Indicadores de intensidade de esforço em aulas de RPMTM. Lactato, freqüência cardíaca e escala de percepção de intensidade: um estudo de revisão Indicadores de intensidad de esfuerzo en las clases de RPMTM. Lactato, frecuencia cardíaca y escala de percepción de intensidad: un estudio de revisión |
|||
Graduada em Educação Física pela UNOESC–SMO Pós graduada em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo pela UNC - Concórdia |
Ana Paula Trentin (Brasil) |
|
|
Resumo Com o aumento da procura de aulas de ginástica nas academias, empresas que montam aulas de ginástica estão sempre inovando. Objetivando trazer mais atividades aeróbias para as salas de ginástica, criou-se o ciclismo indoor. Dentre as mais diversas aulas praticadas sobre uma bicicleta estacionária, uma das que mais se destaca é o RPMTM criada pela Les Mills Body Training Systems. O principal objetivo dessa aula é melhorar o condicionamento cardiorrespiratório além de favorecer um alto gasto calórico. Apesar da ascendência no número de aulas de ciclismo indoor criadas nos últimos anos, pouco se sabe sobre o que acontece com as variáveis fisiológicas durante ou após essas aulas. O objetivo desse estudo foi buscar maiores informações sobre as respostas fisiológicas durante aulas de RPMTM, principalmente as que dizem respeito aos indicadores de intensidade. Pôde-se concluir que a maneira mais prática e também muito eficaz de mensurar a intensidade da aula é a percepção subjetiva do esforço, que além de não exigir equipamentos para a coleta de dados, é muito precisa e fidedigna. Unitermos: Ciclismo indoor (RPMTM). Indicadores de intensidade. Treinamento. Academia.
Abstract With the increasing demand for fitness classes in gyms, businesses that assemble gym classes are always innovating. Aiming to bring more aerobic activities for exercise rooms, created the indoor cycling. Among the most diverse classes practiced on a stationary bike, one of the most striking feature is the RPMTM created by Les Mills Body Training Systems. The main objective of this lesson is to improve cardiorespiratory fitness in addition to favoring a high caloric expenditure. Despite the ascendance in the number of indoor cycling classes created in recent years, little is known about what happens to the physiological variables during or after these lessons. The aim of this study was to seek more information on the physiological responses during lessons RPMTM, especially those relating to the indicators of intensity. It was concluded that the most practical and also very effective in measuring the intensity of the class is the rating of perceived exertion, which does require equipment for data collection, is very accurate and reliable. Keywords: RPMTM. Intensity indicators. Training. Academy.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
O RPMTM é uma aula de ciclismo indoor cujos principais objetivos são: aumentar a aptidão cardiovascular, melhorar a força e o endurance muscular das pernas e proporcionar um gasto calórico entre 600 a 700 calorias por sessão (LES MILLS, 2009).
A estrutura dessa modalidade de ciclismo indoor é composta por uma música de aquecimento, onde a percepção de intensidade fica em “fácil” e estima-se que a Freqüência cardíaca (FC) varie de 60 a 70% da FC máxima; a segunda música é continuação de aquecimento e a percepção de intensidade é “moderada” e a FC varia de 70-80% da FC máxima ao final da musica; primeiro pico da aula, com a percepção chegando a “difícil” e a FC próxima de 90% ao final da musica; terreno misto, variações de velocidades e intensidades no decorrer da música, percepção “moderada” e FC de 70 a 80% da FC máxima;segundo pico da aula, revezamento intervalado, percepção de esforço novamente “difícil” e a FC deve chegar a 90% da FC máxima ao final da musica; musica de giro rápido, cadência progressiva percepção de intensidade “moderado” e FC chegando ao máximo a 80% da FC máxima no final da música; último pico, percepção “difícil” o aluno deve ter a sensação de que não agüentará seguir naquela intensidade por mais alguns minutos, FC próxima a 90% da FC máxima ao final da música. Ao final da aula, como volta à calma, musica de giro de recuperação, com intensidade “fácil” e logo após alongamento.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte prevê que os exercícios físicos, para que sejam realizados de forma segura mas que também sejam eficaz, devem respeitar a zona de intensidade de 60 a 90% da Freqüência cardíaca máxima, assim como são estruturadas as aulas de RPMTM (ACSM, 2000).
Apesar de cada aula ter um roteiro específico com sugestões de aumento de carga e mudanças de posições e velocidades, deve-se ter em mente que a aula é coletiva, contudo, o treinamento é individual. A carga e velocidade que cada participante escolhe é extremamente particular, apesar da cobrança do ritmo da pedalada ser um pouco forte. Deve-se democratizar a atividade coletiva de modo que qualquer individuo saudável consiga aderir à atividade (LES MILLS, 2009).
Muito pouco se sabe a respeito do que acontece com as respostas fisiológicas nas aulas de RPMTM. O que podemos ressaltar como pontos de partida para buscarmos novos conhecimentos são as concentrações de lactato sanguíneo, a Percepção de Intensidade e a resposta da Frequência Cardíaca obtidos durante a aula.
Dessa forma, esse estudo justificou-se pela importância de reunirmos um maior acervo de informações acerca da respostas fisiológicas durantes aulas de RPMTM, haja vista a pequena produção existente sobre o assunto bem como a relevância do mesmo principalmente para os professores da modalidade.
O objetivo do estudo foi compilar informações a respeito dos indicadores de intensidade de esforço em aulas de RPMTM: lactato, frequência cardíaca e escala de percepção de intensidade.
Para tanto, optou-se por um estudo de revisão de literatura que abrange em seus capítulos a percepção subjetiva de esforço, o próprio ciclismo indoor, freqüência cardíaca e o lactato.
Ciclismo Indoor (RPMTM)
O ciclismo indoor (CI) teve seu início por volta de 1996 e nos dias de hoje tem sido altamente praticado nas academias de ginástica em todo o mundo (FERRARI, 2004). Foi uma forma encontrada para levar mais um tipo de atividade aeróbia para os centros de fitness ou academias de ginástica. Tem crescido em larga escala por meio de um programa que objetiva à manutenção e aprimoramento do sistema cardiovascular (GROSSL, BORGES, CARMINATTI, 2010).
A combinação de movimentos de simples execução, que são básicos do ciclismo tradicional e os mais variados ritmos e estilos musicais tornam a modalidade muito atrativa. Dessa forma, acompanhando o ritmo das músicas, os alunos enfrentam colinas, retas, variações de velocidades e intensidades, sempre sendo extremamente motivados pelos professores (LES MILLS, 2003, JG SPINNING, 2000). Não bastasse isso, o ciclismo indoor proporciona uma melhora da aptidão cardiorrespiratória, aumento do componente anaeróbio além de se tratar de um treinamento livre de impacto (MELLO et al., 2003).
Os motivos pelos quais as pessoas realizam o CI são: “prazer pela atividade física, melhora da estética, condicionamento físico, qualidade de vida e socialização” (DESCHAMPS e DOMINGUES FILHO, 2005).
Em meio aos mais variados programas de CI, um dos mais conhecidos e praticados pelo mundo inteiro é o Raw Power in Motion – RPMTM (FERRARI, 2004). Essa atividade simula o ciclismo de rua em uma sala fechada com aulas coletivas.
O RPMÔ é uma aula pré-coreografada e tem como principais características a elevada intensidade e gasto calórico (GC) (GROSSL et al., 2003).
As aulas de RPMTM tem uma duração média de 45 a 50 minutos, totalizando nove músicas, cada uma com seu objetivo. Essas, em relação ao ritmo, encontram-se na faixa de 116 a 120 batidas por minuto (bpm) para o aquecimento e volta à calma, de 120 a 136 bpm para músicas de velocidade e de 52 a 68 nas músicas onde treina-se mais força, e são chamadas de escaladas ou subidas de montanha pelo fato de se pedalar mais tempo em pé e com muita carga.
Com exceção do alongamento, todas as músicas são executadas em cima de uma bicicleta estacionária própria para aulas de ciclismo indoor, e tem como principal característica o treinamento aeróbio.
Nas aulas de RPMTM é possível utilizar variáveis como FCMAX e PSE para controlar a intensidade da modalidade (GROSSL, BORGES e CARMINATTI, 2010).
RPMTM e a freqüência cardíaca
O ACSM recomenda o uso da monitoração da FC para o controle da intensidade do treinamento aeróbio e para o desenvolvimento da capacidade cardiorrespiratória, intensidades essas que variam de 65 a 90% da FCMAX (ACSM, 2000). Como o equipamento utilizado para fazer a aula (bicicleta) geralmente não possui indicador de carga ou potência gerada, não é possível controlarmos a intensidade por meio da cadência da pedalada, resistência da roda ou técnica por exemplo. Contudo, podemos utilizar a FC (SILVA et al., 2004).
O uso da FC para relativizar a intensidade de esforço mostra respostas similares se comparadas ao lactato sanguíneo (DENADAI, RUAS e FIGUEIRA, 2005).
Em estudo realizado por Grossl, Borges e Carminatti (2010), considerando as respostas da FC durante aulas de RPMTM, pode-se concluir que as aulas analisadas mostram-se adequadas para o aprimoramento da aptidão cardiorrespiratória.
Encontra-se na literatura três níveis de intensidade de esforço baseado na FC, utilizando, para isso, o percentual de FCMAX (%FCMAX). Os níveis são: leve, moderado e pesado, que correspondem respectivamente a <64%, 64-81% e > 81% da FCMAX (HEYWARD, 1997).
No entanto, durante o exercício, alterações nos sistemas hormonal e circulatório podem acarretar em grandes variações da FC (FOX, BOWERS e FOX, 1998). Sendo assim, a utilização da FC como indicador da intensidade de esforço, utilizando durante diferentes tipos de atividade, tem de ser analisada com cautela (GUGLIELMO, 2000).
RPMTM e a percepção subjetiva do esforço (PSE)
A PSE tem sido amplamente utilizada por ser uma simples e eficaz alternativa para o controle de intensidade do exercício (FERNANDES, 2008).
Alguns estudos verificaram que a PSE representa uma forma mais fidedigna de mensurar o nível de esforço despendido do que a própria FC (SILVA et al., 2005). Entre as escalas de percepção subjetiva de esforço, as mais conhecidas são as escalas de 6 a 20 e a de 1 a 10 desenvolvidas por Borg (1998).
Intensidade de esforço “consiste em avaliar a intensidade do exercício em termos de determinações de índices de intensidade podendo ser de forma subjetiva, conforme a percepção do individuo, ou por valores relativos de frequência cardíaca (FC)” (BORG, 2000, 3).
Pôde-se observar que existe alta correlação entre a FC e a PSE, demonstrando que é possível a utilização da PSE, além da FC, desde que haja previamente o teste ergométrico progressivo coletando esses dados em indivíduos treinados e habituados ao uso da escala de percepção de esforço (MOTTA et al., 2009).
Há alguns anos a empresa criadora do RPMTM simplificou a escala de Borg, determinando apenas três níveis de treinamento por meio da PSE a serem atingidos durante a aula, a partir dos percentuais da FC máxima: confortável (60-70%), cansativo (70-80%) e exaustivo (80-90%) (GROSSL, BORGES e CARMINATTI, 2010).
De acordo com a Les Mills (2003), o nível “confortável” deve ser descrito nas músicas 01 (aquecimento), início da 02 (continuação do aquecimento), metade da 08 (volta à calma) e toda a música 09 (alongamento). A sensação “cansativo” deve predominar ao final da música 02 (continuação de aquecimento), 04 (giro de cadência) e 06 (cadência progressiva- velocidade). E a predominância do nível “exaustivo” deve acontecer nas músicas 3, 5 e 7, que são os 3 picos da aula, onde os alunos pedalam com muita carga em muitas vezes em pé (corridas), simulando subidas.
Atualmente as aulas de RPMTM continuam utilizando a PSE simplificada, porém chamada de Percepção de Intensidade (PI) que divide-se em Fácil Moderado e Difícil (LES MILLS, 2010). Os percentuais de FC continuam correspondentes aos com a nomenclatura anteriormente utilizada.
A PI representa uma ferramenta extremamente útil e importante.
Nas aulas de RPMTM a PSE tem auxiliado os professores no controle da intensidade da aula, levando os alunos a atingir os objetivos de cada música.
RPMTM e o lactato
Podendo classificar a intensidade do esforço de forma muito precisa, o lactato é um dos principais indicadores diretos do metabolismo energético utilizado durante o exercício. Em um estudo que relacionou a intensidade de esforço com a concentração de lactato, foi proposto que, em atividades com predomínio aeróbio, o esforço, em relação à sua intensidade, pode ser classificado em três esferas: moderado, pesado e severo.
O esforço moderado corresponde a aquelas intensidades que podem ser realizadas sem a modificação do lactato sanguíneo em relação aos valores de repouso, ou seja, abaixo de 2 mmol. O esforço pesado seria a partir da menor intensidade de esforço, onde o lactato aumenta, tendo como limite superior 4 mmol em média. Por sua vez, o esforço severo é aquele que não existe fase estável de lactato no sangue, elevando-se durante todo o tempo de esforço até a exaustão (FERRARI e GUGLIELMO, 2007).
As pesquisas apontam para valores bastante elevados de concentração de lactato em aulas de CI. Percebe-se que aulas de RPMTM requerem uma relevante participação do sistema anaeróbio, sobretudo quando são utilizadas intensidades relativas acima de 70% da FCMAX, que facilmente são atingidas nas músicas 3, 5 e 7, que correspondem aos 3 picos da aula (RAMOS et al., 2005; UCHIDA et al., 2002).
Considerações finais
Com essa revisão foi possível constatar que a PSE é a maneira mais simples e eficaz para determinar a intensidade em aulas de ciclismo indoor, ou mais especificamente, RPMTM. Assim, como a PSE, a FC e o lactato também servem como indicadores, porém, durante aulas cotidianas nas academias não são tão fáceis de serem usadas pelo fato de utilizarem equipamentos para a mensuração.
A PSE utilizada nas aulas de RPMTM é a simplificação da escala de Borg, e tão fidedigna quanto. Nada melhor do que a própria sensação do praticante para determinar a intensidade do que ele está fazendo.
A literatura ainda tem muito a estudar com relação aos indicadores de intensidade. Estudos feitos em bicicletas que monitorem a velocidade e a força exercida em cada pedalada auxiliariam ainda mais nas pesquisas.
Referencias
DENADAI, B.S.; RUAS V.; FIGUEIRA T. Efeito da cadência de pedalada sobre as respostas metabólicas e cardiovascular durante o exercício incremental e de carga constante em indivíduos ativos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 2005.
DESCHEMPS, S.R.; DOMINGUES FILHO, L.A. Motivos e benefícios psicológicos que levam os indivíduos dos sexos masculino e feminino a praticarem o ciclismo indoor. Revista Brasileira de Ciência e Movimento.
FERNANDES, Gustavo L. Controle de intensidade no ciclismo indoor. Disponível em: http://www.cyclingindoorcom.br/papo%20de%20academia/PapodeAcademia_11.html, acesso em jan. 2010.
FERRARI, Homero G.; GUGLIELMO, Luiz G.A. Resposta da frequência cardíaca e lactato sanguíneo durante aulas do programa RPM em mulheres. Revista de Educação Física, Florianópolis:p.10-17, 2007.
FOX, L.F; BOWERS R.W.; FOX M.L. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 4 ed. Rio de Janeiro.
GROSSL, Talita et al.; CARMINATTI, Lorival J.; BORGES, Juliana B. Resposta da freqüência cardíaca e percepção subjetiva de esforço na aula de RPM. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires: ano 14, n.140, jan. 2010. http://www.efdeportes.com/efd140/percepcao-subjetiva-de-esforco-na-aula-de-rpm.htm
GROSSL, Talita et al. Respostas cardiorrespiratórias e metabólicas na aula de ciclismo indoor. Revista de Educação Física, Rio Claro, 2009.
GUGLIEMO, L. Limiar de Conconi e percentual da frequência cardíaca máxima. Motriz, Rio Claro, 2000.
JOHNNY G. Manual do instrutor – JOHNNY G. SPINNING PROGRAM. Parte integrante do material didático na formação de instrutores, 2000.
LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS. Manual do Instrutor RPM, 2003.
_______________ Manual do Instrutor RPM, 2010.
MELLO, Danielli B. et al. Alterações fisiológicas no ciclismo indoor. Fitness e Performance Journal, Rio de Janeiro, 2003.
MOTTA, Vivian et al. Aula de ciclismo indoor: correlação entre frequência cardíaca e escala de percepção de esforço Borg. Disponível em: http://www.vzm.com.br/ciclismo_pesquisas.htm, acesso em fev. 2010.
RAMOS, S. et al. Comparação das concentrações de lactato entre os testes contínuo e intervalado em protocolos de aulas de spinning. Revista Brasileira de Ciências e Movimento, 2005.
SILVA, A.C. et al. Estimativa do limiar de Conconi por meio da escala de Borg em cicloergômetro. Fitness e Performance Journal, Rio Claro, 2005.
UCHIDA, Marco C. e cols. Comparação das concentrações de lactato do sangue e frequência cardíaca entre as técnicas mais usadas nas aulas de ciclismo indoor. XXV Simpósio Internacional de Ciências do Esporte – novas fronteiras para o movimento, 10 a 12 de outubro de 2002.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 16 · N° 160 | Buenos Aires,
Septiembre de 2011 |