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Potencia aeróbica e índice de fadiga em jogadores de futebol

Potencia aeróbica e índice de fatiga en jugadores de fútbol

 

*Escola de Educação Física e Desportos

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

**Fluminense Football Club

Universidade Autônoma de Assunção, UAA

***Botafogo de Futebol e Regatas

****Laboratório de Biociência do Movimento Humano, LABIMH, RJ

(Brasil)

Ms. Ricardo Costa Abrantes Junior**

Ms. Márcio Assis Marques Barbosa**

Tiago de Marsillac Melsert* ***
Dr. José Fernandes Filho* ****

ricardo-abrantes@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O propósito deste estudo foi correlacionar à distância percorrida em um teste máximo de potência aeróbica e o índice de fadiga em futebolistas da categoria sub-17 do Fluminense Football Club. Foram analisados 25 atletas com média de idade de 16,84 ± 0,35 anos, Massa Corporal Total 69,93 ± 9,13 kg e Estatura 178,70 ± 6,84 cm. Para obter a distância percorrida pelos atletas foi utilizado o Yoyo Endurance Test (BANGSBO, 1996) e para a mensuração do índice de fadiga foi utilizado o Running Based Anaerobic Sprint Test). Foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson, adotando como nível de significância, p<0,05. A média da distância máxima percorrida no Yoyo Endurance Test foi de 1250,4m ± 216,57 e a média do índice de fadiga obtida no RAST foi de 6,93 Watts/seg. ± 2,87. O coeficiente de correlação encontrado foi negativo e fraco (r= -0,06). Conclui-se que a capacidade aeróbica parece exercer maior influência no volume total de jogo e não nos momentos decisivos que requisitam energia proveniente do sistema anaeróbico. O tamanho da amostra pouco representativo e os diferentes estágios de maturação dos atletas estudados são algumas das limitações do trabalho.

          Unitermos: Futebolistas. Potência aeróbica. Potência anaeróbica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é uma das modalidades esportivas mais praticadas no mundo. Homens, mulheres, jovens, adultos e crianças praticam esse jogo com os mais diferentes objetivos e níveis técnicos, desde os motivos recreacionais até a prática profissional (PIMENTA, 2007).

    Para Valquer (2004), apesar de se tratar de uma modalidade em que tática técnica e habilidades individuais são fundamentais, tem-se notado, nas ultimas décadas, uma preocupação especial com o aprimoramento físico do atleta. Nesse contexto, é essencial que se conheça os aspectos fisiológicos envolvidos do jogo, para que o treinamento seja o mais especifico e producente possível, ainda mais quando se trata de sua pratica em alto nível.

    Segundo Castagna et al. (2006), o futebol pode ser definido como um atividade intermitente, de alta intensidade, que requer bom preparo físico tanto aeróbico quanto anaeróbico. Corroborando esta análise, Campeiz et al. (2004) definem o futebol como um esporte no qual 80% a 90% de uma partida é proveniente do sistema oxidativo-aerobico, sendo dessa forma relacionado à potência e capacidade aeróbica; no entanto, as ações físicas que definem um jogo, como piques curtos, saltos, mudanças de direção ou a combinação desses, têm a predominância de produção de energia pelo sistema anaeróbico.

    Embasando essa afirmação, Alizadeh et al. (2010) citam que “em uma partida futebol os atletas devem se preparar para as atividade subseqüente o mais rápido possível”. Dessa forma, os períodos de recuperação durante o jogo (sejam ativos ou passivos) são de suma importância para os atletas restabelecerem suas condições energéticas normais de atividade ou o mais próximo possível desse ideal. Segundo a Pavanelli (2004), “essa capacidade de recuperação em maior velocidade do sistema anaeróbico alático e lático é otimizada pelos atletas que possuem capacidade aeróbica bem desenvolvida, promovendo uma taxa maior de ressíntese de creatina fosfato e melhor eficiência na remoção do acido lático sanguíneo durante o repouso ou exercícios de baixa intensidade durante o jogo.”

    Existem alguns protocolos utilizados para a mensuração da potência aeróbica de atletas. O Yoyo Endurance Test tem grande aceitação nos desportos coletivos, pois fornece instrumentos importantes para a prescrição do treinamento para aumento da capacidade aeróbica.

    O “Running Based Anaerobic Sprint Test” (RAST) é um dos testes mais utilizados no meio do futebol, em virtude da sua especificidade com os gestos motores desempenhados em uma partida. Entre as muitas variáveis obtidas nesse protocolo está o índice de fadiga, que nos permite observar a diferença na produção seqüencial da potência anaeróbica.

    Gomes et al. (2008) sustentam a teoria da influencia da capacidade aeróbica na recuperação de estímulos anaeróbicos ao afirmar que o desenvolvimento da resistência aeróbica tem um significado importante para a maioria das modalidades esportivas, especialmente as coletivas, pois cria uma base funcional necessária ao aperfeiçoamento de diversos aspectos da preparação desportiva – em especial, facilita a recuperação rápida dos estímulos de alta intensidade.

    Nesse sentido, este estudo buscou, através de uma correlação entre a distância percorrida em um teste máximo de potência aeróbica e o índice de fadiga, verificar se atletas das categorias de base de um grande clube de futebol do Rio de Janeiro, atuantes em alto nível que possuem maior VO2 máximo seriam capazes de uma recuperação mais rápida e eficiente entre estímulos de alta intensidade e curta duração.

Procedimentos metodológicos

    Foram analisados 25 atletas com média de idade de 16,84 ± 0,35 anos, Massa Corporal Total 69,93 ± 9,13 kg, mensurada em uma balança da marca Filizola (TRADICONA, BRASIL) com precisão de 0,1 kg. e a Estatura 178,70 ± 6,84 cm, determinada por um estadiômetro fixado na parede, da marca Cardiomed, com precisão de 0,1cm, fabricado no Brasil. Todos os atletas foram pesados usando apenas o calção ou peça íntima. A estatura foi mensurada a partir da posição ortostática, com pés unidos e olhos fixados em um ponto. O atleta era orientado a inspirar profundamente e então a estatura era determinada. Os indivíduos analisados eram todos atletas inscritos na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e já possuíam no mínimo 2 anos da prática do futebol em nível de alto rendimento. Os atletas foram questionados à respeito de algias em qualquer região do corpo que poderiam prejudicar sua máxima performance e só foram avaliados aqueles sem manifestação de dores. Os avaliados foram notificados que poderiam desistir de participar dos testes a qualquer momento, todos concordando assim de modo voluntário. As avaliações foram realizadas em 2 dias consecutivos, sendo que a avaliação antropométrica e o Yoyo Endurance Test foram realizados no primeiro dia e o Running-Based Anaerobic Sprint Test (RAST) realizado no segundo dia.

    Para obter a distância percorrida pelos atletas, foi utilizado o Yoyo Endurance Test (BANGSBO, 1996), que consiste em corridas de vai-e-vem entre pontos espaçados em 20 metros com a intensidade sendo ditada por um sinal sonoro e sofrendo um acréscimo de 0,5 Km/h a cada 1 minuto. A partir desse protocolo, foram obtidos a distância máxima percorrida, o tempo total de execução, a velocidade máxima no momento do teste e o VO2 máximo. Os atletas executaram o teste até que não conseguissem por 3 vezes consecutivas acompanhar o ritmo ditado pelo sinal sonoro, dessa forma, caso por 2 vezes em seqüência não fossem capazes, mas na 3ª tentativa voltassem ao ritmo desejado continuaria participando do teste. Para maior especificidade do teste em relação ao desporto praticado, o mesmo foi realizado em campo de grama natural, e os atletas trajavam material oficial do clube que representam, que é composto por camisa, calção e meiões, além de estarem calçando chuteiras de trava alta, com recomendação de que fossem utilizadas as mesmas de jogos e treinos. Os testes foram iniciados após um período de 5 minutos de aquecimento comandado pelo preparador físico responsável da categoria, consistindo de corridas com intensidades variadas e mudanças de direção.

    Para a mensuração do índice de fadiga foi utilizado o RAST (UNIVERSIDADE DE WOLVERHAMPTON, Inglaterra), que consiste em 6 sprints máximos de 35 metros com 10 segundos de recuperação passiva. As variáveis obtidas nesse protocolo são velocidade máxima, média e mínima, potência máxima média e mínima e índice de fadiga. Essa ultima variável é estimada a partir da relação entre as potências máxima e mínima e o tempo total dos 6 sprints, Em cada sprint, os atletas receberam incentivo verbal para alcançar a maior velocidade possível, evitando desacelerações antes de passar pelo ponto estabelecido. Para determinar o tempo dos sprints foi utilizada uma célula fotoelétrica da marca Microgate (RACETIME2, ITÁLIA). Foi utilizado o coeficiente de Correlação de Pearson determinado pelo programa Microsoft Office Excel 2007, adotando como nível de significância, p<0,05.

Resultados

Tabela 1. Descrição da média e desvio padrão da massa corporal, da idade, da estatura, 

da distância máxima percorrida, do índice de fadiga e nível de correlação de Pearson. n = 25

Discussão

    Os resultados encontrados no presente estudo nos revelam uma fraca e negativa correlação (r = - 0,06) entre as variáveis analisadas. A potência aeróbica atingida no Yoyo Endurance Test não possui correlação significante com a recuperação da potência anaeróbica estimada no RAST, a partir da análise feita. A suposição de que o sistema aeróbico é essencial na potencialização da recuperação de estímulos de alta intensidade e curta duração, se baseia na teoria de Harris et al. 1976, que diz que a ressíntese de creatina fosfato (CP) e a remoção de fosfato inorgânico (Pi) ocorrem, principalmente pela via oxidativa. Entretanto em estudo conduzido por Ciminelli (2009) com 20 futebolistas da categoria sub – 20 de um clube da série A do Campeonato Brasileiro foi analisada a correlação entre o VO2 máximo e o índice de fadiga. Os resultados encontrados revelam uma fraca e não – significativa correlação (r= - 0,115). Estes dados reforçam os resultados demonstrados em nosso estudo.

    De acordo com o protocolo do Yoyo Endurance test, quanto maior a distância percorrida, maior será o VO2 máximo alcançado pelo indivíduo. A partir desse dado, podemos perceber que ter uma capacidade aeróbica maior não corresponde necessariamente a uma recuperação mais rápida e em maior magnitude para estímulos específicos do sistema anaeróbico que duram de 4 a 6 segundos observados no RAST. De acordo com Bangsbo et al. (1991), no futebol os sprints ocorrem aproximadamente a cada 90 segundos e têm duração de 2 a 4 segundos. Isso corrobora a afirmação de que o RAST é de extrema importância no que diz respeito a avaliar um futebolista e a compará-lo com o condicionamento ideal para a prática do futebol em alto nível. Podemos observar que uma maior capacidade aeróbica parece não necessariamente influenciar em uma rápida e eficiente recuperação nos estímulo específicos de uma partida de futebol, de acordo com os resultados obtidos no presente estudo.

    Em um estudo feito Hovanloo et al. (2010) com 41 voluntários, foi realizada uma comparação entre o VO2 máximo e a capacidade de realizar sprints repetidamente em diferentes níveis de condicionamento. A conclusão dada foi que para indivíduos com capacidade aeróbica de média para alta (VO2 máximo = 46,46 ml.kg.min ± 1,97 a 55,63 ± 1,52 ml.kg.min) não existe uma correlação significativa (r = - 0,64). Este resultado incrementa a nossa análise e corrobora com o resultado que obtivemos. Nossa amostra foi composta de atletas com média para alta capacidade aeróbica e que sendo assim parecem não depender do seu sistema aeróbico como principal ferramenta na rápida recuperação de atividades consecutivas de alta intensidade.

    Em um trabalho apresentado por Weyand et al. (1999) foram analisados os efeitos da hipoxia em atividades de sprints repetidos. A concentração de oxigênio ambiente foi reduzida de 20,9% para 13%. Os resultados demonstraram que mesmo em ambientes com baixa concentração de oxigênio, é possível sustentar a potência em estímulos consecutivos iguais ou inferiores a 60 segundos de duração. Os autores concluíram que em atividades de sprints repetidos a atuação dos mecanismos anaeróbicos exerce influência maior do que a via oxidativa.

    Aziz et al. (2000) em seu estudo desenvolvido em Cingapura com 40 atletas da seleção masculina de futebol com média de idade 22,6 ± 4,2 anos, submeteram os avaliados a um teste em esteira até a exaustão para a determinação do VO2 máximo e também, a 8 sprints de 40 metros no campo de jogo para determinar a potência anaeróbica. A partir dos resultados obtidos os autores estabeleceram que o VO2 máximo não possui correlação significativa ( r= -0,08) com atividades consecutivas de alta intensidade. Com relação ao tempo total dos sprints foi obtida uma correlação moderada (r= 0,346). Isto sustenta o que foi encontrado em nosso estudo, no que diz respeito à capacidade aeróbica estar mais associada ao tempo do total das ações de um jogo do que a atividades de sprints repetidos.

    Bogdaniseta (1996) diz que a depleção das reservas de fosfocreatina (PCr) é vista na literatura como um fator limitante na performance em atividades de sprints repetidos. Segundo o autor, isso está associado à grande relação entre a PCr e a potência anaeróbica. A queda na performance pode também estar relacionada à queda no pH intracelular, que também exerce influência no rendimento da potência anaeróbica. Harris et al. (1976) citam que a acidose intracelular pode prejudicar a recuperação de estímulos repetidos de alta intensidade através da inibição da glicólise, ressíntese de PCr e interferência no processo de contração muscular. Analisando estas afirmações observamos que a recuperação entre estímulos repetidos de alta intensidade e curta duração pode estar associada a outros mecanismos fisiológicos característicos do sistema anaeróbico.

    Ivy et al. (1980) colocam o limiar de lactado, a captação máxima de oxigênio (VO2 máx) e ressíntese de PCr como variáveis relacionadas à atividade da citrato sintase e que são utilizadas para avaliar os resultados de um programa de treinamento de endurance. Em um estudo desenvolvido por Bogdanis et al. em 1996 foi encontrada uma forte correlação entre a taxa de ressíntese de PCr e o limiar de lactato (LL), o que terminou por sugerir que o LL tem mais correlação com a potência anaeróbica que o VO2 máx.

    Outro fator interessante de ser observado é a idade dos atletas analisados. Este estudo observou atletas com idade de 16,84 ± 0,35 o que nos limita o entendimento dos resultados como determinantes para qualquer futebolista, pois na categoria de base o atleta se encontra em período de formação, seja ela da parte fisiológica, técnica, tática, psicomotora ou até mesmo emocional. Segundo Villar e Denadai (2001), o avançar da idade da infância até a vida adulta está relacionado ao aumento da atividade enzimática glicolítica, as alterações no perfil antropométrico e ao desempenho aeróbico e anaeróbico. Sendo assim, a resposta de um jovem futebolista a qualquer estímulo deve ser interpretada com cautela, pois essa é influenciada pelo estágio maturacional no qual ele se apresenta, e não necessariamente terá paralelo com os resultados de jogadores com estado maturacional finalizado.

Conclusão e recomendações

    A partir dos resultados obtidos neste estudo, parece que a distância máxima percorrida no Yoyo Endurance Test, que estima a capacidade aeróbica do indivíduo, não tem relação com um índice de fadiga menor obtido no RAST. O presente estudo possui algumas limitações que podem ter influenciado no resultado, como a não mensuração dos prováveis estágios maturacionais dos atletas e o fato de o tamanho da amostra ser pouco representativo. Nesse sentido, é necessário maior aprofundamento do tema, assim como a realização de estudos específicos para encontrar uma resposta comprovada.

    Com relação ao índice de fadiga, é possível que o indivíduo obtenha resultados satisfatórios nessa variável, porém gerando valores baixos para a potência máxima, o que acarretaria um tempo maior para a execução do estímulo. Isso significa que se o atleta executar sprints com tempos altos, entretanto próximos, apresentará um baixo índice de fadiga, mas será inferior nas outras variáveis estimadas no teste, como potência máxima, média e velocidade máxima. Sendo assim, é necessário atentar para todas as variáveis estimadas pelo teste, para então poder determinar o nível de condicionamento em que o atleta se encontra.

    Em relação ao VO2 máximo, este deve ser desenvolvido com o objetivo de auxiliar o indivíduo a suportar o volume total do jogo sem a demonstração excessiva de fadiga. Os dados apresentados e discutidos abrem espaço para questionarmos a necessidade de treinamento para aumento da capacidade aeróbica de futebolistas, pois foi observada uma baixa correlação entre um alto VO2 e a demanda energética específica de uma partida de futebol.

Referências

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