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Comparação da qualidade de vida e da função sexual 

de homens e mulheres coronariopatas participantes de 

um programa de exercício físico supervisionado

Comparación entre la calidad de vida y la función sexual de hombres y mujeres con 

enfermedad coronaria participantes de un programa de ejercicio físico supervisado

 

*Fisioterapeuta, integrante do Laboratório de Gênero Corporeidade

e sexualidade (CEFID-UDESC/SC), Florianópolis, SC

**Educadora Física, integrante do Laboratório de Gênero Corporeidade

e sexualidade (CEFID-UDESC/SC), Florianópolis, SC

***Fisiologista do Exercício do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade

do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, SC

****Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciências

do Movimento Humano (CEFID-UDESC/SC), Florianópolis, SC

Priscilla Geraldine Wittkopf*

Marcela Almeida Zequinão**

Cicero Augusto de Souza***

Fernando Luiz Cardoso****

grdpri@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Após o diagnóstico de um evento cardiovascular observa-se redução ou retardo no retorno ao trabalho, às atividades sociais de lazer e à atividade sexual. O exercício físico além de, controlar os fatores de risco, aumentar a capacidade física e mental dos indivíduos, confere proteção à função sexual. O objetivo de nosso estudo foi avaliar e comparar a qualidade de vida e a função sexual de homens e mulheres com doença arterial coronariana, participantes de um programa de exercício físico supervisionado. 10 homens e 9 mulheres com infarto agudo do miocárdio e média de idade de 60,7 e 61 anos, foram entrevistados a respeito da qualidade de vida e da função sexual. Para avaliar o padrão de desempenho sexual foi utilizado o instrumento Quociente Sexual–versão masculina e feminina e para mensurar a Qualidade de Vida foi usada a Versão Brasileira do questionário de qualidade de vida SF-36. Os domínios não apresentaram diferenças significativas apesar de uma tendência aos homens apresentarem melhor qualidade de vida em relação a saúde mental e padrão de desempenho sexual. Não houve diferença significativa na qualidade de vida e na função sexual de homens e mulheres com infarto agudo do miocárdio participantes de um programa de exercício físico supervisionado.

          Unitermos: Qualidade de vida. Comportamento sexual. Doença cardíaca coronária.

 

Abstract

          After the diagnosis of a cardiovascular event, there was reduction or delay in returning to work, social leisure activities and sexual activity. Physical exercise as well as to control the risk factors, increase physical and mental capacity of individuals, protects sexual function. The aim of our study was to evaluate and compare the quality of life and sexual function of men and women with coronary artery disease, participating in a supervised exercise program. 10 men and 9 women with acute myocardial infarction and a mean age of 60.7 and 61 years were interviewed about the quality of life and sexual function. To evaluate the performance standard instrument was used sexual Sexual Quotient-male and female version and to measure the quality of life was used the Brazilian version of the quality of life questionnaire SF-36. The domains were not significantly different despite a trend for men offer better quality of life in relation to mental health and sexual performance standard. There was no significant difference in quality of life and sexual function of men and women with acute myocardial infarction participating in a supervised exercise program.

          Keywords: Quality of life. Sexual behavior. Coronary disease.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Após o diagnóstico de um evento cardiovascular ocorrem limitações físicas e impacto psicológico do evento agudo. Esses fatores geram alterações que dificultam o retorno às atividades sociais, laborais e recreativas, refletindo negativamente na percepção da saúde e na qualidade de vida1,2.

    Autores investigaram as conseqüências da doença coronariana na qualidade de vida de 63 pacientes que foram submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio. Contudo, para os participantes do estudo os valores referentes à dor e a função física mantiveram-se a baixo da população de referência3.

    A pior condição funcional, ocasionada pela doença, diminui a expectativa de vida e está associada a piores escores de satisfação, freqüência e desejo sexuais4. A atividade sexual é um fator que merece destaque e que comumente é negligenciado nos consultórios médicos, pois atualmente apenas 1/5 dos pacientes recebem orientações sobre o retorno às atividades sexuais após o diagnóstico de IAM e/ou procedimento cirúrgico4. Em uma revisão de Drory et al,5 70% dos pacientes com IAM diminuíram a freqüência sexual e 35% a satisfação sexual. Além disso, 8% dos pacientes não retomaram a vida sexual.

    Com base nessas informações, o objetivo do presente estudo foi avaliar e comparar a qualidade de vida e a função sexual de homens e mulheres com infarto agudo do miocárdio participantes de um programa de exercício físico supervisionado.

Materiais e métodos

    Foram entrevistados 19 participantes com diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio integrantes do programa de exercício físico supervisionado do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina.

    Os sujeitos foram convidados a participar do estudo e, após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram entrevistados, em local reservado, com questões referentes aos dados demográficos, fatores de risco cardiovascular, qualidade de vida e atividade sexual.

    Para mensurar a qualidade de vida foi usada a Versão Brasileira do questionário de qualidade de vida SF-366. Esse questionário é composto por 36 questões que abordam oito domínios: capacidade funcional, dor, estado geral de saúde e limitações por aspectos físicos, saúde mental, limitações por aspectos emocionais, aspecto social e vitalidade. Para a avaliação dos resultados, utilizou-se um escore próprio de cada questão, em que o escore numérico baixo reflete a má percepção da saúde, a perda da função e a presença de dor.

    Para avaliar a função sexual foi utilizado o instrumento Quociente Sexual –versão masculina e feminina. O questionário é constituído por 10 perguntas as quais são respondidas em uma escala de 0 (pouco) a 5 (sempre). O resultado final indica o padrão de desempenho sexual e é analisado através da seguinte classificação: de 0 a 20 nulo a ruim, de 22 a 40 ruim a desfavorável, de 42 a 60 desfavorável a regular, de 62 a 80 regular a bom, de 80 a 100 bom a excelente7,8.

    Os dados obtidos foram analisados no programa estatístico SPSS versão 18.0. A análise dos dados utilizou o recurso da estatística descritiva (média e desvio padrão, frequência e percentual) para as variáveis sóciodemográficas, e estatística inferencial (análise de variâncias com o teste T independente) para a comparação entre os sexos.

    Este estudo seguiu as normas da resolução 196/96 do Código de Ética para Pesquisas em Seres Humanos e foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina sob parecer nº 077/2010.

Resultados

    Dos 19 participantes entrevistados, os homens tinham em média 60,7 anos e as mulheres 61 anos não apresentando diferença significativa.

    Com relação aos fatores de risco, em geral os homens apresentaram maior incidência de fatores de risco com exceção do tabagismo e da hipercolesterolemia em que as mulheres apresentaram 22,2% e 77,8% respectivamente, ao passo que nenhum homem relatou fumar e apenas metade deles apresentam hipercolesterolemia como mostra a tabela 1.

Tabela 1. Perfil dos fatores de risco cardiovascular dos participantes

  

Homens

Mulheres

Fatores de Risco

N

%

N

%

Hipertensão Arterial Sistêmica

10

100

7

77,8

Diabetes Melitos

4

40

3

33,3

Tabagista

0

0

2

22,2

Ex-tabagista

7

70

4

44,4

Triglicerídeos elevados

4

40

3

33,3

Hipercolesterolemia

5

50

7

77,8

Sobrepeso/obesidade

7

70

5

55,6

* Variáveis para investigação dos fatores de risco dicotômicas: Sim, Não.

    De acordo com a tabela 2, nota-se que, em média, os domínios “dor”, “vitalidade” e “aspectos sociais” representaram uma qualidade de vida moderada, ao passo que a “capacidade funcional” representou qualidade de vida boa, e “estado geral de saúde” uma péssima qualidade de vida para ambos os sexos. No domínio “limitações por aspectos físicos” as mulheres apresentaram qualidade de vida excelente, enquanto os homens avaliaram como boa. Com relação ao domínio “saúde mental” os homens referiram uma qualidade de vida boa e as mulheres moderada, apesar dessas diferenças não serem significativas (tabela 2).

    Com relação ao “padrão de desempenho sexual” os escores para os homens apresentam de regular a bom sendo que as mulheres ficaram entre desfavorável e regular.

Tabela 2. Média, desvio padrão e resultados do teste T independente para os aspectos da qualidade de vida e o padrão de desempenho sexual dos sujeitos do estudo

  

Homens

Mulheres

 

 

Variável

X ± Sd

X ± Sd

T

p

Idade em anos

60,7±11,245

61±10,111

-0,060

0,952

Capacidade funcional

68,00± 16,532

63,90±22,047

0,462

0,649

Limitação por aspectos físicos

65,00± 29,344

38,89±37,730

1,693

0,108

Dor

56,00± 10,749

51,11± 14,529

0,839

0,412

Estado geral de saúde

16,00± 5,676

18,35± 9,013

-0,682

0,503

Vitalidade

53,50± 8,834

51,11±7,406

0,634

0,534

Aspectos Sociais

55,00±19,720

55,00±12,672

-0,252

0,803

Limitações por aspectos Emocionais

76,66±41,720

85,18±52,996

-0,391

0,700

Saúde mental

61,60± 5,719

56,00± 10,000

1,519

0,147

Padrão de desempenho sexual

70,80±18,480

49,11± 27,876

2,019

0,059

* Significância p<0,05

** média das variáveis quanto maior melhor

Discussão

    Os efeitos físicos limitantes da doença coronariana como a dispnéia e a angina além dos medicamentos utilizados são grandes fatores que diminuem a qualidade de vida e a função sexual1,9,10.

    Sabe-se que apresentam maiores valores de qualidade de vida homens jovens, principalmente no fator emocional, demonstrando que este tipo de população tolera mais as doenças crônicas sem se tornar emocionalmente afetado11.

    Em nosso estudo observamos que apesar de todos os participantes apresentarem uma patologia a qualidade de vida foi avaliada de forma muito semelhante, no entanto os homens reportaram uma saúde mental boa enquanto as mulheres moderada e apesar da diferença não ser significativa, reforça o descrito acima.

    Os programas de condicionamento físico contribuem de maneira positiva para o reinício da atividade sexual, uma vez que através dos exercícios físicos programados se consegue um aumento da capacidade cardiovascular, com conseqüente melhora nas manifestações decorrentes12.

    O estudo de VAZ et al.13 comparou a sexualidade de idosos que praticavam atividade física com idosos sedentários. Foi observado que os praticantes de exercício de ambos os sexos obtiveram maiores escores nos domínios: incentivo para ter relações sexuais, freqüência de relações sexuais, interesse pela vida sexual e sensação obtida através das relações sexuais em comparação aos idosos sedentários.

    Ao analisar o padrão de desempenho sexual apesar de não significativo foi possível de perceber que os homens apresentam um escore melhor que o das mulheres sugerindo que mesmo com o diagnóstico de doença arterial coronariana e o sofrimento do infarto agudo do miocárdio os homens recuperam melhor e mais rápido a função sexual que as mulheres.

Conclusão

    Não houve diferenças significativas na qualidade de vida e na função sexual de homens e mulheres com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio participantes de um programa de exercício físico supervisionado. Uma tendência a melhor função sexual masculina foi observada e por isso, sugere-se um estudo com número maior de participantes e um controle melhor das variáveis.

Referências

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  2. Froelicher ES, Kee LL, Newton KM, Lindskog B, Livingston M. Return to work, sexual activity, and other activities after acute myocardial infarction. Heart & Lung. 1994; 23(5):423-435.

  3. Marwick TH, Zuchowski C, Lauer MS, Secknus MA, Williams J, Lytle BW. Functional status and quality of life in patients with heart failure undergoing coronary bypass surgery after assessment of myocardial viability. J Am Coll Cardiol. 1999; 33(3):750-8.

  4. Souza CA. Impacto da capacidade física sobre a qualidade da vida sexual em portadores de doença arterial coronariana (Dissertação). Santa Catarina: Universidade do Estado de Santa Catarina; 2010.

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  6. Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999;39(3):143-150.

  7. Abdo CH. Elaboração e validação do quociente sexual - versão masculina , uma escala para avaliar a função sexual do homem. Rev Bras Med. 2006; 63(1/2):42-46.

  8. Abdo CH. Elaboração e Validação do Quociente Sexual – versão feminina. Rev Bras Med 2006; 63(9):477-482.

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  10. Rerkpattanapipat P, Stanek MS, Kotler MN. Sex and the heart: what is the role of the cardiologist? Eur Heart J. 2001; 22(3):201-8.

  11. YOUSSEF, R. M. et al. Factors affecting the quality of life of hypertensive patients. Eastern Mediterranean Health Journal, v. 11. p. 109-118, 2005.

  12. OLIVEIRA, J. R. w. Atividade sexual após infarto agudo do miocárdio. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 46. n. 3 p. 205-210, mar. 1986.

  13. VAZ, R. A.; NODIN, N. A importância do exercício físico nos anos maduros da sexualidade. Análise Psicológica, v. 3. P. 329-339, 2005.

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