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Efeitos hormonais da suplementação de carboidratos durante o exercício

Hormonal effects of carbohydrate supplementation during the exercise

 

*Faculdade Dom Bosco, Departamento de Educação Física, Curitiba, PR

**Universidade Federal do Paraná, Departamento de Educação Física

Curitiba, PR

(Brasil)

Renata Teixeira Mamus Gomes*

rtmamus@yahoo.com.br

Maria Gisele dos Santos**

mariagisele@yahoo.com

 

 

 

 

Resumo

          Estudos sobre a baixa ingestão de carboidratos durante o exercício evidenciam importantes alterações no sistema neuroendócrino, como o aumento na concentração de cortisol e a diminuição na concentração de insulina e glicose sanguínea. Tais alterações são diretamente relacionadas ao aumento da duração do exercício, as quais podem ser minimizadas significativamente com a ingestão de carboidratos imediatamente antes e durante o exercício. Verifica-se então a importância de demonstrar através de estudos estas alterações bioquímicas após a ingestão de soluções com carboidratos antes, durante e após o exercício que podem retardar os efeitos que levam a fadiga.

          Unitermos: Carboidratos. Suplementação. Hormônios. Exercício.

 

Abstract

          Studies on the low intake of carbohydrates during exercise show important changes in the neuroendocrine system, as the increase in the concentration of cortisol and the decrease in the concentration of blood glucose and insulin. Such changes are directly related to increased duration of the exercise, which can be minimized significantly with the intake of carbohydrates immediately before and during exercise. There is then the importance of these studies demonstrate through biochemical changes after the intake of carbohydrates with solutions before, during and after exercise that can delay the effects that lead to fatigue.

          Keywords: Carbohydrates. Supplementation. Hormones. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A demanda energética durante o exercício é aumentada à medida que a intensidade deste também aumenta, devendo haver mais glicose disponível nos músculos. Para que haja essa disponibilidade, a glicose deve ser liberada das reservas musculares e hepáticas, e portanto, a glicogenólise e gliconeogênese devem aumentar1.

    Durante o exercício, impulsos nervosos motores desencadeados no cérebro (“comando central”), originados no nervo sensor muscular, estimulam ou inibem a liberação de hormônios2.

    Inicialmente, as secreções hormonais são rápidas, antecipando as necessidades metabólicas e cardiovasculares necessárias para suportar as demandas impostas pelo exercício2.

    Estas alterações hormonais manifestam-se de maneira mais intensa com o aumento da intensidade do exercício, ocorrendo então a fadiga. Essas modificações também acontecem ou se intensificam para que o indivíduo suporte principalmente as alterações fisiológicas que ocorrem durante exercício intenso3.

    Verifica-se que um dos sinais mais importantes envolvidos no controle do sistema neuroendócrino, é a diminuição na concentração da glicose sanguínea4,5, correspondentes aumentos nas concentrações de cortisol6,7 e quedas na insulina5,8, os quais são demonstrados claramente em estudos com exercício envolvendo uma baixa ingestão de carboidratos.

    Estes hormônios, com freqüência referenciados como glicorreguladores, possuem um papel primário em manter a concentração da glicose sanguínea em níveis normais.

    As respostas desses hormônios glicorreguladores para o exercício prolongado e extenuante são mais pronunciados com o aumento da duração do exercício, ou seja, quando a disponibilidade de carboidrato se torna limitada e a fadiga se desenvolve. As pequenas alterações que acontecem, principalmente no início do exercício, são específicas para que ocorra mobilização extra de nutriente energético, destinado a atender a demanda do exercício, dessa forma, modificando o metabolismo e mantendo a glicemia em nível normal2.

    As grandes alterações hormonais que ocorrem na fase final do exercício, quando a fadiga está se instalando, são causadas pela depleção do glicogênio hepático e muscular, pela incapacidade do organismo em manter a glicemia2.

    Todavia, essas respostas dos hormônios glicoreguladores podem ser alteradas de forma significativa com a ingestão de carboidratos imediatamente antes e durante o exercício, a qual demonstra uma atenuação dos aumentos típicos no cortisol e diminuição da insulina. Estas respostas geralmente suportam a premissa de que a manutenção da glicose sanguínea é o papel primário destes hormônios durante o exercício prolongado2.

    Verifica-se então a importância das ações hormonais para o exercício e desempenho físico pelo fato de estarem envolvidas na maioria dos processos fisiológicos1, valendo ressaltar que, especificamente o exercício de longa duração, serve como um estímulo em potencial para aumentos ou quedas agudas nas concentrações dos hormônios circulantes, bem como no lactato9.

Concentrações plasmáticas da glicose

    Normalmente, as concentrações de glicose no sangue variam de 80 a 100 miligramas por decilitro de sangue, e para ajudar na manutenção desta concentração, o corpo possui uma variedade de mecanismos, sobretudo hormônios como a insulina, a qual é liberada pelo pâncreas quando há um aumento da glicose sanguínea, além de facilitar a captação e utilização da glicose por vários tecidos do corpo10.

    A concentração da glicose sanguínea pode elevar-se através de alimentos com alto índice glicêmico, resultando em hiperglicemia (>140 mg por cento) a qual provocará um aumento de secreção de insulina no pâncreas. Em conseqüência, haverá um rápido e talvez excessivo transporte de glicose sanguínea aos tecidos, que resultará em hipoglicemia (<40-50 mg por cento)10.

    Em uma situação específica como durante um exercício que tenha uma duração de 30 minutos ou mais, WILMORE & COSTILL10 relatam que as concentrações de insulina tendem a baixar, embora a concentração de glicose possa permanecer relativamente constante. Durante essa situação, a quantidade de receptores da insulina aumenta, elevando a sensibilidade do organismo a esse hormônio, e reduzindo a necessidade de manutenção de concentrações plasmáticas elevadas para o transporte de glicose para o interior das células musculares.

    Porém, o principal problema da glicose sanguínea é o seu suprimento limitado, pois à medida que é utilizada durante a atividade física terá que ser reposta através do glicogênio hepático, o qual não consegue acompanhar o mesmo ritmo de utilização da glicose pelos músculos, podendo levar facilmente à hipoglicemia. Como a hipoglicemia pode interromper o funcionamento do sistema nervoso central, o corpo esforça-se para manter a concentração ideal de glicose, por isso as concentrações de insulina em geral caem durante o exercício (5,8) com o intuito de manter a glicose sérica10.

    Vários estudos descrevem essas alterações decorrentes do exercício de resistência, mas principalmente as investigações tem demonstrado interesse nas respostas bioquímicas decorrentes da ingestão de carboidratos.

    Pode-se verificar, por exemplo no estudo de HOROWITZ et al11, que após a ingestão de 0.8 g/Kg/peso de glicose, frutose e placebo 1 hora antes do exercício em cicloergômetro (60 minutos) à 44±2% VO2mx, a concentração de insulina foi elevada após a ingestão de ambos tipos de carboidratos quando comparado com o grupo placebo, enquanto que após 50 minutos do período de recuperação, essa concentração foi maior no grupo que ingeriu glicose. Da mesma forma ocorreu com a concentração de glicose plasmática que não teve diferença entre os testes durante o exercício, demonstrando valores significativos somente no período de 50 minutos após o término do exercício e quando ingerido glicose.

    PÉRONNET et al12 investigaram a oxidação de glicose durante o exercício prolongado após dietas altas e baixas de carboidratos em seis atletas. O protocolo correspondeu à ingestão de refeições com baixo conteúdo de carboidrato (27%) e alto (80%) durante dois dias anteriores ao teste. No dia do teste, todos os atletas ingeriram 50 g de CHO em 400 ml de água, 20 minutos antes do início do teste no cicloergômetro, e durante este, ingeriram 37.5 g de glicose em 300 ml de água após, 20, 40, 60 e 80 minutos, totalizando 200g de glicose em 1.600 ml de água. A resposta da insulina foi similar em ambas situações de dieta, porém no início do exercício no cicloergômetro, a queda da insulina foi mais acentuada no grupo de atletas que realizaram refeição com alto conteúdo de carboidrato. A concentração de glicose plasmática após a ingestão de solução de CHO realizada antes do teste no cicloergômetro, foi significativamente maior quando comparada com o grupo que realizou refeição com baixo conteúdo de CHO e manteve-se estável durante todo o período do teste, ao contrário do lactato que manteve-se estável no início do teste em ambas as dietas, e ligeiramente alto no grupo que realizou refeição com alto conteúdo de CHO.

    Outro estudo13 determinou o efeito da ingestão de carboidratos durante exercício em seis homens treinados. O protocolo utilizado foi composto de dois testes de 2 horas em cicloergômetro em ocasiões diferentes e separadas por um mínimo de 3 dias. Numa primeira ocasião, os atletas pedalaram em uma baixa intensidade (25% VO2mx) ingerindo uma solução com alto índice glicêmico (99±4) após 30 minutos (0.8 g/Kg/peso), 60 minutos (0.4 g/Kg/peso) e 90 minutos de exercício (0.4 g/Kg/peso); e numa segunda ocasião realizaram a mesma ingestão, mas durante um teste de intensidade moderada no cicloergômetro (68% VO2mx). Os resultados demonstraram que a concentração do hormônio insulina durante os 60 minutos do teste de baixa intensidade, aumentou aproximadamente 3 vezes mais, e manteve-se significantemente elevada. Durante o teste de intensidade moderada essa concentração diminuiu progressivamente e foi muito baixa no final do exercício (120 min). A concentração de glicose manteve-se próxima dos níveis basais até os 60 minutos de teste de baixa intensidade, quando teve um aumento de 30% após a ingestão de CHO (0.4 g/Kg/peso). E durante teste de intensidade moderada, essa concentração diminuiu aproximadamente 25% durante a segunda hora de exercício.

    Para determinar a influência da ingestão de carboidratos antes e após o exercício de resistência, MITCHELL et al14 utilizaram-se de 10 atletas que pedalaram durante 60 min a 75% VO2mx após ingerirem uma dieta alta (8.0 g/CHO/Kg) ou baixa de CHO (0.5 g/CHO/Kg). Após o exercício, verificou-se que os níveis de glicose sanguínea na condição de dieta alta de CHO foram significativamente maiores do que na condição de dieta baixa de CHO. Da mesma forma encontrou-se resultados similares para os níveis do lactato sanguíneo, além de apresentar também altas concentrações na fase pré-exercício.

    WHITLEY et al15 realizaram estudo com 8 ciclistas após a ingestão de refeição contendo alto conteúdo de CHO (215g) e após 4 horas, exercício em cicloergômetro durante 90 min a 70% VO2mx. Quando comparou-se os atletas que ingeriram refeição com alto conteúdo de CHO com aqueles que ingeriram baixo conteúdo (50g), as concentrações de glicose sanguínea diminuíram em ambos os testes durante os primeiros 15 minutos de exercício e manteve-se constante até os 45 minutos, declinando durante os últimos 30 minutos de exercício. Similarmente, as concentrações de insulina tiveram o mesmo efeito, apresentando maiores elevações na condição com alto conteúdo de CHO, enquanto que as concentrações de lactato não tiveram diferenças significativas.

    Pesquisadores16 estudaram os efeitos da ingestão de CHO em 10 triatletas. Após a ingestão de solução à 6% de CHO (maltodextrina) ou igual volume de placebo a cada 15 minutos durante 2.5h de corrida e ciclismo a 75% VO2mx, observou-se que as concentrações de glicose sanguínea e insulina foram mais elevadas imediatamente após o exercício na condição CHO comparada com a condição placebo. Já as concentrações de lactato não diferiram entre as diferentes condições.

    Verificaram em estudo17 que após a ingestão de um solução de 250 ml de CHO (maltodextrina-8%) e placebo, imediatamente antes e a cada 15 minutos durante o exercício em cicloergômetro (80-90 rpm) realizado por oito atletas, a concentração da insulina foi mais alta no grupo suplementado durante o exercício (60 e 120 minutos) quando comparado com o grupo placebo, sendo que no ponto de fadiga (≤ 60 rpm) os valores foram similares. Os níveis de glicose plasmática em descanso foram similares em ambos os testes, porém foram maiores durante o exercício quando houve a ingestão de CHO, enquanto que os níveis de lactato aumentaram similarmente durante o exercício nos dois testes.

    No entanto, BOWTELL et al18 utilizaram um protocolo no qual atletas consumiram 330 ml de uma das três bebidas contendo carboidratos (18.5% polímeros de glicose, 18.5% de sacarose e 12% de sacarose) antes de teste em cicloergômetro (70% VO2mx). A insulina plasmática foi aumentada após o consumo de 18.5% de polímeros de glicose e sacarose, e houve uma tendência para um aumento durante a segunda hora de recuperação com a bebida contendo polímeros de glicose comparada com a sacarose. Os autores concluíram que o aumento da resposta da insulina em relação à ingestão de polímeros de glicose, estimulou a síntese de glicogênio através do aumento do transportador GLUT-4 e a ativação do glicogênio sintetase. A glicose plasmática também foi aumentada após a ingestão dos 3 tipos de bebidas, sendo significantemente maior após o consumo da bebida contendo polímeros de glicose. As concentrações de lactato no final do teste foram ligeiramente elevadas quando comparadas com os níveis basais em repouso, sendo que este nível basal foi maior após ingestão de 12% de sacarose.

    Em outro estudo19 com o intuito de verificar os efeitos da ingestão de carboidrato (maltodextrina) em uma solução de 250ml à 8% a cada 15 minutos durante 2 horas de exercício (65% VO2 max), ou igual volume de placebo, verificaram que os níveis da glicose plasmática e insulina foram significantemente mais elevados na condição CHO, enquanto que os níveis de lactato não diferiram entre as condições.

    FEBBRAIO et al20 também verificaram em estudo os efeitos da ingestão de CHO (glicose) antes e durante o exercício quanto à cinética da glicose e performance. Sete atletas pedalaram durante 120 min a 63% VO2 max. Em 4 ocasiões separadas, os atletas receberam bebidas contendo CHO 30 minutos antes do respectivo exercício e durante o mesmo, em concentrações à 6.4% ou 25.7% de CHO. Observaram após o respectivo teste que, as concentrações de glicose plasmática elevaram-se após o consumo de CHO pré-exercício aos 10, 20 e 30 minutos pós-ingestão comparado com uma condição placebo. Da mesma forma, as concentrações de insulina tiveram o mesmo efeito.

    Outro estudo21 com objetivos semelhantes ao descrito anteriormente observou que, após a ingestão de solução à 6% de CHO (maltodextrina) durante exercício até a exaustão (83 ± 1% VO2 max.) em treze triatletas e ciclistas, as concentrações de glicose plasmática foram mais altas durante o exercício quando comparada com a condição placebo. Já as concentrações de insulina declinaram significativamente em ambas condições (CHO e placebo), e os níveis de lactato foram similares tanto em descanso como durante o exercício.

    Ainda em estudo22 com oito ciclistas com o objetivo de investigar os efeitos da ingestão de CHO durante exercício em cicloergômetro (62% VO2 max.), relatam que, após a ingestão de bebida com CHO (6%), houve um rápido aumento nas concentrações de glicose e insulina. As concentrações de lactato apresentaram aumento significativo somente do 19º minuto ao 109º minutos de exercício (total tempo exercício = 121min.).

    GALLOWAY et al23 relataram estudo com 6 atletas após desenvolverem exercício até a exaustão em cicloergômetro (80% VO2 max), com ingestão de soluções com CHO (maltodextrina) imediatamente antes e a cada 10 minutos do exercício. As soluções tinham concentrações de 2, 6 ou 12%. Os resultados obtidos dessa investigação foi de que a concentração de glicose sanguínea foi afetada pelas diferentes soluções, sendo significantemente maior durante o exercício com as soluções 6 e 12% comparado com a ingestão de solução placebo (0%). Nenhum efeito da ingestão das soluções com CHO foi observado na resposta do lactato sanguíneo.

    Com o intuito de verificar os efeitos da ingestão de CHO na cinética da glicose durante o exercício, realizaram24 protocolo experimental com 6 atletas de resistência, os quais completaram 60 min de exercício a 68 ± 2% VO2 max em duas ocasiões separadas por 1 semana. Os atletas ingeriram soluções à 6% de glicose (CHO) ou placebo (PL). Após os testes, os autores encontraram resultados de que as concentrações de glicose plasmática foram mais altas na condição CHO após 40 min de exercício, enquanto que as concentrações de insulina e lactato não tiveram diferenças significativas entre as condições.

    WELSHE et al25 em estudo com sujeitos fisicamente ativos com o intuito de designar os efeitos da ingestão de soluções à 6% de CHO (maltodextrina) durante 60 minutos de exercício, relatam que as concentrações de glicose sanguínea e insulina foram significantemente elevadas quando comparadas com os sujeitos que ingeriram solução placebo, ao contrário das concentrações de lactato que não obtiveram diferenças significativas entre as diferentes condições.

    IVY et al26 realizaram estudo com 7 ciclistas após pedalarem por 2.5h para depleção dos estoques de glicogênio, os quais receberam suplementos líquidos com alto conteúdo de CHO (108g) e baixo (80g) imeditamente após o exercício (10 min.) e 2h após. Dentro dos 30 minutos após a ingestão do primeiro suplemento, os níveis de glicose dos ciclistas aumentaram significantemente com o suplemento com alto conteúdo de CHO. Entretanto, as concentrações de insulina não diferiram entre os tratamentos, assim como o lactato, embora tenha apresentado elevação significativa durante o exercício.

    Em estudo27 com o propósito de investigar os efeitos da disponibilidade de carboidrato durante uma competição de maratona, observaram que, após a ingestão de 650ml de bebida com CHO (6%) no período de 30 minutos antes da competição e 500ml a cada 3,2 Km de maratona, as concentrações de glicose plasmática, insulina e lactato foram significantemente mais elevadas quando comparadas com os maratonistas que ingeriram placebo.

    NIEMAN et al28 verificaram a influência da ingestão de carboidratos em 16 maratonistas após dois testes em esteira ergométrica (3h) em duas ocasiões separadas por 4 semanas. No dia do teste, os maratonistas ingeriram 15-30 minutos antes uma solução de maltodextrina a 6% (CHO) e solução placebo (PL), e a cada 15 minutos deste. Os resultados desse estudo mostraram que após o exercício os níveis da insulina e glicose plasmática foram significantemente diferentes entre os grupos CHO e PL, indicando um nível mais elevado de ambas as concentrações para o grupo suplementado (CHO).

    AINSLIE et al29 também encontraram níveis altos de insulina durante atividade de caminhada na montanha (21 Km). Verificaram que após a ingestão de uma refeição com baixo teor energético (616 Kcal), as concentrações de insulina foram omitidas imediatamente após o exercício comparado com valores pré-exercício; enquanto na condição de alto teor energético (3,019 Kcal) essas concentrações foram significativamente elevadas em todo o percurso. As concentrações de glicose plasmática foram significativamente menores imediatamente após a caminhada no grupo placebo.

    Em estudos como o de BORSHEIM et al30 com o propósito de investigar os efeitos da ingestão de 100g de CHO 1h após exercício de resistência em dezesseis atletas fisicamente ativos, verificaram que, após o exercício, os níveis de glicose sanguínea e insulina aumentaram de forma significativa quando comparado com o grupo que ingeriu placebo.

    Os efeitos da ingestão de CHO durante exercício de resistência também foi analisado em 12 atletas os quais realizaram exercício em cicloergômetro (75-80% VO2 max) e consumiram bebidas contendo maltodextrina (250ml com 15g/CHO) ou volume similar de placebo a cada 15 minutos de exercício. As concentrações de glicose sanguínea foram significativamentes mais elevadas imediatamente pós-exercício nos atletas que ingeriram maltodextrina, quando comparadas com aqueles que ingeriram placebo31.

    E ainda, em outro estudo32 com dezesseis maratonistas, verificou-se que, após a realização de 3h de maratona sob a ingestão de bebidas com maltodextrina (6%) ou placebo, 15-30 minutos antes da corrida e a cada 15 minutos dessa, houveram alterações significativas nas concentrações de glicose, insulina e lactato, apresentando-se com níveis mais altos pós-corrida sob a condição CHO.

    Existem outros hormônios que ajudam a manter ou aumentar as concentrações de glicose na sangue durante o exercício, como o cortisol, que sofre determinadas respostas mediante o exercício. Este hormônio regulador normalmente aumenta durante os estágios finais do exercício prolongado, quando o nível de carboidrato endógeno diminui significativamente33.

    De acordo com NIEMAN et al6 e THUMA et al7, o exercício prolongado e extenuante pode causar quedas previsíveis na glicose sanguínea e correspondentes aumentos nas concentrações de cortisol.

    Com os níveis de cortisol aumentados durante o exercício, o catabolismo protéico aumenta ainda mais, liberando aminoácidos para serem utilizados pelo fígado (gliconeogênese)1. WILLIAMS10 coloca que as concentrações de cortisol normalmente aumentam durante o estresse do exercício, assim como a glicose sanguínea que geralmente aumenta durante os estágios iniciais do exercício e é mantida por esses mecanismos hormonais.

    Verifica-se que, em estudos que se utilizaram de protocolos tipicamente similares onde houve a ingestão de 30 a 60 g de CHO por hora durante o exercício, foram encontrados resultados de que essa ingestão atenuou as respostas dos hormônios glicoreguladores. Em contraste, quando sujeitos ingeriram somente 13 g carboidrato por hora durante exercício a 70% VO2max, não houve efeito no cortisol nem na insulina 34.

    WHITLEY et al15 investigaram em oito ciclistas os efeitos da composição da refeição pré-exercício nas variáveis metabólicas e de performance durante exercício de endurance. Os autores concluíram que, após a ingestão de refeição contendo alto conteúdo de carboidrato (215g), 25,8 g de proteína e 3.3g de gordura, ingerida 4 horas antes de teste no cicloergômetro a 70% VO2mx (90 minutos), quando comparada com uma refeição com baixo conteúdo de carboidrato (50g CHO, 80g gordura e 14g proteína) ou em jejum, as concentrações de cortisol aumentaram progressivamente durante o exercício.

    Em outro estudo, NIEMAN et al16 verificaram que após a ingestão de soluções de carboidrato (6%) durante exercício de 2,5 horas à 75% VO2mx, realizado por 10 triatletas, a concentração de cortisol plasmático foi significativamente diferente em relação à condição de placebo, e os valores tenderam ser menores no grupo suplementado na maior parte do período de recuperação.

    MITCHELL et al14 utilizaram-se de 10 atletas para determinar a influência da ingestão de carboidratos antes e após o exercício de resistência. Os respectivos atletas pedalaram durante 60 min a 75% VO2mx após ingerirem uma dieta alta (8.0 g/CHO/Kg) ou baixa de CHO (0.5 g/CHO/Kg). Os resultados demonstraram que as concentrações de cortisol apresentaram-se em níveis mais baixos sob a condição com alto conteúdo de CHO comparado com a condição de dieta baixa de CHO.

    McCONELL et al21 também observaram os efeitos dos níveis de cortisol em estudo realizado com triatletas durante exercício intenso de endurance, no qual verificaram que após a ingestão de solução de glicose (6%) durante um exercício à 83% VO2mx até exaustão, o nível do cortisol plasmático aumentou significativamente durante o exercício.

    Outro estudo24 com o intuito de verificar os efeitos da ingestão de CHO na cinética da glicose durante o exercício, realizou protocolo experimental com 6 atletas de resistência, os quais completaram 60 minutos de exercício a 68 ± 2% VO2 max em duas ocasiões separadas por 1 semana. Após a ingestão de soluções à base de glicose (6%) ou placebo durante o exercício, nenhuma diferença significativa foi encontrada entre as concentrações de cortisol quando comparadas as condições CHO e placebo.

    Com o propósito de investigar os efeitos da disponibilidade de carboidrato durante uma competição de maratona, UTTER et al27 observaram que, após a ingestão de 650ml de bebida com CHO (6%) no período de 30 minutos antes da competição e 500ml a cada 3,2 Km de maratona, as concentrações de cortisol foram significativamente mais elevadas na condição placebo quando comparadas com os maratonistas que ingeriram a solução com CHO.

    AINSLIE et al29 ao investigarem os efeitos da ingestão de uma refeição com baixo teor energético (74 g CHO, 26g gordura e 15 g proteína - 616 Kcal) em atividade de caminhada na montanha (21 Km), verificaram que as concentrações de cortisol foram significantemente mais altas após o exercício quando comparado com a ingestão de refeição com alto teor energético (401 g CHO, 135g gordura e 74g proteína - 3,019 Kcal).

    Com o objetivo específico de investigar os efeitos da ingestão de CHO na resposta do hormônio cortisol, realizaram estudo35 com seis ciclistas os quais pedalaram por 2.5h a 85% VO2 max. Cada ciclista consumiu igual volume de bebida com CHO (6% - 3.2g/maltodextrina/Kg) ou placebo a cada 15 minutos do exercício. A concentração de cortisol foi significativamente mais baixa imediatamente pós- exercício na condição CHO comparado com placebo.

    Verificaram também em estudo28 a influência da ingestão de carboidratos em 16 maratonistas após dois testes em esteira ergométrica (3h) em duas ocasiões separadas por 4 semanas. No dia do teste, os maratonistas ingeriram 15-30 minutos antes uma solução de carboidrato a 6% (CHO) e solução placebo (PL), e a cada 15 minutos deste. Os resultados desse estudo mostraram que após o exercício os níveis de cortisol declinaram em 24% e 3.4% nos maratonistas que ingeriram CHO e placebo, respectivamente.

    Em estudos como de UTTER et al32, verificaram que, após a realização de 3h de maratona de dezesseis maratonistas com ingestão de bebidas com CHO (6%) ou placebo, 15-30 minutos antes da corrida e a cada 15 minutos dessa, houveram alterações significativas nas concentrações de cortisol, revelando um declínio de 24% sob a condição CHO e 3.4% na condição placebo.

    As alterações do cortisol verificadas nos estudos descritos anteriormente, também podem ser explicadas mediante estudo realizado com o objetivo de investigar as respostas hormonais através da aplicação de vários protocolos de exercício9. Nessa investigação foi verificado que, o exercício de resistência ocasiona maiores alterações do hormônio cortisol em relação à outros protocolos (força máxima, hipertrofia muscular, resistência de força), apresentando concentrações mais elevadas durante o exercício.

    Para finalizar, pode-se observar que os hormônios insulina e cortisol descritos podem aumentar ou diminuir a quantidade de glicose plasmática, durante ou logo após um evento esportivo, o que dependerá da ingestão ou não de carboidratos.

    Sabe-se que as concentrações séricas de glicose podem aumentar de 40 a 50% acima do nível de repouso, demonstrando uma maior disponiblidade da glicose pelo fígado do que sua captação pelos músculos. Especificamente em exercícios prolongados, a taxa de liberação de glicose pelo fígado relaciona-se mais intimamente com as necessidades do músculo, mantendo a concentração plasmática de glicose no nível do repouso ou levemente aumentada. Na maioria dos casos, essas concentrações começam a declinar quando as reservas de glicogênio hepático são exauridas, nesse momento, o carboidrato ingerido durante a atividade torna-se um fator importante na manutenção das concentrações de glicose1.

Considerações finais

    Estes efeitos hormonais durante as fases do exercício são importantes para a melhora do rendimento físico, uma vez que diminuem a depleção do glicogênio no músculo e fígado, aumentam a captação de glicose e oxidação no músculo e cérebro, evitando-se uma possível fadiga.

    Alterações significativas verificadas nos estudos em relação às concentrações plasmáticas de glicose, insulina, cortisol e também de lactato, após a ingestão de soluções com carboidratos antes, durante e após o exercício, são considerados efeitos bioquímicos que podem retardar a fadiga.

    Os benefícios verificados em muitos estudos, principalmente através da suplementação de maltodextrina, podem ser explicados pela manutenção de níveis altos de glicemia, o que evita conseqüentes injúrias como a hipoglicemia. Além disso, uma maior disponibilidade do substrato glicogênio para a realização do trabalho muscular também é fornecida com essa ingestão, evitando-se assim a fadiga muscular e melhorando principalmente a performance de longa duração.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 160 | Buenos Aires, Septiembre de 2011
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