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Análise quantitativa da distância percorrida, número de sprints

e velocidade máxima na Copa do Mundo de Futebol de 2010

Análisis cuantitativo de la distancia recorrida, número de sprints y velocidad máxima en la Copa del Mundo de Fútbol de 2010

Quantitative analysis of distance traveled, number of sprints and top speed in the world cup soccer 2010

 

CENESP- PE. Pós graduado em treinamento desportivo

Universidade de Pernambuco- PE

(Brasil)

Hugo Leonardo Correia Barreto

hugobarreto21@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivos: analisar (i) a distância percorrida, (ii) o número de sprints e (iii) a velocidade máxima dos atletas de diferentes posições que participaram da primeira fase da Copa do Mundo de futebol de 2010 e identificar diferenças entre as equipes classificadas e as não classificadas para as oitavas de final.

          Amostra: foi composta de 330 atletas que participaram de no mínimo uma partida completa das 32 seleções, nas 48 partidas da primeira fase. Métodos: foram realizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e Levene para avaliar a normalidade e homocedasticidade dos dados. E o teste de Mann-Whitney U para comparar as seleções que se classificaram para segunda fase da Copa do Mundo e os que não se classificaram, em cada posição (ataque, meio de campo e defesa). O valor de p<0,05 foi adotado como significante e os dados são apresentados como mediana e amplitude interquartil. Resultados: Houve apenas diferenças estatisticamente significante entre os atacantes dos times que se classificaram para as oitavas de final da Copa do Mundo comparado aos que não se classificaram (número de sprint = 104 ± 40 vs. 90 ± 32; p<0,05; velocidade máxima = 23,3 ± 5,6 vs. 22,5 ± 2,8 km/h; p<0,05, respectivamente). Todavia as diferenças obtidas nas demais posições não foram significantes (p>0,05). Conclusões: Os resultados obtidos não mostraram diferenças significativas das distâncias percorridas, porém apenas os atacantes das equipes classificadas alcançaram resultados estatisticamente superiores em número de sprints e velocidade máxima.

          Unitermos: Copa do Mundo. Distância percorrida. Número de sprints. Velocidade máxima.

 

Abstract

          Objectives: To examine (i) the distance traveled, (ii) the number of sprints and (iii) the maximum speed of athletes from different positions that participated in the first phase of World Cup 2010 and football teams to identify differences between classified and the non-classified for the quarter-final. Sample: was composed of 330 athletes who participated in at least one complete game of the 32 teams, 48 matches in the first phase. Methods: We performed the Kolmogorov-Smirnov and Levene tests to assess normality and homoscedasticity of the data. And the Mann-Whitney U test to compare the teams that qualified for the second phase of the World Cup and those who failed to qualify in each position (attack, midfield and defense). The p value <0.05 was taken as significant and data are presented as median and interquartile range. Results: There were only statistically significant differences among the attackers of the teams that qualified for the final round of the World Cup than those who did not qualify (number of sprint = 104 ± 40 vs. 90 ± 32, p <0.05; speed = 23.3 ± 5.6 vs. 22.5 ± 2.8 km/ h, p <0.05, respectively). However the differences obtained in the other positions were not significant (p> 0.05). Conclusions: The results showed no significant differences in distances traveled, but only qualified teams of attackers achieved statistically superior in number of sprints and top speed.

          Keywords: World Cup. Distance traveled. Number of sprints. Top speed.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo Barros & Guerra (2004)[1] o futebol é caracterizado pela realização de esforços de alta intensidade e curta duração, interposto por períodos de menor intensidade e duração variada. Dessa maneira pode-se conceituá-lo como atividade de natureza intermitente e acíclica. O jogo acontece em um campo com dimensões aproximadas de 105m x 70m, onde cada futebolista executa corridas em alta intensidade e acelerações em distâncias que variam de 5 a 60m. Assim, as dimensões do campo e a duração da partida exigem dos jogadores um elevado nível de condicionamento físico (Gomes, 2008)[2].

    De acordo com Barros & Guerra (2004)[1] os estudos que procuram estabelecer as características da movimentação ou a carga fisiológica impostas aos atletas durante uma partida são feitas por meio de análise da distância percorrida, entre outras. Ekblom (1993)[3] afirma que, de 8 a 12% da distância total percorrida durante um jogo são realizadas em velocidade de sprint.

    As movimentações de um jogador durante uma partida dependem de vários fatores, tais como a equipe adversária, importância da partida, motivação e tática de sua equipe (posicionamento do atleta)[4]. Mesmo nos níveis mais básicos, as posições são de defensores, de meio-campistas e de atacantes[5]. Sendo assim os treinamentos físicos estão sendo cada vez mais direcionados para as ações motoras que envolvem a partida diferenciando o atleta por sua posição e característica individual, por isso a necessidade de serem desenvolvidos mais estudos que abordem esse tema. Barbanti (2010)[6] afirma que o treinamento deve está intimamente relacionado com a característica do esporte, a fim de produzir uma adaptação específica para a modalidade.

    Este estudo foi desenvolvido através de uma análise estatística durante a copa mundo de futebol, pois é o maior evento entre seleções da modalidade, que acontece a cada 4 anos e reúne as 32 seleções mais bem colocadas em todas as confederações. Em 2010 esse mega evento foi realizado na África do sul e teve como campeã a seleção da Espanha.

    Desta forma o presente estudo teve como objetivo analisar e comparar os indicadores de (i) distância percorrida, (ii) número de sprints e (iii) velocidade máxima entre as seleções que se classificaram e as que foram desclassificadas na primeira fase da Copa do Mundo FIFA 2010 nas suas diferentes posições.

Métodos

Amostra

    Foram analisados todos os jogos da primeira fase totalizando 48 partidas, em que as 32 seleções foram estudadas, com 330 atletas na primeira fase da Copa do Mundo de 2010.

Coleta de dados

    Os dados foram coletados e analisados estatisticamente pela FIFA e divulgados em seu site oficial na Copa do Mundo de futebol masculino 2010[7]. Foram estudadas as movimentações (distância percorrida, número de sprints e velocidade máxima) com ou sem a posse da bola, apenas dos atletas que participaram do tempo total da partida. Cada seleção foi analisada em todas as posições descritas pela FIFA, defensores, meio-campistas, e atacantes, e divididas em dois grupos, as que conseguiram e as que não conseguiram se classificar para as oitavas de final.

Análise estatística

    Foram realizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e Levene para avaliar a normalidade e homocedasticidade dos dados, respectivamente. Foi utilizado o teste de Mann-Whitney U para comparar as seleções que se classificaram para segunda fase da Copa do Mundo e os que não se classificaram, em cada posição (ataque, meio de campo e defesa). O valor de p<0,05 foi adotado como significante e os dados são apresentados como mediana e amplitude interquartil.

Resultados

    Somando todos os atletas analisados nas 48 partidas resultou no número de 330 jogadores, no qual 165 foram das seleções classificadas e o mesmo número das que não se classificaram.

    Em termos gerais, das seleções classificadas, a que percorreu a maior distância em toda a primeira fase da copa foi o Japão com um total de 331.4 km e quem somou uma maior quantidade de sprints foi a seleção mexicana que totalizou nos 3 jogos iniciais um número de 3.474 sprints, e a seleção que atingiu a maior velocidade foi a Alemanha com 30,1 Km/h. Das seleções que não se classificaram a Austrália ganhou em distância total percorrida e número de sprints, 337,6 Km e 3849 respectivamente e a seleção que alcançou a maior velocidade foi a Grécia com 31,5 Km/h.

    Na figura 1 são apresentados os dados da distância total percorrida, em cada posição, entre os times que se classificaram para segunda fase da Copa do Mundo comparado aos que não se classificaram. Contudo não foram observadas diferenças estatisticamente significantes na variável distância total entre os times que se classificaram para segunda fase da Copa do Mundo comparado aos que não se classificaram (p>0,05).

    Em relação às variáveis números de sprint e velocidade máxima, figuras 2 e 3 pode-se observar, diferenças estatisticamente significante entre os atacantes dos times que se classificaram para as oitavas de final da Copa do Mundo comparado aos que não se classificaram (número de sprint = 104 ± 40 vs. 90 ± 32; p<0,05; velocidade máxima = 23,3 ± 5,6 vs. 22,5 ± 2,8 km/h; p<0,05, respectivamente). Todavia as diferenças obtidas nas demais posições não foram significantes (p>0,05).

Figura 2. Número de sprint, em cada posição, entre os times que se classificaram para segunda fase da Copa do Mundo comparado aos que não se classificaram. * p<0,05.

 

Figura 3. Velocidade máxima, em cada posição, entre os times que se classificaram para segunda fase da Copa do Mundo comparado aos que não se classificaram. *p<0,05.

Discussão

    Os principais resultados deste estudo foram: a distância percorrida ao longo dos jogos foi similar entre os jogadores dos times classificados e não classificados; no número de sprints e na velocidade máxima foi maior entre os atacantes dos times classificados em comparação aos atacantes não classificados.

    Diversos autores estudaram a distância percorrida por um atleta em uma partida de futebol (Mohr, Krustrup e Bangsbo, 2003[8]; Randers, Jensen e Krustrup, 2007[9]; Thatcher; Batterham, 2004[10]; Zubillaga et al., 2007[11]; Barros et al., 2007[12]; Bradley et al., 2009[13] e Braz, 2009[14]). De maneira geral esses estudos indicam que a média da distância percorrida por um futebolista de alto nível varia de 9,1 até 11 km[15], no qual os jogadores de meio campo são responsáveis por uma movimentação que chega a 11 km, os defensores 9,6 km, e os atacantes 10,5km[3].

    Nesse estudo os defensores das seleções classificadas percorreram em média 9,5 km enquanto os jogadores da mesma posição das seleções que não se classificaram se deslocaram em uma distância média de 9,7 km, os meio-campistas das seleções classificadas e não classificadas percorreram 10,7 km, e os atacantes 9,5 e 9,7 em média, respectivamente.

    Segundo Di Salvo et al. (2009)[16] um sprint pode ser caracterizado por uma rápida aceleração e por uma aceleração gradual. Vários estudos analisam a distância em sprints realizados por atletas de futebol. Coelho et al. (2011)[17], diz que as distâncias percorridas em sprints raramente ultrapassam 30 m. Mohr et. al. (2003)[8] afirmam que jogadores internacionais percorrem em uma partida um total de 650 m em sprint. Porém nenhum estudo analisado fala sobre número de sprints.

    Para Weineck, (2000)[18] um jogador com alta capacidade de aceleração consegue vantagens posicionais em relação ao seu adversário, como marcações mais eficientes e antecipações em jogadas decisivas. Devido a isso, esse estudo analisou os sprints, sobretudo sob a forma de números. O estudo indicou que o número de sprints foi similar entre os defensores e meio campistas das equipes classificadas e os das não classificadas. No entanto o número de sprints por jogo foi maior entre os atacantes classificados comparado aos não classificados (104 e 90 sprints por jogo para os classificados e não classificados respectivamente).

    Os resultados deste estudo indicaram que os defensores e meio campistas classificados e não classificados alcançaram a mesma velocidade máxima, em média 22,4 km/h e 22,6 km/h, respectivamente. Já os atacantes classificados obtiveram uma média de 23,3 Km/h, enquanto os não classificados 22,5 Km/h (p<0,05). Segundo Ekblom, (1993)[3] em todo o percurso percorrido pelo jogador cerca de 8% a 18% é na sua maior velocidade. Bangsbo y Mohr (2006)[19] constataram em suas pesquisas de variações nos exercícios de alta intensidade durante algumas partidas que os jogadores podem atingir em velocidade máxima de sprints em torno de 32 Km/h.

    Em um teste de velocidade de 30 m Coelho et al. (2011)[17] analisou a velocidade dos jogadores nos 10, 20 e 30 m em suas diferentes posições e concluiu que os atacantes nos 10 primeiros metros chegaram a 21,9 km/h, em 20 e 30m chegaram a 31,6 e 26,6 km/h respectivamente; os defensores (zagueiros e laterais) alcançaram 21,3 km/h, 31,8 km/h, 27,9 km/h nos 10, 20 e 30 m respectivamente, os meios campistas 22,3 km/h, 31,4 km/h, 26,6 km/h nos 10, 20 e 30 m respectivamente.

Conclusão

    As informações obtidas nas análises estatísticas das partidas de todas as seleções participantes da primeira fase da Copa do Mundo de futebol de 2010 podem ser mais uma ferramenta para auxiliar na preparação dos atletas desse esporte. Compreendendo melhor as ações do jogo, principalmente no que se trata (i) da distância percorrida, (ii) do número de sprints e (iii) da velocidade máxima desenvolvidos pelos melhores atletas de futebol, dentro do maior evento da modalidade.

    O resultado de uma partida não pode estar diretamente ligado apenas aos aspectos físicos abordados neste estudo, pois se trata de um desporto totalmente acíclico, envolvendo também técnica, tática, entre outros fatores. Porém, essas análises são de suma importância para tornar o treinamento cada vez mais direcionado para as necessidades da partida.

    Especificamente sobre a distância percorrida foi semelhante entre as equipes classificadas e não classificadas nas posições, defensores, meio campistas e atacantes. Porém, apenas os atacantes das equipes classificadas obtiveram um maior aproveitamento no que se refere ao número de sprints e velocidade máxima em comparação aos atacantes das equipes que não se classificaram para a segunda fase da Copa do Mundo.

Referências

  1. BARROS, T & GUERRA, I. Ciência do Futebol. Barueri: Manole, 2004.

  2. GOMES,A. & SOUZA,J. Futebol: treinamento desportivo de alto rendimento. Artmed, 2008.

  3. EKBLOM, B. Applied physiology of soccer. Sports Medicine, v.3, p. 50-60.[3]

  4. BANGSBO, J. Fútbol: condición física en el futbol. 3ª ed. Barcelona: Editorial Paidotribo, 2002.

  5. SOUSA, A. Aspectos fisiológicos no treinamento de futebol de campo. Lecturas Educación Física y Deporte, Buenos Aires, año 14, nº 132, 2009. http://www.efdeportes.com/efd132/futebol.htm

  6. BARBANTI, V. Treinamento Esportivo. Barueri: Manole, 2010.

  7. Estatísticas da FIFA Disponível em: http://pt.fifa.com/worldcup/archive/southafrica2010/matches/index.html. Acesso em 02. 02. 2011.

  8. MOHR, M. et. al. Match performance of high-standard soccer players with special reference to development of fatigue, Journal of Sports Science, v. 21, p. 439-449, 2003.

  9. RANDERS, M. et. al. Comparison of activity profile during matches in Danish and Swedish premier league and matches in Nordie royal league tournament. Journal of Sports Science and Medicine, n. 16, 2007. Suppl. 10

  10. THATCHER, R.; BATTERHAM,A. Devolopment and validation of a sport-specific exercise protocol of elite youth soccer players, Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, v. 44, n.1, p. 15-22, 2004.

  11. ZUBILLAGA, A. et. al. Match analysis of 2005-06 Champions League Final with Amisco System. Journal of Sports Science and Medicine, p. 20, 2007. Suppl. 10.

  12. BARROS, R. et. al. Analysis of the distances covered by first division Brazilian soccer players obtained with an automatic tracking method. Journal of Sports Science and medicine, n.6, p. 233-242, 2007.

  13. BRADLEY, P. et. al. High-intensity running in English FA Premier league soccer matches, Journal of Sports Science, v. 27, n. 2, p. 159-168, 2009.

  14. BRAZ, T.V. Modelos competitivos da distância percorrida por futebolistas profissionais: uma breve revisão. Revista Brasileira de Futebol, v. 2, p. 2-12, 2009.

  15. BRAZ, T.V. Modelo competitivo da distância percorrida por futebolistas na UEFA EURO 2008. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 3, p. 177-191, 2010.

  16. DI SALVO, V. et al. Analysis of high intensity activity in premier league soccer. International Journal Sports Medicine, v.30, p. 205-212, 2009.

  17. COELHO, D. et. al. Correlação entre o desempenho de jogadores de futebol no teste de sprint de 30m e no teste de salto vertical. Motriz, Rio Claro, v. 17, n. 1, p. 63-70, 2011.

  18. WEINECK, J. Futebol total: o treinamento físico no futebol. São Paulo: Phorte, 2000.

  19. BANGSBO, J. et. al. Demandas Físicas y Energéticas del Entrenamiento y de la Competencia en el Jugador de Fútbol de Elite. Journal of Sports Science, n. 24, v. 7, p. 665-674, 2006.

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