência é um período de transição entre a infância e a fase adulta e neste podem surgir complicações de ordem emocional devido aos inúmeros questionamentos e cobranças da sociedade em relação ao futuro. Estes também ocorrem principalmente pelas expectativas que o adolescente cria em torno de si e do mundo, e do medo muitas vezes infundado da realidade que o cerca.

    Cada vez mais a sociedade busca, na prática regular da atividade física, benefícios que possibilitem uma melhor qualidade de vida, assim como a característica de prevenção oferecida por esta, um dos benefícios almejados é a melhora nas condições pertinentes aos problemas de ordem de comportamento, hábitos, atitudes e relacionadas às questões psicológicas.

    Por meio das buscas realizadas verificamos que a prática regular de atividade física pode produzir efeitos antidepressivos e ansiolíticos, protegendo o organismo dos efeitos prejudiciais, melhorando a saúde física e mental de seus praticantes, em especial dos adolescentes, que passam por um período de grandes mudanças e expectativas.

    A prática de atividade física planejada e realizada de forma regular auxilia na diminuição dos níveis de ansiedade nos adolescentes, no entanto, se faz necessário a criação de estratégias para a conscientização de que esta prática deve ser cada vez mais planificada e difundida, visando a melhoria do bem estar e da saúde, não só dos adolescentes, mas da população de forma mais ampla.

    Baseando-se nos registros encontrados constatamos a necessidade de um maior número de estudos sobre o tema que possam evidenciar, de forma mais efetiva, as contribuições advindas da prática regular de atividade física pelos adolescentes para minimizar os problemas de ansiedade típicos desta faixa etária.

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