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Reflexões sobre a avaliação no âmbito da Educação Física escolar

Reflexiones sobre la evaluación en el ámbito de la Educación Física escolar

 

*Pós-Graduando em Educação Física Escolar do Centro de Educação Física e Desportos

da Universidade Federal de Santa Maria-RS CEFD/UFSM, membro do Grupo de Estudos

e Pesquisas em Educação Física do PPGE/UFSM

**Doutor em Educação e Ciência do Movimento Humano

pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Orientador

Professor do Departamento de Metodologia de Ensino e Pós-Graduação

em Educação – PPGE/UFSM, Lider do Grupo de Estudos e Pesquisa

em Educação Física – GEPEF/UFSM

Cassiano Telles*

telleshz@yahoo.com.br

Hugo Norberto Krug**

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esta investigação procurou compreender o que é avaliação e de que forma que esta avaliação deve ser aplicada no âmbito escolar. A metodologia caracterizou-se através de um enfoque bibliográfico com abordagem qualitativa. Concluímos que a avaliação em um contexto geral ainda esta sendo compreendida dentro da Educação Física como uma forma de aperfeiçoamento técnico, sendo que a maioria da literatura encontrada na área ainda nos remete a uma forma técnica de avaliar. O que mais chamou a atenção é que livros derivados da Educação já abordam o tema não sendo uma forma de elitizar, mas sim uma forma de compreensão cultural e humanizadora, que trata o aluno como um ser único e pensante, que a qualquer momento pode questionar e rever estes métodos, tornando a avaliação uma construção do conhecimento e não somente um ato de elitizar os alunos.

          Unitermos: Avaliação. Educação Física Escolar. Reflexivo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introduzindo a investigação

    Entre os muitos assuntos discutidos na Educação Física Escolar, um em especial emerge em nossas reflexões quase que cotidianas. E é neste sentido que neste estudo enfatiza a avaliação na Educação Física Escolar, englobando desde a necessidade da discussão sobre o tema até a sua importância na prática docente.

    Não podemos afirmar que este seja um assunto pouco estudado na Educação Física Escolar, mas acreditamos que sua prática não esteja conseguindo acompanhar as discussões e descobertas freqüentes do assunto em questão.

    Apartir deste pressuposto que reinsistimos em abordar a avaliação como sendo algo muito maior que somente produzir notas e resultados. E sim a avaliação é um processo de construção do conhecimento, fundamental para o processo de ensino/aprendizagem tanto do aluno como do professor, como diz Freire (1996, p.25) “assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a produção ou a sua construção.”

    Partindo desta fala podemos dizer que a formação do professor também passa pelo processo de avaliar, apartir de uma concepção de que esta avaliação não pode ser mediada e sim construída juntamente com o aluno, respeitando suas individualidades através da prática do ensino. Segundo Krug (2001, p. 40) “A Prática de Ensino deve ser um período de intensa aprendizagem para professores e alunos, que juntos analisem e busquem definir a mais adequada estratégia de intervenção pedagógica. É no período [...] da prática escolar, que acontecem transformações e aperfeiçoamentos na própria [...] prática de ensino”.

    Sendo assim é importante que o professor reflita sobre a sua própria prática, encontrando alternativas para que esta forma de avaliação utilizada seja importante para a melhora no processo de compreensão e clareza tanto do aluno quanto do professor.

    Então apartir destes pressupostos chegamos ao objetivo geral que é: Compreender através de uma investigação bibliográfica, o que é avaliação e como devemos aplicá-la.

A metodologia da investigação

    O estudo realizado se situa na perspectiva de tentar compreender a avaliação dentro do contexto da Educação Física Escolar através de uma abordagem qualitativa.

    Para este Richardson (1989, p.39: diz que: “Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuindo no processo de mudança de determinado grupo, possibilitando, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos”.

    Para este, foi realizada uma investigação bibliográfica que segundo Gil (2002, p. 44) “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos, periódicos e atualmente com materiais disponibilizados na internet.”

    Assim sendo:

Os resultados da investigação

1.     Avaliação

    No contexto educacional muitas são as discussões envolvendo a avaliação prática pedagógica na Educação Física Escolar. Castro (1992, p13) diz que “a avaliação não deve ser vista como uma caça aos incompetentes, mas como uma busca de excelência pela organização escolar como um todo”.

    Mas o que tudo indica, esta organização escolar possui muitos furos e um destes é a organização dos conteúdos na Educação Física Escolar. Um grande numero de professores ainda ou como um método único utilizando como resposta a avaliação do testar, observar, medir ou atribuir qualquer nota, achando que isto é avaliar.

    Kiss (1987, p.3) descreve a avaliação em Educação Física através de objetivos, critérios, reformulação e objetivos, para clarear ainda mais descreve que “a avaliação constitui uma fase especifica e distinta dentro de um ciclo dinâmico” dizendo que a avaliação é algo especifico, único e solitário.

    Para Kiss (1987, p. 2) a “avaliação: é a interpretação dos resultados obtidos pelas medidas clássicas, ou comparação de qualidade do aluno ou atleta, com critérios também pré-estabelecidos” Salvia e Ysseldyke (1991, p.13) vê a avaliação como “um processo de coleta de dados com dois propósitos: primeiro especificação e verificação de problemas, segundo tomada de decisões sobre e pelos alunos”.

    Não queremos questionar as concepções pessoais dos autores citados anteriormente, mas como sabemos, estas são apenas técnicas utilizadas pelos professores como referências básicas, para fundamentar isto Melchior (1994, p.17) diz que “atribuir uma nota é, apenas, expressar os resultados e não avaliar”... “Avaliação só com essa concepção não é necessária e nem deveria ser feita”.

    Segundo Soares et al (1994, p.97):

    Estas limitações decorrem, basicamente, do entendimento restrito sobre avaliação do ensino e, ainda, por se buscar esse entendimento a luz de paradigmas (referências filosóficas, cientificas, políticas) tradicionais, insuficientes para a compreensão desse fenômeno educativo em uma perspectiva mais abrangente.

    Estes métodos utilizados pelos autores como Kiss (1987) e Salvia e Ysseldyke (1991), decorrem de uma corrente positivista, que ainda está presente nos cursos de Educação Física, devido à formação adquirida pelos docentes do mesmo, que ocorre em uma era onde a cultura física era predominante. Como todos sabem a Educação Física em sua história nos mostra que ela era tão somente praticada para fins militares, esportivos, higiênicos e rítmicos, adquirindo apartir da década de 1970, mas tomando força na década de 1980, através do incremento de pesquisas na área e ampla discussão pedagógica, tornando-a mais próxima de algumas áreas da Educação.

    Mas ainda tentando com que se solidifique esta teoria, tentando modificar a realidade positivista e fazendo com que a Educação Física Escolar torne-se uma base de formação/educação, Bracht (1999, p. 33) diz que:

    Uma prática intervenção e o que a caracteriza é a intenção pedagógica com que se trata um conteúdo que é configurado/retirado do universo da cultura corporal do movimento. Ou seja, nós, da Educação Física, interrogamos o movimentar-se humano sob a ótica do pedagógico.

    Ou seja, avaliação é muito mais que aplicar testes ou realizar observações, avaliar é verificar o quanto o aluno é capaz de realizar determinadas atividades propostas, o estimulando para o próprio desenvolvimento através de uma reflexão sobre suas competências e objetivos.

    Krug (2001, p. 39) salienta que:

    “ao refletir sobre o ecossistema peculiar da aula, o professor não se limita a deliberar sobre os meios, separando-os da definição do problema e da metas [...] construindo uma teoria adequada para o cenário e situação encontrada.”

    Apartir disto chegamos ao pensamento que esta mesma avaliação deve ajudar tanto o professor quanto ao aluno a se auto-compreender, para que cheguem a uma auto-avaliação, realizando uma reflexão conjunta das mudanças que poderão vir a ocorrer.

    Para Boa Vida et al (1992, p.3) “a avaliação só tem sentido se for acompanhada por uma mudança de atitudes, por uma concepção diferente do que seja [...] isto é, qual sua função, o que é que se deve pedir, como devemos atuar, em suma, quais são os objetivos.”

    Mas que para que tudo isto venha a ocorrer na Educação Física Escolar, devemos exigir do professor um melhor preparo, mas não um preparo nos aspectos técnicos e sim um preparo pedagógico reflexivo. Krug (2001, p.30) diz que “a racionalidade técnica dominante nos currículos de formação de professores, cuja intenção é resolver o problema da prática através da aplicação de teorias derivadas da investigação acadêmica, revela-se insuficiente em situações de confusão e de incerteza que os professores enfrentam no desempenho de suas atividades”.

    Avaliação não é algo que podemos aferir, verificar, entre outros, mas sim a avaliação se faz com elementos vinculados ao processo pedagógico, procurando realizar atividades quem façam com que a avaliação seja uma preocupação nas atividades.

2.     Qual a avaliação que devemos aplicar

    Neste tentamos fundamentar o porquê estarmos atrás de uma avaliação que chegue o mais próximo do ideal. Mas o que é uma avaliação ideal? Para melhor entender explano uma situação que ocorre com a maioria dos professores de Educação Física Escolar.

    Quando chegamos à escola e no momento de apresentação da prática pedagógica que será desenvolvida com o passar do ano letivo, a palavra avaliação é a que mais mexe com a turma em modo geral. Ainda mais se tratando de Educação Física, sempre tem aquele aluno que pergunta “professor vai ter prova e trabalho?”, por incrível que pareça, todos param as conversas paralelas para escutar, com caras de espanto, como se aquela palavra os fossem ferir.

    Podemos dizer que a escola trata esta palavra mesmo como uma fonte de resultados, que acaba por elitizar os alunos, sendo que esta tem uma função de controle do que o aluno está ou não está aprendendo. Como diz Melchior (1994, p.20) “Avalia-se para atribuir um resultado e o aluno estuda para obter uma nota. A conseqüência deste ciclo é o temor que os estudantes, em geral, têm em avaliações e, especialmente, de testes escolares. Pois, quando a avaliação é feita apenas como função de controle, são considerados somente os momentos avaliativos, representados por um teste, trabalhos em grupo ou individual.”

    Isto vem por fundamentar a pergunta que o aluno faz, partindo de um pressuposto de que é isto que o mesmo entende por avaliação ou o qual talvez ele tenha passado com professores anteriores.

    Apartir desta podemos dizer, que muitas são as contradições nos livros que abordam este tema “avaliação”, sendo que alguns autores defendem o modelo tradicional de avaliar em Educação Física Escolar como:

    Bloom et al (1983) que realizam três tipos de avaliação: a diagnóstica, a formativa e a somativa. A primeira é a identificação de capacidades, a segunda aponta para a identificação de alguma dificuldade encontrada, a fim de alcançar os objetivos e por fim a somativa, que observa os resultados alcançados.

    Giannichi (1984) e Di Dio (1980) como Bloom classificam a avaliação em três fases, a diagnóstica, formativa e somativa. A primeira detecta as condições do aluno observando os pontos fortes e fracos, a segunda indica modificações e a terceira é a verificação final.

    Como sabemos estas formas de avaliar não passam de elitizar o aluno, atribuir notas para uma classificação e exclusão dos mais fracos (dito por este método).

    Partindo de um viés que a avaliação parte de uma perspectiva do educar/ensinar, e que a proposta deve partir de um pressuposto de que o aluno deve se auto-avaliar juntamente com o professor buscando alternativas e soluções para seu desenvolvimento intelectual e não mecânico, como diz Freire (1996, p.77) “a memorização mecânica do perfil do objeto não é aprendizado verdadeiro [...] funciona muito mais como um paciente da transferência de conteúdo do que um sujeito crítico, curioso que constrói ou participa da construção”, que chegamos a esta nova forma de pensar avaliativo.

    Para o Coletivo de Autores (1992), o fato de provermos de testes, medidas e observações, entre outros instrumentos e não optarmos por refletir estas próprias práticas, acaba por nos tornar celetistas, discriminatórios, observando que sem considerarmos as conseqüências pedagógicas decorrentes, as políticas e sociedades advindas desta ação de avaliar, não estaremos atentos as limitações provindas dos conteúdos.

    Já Melchior (1994, p.59 a p.73) trata a avaliação como sendo integral, ela diz que: “a avaliação é parte integrante do processo de ensino aprendizagem, devendo também ser integral com o processo de desenvolvimento do educando.” Ela defende a avaliação em áreas distintas como: Área Afetiva onde se deve avaliar as atitudes, Área Psicomotora onde defende a utilização de instrumentos para observações informais e Área Cognitiva onde relaciona os aspectos a objetivos.

    Duarte (1994, p.83) estabelece uma ação de avaliar com a relação social: “por mais que os especialistas de avaliação queiram construir desta uma imagem abstrata e asséptica, a avaliação escolar tem de integrar os indivíduos, as organizações, os conflitos, as racionalidades contraditórias, o implícito e não o implícito”.

    Apartir destes podemos observar que a Educação Física Escolar ainda provem de uma corrente tradicional, impregnada devido ao passado que a possui mesma possui. Mas considerando que a escola é um espaço de transformações, sociais e políticas, ainda podemos sonhar com que esta realidade possa mudar, dando oportunidades e não excluindo.

Concluindo a investigação

    Observamos que da mesma forma com que possuímos diferentes características nos tornando seres únicos no mundo, devemos obter condições iguais de aprendizagem, compreendendo e respeitando as limitações de cada um, destacando que as formas eletrizadoras utilizadas por muitos acabam por determinar quem esta ou não apto a novos conhecimentos.

    Este método usado não pode determinar grandes capacidades encontradas em um ser humano como a reflexão, pensamento lógico, capacidade de decisões entre outros.

    Por tudo isso que devemos ter uma Educação Física Escolar, que nos permitam sermos críticos, autônomos, termos a consciência do que estamos fazendo ou deixando de fazer, não por determinação de alguém ou por que não queremos ser diferentes dos outros, mas sim por ter a consciência de que isto é bom para meu desenvolvimento quanto ser.

    Acreditamos que possuímos a necessidade de avançarmos, para uma Educação Física Escolar mais humanizadora, dando um rumo diferente no qual a avaliação vem tomando.

    Precisamos ajudar a desenvolver um conceito mais realista, evitando o individualismo, a seletividade e a reprodução, mostrando para o aluno que existe a possibilidade da autonomia e da construção de sua identidade apartir da reflexão.

Referências bibliográficas

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