Prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes praticantes de diferentes esportes Prevalencia de sobrepeso en niños y adolescentes que practican diferentes deportes Prevalence of overweight in children and adolescents who practice different sports |
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*Secretaria de Esportes, Prefeitura Municipal de Santos (Santos, SP) **Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP (Brasil) |
Cauê Vazquez La Scala Teixeira* Rodrigo Luiz da Silva Gianoni* Cláudio Zanin Eduardo* Ricardo José Gomes** |
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Resumo Um grave problema de saúde pública mundial que cresce de forma preocupante é o alto índice de excesso de peso entre as crianças. Dentre as possíveis causas que justificam esses elevados índices, destacam-se o desmame precoce, uma conduta alimentar inadequada e a diminuição dos níveis de atividade física. Um dos indicadores antropométricos aceitos internacionalmente para detectar níveis de obesidade é o índice de massa corporal (IMC). O objetivo do presente foi avaliar crianças e adolescentes da cidade de Santos quanto ao IMC a fim de classificá-los com base nos referenciais propostos pela Organização Mundial de Saúde, estabelecendo relação entre peso normal/excesso de peso em diferentes modalidades esportivas. 426 indivíduos entre 7 e 15 anos (10±2 anos) praticantes de exercício físico de um centro esportivo de Santos, SP, há pelo menos três meses, com freqüência mínima semanal de duas vezes e duração de uma hora/dia. A amostra foi avaliada quanto ao IMC e classificada de acordo com os referenciais propostos pela OMS, sendo considerados sobrepeso e obesidade os percentis acima de 85 e 97, respectivamente. Do total avaliado, 17,8% e 21,6% apresentaram sobrepeso e obesidade, respectivamente, perfazendo um total de 39,4% apresentando excesso de peso, o que corresponde a uma relação peso normal/excesso de peso de 1,45. Não houve diferença estatística entre as modalidades. Em conclusão, observou-se alta prevalência de excesso de peso em comparação aos demais estudos analisados. Entidades públicas e privadas devem voltar suas atitudes para a orientação e promoção de hábitos saudáveis que possam reverter esse quadro. Unitermos: Sobrepeso. Obesidade. IMC. Crianças. Adolescentes.
Abstract A serious public health problem worldwide which has been increasing so alarming is the high rate of overweight among children. There are possible reasons that justify these high rates, some of them are early weaning, inadequate food conduct and a reduction of physical activity levels. One of the internationally accepted anthropometric indicators to detect levels of obesity is the body mass index (BMI). The aim of this study was to evaluate children and adolescents from Santos city on the BMI to classify them based on the benchmarks proposed by the World Health Organization, establishing a relation between normal weight/overweight in different sports. 426 subjects of age group 7 to 15 years (10±2 years) practitioners of exercise of a sports center in Santos, SP, at least three months with the minimum frequency of twice weekly and last one hour/day. The assessment of sample was based on the BMI and classified according to references proposed by the WHO, being considered overweight and obesity over the percentiles 85 and 97, respectively. The total assessed, 17,8% and 21.6% had overweight and obesity, respectively, adding a total of 39.4% showing overweight, giving a ratio of normal weight/overweight of 1.45. In conclusion, there was a high prevalence of overweight compared to other studies examined. Public and private entities must direct their attitudes towards the guidance and promotion of healthy habits that can change this problem.Keywords: Overweight. Obesity. BMI. Children. Teens.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Um grave problema de saúde pública de importância global que vem crescendo de forma preocupante é o alto índice de excesso de peso entre as crianças, incluindo sobrepeso e obesidade.
Segundo Kuczmarski1, sobrepeso é considerado um aumento do peso corporal total ou em apenas um de seus constituintes: ossos, gordura e músculos; enquanto que a obesidade caracteriza-se por um aumento generalizado ou localizado da gordura.
Em crianças, o sobrepeso também pode ser considerado como excesso de peso, muito provavelmente, provindo de gordura, devido ao não desenvolvimento completo dos tecidos muscular e ósseo.
Segundo estudos realizados em algumas cidades brasileiras, o excesso de peso (sobrepeso e obesidade) já atinge níveis superiores a 30% entre as crianças e adolescentes2.
Sabe-se que a etiologia da obesidade é multifatorial, estando envolvidos fatores genéticos e ambientais3. Dentre as possíveis causas ambientais que justificam esses elevados índices, destacam-se o desmame precoce, uma conduta alimentar inadequada, baseada no consumo de fast-foods, e a diminuição dos níveis de atividade física, devido ao aumento da violência urbana e aos avanços tecnológicos4.
Além disso, a classe social é um fator que pode determinar a adoção de alguns hábitos de vida, exercendo, portanto, influencia positiva ou negativa sobre o peso corporal5. Neste aspecto, uma classe social mais elevada parece contribuir para o aumento do peso corporal, provavelmente, devido à maior facilidade de acesso aos alimentos, predispondo à adoção de maus hábitos alimentares3.
Como se não bastasse a obesidade e seus riscos na infância, uma criança obesa apresenta 20% de aumento na probabilidade de se tornar um adulto obeso, podendo chegar a 40-80% de aumento de chances se esta mesma criança persistir obesa na adolescência6.
Um dos indicadores antropométricos aceitos internacionalmente para detectar níveis de obesidade é o índice de massa corporal (IMC), que é tido através da divisão do valor da massa corporal (kg) pelo quadrado da estatura (m)7.
Os riscos à saúde associados à obesidade são diversos, desde o desenvolvimento de doenças como, diabetes, hipertensão, dislipidemias, distúrbios psicológicos, distúrbios osteoarticulares, até a morbidade e a morte8,9. Já na infância, a obesidade está relacionada a várias complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade10. E, quanto mais tempo o indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como mais precocemente11. Porém, através de informações e alertas aos pais, crianças e profissionais da saúde, podemos contribuir para uma mudança positiva nessas estatísticas.
Sendo assim, o objetivo do presente estudo é avaliar crianças e adolescentes do município de Santos quanto ao IMC a fim de classificá-los com base nos referenciais propostos pela Organização Mundial de Saúde12,7, estabelecendo relação entre peso normal/excesso de peso em diferentes modalidades esportivas.
Procedimentos metodológicos
Sujeitos
426 indivíduos (225 meninos e 201 meninas) com idade entre 7 e 15 anos (10 ± 2 anos), todos praticantes de exercício físico nas seguintes modalidades desportivas: basquete masculino (31), basquete feminino (34), biatlon masculino (22), futsal masculino (80), ginástica rítmica feminino (26), natação masculino (92), natação feminino (74) e patinação feminino (67). Todos os participantes praticavam as respectivas modalidades há pelo menos seis meses, com freqüência semanal de duas a três vezes e duração de uma hora/dia, devidamente matriculados durante o ano de 2008 no Centro Esportivo Rebouças, da cidade de Santos/SP, Brasil, localizado em região de médio-alto nível sócio-econômico.
Instrumentos
Massa corporal: balança antropométrica de marca Toledo, modelo 2096PP/2, com capacidade máxima de 200 quilogramas e precisão de 50 gramas.
Estatura: estadiômetro profissional de marca Sanny, com precisão de 1 milímetro.
IMC: calculado conforme fórmula citada na introdução deste estudo.
Procedimentos
Massa corporal: foi aferida com o indivíduo em pé sobre a balança, de frente para o avaliador e vestindo trajes de banho13.
Estatura: foi aferida com o indivíduo em pé, perfeitamente na vertical, com olhar fixo no horizonte, descalço, com os pés unidos e com apoio posterior dos pés, glúteos, tórax e cabeça no aparelho. A medida foi feita logo após uma inspiração máxima, de acordo com os procedimentos recomendados pelo ACSM (2006)13.
Classificação do IMC: os valores de IMC foram distribuídos conforme classificação proposta pela WHO (2007)10, específica para crianças e adolescentes. Para tanto, foi utilizado o software WHO AnthroPlus v1.0.2.
Foram encaminhados aos pais ou responsáveis de todas as crianças participantes, formulários de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo que só participaram do estudo aquelas cujos pais autorizaram e, também, que se dispuseram a ser avaliadas.
A equipe de avaliadores foi composta por três professores de educação física com, no mínimo, dois anos de experiência nas avaliações antropométricas citadas.
As avaliações foram realizadas em um período de 6 meses, durante o ano de 2008.
Os indivíduos foram avaliados pela manhã ou pela tarde, em ambiente climatizado, com as seguintes precauções: não fazer atividade física no dia; não fazer refeição durante as duas horas antecedentes à avaliação.
Os dados foram expressos como média±desvio padrão e avaliados pela análise de variância (ANOVA) ou pelo teste do Qui-Quadrado de acordo com a necessidade. Foi aplicado o pós-hoc de Bonferroni e o nível de significância foi pré-estabelecido em 5%. Os dados foram agrupados também de acordo coma modalidade praticada pelas crianças avaliadas.
Resultados
Os resultados indicaram média geral de percentil de 65,92, não ocorrendo diferença significativa as modalidades esportivas (Tabela 1).
Tabela 1. Média (M) e desvio (DP) padrão dos percentis de IMC de acordo com a modalidade
A distribuição do IMC quanto à sua classificação entre as modalidades esportivas também não apresentou diferença estatística entre as modalidades e gênero, no entanto, as maiores prevalências percentuais de sobrepeso e obesidade foram observadas nas modalidades basquete feminino e natação masculino. Devido a esse fato, essas modalidades apresentaram as menores relações peso normal/excesso de peso (tabelas 2 e 3).
Tabela 2. Classificação relativa do IMC por modalidade
Tabela 3. Prevalência relativa de excesso de peso (sobrepeso + obesidade) e relação peso normal/excesso de peso por modalidade
Discussão
A definição de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes ainda não apresenta consenso na literatura, sendo que a variedade de métodos aplicados e os diferentes valores de corte empregados dificultam a comparação dos resultados obtidos por diferentes estudos5. Assim, a presente discussão está baseada no levantamento de estudos que utilizaram o IMC como marcador para sobrepeso e obesidade, levando-se em consideração os respectivos referenciais de corte.
No presente estudo optou-se pela utilização do IMC por idade, por se tratar de um método adotado e recomendado pela Organização Mundial de Saúde7,12, considerando sobrepeso como percentil acima de 85 e obesidade, acima de 97.
Avaliamos 426 crianças com faixa etária entre 7 e 15 anos. Foi observada prevalência de sobrepeso e obesidade geral de 17,8% e 21,6%, respectivamente, perfazendo um total de 39,4% das crianças avaliadas apresentando excesso de peso. Esses dados são preocupantes, pois superam os apresentados em outros estudos realizados em outras cidades do Brasil e, inclusive, na mesma cidade.
Estudo14 realizado em 2003 detectou 9,3% de sobrepeso e 4,4% de obesidade entre 699 crianças de cinco a nove anos da cidade de Feira de Santana/BA. Apesar dos autores considerarem estes valores como sendo elevados em sua conclusão, os mesmos ficam muito aquém dos observados no presente estudo.
Pesquisa realizada na cidade de Fortaleza/CE15 em 2007 encontrou prevalência total de excesso de peso em 19,5% da amostra avaliada. Esta amostra foi composta por 1158 adolescentes escolares da cidade. Em semelhança à pesquisa supracitada, os autores também consideraram esta prevalência como elevada, entretanto, permanecendo menor que a observada neste estudo.
Outro estudo16, após avaliação de 2.519 crianças escolares da cidade de São Paulo/SP no ano de 2004, observou prevalência geral de excesso de peso, incluindo sobrepeso e obesidade, de 23,8%. Apesar de os autores não garantirem a prática de atividade física dentre as crianças avaliadas, os índices de excesso de peso foram consideravelmente menores do que os apresentados no presente. Vale ressaltar, porém, que a classificação de IMC utilizada pelos autores, apesar de ser proposta pela mesma entidade utilizada neste estudo (OMS), não levava em consideração a idade.
Costa et al.5 observaram prevalência de 15,7% e 18,0% de sobrepeso e obesidade, respectivamente, após avaliação de 10.822 escolares entre 7-10 anos da cidade de Santos/SP, em 2006. Por se tratar da mesma cidade do presente, os resultados apresentados são mais próximos aos observados em nosso estudo, apesar de revelarem uma prevalência ligeiramente menor de excesso de peso entre crianças (- 5,7%).
O simples passar dos anos é um fato que pode explicar o aumento dos índices de excesso de peso no presente estudo, quando comparados às pesquisas supracitadas, pois a obesidade é tratada como uma epidemia em crescimento acelerado3-5.
Monteiro17 corrobora com a idéia supracitada, afirmando que o crescimento da obesidade entre crianças e adolescentes com o passar dos anos é uma tendência mundial. Entre 1980 e 1994, foram observados aumentos acentuados na prevalência da obesidade em crianças e adolescentes americanos de todas as faixas etárias e em ambos os sexos.
Quando analisamos a prevalência de excesso de peso entre as modalidades desportivas analisadas, apesar de não ter havido diferenças estatísticas, verificamos que percentualmente as maiores prevalências foram observadas nas modalidades basquete feminino (52,9%) e natação masculino (47,8%), superando as médias de excesso de peso por gênero (feminino = 38,8% e masculino = 40,0%) e geral (39,4%) entre as crianças avaliadas. Pela alta prevalência observada, a relação peso normal/excesso de peso da modalidade basquete feminino foi a menor observada (0,83), o que indica 0,83 indivíduo com peso normal para cada indivíduo com excesso de peso.
Lopes et al.18 avaliaram o IMC de 33 alunos (9 meninas e 24 meninos) de uma escolinha de basquete da cidade de Torres/RS no ano de 2010, com idades entre 9 e 14 anos. Os autores observaram prevalência de excesso de peso geral de 33%, sendo de 25% entre meninos e 55% entre meninas. Os valores de excesso de peso encontrados entre as meninas foram semelhantes aos de nosso estudo (basquete feminino), porém, vale ressaltar que no estudo citado a amostra foi consideravelmente menor e os pontos de corte utilizados foram diferentes (PROSEP-BR).
Alves et al.19 avaliaram 204 crianças (59% masculino) com média de idade de 8±2 anos, praticantes de natação na cidade de Porto Alegre/RS. Foi observada uma prevalência de excesso de peso de 30,8% na modalidade natação masculino, valor este menor que o observado no presente estudo na mesma modalidade (47,8%).
Já a modalidade Ginástica Rítmica apresentou a menor taxa de excesso de peso em nosso estudo (15,4%), apresentando uma relação de 5,5 indivíduos com peso normal para cada indivíduo com excesso de peso. Esse dado parece seguir uma tendência da modalidade, pois, segundo Georgopoulos et al.20, as praticantes de ginástica rítmica são significativamente mais magras e com menor IMC que as praticantes de ginástica artística (que são magras). Corroborando com a afirmação, Cupisti et al.21 afirma que as jovens atletas de ginástica rítmica têm sido identificadas como um grupo de risco com má nutrição causada pelas atitudes de redução de peso e magreza.
Todas as demais modalidades apresentaram valores próximos a media geral. Não foram encontrados estudos que tenham feito comparações semelhantes entre crianças e adolescentes praticantes de diferentes modalidades esportivas.
Conclusão
Foi observada alta prevalência de excesso de peso, incluindo sobrepeso e obesidade. Esses dados são preocupantes tendo em vista que o excesso de peso eleva os riscos associados à saúde.
Sabendo que a prática regular de atividade física associada a uma boa alimentação são fatores que contribuem para a diminuição dessas estatísticas, entidades públicas e privadas devem voltar suas atitudes para a orientação e promoção desses hábitos saudáveis.
Outros estudos semelhantes devem ser desenvolvidos a fim de traçar o perfil antropométrico de crianças e adolescentes brasileiros praticantes de diferentes modalidades esportivas.
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