Jogadas aéreas: o ponto forte do futebol na Copa do Mundo da África do Sul 2010 Las jugadas aéreas: el punto fuerte del fútbol en la Copa del Mundo de Sudáfrica 2010 |
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*Pós-graduandos do curso de treinador de futebol **Orientadora. Professora Mestre Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing Faculdade – IBGM, Recife (Brasil) |
Fabiano José dos Santos* Gustavo Costa Silva* Tatiane Acyoli** |
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Resumo As grandes seleções mundiais durante a Copa do Mundo da África do Sul adotaram, dentre suas inúmeras características técnicas, o jogo aéreo como uma estratégia mais direta e objetiva em se alcançar os resultados. A incessante busca pelo gol requer que as seleções mundiais ampliem o seu poderio ofensivo, não só através do jogo curto, em espaços reduzidos, mas da utilização dos lançamentos com o propósito de fazer o gol, que buscam minimizar o tempo em se chegar ao campo adversário e, conseqüentemente, à meta, onde o uso dessa manobra ofensiva tornou-se o mais explorado pelas equipes na Copa do Mundo 2010 e que surtiram efeitos positivos no resultado final dos jogos. Analisar a importância das jogadas aéreas na criação de situações de gol e sua contribuição para obtenção de vitórias na Copa do Mundo de 2010. Este trabalho foi desenvolvido através do método de observação dos jogos da Copa do Mundo da FIFA 2010, de forma sistemática e estruturada, definidas para responder aos propósitos preestabelecidos: analisar a incidência dos gols de jogadas aéreas, através dos fatos ocorridos e levantando dados numéricos a partir da observação. Unitermos: Jogo aéreo. Manobra ofensiva. Copa do Mundo.
Trabalho de conclusão de curso de pós-graduação apresentado no curso de treinador de futebol no Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing- IBGM.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
O futebol como outros setores da sociedade mundial se globalizou. Os atletas e comissões técnicas passaram a trocar informações e a cultura dos centros futebolísticos fundiu-se e, por conseqüência, as características táticas tornaram-se comuns, variando apenas as especificações técnicas de execução, bem como as formas como são trabalhadas.
No futebol moderno, a preparação física e os sistemas de marcação estão cada vez mais desenvolvidos, fazendo com que a condição atlética e o posicionamento centralizado dos jogadores dificultem as investidas de quem ataca. Sendo assim, as equipes buscam alternativas para aproximarem-se mais rapidamente do gol adversário, gerando um desequilíbrio na retaguarda e facilitando as chegadas à frente.
Não se pode mais dizer que o jogo aéreo é uma típica jogada européia ou, mais especificamente, das equipes inglesas, haja vista que a condição física desses atletas (desenvolvimento muscular e estatura) e a deficiência técnica existentes nos mesmos obrigavam-nos a realizar um tipo de movimentação objetiva, que se tornara um dos princípios fundamentais do futebol - a jogada aérea - pela qual surtia efeitos favoráveis numa partida de futebol.
As grandes seleções mundiais durante a Copa do Mundo da África do Sul adotaram, dentre suas inúmeras características técnicas, o jogo aéreo como uma estratégia mais direta e objetiva em se alcançar os resultados. Mas será que as constantes jogadas aéreas, das seleções mundiais na Copa do Mundo, trouxeram benefícios significativos para a obtenção dos resultados? O lucro nas conquistas das equipes na Copa do Mundo foi alcançado por explorarem esse tipo de jogada em suas manobras ofensivas, devido à maior facilidade que se tem para organizar esse tipo de investida ao gol.
A incessante busca pelo gol requer que as seleções mundiais ampliem o seu poderio ofensivo, não só através do jogo curto, em espaços reduzidos, mas da utilização dos lançamentos com o propósito de fazer o gol, que buscam minimizar o tempo em se chegar ao campo adversário e, conseqüentemente, à meta, onde o uso dessa manobra ofensiva tornou-se o mais explorado pelas equipes na Copa do Mundo 2010 e que surtiram efeitos positivos no resultado final dos jogos.
Porém, essa situação de jogo é bem mais complexa do que se imagina, já que os conteúdos técnicos do jogo de futebol são, em sua grande maioria, aprendidos com o implemento do jogo, que é a bola, em contato com o solo. O futebol tem seu grau de especificidade técnica muito elevado, principalmente quando a bola ganha a trajetória aérea, onde os atributos das condições motoras devem ser mais intensamente treinados pelos atletas, não se limitando a criar apenas situações de jogo, mas também realizar treinamentos técnico-específicos que condicionem e aperfeiçoem as destrezas que competem a um jogador de futebol.
A repetição dessa laboração técnica nos treinamentos, que envolve um conjunto de atividades específicas, serve de estímulo para o refinamento das competências necessárias para as jogadas aéreas, sendo importantes as variações na forma como são treinadas as técnicas de passe, controle de bola e finalização, que irão resultar num melhor desempenho das ações ofensivas e no fortalecimento das equipes.
A relevância deste trabalho é vista pelo altíssimo número de gols que ocorreram na Copa do Mundo de Futebol da África do Sul a partir das jogadas aéreas, já que muitas foram as partidas que tiveram seus resultados definidos através dessa manobra, mostrando claramente as equipes mais preparadas tática e estrategicamente, num tipo de competição que exige o máximo de acertos e o mínimo de erros, onde os detalhes formaram o diferencial para que os resultados fossem favoráveis às seleções que procuraram se apropriar desse artifício muito utilizado no futebol, porém pouco estudado na forma que será vista neste trabalho.
2. Objetivos
2.1. Objetivo geral
Analisar a importância das jogadas aéreas na criação de situações de gol e sua contribuição para obtenção de vitórias na Copa do Mundo de 2010.
2.2. Objetivos específicos
Definir o que são as jogadas aéreas;
Relatar a incidência das origens dos gols de jogadas aéreas;
Discriminar o que são lançamentos e cruzamentos;
Qualificar os passes aéreos como lançamentos.
3. Revisão de literatura
A jogada aérea, comumente utilizada no futebol profissional, traz consigo valores no plano de jogo de uma equipe, que podem definir suas ações táticas e estratégicas, independente do sistema de jogo adotado. A ação de lançar a bola a um ponto específico do campo em busca de um atleta melhor posicionado pode mostrar quais são as formas que uma equipe adota para criar situações de ataque, como também o tipo de posicionamento que os atletas ocupam no campo de jogo através de esquemas previamente definidos.
3.1. Sistema de jogo e esquema jogo
Entende-se por sistema de jogo, a distribuição dos jogadores em campo para o início de partida. Formação básica que objetiva preencher todos os espaços do campo, definindo tarefas pertinentes a essa distribuição (GARCIA CHICO (1993), FRISSELLI; MANTOVANI (1999), BANGSBO E PEITERSEN (2003)).
Drubscky (2003) usa o termo sistema tático para definir sistema de jogo e diz que como o conjunto das táticas que determinam as ações e características de uma equipe é a idéia do jogo, o desenho tático, esquematizações, variações, posturas, sistemas de marcação, detalhes táticos e estilos de jogo. O sistema tático é definido pelas numerações 4-4-2, 3-5-2 ou 4-3-3. Já o esquema tático é um elemento do sistema tático, resumindo são as jogadas ensaiadas, por exemplo, uma movimentação no campo treinada pelos jogadores ou setores da equipe.
3.2. Estratégia de jogo e tática de jogo
Na estratégia de jogo determinamos a forma como os jogadores se posicionam dentro de campo, independentemente do sistema tático adotado.
Para Bangsbo e Peitersen (2003), a estratégia de jogo é o modo que cada jogador se comporta no campo de jogo, tanto individualmente como coletivamente em coordenação com seus companheiros dentro de um contexto organizado.
Para Frisselli e Mantovani (1999) são ações provenientes de bola parada, que se podem desenvolver durante uma partida de futebol, com o objetivo de neutralizar ou suplantar o adversário, através de estratégias utilizadas nos escanteios, nas faltas, nas reposições de bola, tanto no plano ofensivo, como no plano defensivo.
A tática de jogo é entendida como um planejamento no qual pode ser aplicado em diferentes situações, tendo como finalidade alcançar objetivos propostos, utilizando recursos disponíveis: condições físicas e técnicas da equipe e do adversário; regras de futebol; regulamento; clima; local; arbitragem e dados estatísticos.
Para Frisselli e Mantovani (1999), tática é a ação de ataque e defesa, com a bola em movimento, e que acontece durante a partida, com a função de surpreender ou frear o adversário. Segundo os autores, a tática é o mesmo que esquema só que com a bola em movimento.
Frisselli e Mantovani (1999) ainda dividem a tática em defensiva e ofensiva. Para eles o termo fundamentos táticos do jogo de futebol diz respeito a certo número de princípios simples e adaptáveis a qualquer sistema de jogo.
3.3. Jogadas aéreas ou lançamentos?
Podemos, então, afirmar que as jogadas aéreas passam a ter aspectos semelhantes dentro do futebol, pois apresentam características de esquemas de jogo, onde através de um sistema tático buscam ações ofensivas para a utilização das manobras ofensivas, apresentam ainda a formatação de uma estratégia de jogo porque conta com o posicionamento que os jogadores assumem dentro do campo e ganham também o aspecto tático-ofensivo, de acordo com suas variantes táticas que influenciam no estilo de jogo das equipes.
Para Santos (2009) as movimentações de avanço das equipes estão voltadas para ações de ataque que preparam as condições necessárias para que surjam as jogadas aéreas e que, direta (definam a jogada) ou indiretamente (lance anterior acontece antes da definição da jogada), o gol aconteça.
Dentro dos inúmeros fundamentos técnicos do futebol, um prevalece em relação aos demais por se tratar de sua relevância coletiva, que é o passe. O passe se configura por mostrar características quanto à forma de bater na bola, à distância percorrida pela bola, às partes do corpo que podem executar o passe e a trajetória que a bola adquire, sendo nesta última que nos deteremos.3.3.1. Lançamentos x cruzamentos
Para Costa (2005) o passe em relação a sua trajetória pode ser rasteiro, meia altura, alto e parabólico, onde os passes meia altura, altos e parabólicos se configuram como o lançamento da bola à procura de outro jogador melhor colocado, onde se busca uma ação ofensiva que leve direta ou indiretamente a uma finalização, ou seja, o lançamento da bola caracteriza efetivamente esses passes como aéreos, conseqüentemente, uma jogada aérea.
O cruzamento no futebol recebe essa denominação devido aos atletas buscarem, através de um lançamento, outros jogadores em melhor posição dentro da área, isso porque o trajeto da bola pode cruzar as linhas que delimitam a grande área, podendo ser entendido também como um lançamento à área.
Para Santos (2009) a jogada aérea é a ação em lançar a bola ao ataque, seja na diagonal ou na paralela, na busca de um atleta melhor colocado, com o objetivo de minimizar o tempo para atacar, criando uma situação favorável para surpreender o adversário na tentativa de concretizar o lance em gol.
4. Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido através do método de observação dos jogos da Copa do Mundo da FIFA 2010, de forma sistemática e estruturada, definidas para responder aos propósitos preestabelecidos: analisar a incidência dos gols de jogadas aéreas, através dos fatos ocorridos e levantando dados numéricos a partir da observação.
5. Resultados e discussões
5.1. Primeira fase da Copa do Mundo
Ficou evidenciado que as jogadas aéreas foram o ponto forte da primeira fase, haja vista os números de gols ocorridos que tiveram origem desse tipo de ação ofensiva, onde dos 101 gols, mais da metade (54 gols) foram originados de lances aéreos.
Os gols aéreos foram concluídos por 26 das 32 seleções, ou seja, apenas seis equipes não fizeram gols de jogadas aéreas, um número considerável de equipes que conseguiram gols usando essa forma de atacar. Das 16 seleções classificadas para a segunda fase, 15 equipes fizeram gols de jogadas aéreas, ou seja, obtiveram a classificação fazendo uso da principal estratégia de jogo que se constituiu no ponto forte do futebol mundial.
Das seis seleções que não conseguiram gols de jogadas aéreas ficou evidente o mau desempenho obtido para cinco delas (França, Eslovênia, Argélia, Camarões e Honduras), onde 4 dessas (França, Argélia, Camarões e Honduras) foram eliminadas em último lugar em seus grupos e 2 (Argélia e Honduras) sequer fizeram gols na Copa.
As jogadas aéreas são extremamente importantes no futebol mundial, e isso foi demonstrado na copa, pois se observou que até mesmo seleções que fizeram uso dessa manobra e conseguiram concluir as chances criadas em gols foram desclassificadas, devido às outras equipes de seus grupos terem feito maior ou igual número de gols.
No caso anterior, das 11 seleções eliminadas na primeira fase e que fizeram gols de manobras aéreas, quatro (África do Sul, Grécia, Nigéria e Coréia do Norte) concluíram menos gols que as equipes classificadas em seus grupos, seis (Sérvia, Austrália, Nova Zelândia, Itália, Costa do Marfim e Suíça) fizeram igual número de gols e apenas a Dinamarca fez maior número de gols do que uma das equipes de seu grupo que foi o Japão.
Todas as 32 seleções realizaram três jogos na fase inicial da Copa do Mundo FIFA 2010, mas apenas duas, Argentina e Holanda, venceram seus três jogos, sendo nesse ponto um diferencial importante das jogadas aéreas para essas seleções, já que foram as equipes que mais conseguiram gols de lances aéreos - cinco e quatro, respectivamente.
5.2. Segunda fase (Oitavas de final)
O ponto forte da Copa 2010 na África do Sul, mais uma vez se mostra eminente na segunda fase, quando dos 22 gols dessa etapa, 13 foram originados de jogadas aéreas, ou seja, 59% dos gols. As seleções continuaram fazendo uso desse artifício ofensivo, pois os resultados obtidos na fase anterior foram bem significativos e não haveria o porquê de mudarem seus esquemas de jogo adotados no início da competição.
Das 16 equipes classificadas, oito seleções (Uruguai, Coréia do Sul, Gana, Brasil, Holanda, Argentina, Inglaterra e Alemanha) utilizaram as jogadas aéreas, sendo que 6 dessas equipes (Uruguai, Gana, Holanda, Brasil, Argentina e Alemanha) classificaram-se para a próxima fase enquanto as outras duas seleções (Coréia do Sul e Inglaterra) foram eliminadas porque seus adversários, nessa fase, fizeram uso de mais ações aéreas que resultaram em gols.
As manobras ofensivas aéreas foram decisivas nas vitórias do Uruguai ante a Coréia do Sul, pois os dois gols da celeste foram originados desse tipo de ação.
Dos oito jogos das oitavas de final, seis tiveram três ou mais gols, onde destes gols pelo menos um deles foi originado da ação aérea, destaque para o jogo entre Alemanha e Inglaterra, que dos cinco gols da partida, quatro foram de jogadas aéreas.
Outro ponto importante é que dos 13 gols, apenas quatro foram de cabeça, o que mostra que jogar a bola no alto nem sempre resultará em finalização de cabeça, variando na sua forma de concluir, pois depende de como o lance se originou, ou de como se deu a seqüência da jogada.
5.3. Quartas de final
Nesta fase, a ação ofensiva aérea tomou outro rumo, aumentando, não em quantidade de gols, mas sim no grau de importância nessa etapa, onde seleções como a Holanda, que definiu a sua vitória e ida às semifinais com dois gols de jogadas aéreas, e a Alemanha, que obteve dois dos seus quatro gols ante a Argentina de estratégias aéreas, conseguissem desarticular seus adversários, tendo total domínio dos mesmos, controlando a partida, ditando o ritmo e tendo a ordem do jogo, o que fez com que as equipes derrotadas perdesse seus controles emocionais, aumentando o número de erros, provenientes de outros aspectos técnicos que envolvem uma partida de futebol e sendo facilmente envolvidas por seus algozes.
Em dois, dos quatro jogos, ocorreram lances aéreos concluídos em gol, sendo esses jogos (Brasil 1 x 2 Holanda e Alemanha 4 x 0 Argentina) os que mais tiveram gols nessa fase.
As quatro equipes eliminadas nessa fase tiveram um ponto singular entre si que foi a não conclusão de lances aéreos em gol, o que resultou na desclassificação dessas, comparando o Brasil com a Holanda foram 21 cruzamentos da seleção canarinha contra 11 da Holanda e 9 lançamentos contra 7 da laranja mecânica, ou seja, mais eficiência por parte da seleção holandesa que teve mais qualidade na conclusão da ação aérea.
No confronto entre Argentina e Alemanha mais uma vez a eficiência se fez presente devido a Argentina ter feito 19 cruzamentos contra 15 da seleção germânica e lançando 3 bolas contra 2 dos alemães, porém o maior número de cruzamentos e lançamentos não resultaram na classificação da Argentina as semifinais.
5.4. Semifinais
O caminho que as jogadas aéreas tomaram na fase anterior se manteve nas semifinais, pois, nos dois jogos desta etapa, houve a diferença mínima de um gol, sendo os tentos decisivos concretizados de uma ação aérea que, conseqüentemente, definiram os dois finalistas da Copa do Mundo FIFA 2010.
A Holanda estabeleceu-se finalista com uma vitória de 3x2 ante o Uruguai, onde o seu último gol, originado de uma jogada aérea, definiu a classificação da Seleção holandesa; já o Uruguai não resumiu as suas ações aéreas em gols, já que cruzou 26 bolas contra 16 dos holandeses e lançou sete bolas contra 6 dos seus adversários.
Já num jogo bastante disputado entre Espanha e Alemanha, a eficiência espanhola se fez presente com o gol surgido de uma ação aérea, proveniente de um escanteio, que definiu a ida da Espanha à final da Copa do Mundo, numa partida onde a Alemanha foi mais incisiva nos cruzamentos a área (25x19), porém não tendo a mesma qualidade de decisão das fases anteriores, ou seja, a ação aérea trouxe uma característica mais qualitativa do que quantitativa, pois as equipes que mais utilizaram, em suas estratégias de jogo, as manobras ofensivas aéreas não obtiveram a classificação para a decisão do mundial.
5.5. Fase final
Dentre as equipes que chegaram à decisão um contraste enorme em relação as jogadas aéreas, pois a equipe da Holanda, que havia feito 12 gols na Copa do Mundo, antes da final, teve 9 destes originados de jogadas aéreas, onde enfrentaria a Espanha, que havia marcado 7 vezes, sendo apenas um de jogada aérea, porém este o mais importante, pois a levou para uma final inédita em sua história futebolística.
No jogo entre Espanha e Holanda o maior número de investidas aéreas por parte da “fúria” (21 x 15) mostrou o grande domínio que a equipe tinha sobre seus adversários, tendo também um maior número de lançamentos ofensivos (10x8) em busca do gol, sendo um destes o lance que resultou no gol do primeiro título espanhol.
Durante toda a Copa a Espanha fez apenas dois gols de ações originadas de bolas aéreas, enquanto a Holanda havia concluído nove gols com essa forma de atacar, porém a seleção espanhola foi a que mais cruzou bolas na área dentre todas as seleções, sendo 184 cruzamentos e também a que mais fez lançamentos, sendo 51 em direção ao ataque, o que caracteriza uma intensa busca em se fazer o gol por esse método de atacar.
Com este último jogo da principal competição mundial soma-se o total de 145 gols na Copa do Mundo da África do Sul, onde 77 gols foram de jogadas originadas de bolas aéreas e tendo juntado a esses gols um dado relevante que foram as formas como se originaram as jogadas, onde muitos pensam que os gols de jogadas aéreas são realizados a partir da “bola parada”, mas os números mostram que a realidade é bem diferente, onde 45 destes 77 gols foram consignados com a bola rolando.
Mais um ponto a ressaltar é que dos 77 gols de lances aéreos, 53 foram definidos de dentro da área, tendo apenas 28 gols sido definidos por cabeceio, o que significa afirmar que não se podem caracterizar os gols de jogadas aéreas quando concluídos apenas de cabeça.
Foram 64 jogos nesta Copa do Mundo, onde 47 partidas tiveram gols de jogadas que se originaram de manobras aéreas e o fundamental de tudo foi que quem utilizou as jogadas aéreas em seus jogos conseguiu 40 vitórias, um número muito significativo que mostra o quanto é importante se utilizar os cruzamentos e lançamentos como estratégia em um jogo de futebol.
Salientamos que 47 gols originados das manobras ofensivas aéreas foram concluídos no segundo tempo, o que se pode justificar pela necessidade das seleções em buscar o resultado de vitória, visando minimizar o desgaste físico e o tempo em se chegar ao ataque, pois quanto mais rapidamente eram feitos os gols, menor seria o tempo de uma equipe sofrer com a pressão do adversário que buscaria o placar adverso.
As equipes que conseguiram em seus jogos ter mais posse de bola do que seus adversários conquistaram 22 vitórias dentre os 47 jogos que ocorreram gols em lances aéreos, pois puderam usufruir de uma maior organização ofensiva, ou seja, precisavam manter a bola para confundir as dificuldades defensivas impostas pelas outras seleções e em conseqüência estabelecer estratégias que trariam benefícios no final das partidas.
5.6. Origens, ações das jogadas aéreas e exemplos da Copa
5.6.1. Tiro livre direto e indireto
Direta: Quando a bola após o seu lançamento é concluída em gol, seja ela no primeiro momento ou não por um mesmo jogador;
Ex.: Primeiro gol da Alemanha contra a Argentina nas quartas-de-final
Indireta: Quando após lançamento da bola uma série de eventos ocorre antes da conclusão, sendo envolvidos vários jogadores;
Ex.: Gol de empate da Coréia do Sul ante o Uruguai nas oitavas.
Indireta- direta: Quando uma falta ocorre de uma jogada aérea e na batida da mesma acontece o gol;
Ex.: Segundo gol da Coréia do Sul ante a Nigéria na última rodada da fase de grupos.
5.6.2. Escanteios
Direto: Quando após o lançamento da bola haja rapidamente a conclusão rápida por um único jogador;
Ex.: Gol da Espanha ante a Alemanha nas semifinais.
Indireto: Quando após o lançamento da bola, vários jogadores participem do lance antes da conclusão;
Ex. Segundo gol do Uruguai ante a Coréia do Sul nas oitavas de final
5.6.3. Reposição lateral
Direto: após o arremesso lateral ofensivo surge a conclusão rápida do jogador que a recebeu;
Ex.: Terceiro gol da Eslováquia contra a Itália pela terceira rodada.
indireto: quando o arremesso lateral ofensivo é realizado e várias jogadas de definição surgem para a conclusão da ação;
5.6.4. Bola rolando
Direto: A bola é lançada, numa ação ofensiva, e definida pelo jogador que a recebeu;
Ex.: Gol da Costa do Marfim ante o Brasil válido pela segunda rodada
Indireto: Quando a bola é lançada, numa ação ofensiva, e algumas ações ocorrem antes da conclusão da jogada;
Ex.: Gol da Espanha ante a Holanda na decisão
5.6.5. Reposição da bola com o goleiro
Direta: Quando é lançada pelo goleiro e o jogador que a recebe define a jogada;
Ex.: Primeiro gol da Alemanha contra a Inglaterra nas Oitavas-de-final
Indireta: Quando a bola lançada pelo goleiro a um jogador da sua equipe necessitando do auxílio de outras ações para definir a jogada.
Ex.: Gol da Suíça ante a Espanha na primeira rodada
5.6.6. Pênalti
Indireta: Quando o pênalti resulta de uma bola que é lançada a área e uma infração ocorrem no ato do lançamento.
Ex.: Gol de Gana contra Sérvia na primeira rodada.
6. Conclusão
As jogadas aéreas são uma fragmentação, como tantas outras do jogo de futebol que são intensamente executadas porque trazem situações favoráveis às equipes, principalmente sendo um jogo de Copa de Mundo, pois o distanciar a bola das proximidades da sua área torna-se uma grande arma ofensiva, ensaiada ou despretensiosa, que dificultará as ações defensivas do adversário.
É importante se entender que o lançamento da bola constitui-se numa ação aérea que determina e caracteriza a forma de jogar de uma equipe, pois não se podem resumir as jogadas aéreas por uma simples ação em lançar a bola na área, mas dar sentido que é uma manobra ofensiva que visa desestruturar a defesa adversária através de passes rápidos a fim de concluir os lances em gol.
Muitas seleções mundiais incrementaram essas manobras ofensivas no seu estilo de jogo, pois os resultados puderam ser alcançados de forma mais eficaz, porém a complexidade do trajeto ganho pela bola neste momento de atacar traz consigo uma dificuldade muito grande, pois não é a quantidade lançamentos da bola para o alto que determinará se uma seleção sairá vencedora de uma partida de futebol, mas sim a qualificação que se terá na construção e conclusão das jogadas aéreas.
Não se pode mais banalizar as jogadas aéreas como uma ocasião do jogo, ou ainda, uma exclusividade de equipes menos técnicas, basta observarem que bem mais da metade das seleções mundiais fizeram uso desse atributo e conseguiram definir muitos dos seus jogos dessa forma.
Construir uma jogada aérea envolve que outras destrezas motoras estejam bastante refinadas para sua execução, isso na parte individual de um atleta, já na parte coletiva deve-se ser determinante que essa estratégia de jogo se incorpore no plano de uma seleção, independente da forma como serão feitas as jogadas, mas a partir desta ação colocar em prática o planejamento.
Foi notório que o uso do artifício aéreo beneficiou muito mais a ação ofensiva que defensiva, haja vista a gama de situações favoráveis de quem executa essa manobra ser maior do que quem a sofre.
A partir das jogadas aéreas pudemos também verificar o posicionamento ofensivo das equipes quando executam a ação de atacar, pois quase sempre os jogadores posicionam-se invariavelmente em locais do campo determinados e por ordem técnica, o que configura uma tática de jogo.
Então, as investidas aéreas trazem um leque de informações que servem de subsídios para que os técnicos possam montar seus sistemas, estratégias e táticas de jogo, porque elas mostram muitos mais do que uma simples ação de lançar a bola, mas sim, podem caracterizar as peculiaridades de jogo de uma equipe, mostrando seu estilo de jogar e seus valores coletivos e individuais determinantes dentro do futebol.
Referências
BANGSBO, Jeans, PEITERSEN, Birger. Soccer Systems & Strategies. Champaign: Human Kinetics, 2000, p. 1-37.
COSTA, Claiton Frazzon. Futsal: Vamos Brincar? Volume I – Técnica e Iniciação. Florianópolis: Visual Books, 2005
COPA DO MUNDO DA FIFA ÁFRICA DO SUL 2010. Disponível em: http://www.fifa.com. Acesso em: 13 jun. 2010.
DRUBSCKY, Ricardo. O Universo Tático do Futebol, Escola Brasileira. Belo Horizonte: He-alth, 2003.
FRISSELLI, A., MANTOVANI, M. Futebol: Teoria e Prática. São Paulo: Phorte Editora, p.11-33, 1999.
SANTOS, Fabiano José dos. A importância das jogadas aéreas no futebol profissional brasileiro. As especificidades de um determinante artifício utilizado pelas grandes equipes do Brasil para a qualificação dos resultados. Disponível em: http://www.universidadedofutebol.com.br. Acesso em: 23 Mai, 2010.
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