A importância da linguagem multimodal ao contexto da educação La importancia del lenguaje multimodal en el contexto de la educación |
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*Graduada em Educação Física Licenciatura pelo Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Especializanda do curso de Pós-graduação em Educação Física Escolar do CEFD/ UFSM **Professora Orientadora. Professora adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas do CEFD-UFSM. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Comunicação e Mídia na Educação Física e Esporte (NEP-COMEFE) |
Jaqueline Raquel Weiss* Marli Hatje Hammes** (Brasil) |
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Resumo O presente artigo está relacionado ao avanço tecnológico e suas implicações no contexto educacional e resulta de uma pesquisa bibliográfica sobre a importância da linguagem multimodal no ambiente escolar. O estudo resgata formas de linguagens utilizadas em ações pedagógicas a partir das novas mídias e tecnologias. Novos recursos e novas estratégias de comunicação, fundamentados na linguagem multimodal, que podem ser utilizados pelos professores para inovar e atingir os objetivos da aula. Assim, propõe-se a utilização de mídias como a TV, o computador e o rádio, e ferramentas tecnológicas como a internet e o blog. Palavras Chave: Linguagem multimodal, educação, mídias.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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“As linguagens, hoje, se tornaram multimodais. Um texto que já tem várias coisas inclusas. Som, imagem, texto, animação, um texto deve ter tudo isso para ser atrativo.(...) Quando vão para a escola, essas crianças se aborrecem, porque a escola é devagar.” (DEMO, 2008)
“A maior parte do referencial do mundo de crianças e jovens provém da televisão. Ela fala da vida, do presente, dos problemas afetivos – a escola é muito distante e abstrata- e fala de forma viva e sedutora- a escola, em geral, é mais cansativa.” (MORAN, 2006)
1. Contextualizando o tema
As falas de DEMO e MORAN, destacadas no início deste artigo, dão conta da importância de discutirmos os recursos e as estratégias didático-comunicativas que a escola vem utilizando no processo ensino-aprendizagem, em um contexto profundamente marcado por avanços nas mídias impressas (revista e jornal), audiovisuais (televisão e rádio) e telemáticas (computador). MORAN, em seu texto Desafios da televisão e do vídeo à escola, destaca ainda que o computador e a internet esteja ocupando o lugar da televisão e do vídeo na escola, quando ainda não dominamos essas mídias. A TV apresenta eficácia de comunicação em função de sua capacidade de articulação, de superposição e de combinação de linguagens diferentes (imagens, falas, música e escrita) (DEMO). Ainda segundo o autor, a força da linguagem audiovisual é muito forte e encontra uma repercussão muito grande em nosso repertório de valores.
Mas por que a escola é cansativa? Por que não avançou na mesma proporção que as mídias e tecnologias. Ainda está muito focada apenas na linguagem escrita, que data de cerca de 5 mil anos a.C. A linguagem da mídia impressa traz basicamente o elemento texto associado, muitas vezes, ao elemento imagem (fotos, gráficos, ilustrações). A linguagem da mídia eletrônica rádio traz basicamente o elemento som. A mídia eletrônica TV em termos de linguagem agrega os três elementos texto, imagem e som e ainda possibilita a animação. Esses elementos compõem a chamada linguagem multimodal destacada por DEMO (2008). Qual, então, a contribuição das mídias telemáticas/digitais? Facilitam e ampliam as possibilidades de utilização desses recursos em sala de aula.
Se houve todo esse avanço, inclusive, quanto ao acesso das mídias como recursos e estratégias metodológicas porque a escola ainda é cansativa? Por que professores e gestores ainda não se apropriaram suficientemente desses recursos e porque faltam investimentos basicamente em recursos humanos, equipamentos e manutenção. Mesmo diante desses problemas que dificultam a avanço da escola, como intervir nesse contexto utilizando as mídias?
A escola precisa investir em estratégias e recursos de ensino, precisa ampliar sua comunicação, a partir de novas linguagens, para que haja maior sintonia entre professor-aluno. A linguagem escrita, como forma prioritária de comunicação, perdeu muito espaço.
Como atualmente existe a necessidade de inovar em novas formas e estratégias de comunicação no ambiente escolar para chamar a atenção dos alunos é que propomos esta pesquisa. O avanço tecnológico exige que a escola avance. Será que as mídias e as tecnologias são recursos e estratégias que podem fazer a diferença no ensino?
Tornar as aulas mais atrativas e motivadoras, a partir da utilização da linguagem multimodal, é a proposta deste estudo. Inserir essa linguagem no ambiente da educação é bastante desafiador. Pretendemos motivar os professores a utilizar linguagens mais sofisticadas, a partir de diferentes mídias e tecnologias, que mexam com a sensibilidade dos alunos e que tornem as aulas mais dinâmicas, interessantes e significativas.
Como o estudo está voltado ao contexto escolar, utilizamos estratégia didática como sendo, segundo SERVAT e PALMA (2004), inovações e atitudes diferenciadas dos professores no transcorrer entre a explicação e a realização das atividades. São as mudanças e os acontecimentos com componentes imprevisíveis, pouco rotineiros ou repetitivos que ocorrem no “caminho transcorrido” entre a explicação e a realização da atividade, para um melhor entendimento e compreensão, visando alcançar os objetivos. Já os recursos didáticos são aquelas “ferramentas” utilizadas apenas para ilustrar os conteúdos que estão sendo desenvolvidos pelos professores.
A linguagem multimodal, aquela que integra som, imagem, texto e animação, apresenta muitas vantagens ao contexto educativo, colabora com o processo de ensino aprendizagem desde que utilizadas adequadamente. Para CASTRO (2001), a tecnologia não é uma atividade educacional; mas uma ferramenta, um meio para determinado fim. As tecnologias podem ser eficientes caso sejam deliberadamente projetadas e implementadas para aprimorar o engajamento dos estudantes no aprendizado e na colaboração.
As escolas estão atrasadas no que tange a inserção das mídias e tecnologias no processo ensino aprendizagem, embora boa parte da história da televisão e do vídeo esteja vinculada ao contexto escolar. A escola, no entanto, nunca aproveitou o potencial das mídias para avançar, inovar no processo educacional. Esse atraso da escola em relação ao uso da tecnologia deve-se, segundo BELLONI (2001) ao avanço da tecnologia, que foi mais rápido que a informação.
O uso das mídias e tecnologias, e por conseqüência, a linguagem multimodal, decorrente delas, na escola está vinculada a formação e atuação do professor. Se hoje poucos professores utilizam essa ferramenta de comunicação é porque muitos não foram preparados durante sua graduação. Ainda é incipiente, também, a formação continuada que trata da inserção e do uso das mídias e tecnologias no ambiente escolar. Mas não é só a falta de preparação, muitos professores não têm interesse em imprimir novas ações metodológicas em sua prática pedagógica, negando com isso a importância das mídias e tecnologias.
De acordo com TEIXEIRA E BRANDÃO (2003), a alfabetização tecnológica docente, apresenta-se como ponto fundamental na tarefa de decidir entre “inserir” a tecnologia na escola e “sofrer” seus impactos, ou possibilitar a “interação” com e através da tecnologia no ambiente educacional e suas implicações, possibilitando que o professor e aluno possam descobrir, compreender, interagir e contribuir para “modificar” a realidade que os cercam.
A escola precisa se atualizar. As ações educativas precisam ser redimensionadas para colocar o aluno como o centro da aprendizagem, levando em consideração seu papel ativo no ato de aprender. É também necessário levar em conta os diferentes estilos e modos de aprender, interesses e motivação dos alunos.
2. A linguagem multimodal no contexto educacional
A utilização da linguagem multimodal no contexto educacional vem crescendo, devido ao intenso desenvolvimento tecnológico nas últimas décadas quando surgiram novas mídia e novas tecnologias, que permitem uma realidade baseada em conexões, entre o utilizador e o conteúdo (Kerckhove,1995), entre pessoas (Kenski, 2001), entre os membros de comunidades formadas no contexto do ciberespaço, com múltiplos objetivos, entre os quais pode estar o de aprender (Lévy, 1999), todos citados por OLIVEIRA (2007).
A importância das mídias e tecnologias na vida das pessoas é inegável, através delas estão se modificando ambientes de trabalho, de educação, de diversão e a própria forma de se comunicar e pensar. Ocorrem mudanças nas práticas discursivas, fazendo surgir novas formas de comunicação e, portanto, novos gêneros. Esses gêneros chamados de virtuais produzidos no ambiente eletrônico podem trazer implicações nas praticas de leitura e escrita.
Com o surgimento de novas mídias e tecnologias, novos gêneros nascem e outros são modificados. Os gêneros que se apresentam no ambiente virtual são chamados gêneros virtuais ou digitais, ou seja, “a Internet transmuta de maneira bastante complexa gêneros existentes, desenvolve alguns realmente novos e mescla vários outros” (Marcuschi, 2004 apud PEIXOTO E LÊDO, 2009). As mesmas autoras afirmam que esses gêneros possuem características peculiares devido ao ambiente dinâmico e interativo em que se localizam, tais como: a linguagem multimodal. Esses fenômenos acabam por desenvolver relações interpessoais, como também modificam a linguagem utilizada, com o uso de abreviaturas e emoticons.
As linguagens multimodais segundo DEMO (2008), são aquelas que integram texto, som, imagem e animação, e de acordo com MAYER (2001) surgiram do advento da tecnologia computacional que permitiu uma explosão na disponibilidade de modos de apresentação visual de materiais, que por conseqüência causaram uma revolução no cenário da comunicação. E também ao contexto educacional, especialmente o escolar.
Para DIONÍSIO (2005), nossa sociedade esta “cada vez mais visual”, e define os textos multimodais como “textos especialmente construídos que revelam as nossas relações com a sociedade e com o que a sociedade representa”, já XAVIER (2004) destaca a “fusão de diversos recursos das varias linguagens numa só tela de computador acessíveis e utilizáveis simultaneamente em um mesmo ato de leitura provoca um construtivo embora volumoso impacto perceptual cognitivo no processamento da leitura”.
Para KRESS e VAN LEEUWEN (1996), há três metafunções de um texto multimodal que são elas: a representacional (estrutura narrativa e estrutura conceitual), a interpessoal (contato, distancia social, atitude e modalidade) e a composicional (valor informativo, saliência e moldura). Ainda os mesmos autores citam que “a multimodalidade dos textos escritos tem sido ignorada no contexto educacional, na teoria lingüística ou no senso comum popular”.
De acordo com PEIXOTO e LÊDO (2009), a multimodalidade também se apresenta como uma característica importante no meio virtual, uma vez que esta reflete uma maior integração entre as semioses (som, imagem e linguagem verbal), causando um maior estímulo no usuário, que se impressiona com a riqueza de recursos em um só ambiente. É exatamente para esse ambiente que a escola deve atentar, pois é ele que conquista milhares de jovens pela atração visual que oferece.
Em uma sociedade tecnológica, as linguagens interativas aplicadas à educação permitem ampliar as diferentes formas de abordar e entender diversos assuntos, proporcionando assim a aquisição de conhecimentos, competências e habilidades. O professor deve fazer sua parte procurando informações e utilizando recursos disponíveis, refletindo sobre sua utilização com as novas ferramentas.
O desenvolvimento das novas mídias, sobretudo, a internet “trouxe novas reflexões à relação que se estabelece entre elas o contexto escolar". Segundo DEMO (2008), “aquilo que a aprende na internet, são coisas da vida. Quando ela vai para a escola não aparece nada. A linguagem que ela usa na escola, quando volta para casa não vê em lugar nenhum.”
Para MORAN (2006), “a imagem mexe com o imediato, com o palpável. A escola desvaloriza a imagem e essas linguagens (expressão polivalente, dramatização, o jogo, a paráfrase, o concreto e a imagem em movimento) como negativas para o conhecimento. Ignora a televisão, o vídeo; exige somente o desenvolvimento da escrita e do raciocínio lógico.”
Para DEMO (2008), a escola precisa se situar nas habilidades do século XXI, que ainda não estão presentes no contexto escolar, mas aparecem em casa, no computador, na internet e na lan house. É neste ponto que o autor sugere uma grande mudança, que começa com e pelo professor. “Não há como substituir o professor. Ele é a tecnologia das tecnologias e deve se portar como tal”.
Com o avanço da tecnologia, o próprio conceito de educação está em xeque. Segundo MORAN (2006), hoje o ponto crucial da educação está em ajudar o educando a encontrar um eixo fundamental à vida dele, a partir do qual possa interpretar o mundo (fenômenos de conhecimento), desenvolver habilidades específicas e ter atitudes coerentes para sua realização pessoal e profissional.
Hoje, o aluno não precisa mais ir para escola para buscar informação, pois essa ele consegue em qualquer uma das mídias, especialmente na internet, com muito mais atrativos do que a escola oferece. O aluno precisa sim ir para escola e encontrar um professor que o ajude a interpretar, relacionar, hierarquizar e contextualizar as informações. Conquistar o aluno para essas finalidades é um desafio para o professor que deve aderir aos recursos e estratégias didáticas midiáticas para facilitar essa relação e cumprir com seu papel.
Ao propor a utilização da linguagem multimodal como recurso e estratégia didática nas aulas, temos a pretensão de ampliar e melhorar o espectro metodológico que envolve a atividade docente, pois entendemos que as diferentes ferramenta tecnológicas que permitem utilizar a linguagem multimodal não reduzem a importância do professor na sala de aula, pelo contrário, elas ampliam a importância dele frente ao novo papel que a sociedade tecnológica impõe a ele: o de mediador.
3. Considerações finais
Ao discutir a importância da linguagem multimodal no contexto escolar ampliamos a compreensão de que as mídias e tecnologias devem ser aliadas; que não devem ser tratadas como oposição às técnicas convencionais de educação, mas devem ser integradas para que a educação seja um processo rico, estimulante, enfim, completa.
O professor não deve ser refém das mídias e tecnologias, estas devem ser utilizadas como artefatos para a construção de uma nova comunicação, de novas formas metodológicas ao processo de ensino-aprendizagem. Se a escola permanecer distante, intelectualizada e cansativa, a mídia e as tecnologias vão conquistando cada vez mais adeptos, fora do ambiente formal de educação, por ser mais atrativa, sedutora e impactante.
A partir do estudo concordamos com DEMO (2006), quando afirma que “uma parte importante da aprendizagem acontece quando conseguimos integrar todas as tecnologias, as telemáticas, as audiovisuais, as textuais, orais, musicais, lúdicas e corporais”.
Referência bibliográfica
BELLONI, M. L. O que é Mídia e Educação. Campinas, SP : Autores Associados, 2001.
CASTRO, C. de M. A Educação na Era da Informação- o que funciona e o que não funciona. Tradução Joubert de Oliveira Brízida, RJ. UniverCidade Editora, 1ª edição, 2001.
DEMO, Pedro. Os desafios da linguagem do século XXI para o aprendizado na escola. Palestra, Faculdade OPET, junho 2008. Site: http://www.nota10.com.br
DIONÍSIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. 2005. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.) Gêneros textuais: reflexões e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. p. 131-144.
PEIXOTO, T. S. & LÊDO, A. C. Gêneros digitais: possibilidades de interação no Orkut. III Encontro Nacional sobre Hipertexto. Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009.
Programa Globo Repórter, 2010. Disponível em: http://g1.globo.com/globo-reporter/. Acesso em: 23 de outubro de 2010.
KRESS, G. and VAN LEEUWEN, T. Reading Images. The Grammar of Visual Design. Routledge: London, 1996.
MAYER, R. E. Multimedia learning. Cambridge, UK: Cambridge University Press. (2001).
MORAN, J, M. MASSETTO, M. BEHRENS, M.A. Novas tecnologias e mediação Pedagógica. Campinas: Papirus, 2006.
OLIVEIRA, M. R. N.S. Educação Tecnológica: pontos para reflexão. Educação e Tecnologia. Belo Horizonte, v. 2, n.2, p. 18-21, jul./dez. 2007.
SERVAT, D. R. e PALMA L. E. Professor de Educação Física e aluno com necessidades educacionais especiais: as formas e as estratégias de comunicação utilizadas nas aulas. Monografia (Aperfeiçoamento/Especialização em Ciência do Movimento Humano) - Universidade Federal de Santa Maria. 2004.
TEIXEIRA, A. C. e BRANDÃO, E. J. R.. Internet e Democratização do conhecimento: repensando o processo de exclusão social. Revista Novas Tecnologias na Educação. CINTED-UFRGS, V. 1, nº 1, Fevereiro, 2003.
TEIXEIRA, A. C.; BRANDÃO, Edemilson Jorge Ramos. Software Educacional: O difícil começo. Renote Revista Novas Tecnologias na Educação, http://www.cinted.ufrgs.br/, 2003.
WAGNER, L. A. P. e SOUZA, C. H. M. de. Uma sacada de Ouro. A mídia e suas diversas faces. Damadá Artes Gráficas e Editora Ltda, Itaperuna, RJ, 2007.
XAVIER, A. C. (Org.). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. P. 13-67.
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