Análise da distribuição da pressão plantar Análisis de la distribución de la presión plantar en corredores de larga distancia Analysis of plantar pressure distribution in long distance runners |
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*Doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP Docente e Diretor Acadêmico da Universidade Salgado de Oliveira, UNIVERSO, GO **Doutorado em Ciências
Morfofuncionais pela Universidade de São Paulo, USP |
Ademir Schmidt* Antônia Dalla Pria Bankoff** (Brasil) |
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Resumo A pesquisa objetivou analisar a distribuição da pressão plantar em corredores de longa distância na fase estática e em atividades dinâmicas como andar e o correr, bem como, verificar a influência do calçado esportivo nestas circunstâncias. Participaram do estudo 17 corredores de longa distância do sexo masculino. Para a análise da distribuição da pressão foi utilizado um baropodômetro eletrônico. Os resultados mostraram cargas significantemente maiores durante os testes dinâmicos de corrida, quando comparados ao teste estático e o andar. Paralelamente, se registrou superfícies menores de apoio para estas mesmas circunstâncias. Unitermos: Corrida de longa distância. Pressão plantar. Corredores.
Resumen La investigación tuvo como objetivo analizar la distribución de la presión plantar en corredores de larga distancia en fase estática y en actividades dinámicas como andar y correr, así como, verificar la influencia del calzado deportivo en estas circunstancias. Participaron de este estudio 17 corredores de larga distancia de sexo masculino. Para el análisis de la distribución de la presión fue utilizado un baropodómetro electrónico. Los resultados mostraron cargas significativamente mayores durante los tests dinámicos de la carrera, comparados con el test estático y al caminar. Paralelamente, fueron registradas superficies menores de apoyo en las mismas circunstancias. Palabras clave: Carrera de larga distancia. Presión plantar. Corredores.
Abstract The research purpose was to analyze the plantar pressure distribution in long distance runners at the static phase, gait and run and to verify the influence of sport shoes in these situations. In total 17 male long distance runners were considered for the study. To perform the analysis of the plantar pressure distribution an electronic baropodometer was used. The results showed significantly greater plantar load during the dynamic run tests compared to the static and gait ones. In the other side, smaller support areas were detected in all tests. Keywords: Long distance running. Plantar pressure. Runners.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A prática da corrida de longa distância está bastante difundida em todo o país. Ela é praticada por uma população bastante diversificada e com propósitos distintos. É possível observar isso facilmente nos parques e bosques de grandes e pequenos centros urbanos. Nestes espaços, podem ser identificados desde atletas de elite que treinam e competem até indivíduos interessados apenas no condicionamento físico e na promoção da saúde. Alguns fazem uso de acessórios desenvolvidos especificamente para as corridas, como por exemplo, vestuário especial, frequencímetro, tênis com contagem de voltas, velocidade e em alguns casos especiais até ajuste do impacto. Outros estão providos simplesmente de um par de tênis e roupas leves.
Uma das razões que leva tantas pessoas a utilizar a corrida de longa distância como atividade física é o fato de poder ser praticada não só nas pistas de atletismo, mas também nas ruas, parques, campos, bosques, condomínios, centros de lazer e não necessariamente requerer muitos acessórios.
A realização de provas e eventos de caráter social e integrativo tem contribuído grandemente para o processo de difusão das corridas de longa distância. Entidades públicas, empresas de iniciativa privada e muitas prefeituras, através de suas secretarias de esporte e lazer, promovem competições que difundem a pratica deste tipo de corrida. Com o desempenho do atletismo brasileiro nos Jogos Olímpicos das últimas décadas, a corrida de longa distância cresceu nacionalmente e vem conseguindo mais adeptos.
Anualmente acontecem aproximadamente 20 eventos nacionais oficiais de corrida de longa distância, registrados e reconhecidos pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Além disso, a confederação brasileira participa de mais de 30 competições internacionais anualmente, promovidas pela Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF). Não obstante, o maior número de eventos e provas desse gênero não são registrados e divulgados amplamente. Mesmo assim, são responsáveis por um elevado número de participantes em todo o país anualmente, participação essa que revela números crescentes a cada ano que passa.
Com a difusão da prática da corrida de longa distância em todos os níveis e escalas sociais surge, por outro lado, a dúvida acerca da quantidade e qualidade de informações e esclarecimentos que os indivíduos praticantes deste tipo de atividade possuem para realizar uma prática adequada e segura, de acordo com os seus propósitos. Considerando este cenário, visualiza-se com facilidade nos parques, bosques e centros esportivos, que os adeptos de tal atividade são, na sua grande maioria, desprovidos de informações e orientações no que diz respeito à prevenção de lesões, utilização de calçados esportivos adequados, bem como, sobre terrenos e superfícies que ofereçam menos riscos de agressão ao sistema locomotor. As equipes de atletas que competem profissionalmente, em muitos casos, também apresentam dificuldades desta natureza.
Atletas que treinam e competem em corridas de longa distância, geram e acumulam elevadas taxas de pressão na região plantar, as quais se propagam para o restante do corpo. Como as práticas semanais e mensais dessa atividade são altas e repetitivas, podem gerar distribuição inadequada da pressão na superfície plantar levando a deformações e comprometimentos morfofisiológicos no sistema locomotor, em especial nos membros inferiores. Essas alterações quando não constatadas, prevenidas e adequadamente tratadas, podem agravar-se e obrigar o corredor a interromper ou, em casos extremos, abandonar a prática definitivamente. Viel et al. (2001, p.221) relatam que uma particularidade do ser humano consiste em empreender esforços e consumos para participar de atividades dolorosas, numa primeira etapa e perigosas numa segunda, em uma procura constante e incessante de desempenhos melhores. Em situações como estas, a saúde do sistema locomotor pode ser seriamente comprometida.
Um par de pés sadios é o melhor amigo dos corredores. Afinal, seus pés tocam o chão quase mil vezes por quilômetro. A cada passada, eles absorvem uma força várias vezes superior ao peso corporal. Nesse sentido, visualiza-se a importância do conhecimento, por parte do atleta, treinador e demais praticantes, sobre os fatores que de alguma forma interferem na prática dessa atividade, seja prevenindo ou minimizando a incidência de lesões, seja melhorando os gestos biomecânicos do atleta com o intuito de aperfeiçoar a performance.
Considerando estes aspectos, outro fator de relevância é o calçado esportivo utilizado. O mercado de calçados esportivos lança a cada ano, uma série de novos modelos com o propósito de atender as mais variadas atividades esportivas existentes. No entanto, sabe-se que o importante não é apenas que o calçado seja específico para o esporte praticado, mas também adaptado às necessidades morfofuncionais do atleta.
Além destas características intervenientes nas corridas de longa distância, a superfície na qual se realizam essas provas também merece uma atenção especial. Uma vez que a grande maioria dessas corridas se realiza fora das pistas de atletismo e se desenvolvem nos parques, bosques e principalmente nas ruas (asfalto), é de suma importância levar em consideração a rigidez destas superfícies, objetivando a diminuição das lesões que acometem os atletas.
Uma maneira através da qual é possível auxiliar neste contexto, fornecendo subsídios para os treinadores e atletas que contribuam com a melhora da performance, minimizando comprometimentos no sistema locomotor é com a implementação e fomentação de pesquisas científicas na área.
Desta forma, os objetivos principais deste estudo foram analisar a distribuição da pressão plantar em corredores de longa distância na fase estática e em atividades dinâmicas como andar e o correr, bem como, verificar a influência do calçado esportivo nestas circunstâncias.
Material e método
Participaram deste estudo 17 corredores de longa distância do sexo masculino, com idade = 28,5 ± 9,5 anos (mínimo de 18 e máximo de 50 anos), peso = 63,6 ± 6,9 Kg, altura = 173,5 ± 7,0 cm e tamanho de calçado= 40,4 ± 1,7. A seleção dos sujeitos foi feita segundo critérios de acessibilidade.
A pesquisa foi realizada com o cumprimento das exigências da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (Parecer nº 509/2004).
Procedimentos e instrumentos para a coleta de dados
A análise baropodométrica dos sujeitos envolvidos no estudo foi realizada no Laboratório de Eletromiografia e Biomecânica da Postura Humana – Faculdade de Educação Física/UNICAMP, utilizando um Baropodômetro Eletrônico, o qual possibilita as análises estática e dinâmica com pés descalços e com calçados esportivos.
O baropodômetro eletrônico utilizado neste experimento é composto por uma plataforma modular de 120 cm de comprimento e 40 cm de largura da Physical Support Italy, constituída de 4.800 sensores ativos para registro da pressão plantar.
Foram realizados dois tipos de testes utilizando o baropodômetro eletrônico: análise baropodométrica estática e dinâmica. A análise baropodométrica dinâmica foi ainda dividida em dois momentos: a) andando e b) correndo.
A análise baropodométrica estática foi realizada de duas formas: bipodálica e monopodálica. A avaliação baropodométrica bipodálica foi feita com os sujeitos sobre a plataforma com os braços no prolongamento do corpo. A análise monopodálica foi executada com os sujeitos apoiados sobre o pé esquerdo, tendo o pé direito elevado e joelho fletido e, posteriormente, o inverso. Para cada uma das situações mencionadas, os sujeitos se apresentaram descalços inicialmente e posteriormente repetiram o exame com o calçado esportivo. Em todos os casos o aparelho foi calibrado com tempo de 05 segundos para a execução dos procedimentos.
A análise baropodométrica dinâmica foi realizada em duas fases distintas, andando e correndo. Inicialmente os corredores executaram o teste andando, sem calçado e depois usando o tênis habitual de corrida.
No segundo momento da análise dinâmica, os sujeitos passaram correndo (3,2m/s ± 5%) sobre a plataforma. Para poder comparar os dados desta análise entre os diferentes sujeitos e, considerando que diferentes velocidades representam valores diferentes de pressão plantar, a velocidade da corrida foi padronizada. Para garantir a padronização dos testes, foram utilizados um medidor digital de tempo e um medidor de passagem. O medidor de passagem possui dois sensores de movimento, dispostos ao longo de uma haste de um metro (um no início e outro no final). O primeiro sensor do medidor de passagem dispara o cronômetro do leitor digital de tempo. O segundo, pára o leitor. Desta forma, foi possível saber com exatidão com qual velocidade o corredor passou pela plataforma eletrônica. Quando a velocidade do teste ficava acima ou abaixo da velocidade padronizada, o teste não era salvo e era repetido. O medidor de passagem ficou posicionado ao lado do baropodômetro eletrônico, fixado a uma base de ferro e haste de alumínio. A altura dos sensores foi regulada de acordo com a estatura de cada sujeito, sendo posicionado na altura do pescoço.
Considerando os 120 cm de comprimento da plataforma e a impossibilidade de coletar dois apoios (um de cada pé) em uma única passagem sobre a plataforma, foram realizadas 05 avaliações válidas para o pé esquerdo e 05 para o direito. Os corredores realizaram os testes inicialmente descalços e posteriormente com o calçado esportivo habitual.
A velocidade da corrida de 3,2m/s ± 5% para a coleta dos dados foi estabelecida em função do reduzido espaço físico disponível no laboratório para a realização da corrida na fase dinâmica. Não obstante, esta velocidade de coleta está em consonância com outros estudos dessa natureza (DIXON et al., 2003, p.474; DIXON; COLLOP; BATT, 2000, p.1920; SERRÃO; AMADIO, 2001, p.44).
Para a análise dos dados coletados utilizou-se o programa Microsoft Excel for Windows para a criação do banco de dados e o programa SPSS, versão 11.5 para as análises estatísticas. Por se tratar de uma amostra com distribuição normal, utilizou-se o teste paramétrico t-Student para grupos independentes, sendo fixado o nível de confiança em 95%, com margem de erro de 5%.
Resultados e discussão
Na comparação entre as variáveis estudadas do teste estático e do teste dinâmico correndo, foi constatado aumento estatisticamente significante da pressão plantar quando os atletas passaram correndo sobre a plataforma baropodométrica (tabela 1).
A comparação entre os testes estático e dinâmico correndo, chama a atenção, também, para a diminuição da superfície de apoio utilizada pelos atletas durante a corrida, tanto para a parte anterior e posterior como para a superfície total dos pés direito e esquerdo. Paralelamente à significante elevação da pressão plantar nessas regiões, registrou-se diminuição da área de superfície no apoio.
Esses dados revelam a magnitude dos impactos sobre o sistema locomotor durante atividades dinâmicas como a corrida de longa distância. Viel et al. (2001, p.225) confirmam essas informações quando relatam que a intensidade do impacto sentido pelo pé e sobretudo pelo calcanhar, aumenta com a velocidade de deslocamento, passando de 100% a mais de 200% do peso do corpo conforme passa do andar à velocidade muito lenta ou corrida. Portanto, para um atleta de 70kg aproximadamente, aplicando 200% do peso do corpo em uma superfície do calcanhar de 23cm2, o impacto terá um valor de 6kgf/cm2 (equivalente a 58,86N).
Embora o teste baropodométrico com os atletas descalços não represente a realidade do seu dia a dia nos treinos e competições, pode revelar o estado estrutural e funcional dos pés, situação importante para a prescrição adequada e segura do treinamento. Por outro lado, Serrão e Amadio (2001, p.45) estudando adaptações cinéticas e eletromiográficas na locomoção com o pé descalço, descobriram que o primeiro pico vertical de força, bastante característico durante o contato do calcanhar com o solo, não apresentou diferenças significantes na comparação entre o pé descalço e com calçado esportivo. Concluíram que os calçados esportivos parecem influenciar menos no movimento humano que o próprio sistema locomotor.
Baur et al. (2001, p.17) analisaram a distribuição da pressão plantar em corredores lesionados e saudáveis, usando calçados e estando descalços. Constataram em seu estudo que a distribuição da pressão apresenta diferenças para o pé descalço e calçado, independentemente dos atletas estarem lesionados ou saudáveis.
Tabela 1. Resultados da análise baropodométrica estática X correndo (sem calçado)
Na tabela 2 são apresentados os resultados da comparação da análise estática com a análise da corrida com o calçado esportivo. A utilização do calçado esportivo não alterou sobremaneira o quadro encontrado nos testes realizados com os corredores descalços (tabela 1). As variáveis superfície de apoio da parte anterior do pé esquerdo e direito e superfície total do pé esquerdo não apresentaram diferenças estatisticamente significantes entre os testes estático e dinâmico com a utilização dos calçados esportivos de corrida.
Tabela 2. Resultados da análise baropodométrica estática X correndo (com calçado)
Segundo Novacheck (1998, p.85) a força de reação do solo gerada como resposta ao contato do pé com o solo, permanece inalterada com o corredor usando o calçado. Hamill e Knutzen (1999, p.257) confirmam esses dados relatando que tanto na caminhada quanto na corrida, o impacto do pé é o mesmo com calçados ou descalço. A diferença esta no modo como as forças são absorvidas em cada caso. Com o calçado o pé é mais rígido na absorção e depende do calçado para suporte e proteção. Com o pé descalço, a absorção é mais móvel, com maior deflexão do arco durante a aplicação da carga.
Bankoff et al. (2004, p.91) também não verificaram diferenças entre as análises baropodométricas com e sem calçado. Constataram que na postura dinâmica o porcentual de carga e a área de superfície nas regiões plantar anterior, posterior e plantar total são maiores quando comparadas com a postura estática, independente do sujeito estar com ou sem calçado.
No nosso estudo, não obstante, o tênis habitual de corrida utilizado pelos atletas aumentou a superfície de apoio na parte anterior do pé direito e esquerdo, fato que se deve ao próprio gesto biomecânico executado pelo pé durante a fase final de contato com o solo, na fase de impulsão. O aumento da superfície de apoio através da qual a pressão plantar é distribuída, conseguida com o uso do calçado esportivo, minimiza o efeito lesivo das cargas impostas ao sistema locomotor com práticas esportivas como a corrida de longa distância.
Para um atleta que pesa 70Kg aproximadamente, aplicando 200% do peso do corpo em uma superfície de calcanhar de 23cm2, o impacto terá um valor de 6Kgf/cm2. Se considerada unicamente a superfície de apoio do calcâneo, equivale a aplicar a mesma carga em 15cm2, o que significa um impacto de 9,3 Kgf/cm2. (VIEL et al., 2001, p.225).
Percebe-se, portanto, que mesmo que a magnitude da pressão plantar não seja reduzida de forma significante com o uso do calçado, o aumento da superfície de apoio representa redução do risco de lesões, já que aumenta a área através da qual a carga é aplicada.
Nas tabelas 3 e 4 estão representados os resultados da comparação entre a análise baropodométrica dinâmica andando e correndo, com os corredores descalços (tabela 3) e fazendo uso do tênis habitual de corrida (tabela 4).
Mesmo na comparação de duas habilidades motoras dinâmicas como o andar e o correr, fica evidente a diferença na magnitude do impacto sofrido pelo sistema locomotor. Na comparação entre a análise dos corredores andando e correndo descalços (tabela 3), se registrou valores menores de superfície utilizada para fazer o apoio na corrida, ao passo que as cargas de impacto para esta mesma modalidade foram significantemente superiores em todos os momentos. Essa situação evidencia a intensidade que a corrida gera sobre as estruturas do membro inferior e que é conseqüentemente propagada ascendentemente para o tronco.
Serrão e Amadio (2001, p.49) estudando adaptações na locomoção sem a utilização de calçados, constataram que o calcâneo age como uma interface entre o solo e o sistema locomotor, sendo que este não parece ter o mesmo nível de performance sem a proteção do calçado.
Tabela 3. Resultados da análise baropodométrica andando X correndo (sem calçado)
Na comparação entre os testes do andar e do correr, no entanto, estando os corredores utilizando os calçados esportivos (tabela 4), evidenciou-se um quadro bastante semelhante ao estudo com o pé descalço. A superfície de apoio, embora com área menor durante a corrida, não apresentou diferença significante para as variáveis superfície anterior do pé direito e esquerdo e para a superfície total do pé direito e esquerdo. Já para a distribuição da carga, foi constatada a mesma realidade dos testes sem o calçado, valores maiores estatisticamente significantes durante a corrida para todas as variáveis pesquisadas. Esses resultados mostram que apesar do calçado esportivo ter aumentado a superfície de apoio, o que proporcionou melhor distribuição da carga, esta ainda apresentou valores elevados e com potencial lesivo, principalmente quando se considera o índice de repetição, como é o caso da corrida.
Tabela 4. Resultados da análise baropodométrica andando X correndo (com calçado)
A comparação de dados de força entre o andar e o correr revela considerável aumento da força de reação do solo na corrida. No andar, o pico de força é de aproximadamente 70% do peso corporal, sendo que na corrida com os pés descalços, ocorre um aumento desse pico de força para aproximadamente 200%. Os deslizamentos para frente e para trás apresentam padrões similares no andar e correr, no entanto, na corrida, a magnitude se eleva aproximadamente 50%. Nos deslizamentos medial e lateral, também se constatam magnitudes maiores na corrida em relação ao andar. (MANN, 1989, p.3).
Esses resultados são confirmados por Viel et al. (2001, p.225), quando relatam que a intensidade do impacto sentido pelas estruturas do sistema locomotor se alteram gradativamente com a velocidade do deslocamento.
Dessa forma, ao final de uma ou várias temporadas de competições e treinamentos, essa atividade repetitiva e de intensidade considerável pode levar a um mau funcionamento e desencadear a degeneração do sistema locomotor. Os dados de Pastre et al. (2005, p.44) comprovam as informações acima com os resultados encontrados em sua pesquisa. De acordo com estes autores, na análise das condições causadoras das lesões, verificaram que os atletas corredores de longas distâncias se lesionaram 44,4% em função da intensidade da atividade e 44,4% em função das repetições excessivas.
Considerando as forças externas e internas que atuam sobre o sistema locomotor na corrida, o súbito contato do pé com o solo produz uma elevação aguda das forças verticais de reação, conhecidas como forças de reação do solo, as quais se constituem no fator causal mais importante das lesões de sobrecarga. (ROBBINS; HANNA, 1987, p.148). Nos aspectos biomecânicos, as variáveis cinéticas como magnitude da força de impacto, carga de impacto, forças de propulsão, bem como a magnitude dos movimentos de pronação são contribuintes potenciais para as lesões. (HRELJAC; MARSHALL; HUME, 2000, p.1636).
Embora, segundo Derrick, Dereu e Maclean (2002, p.998) os impactos na corrida não produzam valores extremos, a quantidade dos impactos gerados durante a corrida é significativa. Percursos de aproximadamente 20 milhas por semana produzem 1,3 milhões de impactos no corpo no período de um ano.
Objetivando minimizar o risco de lesões a que os atletas corredores de longa distância estão sujeitos, os treinadores podem lançar mão da análise baropodométrica que, ao contrário das medidas feitas em plataformas de força que inferem informações acerca das forças de reação do solo, o centro de pressão e sua trajetória, a distribuição da pressão plantar refere-se à força aplicada em uma determinada área e por isso pode ser usada como um bom preditor das possíveis influencias negativas no sistema musculoesquelético. Desta forma, essas influências negativas podem ser evitadas. Além disso, a distribuição da pressão plantar pode ser um parâmetro que remete informações acerca da capacidade de carga em estruturas e áreas anatômicas específicas. (MACHADO; HENNING; RIEHLE, 2001, p.19).
Conclusão
Com a realização da análise da distribuição da pressão plantar em corredores de longa distância e consideradas as especificidades deste estudo, as seguintes conclusões podem ser tiradas.
O estudo da distribuição da pressão plantar envolve questões bastante complexas, uma vez que vários fatores devem ser levados em consideração. A análise estática, por exemplo, pode oferecer informações importantes acerca da estrutura morfofisiológica do pé humano. Por outro lado, a avaliação dinâmica é de suma importância, uma vez que através desta é possível obter parâmetros reais sobre o comportamento do pé em atividades como a corrida de longa distância, bem como, possibilidade de conhecer a carga que está sendo gerada sobre o pé e conseqüentemente transmitida a toda estrutura do membro inferior e tronco.
De uma forma geral, se evidenciou cargas significantemente maiores durante os testes dinâmicos de corrida, quando comparados ao testes estáticos e durante o andar. Paralelamente a isso, se registrou superfícies menores de apoio para estas mesmas circunstâncias, revelando que o impacto da carga gerada pela atividade esportiva de corrida é distribuída inicialmente sobre uma área relativamente pequena da região plantar.
O calçado esportivo, embora tenha aumentado a superfície de apoio dos corredores durante os testes realizados com o calçado, em comparação com os pés descalços, não reduziu a intensidade dos impactos.
Desta forma, é necessário que os profissionais que lidam com atividades como a corrida de longa distância atentem cuidadosamente para todos os fatores relacionados a essa prática, permitindo aumentar a performance de seus atletas, ao passo que a incidência de lesões seja minimizada. Nesse sentido, é importante que estejam atentos à biomecânica dos gestos motores de seus atletas, à distribuição da pressão plantar, tipo de superfície na qual usualmente são realizados os treinamentos e competições, assim como, o tipo específico de calçado esportivo utilizado e a evolução dos programas de treinamento.
Referências
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