Uso do biofeedback em paciente com incontinência fecal e dissinergia do assoalho pélvico. Relato de caso Uso del biofeedback en paciente com incontinência fecal y disinergia del piso pelviano. Relato de caso |
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*Fisioterapeuta, Especialista em Uro–ginecologia do Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES, Curitiba, PR **Motilidade Digestiva – GastroClínica Foz , Foz do Iguaçu, PR ***Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, Florianópolis, SC (Brasil) |
Maria Graciela Puerta Arend* Gilson Arend** Gustavo Fernando Sutter Latorre*** |
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Resumo A dissinergia do assoalho pélvico que se manifesta através da contração paradoxal do puborretal (anismo) é condição que pode ser encontrada em pacientes com incontinência fecal. Metodologia: Descreve-se paciente que apresenta incontinência fecal e anismo que foi tratado com biofeedback. O caso relatado reforça a importância de que o biofeedback é uma boa alternativa para o tratamento da incontinência fecal associada à evacuação dissinérgica. Objetivo: Demonstrar que o biofeedback constitui um importante meio terapêutico da continência anorretal e do anismo (dissinergia do assoalho pélvico). Conclusão: O uso do biofeedback tem evolução clínica favorável na incontinência fecal e dissinergia do assoalho pélvico. Unitermos: Incontinência fecal. Anismo. Dissinergia do assoalho pélvico. Biofeedback.
Abstract Pelvic floor dysfunction known through the paradoxical contraction of the puborectalis (anismus) is a condition that can be found in patients with fecal incontinence. Methodology: We outline a patient that presents fecal incontinence and anismus that was treated with biofeedback. The referred case reinforces the importance that biofeedback is a good alternative for the handling of the fecal incontinence associated to dysfunctional evacuations. Objective: Demonstrate that the biofeedback constitutes an important therapeutic tool for anorrectal and anismus (dysfunction of the pelvic floor). Conclusion: Biofeedback has a positive clinical evolution in the fecal incontinence and dysfunction of the pelvic floor.Keywords: Fecal incontinence. Anismus. Pelvic floor dssinergy. Biofeedback.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Incontinência anal é a passagem involuntária de gases, fezes ou a incapacidade de adiar a expulsão das fezes para uma ocasião adequada. É mais freqüente do que se pode estimar, seus sintomas são bastante constrangedores, levando ao isolamento do paciente e a graves perturbações psíquicas, sociais e profissionais (RENATO DANI, 1998).
O anismo ou contração paradoxal dos músculos puborretais manifesta-se por vontade de evacuar, sem capacidade de exonerar o conteúdo retal, por mais esforço que se faça. É de causa desconhecida, acomete homens e mulheres, é uma síndrome de instalação lenta e gradativa, geralmente acompanhada de obstipação. (VIEBIG e FELIX, 2006). Cerca de 2% da população mundial sofrem de incontinência fecal. (NELSON, 1995).
Geralmente o anismo ou contração paradoxal dos músculos puborretais está associado à constipação e não a incontinência fecal (KLAUSER AG et al 1990), motivo pelo qual este caso torna-se relevante, tendo como objetivo demonstrar que o uso do biofeedback constitui um importante meio terapêutico para o tratamento das alterações do mecanismo da continência anorretal e do anismo (dissinergia do assoalho pélvico).
Métodologia
O estudo de caso foi realizado com um paciente do sexo masculino que apresentava incontinência fecal e sinais de anismo. Realizou-se uma avaliação clínica inicial e estudo de manometria anorretal (MAR) com aparelho ALACER de perfusão com sonda de 8 canais prévia ao tratamento e também após as sessões de reeducação. A MAR é um método básico de exploração anorretal para avaliação funcional do esfíncter anal interno (EAI) e externo (EAE), assim como, outros aspectos da fisiologia anorretal. (ANA L.C. IZOTON, 2000).
Figura 1. Manometria anorretal mostrando o anismo
Foi realizado questionário de qualidade de vida antes e depois do tratamento. Realizaram-se 10 sessões de biofeedback, com o aparelho Neurodyn Evolution. Entre as sessões se aplicou o método de cinesioterapia domiciliar utilizando-se exercícios de contração e relaxamento do esfíncter anal similares aos realizados nas sessões de reeducação esfincteriana reto-anal no consultório. Os exercícios de reeducação realizados no consultório seguiram um protocolo de tratamento montado pela fisioterapeuta pesquisadora. Foram utilizados os parâmetros do aparelho NEURODYN EVOLUTION, aplicou-se uma contração tônica a 50% - 6s, um repouso 30% - 5s, uma contração tônica 75% - 6s, um repouso 10% - 15s, uma contração tônica 90% - 10s, um repouso 10% - 20s, uma isometria prolongada 20s, um repouso 10% - 20s, três repetições de 2 picos 5s 60%%, com intervalos de repouso 10% 10s, três repetições de 2 picos 5s 90%, com intervalos de repouso 10% 10s, três repetições de trabalho ascendente 100% - 10s, com intervalos de repouso de relaxamento 10% 20s, quatro contrações faíscas uniforme 10s 80%, relaxamento 10% 20s, duas contrações não uniformes de 10s 50% e duas de 10s 50% com intervalos de repouso 10% 20s. A avaliação anorretal foi realizada com base na estrutura anatômica esfincteriana do segmento anorretal, nas estruturas neurológicas e na função anorretal. Na avaliação realizada com o biofeedback manométrico verificaram-se os mecanismos voluntários da contração esfincteriana e do relaxamento. A cada sessão foram feitas avaliações da fadiga muscular durante a realização dos exercícios. A pressão instantânea foi manipulada pela fisioterapeuta a fim de obrigar o paciente a maiores relaxamentos em cada contração solicitada.
Relato de caso
Paciente masculino, 52 anos, comerciante, sedentário, fumante há 34 anos. Apresenta como queixa principal a perda de fezes há aproximadamente um ano. Tem como antecedente cirúrgico uma hemorroidectomia há 3 anos e não faz uso de medicação. Não apresenta alterações na colonoscopia. Na manometría anorretal realizada no dia 05/06/07 apresentava aumento da força de contração voluntária, contração paradoxal do músculo puborretal às manobras de expulsão (anismo), diminuição da sensibilidade retal e assimetria no vetor volume.
Na inspeção proctológica não houve anormalidades na região peri-anal. Ao toque retal o tônus encontrava-se aumentado e havia uma assincronia durante a solicitação dos comandos de contração e relaxamento, sem uso de musculatura parasita. O reflexo bulbo cavernoso e o reflexo anal encontravam-se sem alterações.
Discussão
Ao final das 10 sessões de biofeedback foi verificada a melhora dos sintomas clínicos do paciente e também do anismo através dos parâmetros do estudo de manometria anorretal. O biofeedback oferece melhora em pacientes com incontinência fecal e disfunções do assoalho pélvico. (C.Y.KO et al 1997).
As funções do EAI e do EAE requerem uma série de interações complexas entre os componentes viscerais e somáticos da região, coordenados pelos mecanismos reflexos e da vontade consciente (WA VODERHOLZER, 1997).
Os fenômenos fisiológicos de integração reflexa podem desempenhar um papel importante na compreensão dos mecanismos da continência anorretal, da sensibilidade retal e dos transtornos fisiopatológicos da motilidade desta região. (DRA. DAISY HERNANDEZ, 2001).
O biofeedback tem como propósito a reeducação retoanal da evacuação e da continência, por meio de dispositivos visuais e sonoros. Baseia-se no auto-controle do paciente sobre as funções do organismo, por meio de aprendizado para o reconhecimento da resposta fisiológica da musculatura, que pode ser controlada pelo paciente. Durante o treinamento, o paciente recebe informações sobre a atividade fisiológica do esfíncter anal externo. (LOENING-BAUCKE, 1996). O treinamento objetiva a normalização da dinâmica evacuatória por um programa educacional baseado em instrumento para corrigir a dissinergia do assoalho pélvico e melhorar a sensibilidade retal. (RAO, 2003).
A habilidade de compreender os princípios básicos do treinamento e a cooperação são critérios de seleção importantes. O paciente deve estar motivado para aderir ao programa de biofeedback. (KECK, J.O. et al. 1994).
A reeducação do treinamento da coordenação através do biofeedback estimula a normalização dos valores pressóricos intraretais e das contrações do assoalho pélvico. (HEYMEN S, et al, 2001). Biofeedback é um método não invasivo para o tratamento conservador da incontinência fecal e anismo a fim de reeducar as funções reto anais. (CHIARIONI G et al 2005). O sucesso do biofeedback é atribuído ao restabelecimento da dinâmica evacuatória normal. (WALD, A. et al, 1986). A maioria dos estudos sobre treinamento com biofeedback mostrou boa eficácia a curto prazo, incluindo função esfincteriana e da sensibilidade retal, melhora psicológica e na qualidade de vida. (RAO, S.S.C. et al,1997).
Conclusão
O Neurodyn Evolution forneceu gráficos de fácil entendimento para o paciente, sendo um recurso terapêutico de simples e de fácil manipulação de seus programas. Podemos afirmar que a reabilitação da musculatura do assoalho pélvico através de um treinamento combinado de biofeedback (reeducação) e exercícios domiciliares são utilizados em estudos terapêuticos e tem-se comprovado com uma evolução clinica favorável em pacientes com incontinência fecal e anismo (dissinergia do assoalho pélvico).
Bibliografia
CHIARIONI Giuseppe, FERRI Barbara, MORELLI Antonio, IANTORNO Guido, BASSOTTI Gabrio. Bio-feedback treatment of fecal incontinence: Where are we, and where are we going? World J Gastroenterol, v.11 (31), p.4771-4775. 2005.
C.Y.Ko, TON, R. E. LENHMAN, A.A. SHELTON, T. R. SCHROCK and WELTON M. L. Department of Surgery, University of California , Los Angeles, USA. Biofeedback is effective therapy for fecal incontinence and constipation. v. 132, n. 8, August 1997.
DANI Renato, Gastroenterologia Essencial. RJ: Editora Guanbabara Koogan S.A, 1998, p. 370.
Dra. HERNANDEZ Daisy, Dra. FREYRE Irma Garcia, Dra BUSQUETS Elvira Borbolla y Enf. ILLAS Bárbara Pascau. La motilidade anorrectal en sujetos sanos. Rev Cubana Invest Biomed; v.20 (3), p. 202-8. 2001.
HEYMEN S, JONES K R, RINGEL Y, SCARLETT Y, WHITEHEAD W E. Biofeedback treatment of fecal incontinence: a critical review. Diseases of the Colon and Rectum, v. 44(5), p. 728-736. 2001.
IZOTON Ana Luiza Cardoso. Manometria Anorretal, The Elect J Ped Gast Nut Liv Dis, v.4 (3), September 2000.
KECK, J.O. et al. Biofeedback training is useful in fecal incontinence but disappointing in constipation. Disease of the Colon and Rectum, Baltimore, v.37, p.1271-1276, 1994.
KLAUSER AG, VODERHOLZER WA, HEINRICH CA, SCHINDLBECK NE, MÜLLER-LISSNER SA. Behavioral Modification of colonic Function. Can constipation be learned ? Dig Dis Sci, v. 35, p. 1271-5, 1990.
LOENING-BAUCKE, V.A. Encopresis and soiling. Pediatric Clinics of North America, Philadelphia, v.43, n.1, p.279-298, 1996.
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RAO S.S.C. et al. Effects of biofeedback therapy on anorectal function in obstructive defecation. Digestive Disease and Sciences, Pitsburgh, v.42, n.11, p.2197-2205, 1997.
RAO, S.S.C. Constipation: evaluation and treatment. Gastroenterology Clinics of North America, v.32, p.659-683, 2003.
VIEBIG Ricardo Guilherme; FELIX Valter Nilton. Função anorretal normal e alterada. São Paulo: Editora Redb Style, 2006, p. 27.
VODERHOLZER WA, NEUHAUS DA, KLAUSER AG, TZAVELLA K, MÜLLER-LISSNER SA, SCHINDLBECK NE. Paradoxical sphincter contraction is rarely indicative of anismus. Gut, v.41, p. 258-262. 1997.
WALD, A. et al. Anorectal function and continence mechanisms in childhood encopresis. Journal of Pediatric Gastroenterology Nutrition, New York, v.5, p.346-351, 1986.
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