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Estilo de vida de uma trabalhadora obesa: um estudo de caso

Estilo de vida de una trabajadora obesa: un estudio de caso

 

Mestranda em Educação Física

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

(Brasil)

Estela Aita Monego

eameam@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se analisar o estilo de vida de uma trabalhadora obesa. Utilizou-se o questionário “Perfil do Estilo de Vida” em forma de entrevista e associado a este aplicou-se uma entrevista semi-estruturada direcionada aos aspectos trabalho e tempo sentado por dia; histórico, barreiras e prática de atividade físicas. Foram mensuradas as medidas antropométricas de estatura e massa corporal. Os resultados deste estudo foram discutidos com o participante e após foram feitas algumas recomendações. Verificou-se que o indivíduo apresentava índice de massa corporal de 32 kg/m2 e obteve menores escores nos comportamentos de nutrição, atividade física e controle do estresse. As dores corporais citadas em escalas maiores foram na região lombar da coluna vertebral e nos membros inferiores e superiores. A avaliação de indivíduos que têm um estilo de vida comprometedor é de suma importância visto que muitos comportamentos negativos do estilo de vida são problemas de saúde pública e estão associados a desenvolvimento de morbidades e mortalidade precoce.

          Unitermos: Estilo de vida. Obesidade. Trabalhador.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, a mensuração da qualidade de vida vem tendo grande importância como medida na avaliação de intervenções terapêuticas, de serviços e da prática assistencial cotidiana na área da saúde1. Os profissionais da Educação Física fazem uso desta mensuração para direcionar intervenções e avaliar resultados, bem como para propor a introdução de hábitos mais saudáveis e comportamentos mais ativos.

    A qualidade de vida está relacionada ao padrão estabelecido pela própria sociedade e a um discurso polissêmico, podendo indicar bem-estar pessoal, posse de bens materiais, participação em decisões coletivas, entre outros. De forma geral, o significado de qualidade de vida varia de acordo com a faixa etária específica em uma comunidade ou sociedade1.

    Um forte indicador de qualidade de vida é o estilo de vida do indivíduo, sendo este um comportamento individual de grande relevância na promoção da saúde e redução da mortalidade por todas as causas3. Este comportamento é pode contribuir para melhoria na qualidade de vida e do bem-estar4, sendo formado por um conjunto de cinco aspectos: atividade física, nutrição, comportamento preventivo, relacionamentos e controle de estresse2.

    O estilo de vida com comportamento insuficientemente ativo é muito observado na sociedade atual. A prevalência de sedentarismo entre os brasileiros atinge 31% dos adultos na região sul e nordeste do país5, sendo assim considerado um problema de saúde pública por estar associado a diversas morbidades6. Isto se deve ao fato de que boa parte do tempo de vida dos indivíduos é dedicada ao trabalho e este despende-se na posição sentado7, de forma que os trabalhadores sedentários apresentam maiores chances de desenvolverem morbidades e mortalidade8,9.

    Mesmo existindo evidências positivas de que um estilo de vida ativo e a prática de atividade física influenciam diretamente na saúde, estas não estão sendo suficientes para motivar as pessoas a aderir e manter comportamentos mais ativos3. Observa-se que, em geral, as pessoas não seguem um estilo de vida adequado, pois os índices de inatividade física são elevados e as doenças crônico-degenerativas ainda são a principal causa de morte10.

    A atividade física regular vem recebendo destaque na promoção da saúde e qualidade de vida, visto que a aquisição e a manutenção de níveis satisfatórios de atividade física são um dos principais componentes de um estilo de vida saudável3, conforme evidências científicas que demonstram os efeitos positivos à saúde decorrentes da adoção de um estilo de vida ativo11.

    Dentro deste contexto, objetivou-se analisar o estilo de vida de uma trabalhadora obesa. Considerando-se a função desempenhada, o tempo de trabalho diário e os aspectos relacionados ao estilo de vida desta trabalhadora será possível propor pequenas intervenções em aspectos modificáveis do seu estilo de vida, através de mudanças comportamentais e adoção de hábitos mais saudáveis, a fim de melhorar seu estilo de vida.

Materiais e métodos

    Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso12, sendo constituída por um indivíduo do sexo feminino, brasileira, solteira, de 47 anos, obesa e que trabalha como assistente de contabilidade em uma empresa de transporte coletivo urbano. Este indivíduo foi selecionado intencionalmente por apresentar algumas características interessantes para investigação e intervenção: estilo de vida, função desempenhada no trabalho, tempo sentado por dia e ser obesa mesmo tendo realizado cirurgia bariátrica há um ano e três meses.

    Antes da coleta de dados, o indivíduo foi informado e esclarecido sobre os objetivos, procedimentos, confidencialidade e participação voluntária neste estudo através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE.

    Para identificação do estilo de vida, aplicou-se o questionário “Perfil do Estilo de Vida” em forma de entrevista, baseado no modelo do Pentáculo do Bem-Estar2. Este instrumento permite avaliar cinco comportamentos fundamentais do estilo de vida: nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamentos e controle do estresse. O mesmo é composto por 15 itens que devem ser respondidos numa escala de 0 a 3 pontos, o que representa ausência total de tal característica no estilo de vida e completa realização do comportamento considerado, respectivamente.

    Associado a este instrumento, utilizou-se uma entrevista semi-estruturada com dois blocos: o primeiro envolvia questões relacionadas ao trabalho e tempo sentado por dia; o segundo estava relacionado ao histórico de atividades físicas, atividades de lazer, formas de deslocamento, barreiras e prática de atividades físicas. Juntamente à esta entrevista aplicou-se o questionário de topografia e intensidade de dor, o qual caracteriza a dor em uma escala de 0 a 10, onde 0 representa dor nenhuma, 5 dor moderada e 10 representa dor máxima. Esta escala é adaptada de Buckle; Echteroach13 e é utilizada para demarcar o local e a intensidade da dor corporal em uma figura de boneco com visão anterior e posterior.

    Foram mensuradas as medidas antropométricas de massa e estatura corporal para calcular o Índice de massa corporal (IMC). Para a classificação, utilizou-se os pontos de corte para adultos propostos pela World Health Organization14, a qual considera os valores de IMC <18,5 kg/m2 como baixo; IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2 como uma faixa recomendável; IMC ³25 kg/m2 como sobrepeso e valores de IMC ³ 30 kg/m2 como obesidade.

Resultados

    O indivíduo investigado neste estudo foi uma mulher solteira, mãe de uma filha, com ensino superior completo, renda mensal de dois a três salários mínimos e que há seis meses está morando sozinha. Esta, apresentou massa corporal de 95Kg e estatura corporal de 1,72m. Logo, o IMC foi de 32 kg/m2.

    A tabela 1 apresenta os resultados referentes ao questionário “Perfil do Estilo de Vida”.

Tabela 1. Escores apresentados em relação ao Estilo de vida.

    De acordo com as recomendações dos autores do questionário do Perfil do estilo de vida2, são considerados comportamentos negativos aqueles pontuados com escores de 0 ou 1 e positivos aqueles com escores 2 ou 3. Assim, observa-se que o indivíduo obteve menores escores nos comportamentos nutrição e atividade física.

    No decorrer da coleta de dados, algumas ressalvas foram feitas pelo indivíduo. No aspecto nutrição, por exemplo, o indivíduo citou não cuidar o horário, a qualidade e a quantidade de alimento ingerido em cada refeição, mesmo após a cirurgia bariátrica. O mesmo relatou fazer acompanhamento com terapeuta uma vez por semana desde a cirurgia, mas afirma sentir-se culpado por não ter “controle” sobre sua alimentação e não ter alcançado a meta de emagrecimento após a cirurgia, pois emagreceu 30 dos 45Kg recomendados.

    No aspecto comportamento preventivo, o indivíduo disse consumir bebidas alcoólicas, geralmente cerveja, com uma freqüência de uma a duas vezes por semana e uma quantidade aproximada de duas a seis garrafas de 600ml.

    No primeiro bloco da entrevista semi-estruturada o indivíduo relatou trabalhar na posição sentada em frente ao computador entre oito e dez horas diárias durante cinco dias por semana e estar trabalhando há 20 anos nesta mesma função.

    O segundo bloco de questões dizia respeito ao histórico e à prática de atividades físicas. O sujeito afirmou gostar de atividades físicas e já ter praticado hidroginástica e corrida. Contudo, relatou não está praticando nenhuma atividade física há seis meses, além da ginástica laboral oferecida na empresa. Já as principais barreiras citadas para a prática de atividades físicas foram cansaço, falta de tempo e motivação para retornar a praticar atividades físicas após o período de férias e sua filha ter ido estudar em outro estado.

    Quanto ao deslocamento para a empresa, citou fazê-lo de forma motorizada, seja de transporte coletivo ou de automóvel, com duração aproximada de 10 minutos. As atividades de lazer atuais citadas pelo sujeito foram “navegar na internet”, ir ao mercado, dormir, assistir televisão, limpar a casa, ler, sair à noite e visitar a mãe. O tempo sentado diário foi de aproximadamente 3 horas durante os dias semana e de aproximadamente 5 horas nos finais de semana.

    Quando analisada a escala de dor adaptada13, o indivíduo relatou dores corporais em escalas mais altas na região lombar da coluna vertebral (escala 8), membros inferiores (escala 7) e superiores (escala 5).

Discussão

    Com base nos dados identificados, constatou-se que o indivíduo é obeso, o que é considerado fator de risco elevado para desenvolvimento de morbidades independente da faixa etária3, pois a gordura representa risco significativamente maior para desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer16.

    Os resultados identificados foram discutidos com o participante do estudo e após foram propostos alguns desafios simples em relação aos comportamentos com menores escores, com acompanhamento semanal e reavaliação mensal. Assim sendo, sugeriu-se mudanças nos comportamentos nutrição e atividade física, pois mudanças nestes aspectos resultariam num impacto relevante para a redução dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas, muitas vezes num período de tempo relativamente curto16.

    Em relação à nutrição, foi proposto ao indivíduo uma meta de emagrecimento de 3 a 4Kg por mês, pois o excesso de peso e a obesidade produzem efeitos metabólicos adversos sobre a pressão arterial, o nível de colesterol e de triglicerídeos no sangue e a resistência à insulina16. Sugeriu-se ao indivíduo realizar seis refeições diárias em horários pré-determinados, substituindo os alimentos hipercalóricos (industrializados) pelos mais saudáveis (frutas, cereais integrais e alimentos orgânicos), pois há evidências de que as frutas e verduras podem ajudar a prevenir patologias importantes, como as doenças cardiovasculares15. Recomendou-se que o mesmo anotasse diariamente a quantidade e o alimento consumido em cada refeição, controlando assim a qualidade e quantidade ingerida. Sugeriu-se também que o indivíduo procurasse um nutricionista e/ou um grupo de apoio alimentar.

    Foi elaborado e implantado um programa de caminhada orientada ao ar livre com duração e freqüência inicial de 20 minutos e duas vezes semanais, respectivamente. A cada três sessões foram acrescentados 10 minutos de caminhada até completar 30 minutos diários de atividade física moderada de acordo com o desempenho do indivíduo16. Sugeriu-se que o indivíduo convidasse uma pessoa de seu convívio direto para acompanhá-lo no programa da caminhada, pois é fundamental o apoio de amigos e familiares para alterações de comportamentos do estilo de vida17.

    O programa de caminhada foi acompanhado durante uma semana e em recente contato realizado com o participante obteve-se a informação de que este continua realizando-o como o prescrito, uma vez que vem sendo acompanhado por uma colega de trabalho. Sugeriu-se que inicialmente o indivíduo aumente o nível de atividade física em várias situações: no trabalho, deslocamento, lazer, e atividades domésticas, pois há evidências de que alterações nos hábitos alimentares e na prática de atividades físicas podem provocar mudanças rápidas nos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas16.

    Foi proposto ao indivíduo que alternasse a forma de deslocamento para o trabalho entre se deslocar a pé e de transporte coletivo, descendo sempre um ponto antes, já que não tem contato direto com o público; se deslocar ao invés de mandar e-mails ou telefonar para falar com os colegas de trabalho; fazer intervalos ativos praticando deslocamentos e alongamentos, principalmente de membros inferiores e da coluna vertebral, pontos de maiores queixas de dores.

    Para o aspecto atividade física, o sujeito citou como principais barreiras o cansaço e falta de tempo, resultado este que vem ao encontro dos verificados em um estudo realizado com industriários gaúchos, o qual identificou como barreiras para a prática de atividade física no lazer o cansaço, o excesso de trabalho, as obrigações familiares e a falta de vontade e de dinheiro, entre outros14.

    No que diz respeito ao comportamento preventivo, sugeriu-se que o indivíduo intercalasse o consumo de bebida alcoólica com água, diminuindo assim o consumo de álcool e, conseqüentemente o de calorias.

    De forma geral, recomendou-se também que o indivíduo configurasse como página inicial do seu computador do trabalho um site sobre saúde, visando obter conhecimento e se estimular a manter um estilo de vida mais ativo e saudável.

Conclusão

    Através deste estudo identificaram-se comportamentos negativos no perfil do estilo de vida do indivíduo, especialmente em relação aos comportamentos nutrição e atividade física. Diante destes resultados, verificou-se a necessidade de intervenções imediatas nos comportamentos do estilo de vida do participante, objetivando contribuir para uma mudança gradativa e efetiva de comportamentos mais saudáveis.

    Todos os resultados foram discutidos com o participante a fim de aumentar seu conhecimento a cerca da importância do comportamento individual em relação às mudanças do estilo de vida e seu comprometimento com as recomendações realizadas.

    Assim, espera-se que através destas orientações e alterações do estilo de vida do indivíduo, mesmo que pequenas, estimulem-no a aumentar e manter um estilo de vida mais ativo, melhorando sua qualidade de vida.

    Por fim, evidencia-se a importância de intervenções dos profissionais de educação física, identificando casos em que as condições do estilo de vida se mostram comprometedoras, avaliando-os e, gradativamente propor pequenas mudanças nos comportamentos com menores escores, contribuindo de forma efetiva na melhoria da qualidade de vida.

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